Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA AO SR. ISAAC SABBA.

Autor
Jefferson Peres (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA AO SR. ISAAC SABBA.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/1996 - Página 4834
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ISAAC SABBA, EMPRESARIO, ESTADO DO PARA (PA), ATUAÇÃO, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

            O SR. JEFFERSON PÉRES (PSDB-AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, subscrevi, evidentemente que sem nenhuma satisfação, o requerimento de pesar, apresentado pelo Senador Bernardo Cabral e aprovado pelo Plenário, pela morte de Isaac Benayon Sabbá na última sexta-feira, em Manaus.

            É preciso ser um filho da Amazônia, um habitante da Amazônia para se compreender e se medir a dimensão do empresário Isaac Sabbá. Não receio dizer, sem nenhum exagero, que ele foi o maior homem de empresa, não apenas do Amazonas, mas da Amazônia, nesta segunda metade do século; um self-made man, filho de imigrantes judeus marroquinos migrados para a Amazônia, como tantos outros no final do século passado, durante o ciclo da borracha.

            Isaac Sabbá chegou a Manaus, um rapaz de 15 anos, pobre, comerciando nos rios da região, como muitos outros de etnia árabe. Tornou-se, durante a II Guerra Mundial, um grande exportador de produtos extrativos e depois, no início dos anos cinqüenta, enveredou pelo setor industrial. E executou o mais arrojado empreendimento particular que a Amazônia teve até aquela data.

            Imaginem os senhores, no início dos anos cinquenta, um empresário do comércio sem grande experiência de indústria tentar implantar, em pleno coração da Amazônia, uma refinaria de petróleo que não existia, como não existe, no Norte/ Nordeste do Brasil, acima de Salvador. Ainda hoje, passados mais de quarenta anos, não existe uma única refinaria de petróleo entre Salvador e Manaus, salvo a erguida por Isaac Sabbá.

            Fez isso sem dinheiro público, sem recorrer a bancos oficiais, lançando mão de recursos próprios, da colaboração de amigos, de empresários do Sul e do seu crédito pessoal. Montou a refinaria que, à época, apesar de pequena em termos atuais, de cinco mil barris por dia, abastecia toda a Região Norte e parte do Nordeste até o Ceará. Não a ampliou única e exclusivamente porque a Lei nº 2.004, que instituiu o monopólio estatal do petróleo, entregue à Petrobrás, o impedia de fazê-lo. Não fora isso, tenho certeza de que hoje aquela refinaria se teria multiplicado pelo menos por dez, que é o atual consumo da Região Norte, cerca de 40 a 45 mil barris por dia.

            Nos anos 70, forçado pelo governo autoritário de então, teve que se desfazer de suas ações e vendê-las à Petrobrás a preços abaixo do seu valor de mercado.

            Morreu com a mágoa de ter sido compelido a se desfazer do seu principal empreendimento por pressão de um governo de exceção, o governo militar de 1964. Mas não ficou aí apenas Isaac Sabbá. Lançou-se ao ramo têxtil com a Fitejuta - Fiação e Tecelagem de Juta. Lançou-se no ramo madeireiro com a Compensa, então a maior fábrica de compensados destinados à exportação, e outras .

            Ele era, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não um empresário comum, mas um empresário do tipo schumpeteriano, ou seja, empreendedor, mas, antes de tudo, inovador, pioneiro, que se arrisca, que tem visão, que ousa criar, entrar em atividades novas e desafiadoras.

            Faleceu perto dos 90 anos, ainda trabalhando em seu escritório, na própria residência, orientando os seus filhos e sucessores que dirigem as suas empresas que sobreviveram.

            Isaac Sabbá, além disso, foi também um amigo muito dileto meu. Com ele, eu passava longas horas em conversas. Até o último instante foi quase nonagenário, interessado nos destinos do País e da Região. Acompanhava todos os acontecimentos. Quase impossibilitado de ler, fazia-o pela televisão, com a lucidez que nunca lhe faltou.

            O Senador Bernardo Cabral, por sugestão da Associação Comercial, está propondo - e penso que devemos formalizar isso - dar o seu nome à Refinaria de Manaus. Nada mais justo.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é realmente com profunda tristeza que registro o falecimento desse grande amazônida que foi Isaac Benayon Sabbá. A Amazônia sofre uma perda enorme, não de um dos seus maiores empreendedores, mas, sim, do seu maior. E eu perco um grande amigo que me deixa uma profunda e imorredoura saudade.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/1996 - Página 4834