Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES ACERCA DE CORRESPONDENCIA DO PREFEITO DE CAFELANDIA (PR), SR. AGENOR PASCALI, SOBRE A SITUAÇÃO DESESPERADORA DE MICRO E PEQUENOS EMPRESARIOS DA REGIÃO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA.:
  • CONSIDERAÇÕES ACERCA DE CORRESPONDENCIA DO PREFEITO DE CAFELANDIA (PR), SR. AGENOR PASCALI, SOBRE A SITUAÇÃO DESESPERADORA DE MICRO E PEQUENOS EMPRESARIOS DA REGIÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/1996 - Página 5232
Assunto
Outros > MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA.
Indexação
  • COMENTARIO, RECEBIMENTO, CORRESPONDENCIA, AUTORIA, AGENOR PASCALI, PREFEITO, MUNICIPIO, CAFELANDIA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), RELAÇÃO, SITUAÇÃO, CRISE, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA, EFEITO, ESTABILIZAÇÃO, PLANO, REAL.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, esta manhã, recebi em meu gabinete um pequeno empresário da indústria de confecções de Cafelândia, que se dirigiu a Brasília para tentar resolver os seus problemas de financiamento e se propõe dar cabo à vida na frente do Palácio Presidencial, caso não consiga.

Tratei de dissuadi-lo, e para ele resta a esperança de que a decisão do Conselho Monetário autorize um empréstimo de R$50 mil, a longo prazo, para os pequenos empresários.

Recebi das mãos desse empresário de Cafelândia uma carta do Prefeito, um Prefeito simples, Sr. Agenor Pasquale, mas extremamente inteligente, que traz para o meu conhecimento e do Presidente da República o resultado da sua visão e da sua sensibilidade. Vou ler a carta:

      "O Presidente Fernando Henrique Cardoso está enganando a Nação e a si próprio quando diz que o País está em crescimento, que não há recessão. Isso é tapar o sol com a peneira.

      Milhares de pessoas perderam o seu emprego. Milhares de micro e pequenos empresários estão falidos e outros tantos estão sendo executados, e mesmo as grandes empresas, como as cooperativas, estão se inviabilizando.

      É preciso dar valor a quem trabalha duro. Não se pode exigir o impossível da classe produtora. É necessário que haja um mínimo de recompensa para que o empresário supere os momentos de infortúnio que se apresentam e não seja traído com permissão de importações subsidiadas e financiadas muitas vezes pelo próprio Governo, a despeito dos produtores e comerciantes nacionais.

      Basta de importar produtos que estão se deteriorando em nossos armazéns, de origem animal ou vegetal, a exemplo da carne de suínos.

      Quando os suinocultores brasileiros estão tendo que desativar suas criações por estarem em prejuízo, os produtos agrícolas chegam a ter preços de menos de 10% do que o consumidor gasta para adquirir, muitas vezes.

      Estamos torcendo para que o Plano Real se afirme e que a economia seja estável, porém o sacrifício imposto a muitos é desumano e cruel, e é covardia querer fazer impostura com falsas afirmações.

      É preciso entender o povo como nação e jamais colocar planos acima da dignidade humana.

      Qual o pai de família que, estando desempregado, não podendo pagar alimentação, água, luz, gás, quando não o aluguel, pode dizer que está se conformando vendo seus filhos passando fome, humilhação e desespero?

      É preciso rever a situação.

      Não devemos pretender, de um momento para o outro, competir com os países mais ricos, abrir mercados, globalizar a economia, como está em voga o termo. Isso é querer se iludir, competir com países que têm população controlada, previdência em condições de sustentar o desemprego e riquezas do setor industrial e comercial.

      Temos que ter humildade e adequar nossos planos para poder dar condições de sobrevivência às famílias. Daí estarmos torcendo para as reformas agrária, justa, tributária, que permitam a sobrevivência dos municípios, que têm o cidadão em seu seio desde que nasce até a morte.

      E, hoje, as prefeituras, em sua maioria, estão quebradas, por incompetência muitas, por corrupção outras. Mas, de uma forma geral, todas com responsabilidades muito maiores que seus orçamentos minguados e que assistem o povo em sua última instância em saúde, educação, transporte escolar e assistência social, auxiliam na habitação, sustentam em grande parte o setor de segurança, que é responsabilidade do Estado.

      Finalizando, a justiça deve ser feita com leis. Isso não acontecendo, ela será feita com as mãos do próprio povo, o que não seria recomendável.

      Queremos estar solidários com nossos governantes quando têm atitudes corajosas de cortar privilégios de minorias que se consideram castas superiores e que têm aposentadorias especiais que envergonham a Nação, que, na sua maioria, é pobre e que assiste a tamanhos desatinos.

      Os furos dos banqueiros não podem ser motivo de sanguessugas do povo para compensar prejuízos que precisam ser julgados.

      O investimento no setor produtivo é plantar com a certeza da colheita porque da produção, do trabalho e da industrialização e da comercialização é que provem a receita municipal, estadual e federal. A democracia deve dar ao povo o direito da liberdade mas para que perdure e se perpetue é somente com justiça e espírito de comunidade e solidariedade e muita responsabilidade no cumprimento do dever.

      Esperamos, em breve, um novo horizonte que tenha condições de garantir vida, saúde, prosperidade e paz, mesmo que seja sem grande tecnologia, sem muita automatização e máquinas que tiram, muitas vezes, o pão da boca dos filhos desta Pátria que deve ser mãe e não madrasta.

Essas palavras foram escritas com profundo sentimento de fé, esperança e confiança pelo Prefeito de Cafelândia que assina: Agenor Pasquale, 26/3/96.

Esta carta chegou, hoje, às minhas mãos, vinda de um prefeito modesto, humilde, com uma caligrafia difícil de ser lida mas que mostra a sensibilidade que o Presidente Fernando Henrique Cardoso e os liberais globalizantes não têm, hoje, no Brasil.

Sr. Presidente, requeiro a V. Exª que as notas taquigráficas que conterão o texto da carta que acabei de ler sejam enviadas ao Presidente da República.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/1996 - Página 5232