Discurso no Senado Federal

ANALISE DO DEPOIMENTO DO SR. CLAUDIO MAUCH E DE OUTROS DOIS DIRETORES DO BANCO CENTRAL NA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, EM REUNIÃO REALIZADA HOJE.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.:
  • ANALISE DO DEPOIMENTO DO SR. CLAUDIO MAUCH E DE OUTROS DOIS DIRETORES DO BANCO CENTRAL NA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, EM REUNIÃO REALIZADA HOJE.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/1996 - Página 5016
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.
Indexação
  • ANALISE, DEPOIMENTO, DIRETOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), OMISSÃO, FISCALIZAÇÃO, BANCO PARTICULAR.
  • CRITICA, IMPUNIDADE, IRREGULARIDADE, FISCALIZAÇÃO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, DEFESA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCOS.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, telefonemas do Paraná cobram-me uma análise do depoimento do Sr. Cláudio Mauch e dos outros dois diretores do Banco Central na Comissão de Economia, depoimento do qual participei.

Sr. Presidente, minha impressão inicial é a de que é facilmente explicável a transferência continuada de diretores do Banco Central para a banca privada, pois o Banco Central não fiscaliza bancos e banqueiros. Suas diretorias, ao longo do tempo, exerceram o papel de corretora de bons negócios para banqueiros quebrados por incompetência ou corrupção.

O depoimento dos diretores do Banco Central foi omisso e tentou apenas resguardar as responsabilidades das autoridades que deram as ordens para que os bancos privados fossem protegidos. Não consegui acreditar, apesar da insistência dos diretores do Banco Central, que o corpo de funcionários, os fiscais do Banco Central, que são quinhentos, não tenham constatado os desvios e irregularidades, ao longo de dez anos, no caso do Banco Nacional, por exemplo. Sem dúvida, as irregularidades foram constatadas e abafadas pelas sucessivas diretorias.

O argumento da quebra em dominó do sistema financeiro, para explicar o Proer, não resiste à menor análise. Em passado recente, o Comind, que tinha o porte do Banco Nacional, foi liquidado, o mesmo acontecendo com o Sul Brasileiro, o Auxiliar e o Cidade de São Paulo, todos liquidados, e nenhum efeito dominó, o efeito mais sério no sistema financeiro nacional, ocorreu.

O Nacional tinha o seu patrimônio líquido negativo há muito tempo. No entanto, o Banco Central aceitava a maquiagem do balanço, com a incorporação do balanço da seguradora do Banco Nacional, balanço esse auditado por empresas ditas privadas e independentes e nunca verificados pelo Banco Central.

Se o balanço do Banco Nacional era negativo no que se referia ao patrimônio líquido, o mínimo que se poderia esperar de uma diretoria decente do Banco Central seria voltar-se para auditar, com cuidado, o balanço da seguradora que desequilibrava esse patrimônio líquido negativo para um patrimônio líquido positivo.

O dinheiro do Proer surge para cobrir o furo dos banqueiros. Não aceitamos a tese insistente de que o Proer foi criado para proteger correntistas. Tal dinheiro é destinado à proteção dos banqueiros, dos malandros, que, certamente, há muito tempo, já desviaram o dinheiro para os paraísos fiscais, por meio dos diversos artifícios que o sistema financeiro de mercado no mundo permite hoje.

O Sr. Cláudio Mauch termina o seu depoimento dizendo que hoje faria tudo de novo. Sr. Presidente, não tenho dúvida alguma de que ele faria tudo de novo, porque ele continua impune pela sua omissão, pelo seu dolo, pela sua culpa ou pela sua irresponsabilidade. Essa impunidade abre a perspectiva de o Banco Central e os sucessivos Governos da República continuarem agindo como guardiães do sistema financeiro privado e corrompido.

Se o sistema financeiro é tão importante, atingindo o foro de sistema que implica a segurança nacional não deveria ser privado. No mínimo, deveria ser um sistema estatizado, porque, aí sim, o Estado, a Nação, teria que responder por todos os seus prejuízos a qualquer momento.

Não tenho dúvida de que o Sr. Mauch faria tudo de novo. Afinal, os corruptos estão soltos, e a CPI foi derrubada de forma absurda no Plenário do Senado da República.

A única solução, Sr. Presidente, para resolvermos de uma vez por todas os problemas do sistema financeiro brasileiro é o restabelecimento de uma CPI. A acareação dos responsáveis pelos furos no Banco Central e na banca privada, o aprofundamento das investigações, cadeia para os omissos e os ladrões, e uma mudança orientada em parceria com o Senado e o Governo Federal, se isso ainda for possível, profunda, que viabilize a transparência e a fiscalização da sociedade sobre as operações do Banco Central e o controle que ele faz sobre a banca pública e a privada.

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/1996 - Página 5016