Pronunciamento de Pedro Simon em 25/04/1996
Discurso no Senado Federal
INDIGNAÇÃO DE S.EXA. PELAS DECLARAÇÕES DO SR. MENDONÇA DE BARROS, PRESIDENTE DO BNDES, SOBRE A POSIÇÃO DO PRESIDENTE DO CONGRESSO NACIONAL, SR. JOSE SARNEY, ACERCA DA PRIVATIZAÇÃO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
PRIVATIZAÇÃO.:
- INDIGNAÇÃO DE S.EXA. PELAS DECLARAÇÕES DO SR. MENDONÇA DE BARROS, PRESIDENTE DO BNDES, SOBRE A POSIÇÃO DO PRESIDENTE DO CONGRESSO NACIONAL, SR. JOSE SARNEY, ACERCA DA PRIVATIZAÇÃO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/04/1996 - Página 7160
- Assunto
- Outros > PRIVATIZAÇÃO.
- Indexação
-
- PROTESTO, DECLARAÇÃO, AUTORIA, LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), SEMINARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA, CRITICA, OPOSIÇÃO, JOSE SARNEY, SENADOR, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD).
- COMENTARIO, POSIÇÃO, ORADOR, DISCORDANCIA, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD).
O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o ilustre Senador que me antecedeu já abordou o tema sobre o qual me inscrevi para falar, mas, mesmo assim, falo sobre o assunto.
O Presidente do BNDES, Sr. Mendonça de Barros, num congresso em Hanôver, considerado talvez o maior congresso em termos de economia e indústria realizado hoje no mundo, para empresários do Rio de Janeiro e de todo o mundo, taxou o Presidente José Sarney de arcaico. Não sei se o que a imprensa diz corresponde à verdade, vamos esperar até um desmentido por parte do Presidente do BNDES; é provável que venha o desmentido, eu, particularmente, espero que venha.
Diz a notícia que S. Sª não conseguiu conter a sua indignação contra o Presidente José Sarney, por tentar inviabilizar a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Em primeiro lugar, o Presidente José Sarney não está inviabilizando, de certa forma está até demorando para colocar em votação o requerimento do Senador José Alves e outros Senadores para retirada da Vale do Rio Doce do rol de privatizações.
Para mim foi um escândalo a votação pelo Congresso, ao final de seu mandato, de uma medida dando plenos poderes ao Poder Executivo para privatizar todas as estatais, quando o Presidente Collor era praticamente Deus. Isso é um absurdo! Isso é ilógico e irracional.
Agora, existe um projeto tramitando aqui tirando desse rol a Companhia Vale do Rio Doce e o Sr. Presidente José Sarney, atendendo a pedidos do Governo, inclusive do ilustre Líder do Governo, em várias vezes que o assunto veio a Ordem do Dia, retirou-o de pauta para buscar entendimento com o Governo.
Além do mais, o Sr. Mendonça de Barros está sendo tremendamente injusto com o Sr. Presidente José Sarney, quando diz que S. Exª está impedindo a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Nós podíamos ter uma queixa até no sentido contrário, de o Presidente José Sarney estar demorando em colocar em votação um projeto de lei que tira a Companhia Vale do Rio Doce do rol de privatizações.
Em segundo lugar, o Sr. Mendonça de Barros considera o Presidente José Sarney arcaico - e aí coloco-me junto, pois também sou contra - por ser contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. E o Sr. Mendonça de Barros está entre os modernos, porque é a favor da privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Esse é um conceito muito relativo.
Eu defendo as privatizações, penso que o Estado tem de enxugar sua área de atuação, creio que o Governo está no caminho certo, mas há exageros. Sou contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce
Penso até que, das quarenta e tantas empresas pertencentes à Companhia, algumas delas poderiam ser privatizadas. Mas a Vale, com o patrimônio e as autorizações que tem, é praticamente dona do subsolo do Brasil. O que o Sr. Mendonça de Barros e companhia querem é, praticamente, privatizar o subsolo do Brasil. E isso me parece um absurdo.
Ora, Sr. Presidente, custo a acreditar numa manchete como esta que estou lendo aqui. Quando é que eu podia imaginar, na minha vida - eu que votei em Fernando Henrique Cardoso - que iria ler uma manchete como esta, em que o Presidente do BNDES, amigo e homem de confiança do Senhor Fernando Henrique Cardoso, iria chamar de arcaico o Sr. José Sarney, porque não quer a privatização da Vale e o Senhor Fernando Henrique Cardoso quer?
Juro por Deus que, há três anos, isso jamais passaria pela minha cabeça. Nunca imaginei que o Sr. José Sarney iria ficar tão arcaico e o Senhor Fernando Henrique Cardoso iria ficar tão moderno. E que arcaico era querer conservar a Companhia Vale do Rio Doce e moderno é dá-la de presente a não sei quem.
Mas que mudança fantástica é esta? Que transformação tão grande é esta que estamos verificando? O Presidente do BNDES, homem de confiança do Senhor Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República, que quer privatizar a Vale, chama o ex-Presidente da ARENA, o Sr. José Sarney - hoje Presidente do Congresso, para honra minha e do meu Partido - de arcaico, porque é contra a privatização da Vale.
O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares) - Senador Pedro Simon, lamento interrompê-lo, mas o tempo de V. Exª está esgotado.
O SR. PEDRO SIMON - Já concluo, Sr, Presidente.
Eu espero uma resposta do Sr. Mendonça de Barros, pelo menos pela deselegância e grosseria que ele teria cometido contra o Presidente do Congresso, num país estrangeiro, a Alemanha, em meio a empresários do mundo inteiro, dizendo que não conseguiu conter a irritação contra o Presidente do Congresso Nacional, Senador José Sarney. Ele não tem esse direito, ele pode conter ou não a sua irritação, mas não podia fazer o que fez.
Irritação eu também tenho, Sr. Presidente, quando vejo cidadãos saírem do mundo dos negócios, de bancos e de instituições financeiras particulares e irem para o Banco do Brasil, Banco Central e BNDES e, depois, voltarem para essas instituições privadas. O cidadão sai de uma instituição particular, do grande empresariado mundial, vai para o BNDES, briga pela privatização e, amanhã, está de volta à empresa estrangeira. Isso, concordo, não é arcaico, mas também não é moderno.
Lamento muito, Sr. Presidente, que esse fato tenha ocorrido. Juro que nunca imaginei, eleitor que fui do Sr. Fernando Henrique Cardoso, ler uma manchete como esta: o Sarney é o arcaico, porque não quer privatizar a Vale, e o Sr. Fernando Henrique Cardoso é o moderno, porque quer privatizá-la.