Discurso no Senado Federal

PARABENIZANDO O FILME O QUATRILHO PELA INDICAÇÃO AO OSCAR, COLOCANDO NO MERCADO MUNDIAL A NOSSA CULTURA E COSTUMES.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • PARABENIZANDO O FILME O QUATRILHO PELA INDICAÇÃO AO OSCAR, COLOCANDO NO MERCADO MUNDIAL A NOSSA CULTURA E COSTUMES.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/1996 - Página 4881
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, FILME, LONGA METRAGEM, AUTORIA, FABIO BARRETO, DIRETOR, CINEMA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INDICAÇÃO, PREMIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

            O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB-DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero fugir a uma tradição cultural; além de mineiro, sou também candango, e mineiros e candangos têm uma tradição cultural de prudência e de cautela. Com a permissão do Senador Arlindo Porto, mineiro, e do Senador Iris Rezende, candango - porque os goianos também o são -, quero fugir a essa regra da prudência para antecipar ao País, horas antes da entrega do prêmio Oscar, que o Brasil venceu.

            Acho que independentemente do resultado que for anunciado pela televisão hoje, o Brasil já venceu não só pelo filme "O Quatrilho" - pela produção de Fábio Barreto, pelo trabalho fantástico de atores e atrizes brasileiros em uma produção cinematográfica que fatalmente marcará época no cinema internacional -, mas também porque, pela primeira vez em muitos anos, a cultura brasileira, exemplo claro do poder de sobrevivência de nossa raça, resultado dessa miscigenação fantástica não só de raças, como também de costumes, mostra que é possível vencer a força de mercado do cinema americano.

            O cinema americano, menos pela competência de reprodução cultural e mais pela capacidade de domínio de mercado, que se especializou em vender sabonetes, em aumentar o consumo de mercado, ao invés de vender traços culturais que mereceriam a reprodução e a reflexão dos demais países do mundo, essa indústria cinematográfica conseguiu produzir, nas últimas décadas, um fato fantástico: quebrou todos os seus próprios recordes de bilheteria, conseguiu transformá-la em uma das maiores indústrias do mundo, gerou receitas para os Estados Unidos. E todos os que vivemos numa economia globalizada, ainda que não fiquemos muito felizes, temos de aplaudir a capacidade, fantástica, que esse povo tem de vender sabonetes e de aumentar mercados através do cinema.

            O Quatrilho não é apenas um filme, mas o reflexo de uma época de produções culturais que hoje vivemos, o que talvez só tenha paralelo na época do Cinema Novo, da Bossa Nova, nos anos 50, quando o Brasil era muito mais esperança. Reaparece agora uma capacidade imensa de produção cultural em nosso País, reflexo de uma época também de esperança de nosso povo, que não mais retrata o mercado do cinema como um mercado potencial de vender produtos, de ampliar mercados ou, simplesmente, de aumentar bilheterias.

            Acima de tudo, é um produto cultural, que faz questão de ir fundo as nossas raízes, que mostra ao mundo a formação de nossa gente, no caso específico, a influência da cultura italiana, principalmente no Sul do País. Outros tantos filmes existem a divulgar a formação do povo brasileiro. Essa produção cultural, riquíssima, revela a todos a capacidade do povo brasileiro em se organizar - ainda que de forma diferente dos povos tradicionais do mundo - para fazer reproduções culturais fantásticas.

            O Quatrilho indica não só uma época importante da vida brasileira, mas, principalmente, a capacidade de representação do brasileiro em produções de porte internacional.

            Confesso que vou para casa hoje cheio de esperança, porque o povo brasileiro está cheio de esperança de que o Brasil ganhe, hoje à noite, o prêmio de melhor filme internacional. O Quatrilho merece e não vai estar sozinho nisso. Tenho certeza de que Fábio Barreto, hoje, nos Estados Unidos, vai estar acompanhado de Nelson Pereira dos Santos, de Neville de Almeida, de Ana Maria Magalhães, de tantos cineastas que marcam a história recente do cinema brasileiro, como Tizuka Yamazaki e tantos outros, de Valter Moreira Sales, enfim, creio que Fábio Barreto estará representando uma geração de cineastas que sobreviveu apesar de tudo, uma geração de cineastas capaz de colocar na tela, com todos os problemas da produção cultural brasileira, um exemplo típico de que cinema faz cultura e não vende apenas sabonete.

            Fica aqui o meu registro, pouco cauteloso, desta vitória antecipada, não só de O Quatrilho, mas do cinema brasileiro.

            Tenho confiança, meu caro Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de que, com essa vitória de hoje à noite, o mundo todo e esse grande mercado cinematográfico vai prestar um pouco mais de atenção à capacidade de produção cultural do povo brasileiro.

            Um país que faz o carnaval do Rio de Janeiro e que, no mesmo dia, faz um outro carnaval totalmente diferente em Salvador e em Olinda, um país que, apesar de todas as suas diferenças, faz coisas tão belas e bem organizadas, é claro que, mais cedo ou mais tarde, iria demonstrar ao mundo a inteligência, a capacidade de organização e de reprodução cultural da sua gente.

            Hoje, todos nós brasileiros estaremos, não só por patriotismo, nacionalismo, mas principalmente por idealismo, manifestando ao mundo que somos capazes e que a nossa Hollywood é um pouco mais embaixo.

            O Sr. Eduardo Suplicy - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA - Pois não.

O SR. PRESIDENTE (Ney Suassuna) - Não é possível aparte em comunicação inadiável, nobre Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/1996 - Página 4881