Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM A ATITUDE DA IMPRENSA BRASILEIRA EM RELAÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL. ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O ESTADO DE TOCANTINS.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • PREOCUPAÇÃO COM A ATITUDE DA IMPRENSA BRASILEIRA EM RELAÇÃO AO CONGRESSO NACIONAL. ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O ESTADO DE TOCANTINS.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/1996 - Página 5516
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • DEFESA, LEGISLATIVO, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, OCIOSIDADE, SENADO, NECESSIDADE, RESPONSABILIDADE, NOTICIARIO.
  • ANALISE, NECESSIDADE, ESTADO DO TOCANTINS (TO), INFRAESTRUTURA, DESENVOLVIMENTO, ORIENTAÇÃO, SETOR PRIMARIO, OPORTUNIDADE, TURISMO, ECOLOGIA.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB-TO. Como Líder. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, associo-me ao eminente Senador Bernardo Cabral, com a preocupação de V. Exª, respaldada pela manifestação do eminente Senador Antonio Carlos Valadares, com a preocupação que toma corpo e toma conta desta Casa em relação ao tratamento que a imprensa vem dispensando aos membros do Parlamento. Na verdade, os profissionais da imprensa não têm o cuidado, o desvelo que os membros do Parlamento têm para com eles. É obrigação nossa tratar bem qualquer segmento organizado da sociedade, qualquer profissional, mas acredito que deveríamos merecer da imprensa um tratamento igualitário. A força e a importância da democracia pressupõe não só liberdade de pensamento; pressupõe também responsabilidade pelos seus atos. Como V. Exª bem salientou, a colocação feita pelo articulista não corresponde, absolutamente, à veracidade do que ocorreu na tarde de ontem nesta Casa. Ou seja, esta informação massificante, continuada e, parece, deliberada para a sociedade, levando uma informação desvirtuada do que realmente acontece aqui. Há muitos parlamentares interessados nos problemas que envolvem a população brasileira, com os problemas que afligem o País, dedicados, trabalhando diuturnamente, já que a nossa atividade praticamente exige dedicação integral. Quando nos encontramos em casa ou em qualquer outro local, estamos permanentemente ligados às nossas atividades, às preocupações que afligem o povo brasileiro. Não é justo que alguém faça ilação por sua conta, faça juízo de valor, via de regra, que não corresponde ao que de fato está acontecendo no Parlamento, o Poder, no meu entendimento, mais legítimo dos três, porque é o Poder onde todos os seus membros são escolhidos diretamente pelo povo. E é um Poder devassado, é onde o povo realmente tem acesso, onde o povo faz ressoar os seus sentimentos, as suas angústias e as suas aspirações. É, portanto, o Poder mais legítimo, porque tem uma identidade e um entrelaçamento muito estreito com a população. Não é justo o que a imprensa brasileira, não digo na sua totalidade, mas na sua grande maioria, vem fazendo com o Parlamento.

Aliás, eminente colega Bernardo Cabral, causa-me surpresa perceber que o Poder Legislativo brasileiro é o único que permite ser debochado através de programas de televisão, onde câmeras ficam patrulhando o comportamento do homem, do indivíduo que está aqui, sem sequer avaliar se ele está há uma, duas, três, dez, quinze horas afeito a um trabalho exaustivo e extenuante, para procurar um trejeito, para achar um pé fora do sapato ou uma meia rasgada, como se aqui não estivesse também o cidadão comum, representando o homem comum do povo brasileiro, para levar uma imagem debochada, desprezível do representante deste Parlamento.

Já tive oportunidade de visitar países menos desenvolvidos e mais desenvolvidos do que o Brasil e não vi, em lugar algum, alguém que utilize os recursos tecnológicos mais avançados para procurar induzir a população a ter uma rejeição ou um pensamento ruim contra o seu representante.

Precisamos adotar medidas mais severas e mais seguras, ainda que não voltando ao patrulhamento da atividade da imprensa, mas estabelecendo responsabilidades por colocações improcedentes como a que V. Exª trouxe à Casa esta manhã e como a outra que envolveu recentemente o meu nome e o de dois colegas senadores do Tocantins.

Isso também nos dá o direito de não acreditar nas afirmações que os articulistas da imprensa vendem. Eu, que sou assíduo leitor de diversos noticiosos, tenho dúvida do que a afirmação que me trazem ao conhecimento é verdadeira, é procedente, porque uma afirmação que envolvia o meu nome e o de dois colegas do Tocantins não era procedente, não tinha nada a ver com a realidade. E o articulista afirmava como se ele tivesse presenciado o ato. Que nos reservem o direito de também começar a ter dúvidas, a não acreditar que as afirmações que estão veiculando na imprensa sejam verdadeiras. Hoje tenho o direito de não acreditar que o que ele escreve, o que ele diz corresponde à realidade.

Gostaria de fazer uma colocação, Sr. Presidente, contando com a complacência de V. Exª, a respeito do meu Estado de Tocantins, o Estado mais novo da Federação, que luta com todas as suas condições e forças para superar as dificuldades enormes que vem enfrentando para livrar a população das mais diversas formas de injustiça. O Tocantins está cansado de ser o campeão da mortalidade infantil, do desemprego e do analfabetismo. O Tocantins procura, efetivamente, a sua identidade.

O Tocantins, um Estado novo, desprovido de infra-estrutura necessária à promoção do seu desenvolvimento, da organização da sua economia, vem lutando para implantar essas obras de infra-estrutura.

As nossas condições físico-climáticas estão a indicar que a vocação natural da nossa economia passa, necessariamente, pela organização do setor primário. Não adianta o Tocantins querer discutir química fina, informática, tecnologia de ponta, indústria pesada, sem se preocupar com a agricultura, com a pecuária, com a pesca e com as questões florestais.

É esse o direcionamento que temos que dar aos rumos da nossa economia. Claro que queremos contar com os conceitos modernos que a ciência e a tecnologia estão hoje a oferecer ao desenvolvimento dessas atividades. Mas é neste rumo que o Tocantins está marchando, ou seja, procurando estimular e organizar sua economia através do incentivo à agricultura, à pecuária e às questões de natureza florestal.

Há uma outra vertente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que acho interessante aqui colocar. Estamos observando ser o Tocantins dotado de uma extraordinária potencialidade: a indústria do turismo - indústria que mais fatura no mundo inteiro, indústria que continua crescendo. Observamos que nesse setor o turístico litorâneo, as praias, é o mais explorado, o que não seria compatível com as condições de um Estado provinciano como o Tocantins.

Mas o exemplo inteligente, eminente Senador Bernardo Cabral, do seu Estado, com a criação dos parques temáticos acenou para o Tocantins uma outra possibilidade: a do turismo ecológico. Nisso o Tocantins será competitivo, porque tem um potencial extraordinário: duas bacias hidrográficas majestosas e maravilhosas - a do Araguaia e a do Tocantins, com vegetação, ladeando essas bacias, exuberante, in natura, com a sua pujança semelhante às matas do Atlântico, às matas do seu Estado.

Fico a analisar o homem, o animal urbano, que precisa levantar-se duas, três, quatro horas mais cedo para se deslocar e chegar ao seu local de trabalho no horário aprazado, envolvendo-se com o apito de trem, engarrafamento de trânsito, poluição, metrô. Certamente, ele fica aguardando a oportunidade de ter um contato mais estreito com a natureza.

Aliás, a imprensa nos mostra isso. Todo feriado, um percentual considerável da população paulistana desce a serra, engarrafando o trânsito, na ida e na volta, para poder usufruir das maravilhas que o turismo litorâneo paulista propicia.

Seria bom fazer uma trilha na Floresta Amazônica, fazer o próprio cooper, guiado por índio bem preparado, que, além das condições naturais que um guia deve ter, certamente terá uma peculiaridade própria que é a do conhecimento, com mais propriedade, com mais abrangência, das condições naturais do seu habitat.

Um guia índio conduzindo um safári, conduzindo um grupo de turistas no Tocantins poderá gratificar-se com as informações que ele, certamente, trará. O índio denomina a curva de um rio e certamente saberá descrever as propriedades de uma árvore com maior intensidade, com maior propriedade do que outras pessoas que não têm a sua vivência.

Entendemos que o Tocantins tem, sim, um potencial ecoturístico extraordinário e, certamente, procurará, utilizando também os conhecimentos e os recursos tecnológicos hoje oferecidos à população do mundo, aproveitar essa condição e essa dádiva generosa da natureza com seu território.

Portanto, registro aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que o Tocantins está buscando as suas alternativas, está buscando fugir do descompasso do atraso, está tentando escapar dos grilhões do subdesenvolvimento e haverá, graças ao esforço de sua gente e com a participação ativa de seus representantes, de encontrar o seu destino, destino de grandeza, destino de prosperidade, destino de alegria e felicidade de sua gente.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/1996 - Página 5516