Discurso no Senado Federal

RELATANDO SEU DESEMPENHO EM SOLENIDADE NO EXTERIOR, DURANTE A QUAL S.EXA. RECEBEU O PREMIO GOLDMAN DE MEIO AMBIENTE.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA.:
  • RELATANDO SEU DESEMPENHO EM SOLENIDADE NO EXTERIOR, DURANTE A QUAL S.EXA. RECEBEU O PREMIO GOLDMAN DE MEIO AMBIENTE.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/1996 - Página 7444
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA.
Indexação
  • REGISTRO, VIAGEM, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RECEBIMENTO, PREMIO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, MOTIVO, ATUAÇÃO, VIABILIDADE, RESERVA EXTRATIVISTA, REGIÃO AMAZONICA.
  • INFORMAÇÃO, SOLICITAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ACOMPANHAMENTO, REFORMA AGRARIA, BRASIL.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Para uma breve comunicação. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero apenas fazer o registro da viagem que fiz aos Estados Unidos, por uma semana, a convite da Fundação Goldman, para a premiação das seis pessoas escolhidas para receber o Prêmio Goldman do Meio Ambiente.

Foram selecionadas seis pessoas para receber o prêmio, uma de cada continente, e, com muita gratidão a Deus, fui escolhida para representar o nosso, a América do Sul e Caribe. Havia várias indicações, do nosso País, bem como de todos os países do continente, a que me referi anteriormente.

A Fundação Goldman criou esse prêmio há sete anos, inclusive um brasileiro já havia sido premiado, que é o Sr. Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental, no ano de 1992. É motivo de orgulho o Brasil ser premiado pela segunda vez.

A minha premiação está ligada ao trabalho que desenvolvi em relação à Amazônia, particularmente à questão das reservas extrativistas, desde o momento da luta pela demarcação de terras, da questão dos embates, que já são do conhecimento do Senado e do Brasil, e mais particularmente pelo luta que travamos hoje para viabilizar economicamente essas reservas.

Juntamente comigo foram premiadas outras pessoas. Ao Sr. Ken Saro Wiwa, escritor nigeriano, que foi preso e, depois, executado pelo governo do seu país, foi prestada uma homenagem durante a premiação deste ano, bem como à Srª Rhoda Goldman, que morreu recentemente.

Dentre os premiados deste ano, houve pessoas com trabalhos muito importantes prestados à Humanidade na área ambiental. Podemos destacar o Sr. Edwin Bustillios, do México, engenheiro agrônomo, premiado pela América do Norte por sua luta contra madeireiros ilegais e narcotraficantes em Sierra Madre Oriental, em defesa da floresta nativa e do território dos índios Tarahumara. Ele já sofreu vários atentados e quase morreu em vários deles.

O Dr. M. C. Mheta, advogado da Índia, pela Ásia, que tem ganho dezenas de processos contra indústrias poluidoras no Supremo Tribunal de Justiça de seu país, e que também tem conseguido diminuir a degradação ambiental, principalmente do rio sagrado da Índia. Essa é uma luta que vem travando há muitos anos.

O Sr. Amooti Ndyakira, jornalista de Uganda, pela África, por sua cruzada contra o contrabando de espécies ameaçadas.

O Sr. Bill Ballantine, biólogo marítimo da Nova Zelândia, pela sua luta em defesa da criação de reservas marítimas. Um trabalho reconhecido pelo mundo todo, porque muito nos preocupamos com aquilo que está na terra, mas pouco nos preocupamos com aqueles tesouros que estão no mar, e o Sr. Bill Ballantine tem um trabalho nessa área.

Outra premiada foi a Srª Albena Simeonova, da Bulgária, professora de Ciências, por sua luta pela criação das inspetorias ambientais, num país onde ocorreu o desastre de Chernobyl e que continua lutando para fazer usinas nucleares. Seu trabalho é muito interessante.

O prêmio, além do reconhecimento pelo trabalho de cada um, é da ordem de U$75 mil. Não sei o que as pessoas com as quais convivi e aprendi a admirar durante essa semana farão com o prêmio que receberam; isso é decisão de cada um. Da minha parte, até por uma questão de prestar contas, por ser uma pessoa pública, doarei U$40 mil para a colônia dos hansenianos do meu Estado. São pessoas que não têm braços, não têm pernas e a grande maioria não enxerga mais. O Governo do meu Estado, infelizmente, cortou os recursos que mantinham aquela casa, que é cuidada pelo Bispo Dom Moacir.

Já conversamos várias vezes a esse respeito com o Ministro Adib Jatene e S. Exª está disposto a pagar as despesas dos 60 doentes que ali estão e que não podem mais viver em suas casas, desde que o Governo do Estado assuma recebê-los através do SUS, ao que não se dispõe o Governo do Estado. Resolvi, portanto, doar os U$40 mil para a Colônia Sousa Araújo, de responsabilidade da Igreja Católica, num convênio que o Governo do meu Estado não está honrando com o Bispo Dom Moacir.

Cumprimos uma agenda bastante longa durante o período em que estive nos Estados Unidos.

O dia 19/04, data de chegada em São Francisco, foi um momento importante. Tivemos um encontro com os ambientalistas.

No dia 20, tivemos várias entrevistas, inclusive em canais nacionais de várias rádios de São Francisco.

No dia 21, houve reunião com a equipe da Fundação Goldman e também várias entrevistas com vários jornais e emissoras de rádio, inclusive com a CNN.

No dia 22, tivemos uma coletiva com a imprensa e várias reuniões com entidades ambientalistas.

No dia 23, viajamos de São Francisco para Nova Iorque. Em Nova Iorque, fomos recebidos pelo Secretário-Geral da ONU, que nos cumprimentou e valorizou o nosso trabalho. Nesse momento, assumi um compromisso, juntamente com os demais premiados, de que mandaria uma carta para o Secretário-Geral da ONU, pedindo o seu acompanhamento e apoio para as medidas do Governo brasileiro de fazer a reforma agrária, por entender que não se pode tratar da questão ambiental, nos países do Terceiro Mundo, sem que se discuta a questão da inclusão social.

No dia 25, fomos a Washington, onde fomos recebidos pelo Vice-Presidente Albert Gore. Lá também fiz questão de dizer que, na reunião de cúpula que acontecerá no final do ano, na Bolívia, ao discutirmos a questão do meio ambiente e desenvolvimento sustentável, deve ser incluída a questão social como um ponto fundamental para os países do Terceiro Mundo.

Também fomos recebidos pelo Secretário de Interior, pessoa também ligada à área ambiental e que tem um trabalho bastante interessante.

Resumindo, no dia 27, tive a oportunidade de ser recebida, carinhosamente, num almoço, pelo jornalista Gilberto Dimenstein e por outros jornalistas em Nova Iorque.

Estou resumindo toda a agenda que foi cumprida, até porque pedi autorização ao Senado para viajar. Naquele momento, não podia declinar que havia recebido o prêmio, porque uma das condições exigidas pela Fundação Goldman era que não houvesse publicidade antes que eles fizessem a revelação dos premiados. Então, não pude contactar a imprensa brasileira.

Sou grata a Deus, em primeiro lugar, e gostaria de dividir com os brasileiros essa responsabilidade em defesa da Amazônia e do meio ambiente, compatibilizando o desenvolvimento econômico, justiça social e preservação do meio ambiente.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/1996 - Página 7444