Discurso no Senado Federal

SOLIDARIZANDO-SE COM O PRESIDENTE JOSE SARNEY QUANTO AS DECLARAÇÕES DESCABIDAS DO PRESIDENTE DO BNDES CONTRA S.EXA.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRIVATIZAÇÃO.:
  • SOLIDARIZANDO-SE COM O PRESIDENTE JOSE SARNEY QUANTO AS DECLARAÇÕES DESCABIDAS DO PRESIDENTE DO BNDES CONTRA S.EXA.
Aparteantes
Ademir Andrade, Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/1996 - Página 7171
Assunto
Outros > PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO, RELAÇÃO, DECLARAÇÃO, LUIZ CARLOS MENDONÇA BARROS, RESPONSAVEL, PRESIDENCIA, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), CRITICA, OPOSIÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD).

O SR. EDISON LOBÃO (PFL-MA. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, leio, com tristeza, as palavras destemperadas do Presidente do BNDES, Sr. Luiz Carlos Mendonça de Barros, proferidas em Hanôver. Para S. Sª, no Congresso Nacional existem Parlamentares modernos e Parlamentares arcaicos, e o líder dos arcaicos é o Presidente do Senado, Senador José Sarney.

Isso porque nós nos posicionamos contrariamente à privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Falo aqui, Sr. Presidente, atingido que fui, embora não tivesse sido nominalmente mencionado. Sou, na verdade, favorável à privatização de todas as empresas nacionais - todas -, exceto a Companhia Vale do Rio Doce. E por uma única razão: é que nós não conseguimos, até hoje, avaliar, com precisão, o patrimônio da Companhia Vale do Rio Doce, notadamente o seu subsolo.

A Companhia Vale do Rio Doce é detentora do subsolo no que diz respeito à exploração de minérios neste País. Se o Sr. Mendonça de Barros tem pressa em doar o patrimônio nacional, eu não tenho essa pressa. Prefiro que os brasileiros continuem detendo esse patrimônio nacional, em lugar de vendê-lo por meia dúzias de patacas, como quer o Presidente do BNDES.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDISON LOBÃO - Ouço V. Exª.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Acho que o pronunciamento de V. Exª é inteiramente justo, inclusive eu ia fazer um pronunciamento sobre essa declaração. Não ia entrar no mérito da privatização ou não da Vale do Rio Doce, mas falaria sobre o fato de o Presidente do BNDES tratar quem é à favor ou contra da forma que tratou, e, no caso particular, o Presidente José Sarney. Entretanto, tive informação idônea de que o Presidente do BNDES - que, diga-se, de passagem, surpreendeu-me com essa atitude, por se tratar de um homem competente, que tem a fama de sério, mas que, nem por isso, poderia fazer afirmativas levianas - já desmentiu essa declaração a ele atribuída. Assim sendo, não me pronunciei em sinal de protesto à sua afirmativa amplamente divulgada. Mas acho que V. Exª tem razão em se pronunciar. Eu queria apenas dizer que este meu protesto não foi feito antes do de V. Exª, quando aqui cheguei, porque há um desmentido do Presidente do BNDES em relação ao que lhe foi atribuído. Mas V. Exª, que não soube desse desmentido, tem razão de fazer o seu discurso.

O SR. EDISON LOBÃO - Senador Antonio Carlos Magalhães, louvado, agora, no aparte de V. Exª, nas informações que nos traz, vejo-me obrigado a mudar um pouco o curso do meu discurso.

O Sr. Ademir Andrade - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. EDISON LOBÃO - Ouço V. Exª.

O Sr. Ademir Andrade - Gostaria que V. Exª não mudasse o curso do seu discurso, Senador Edison Lobão. Hoje, ao ser entrevistado por uma jornalista, que me pedia uma definição do Presidente do BNDES, eu, muito aborrecido, tive que dizer que esse senhor é um irresponsável. Ele é atrevido também, e ousado, porque essa não é a primeira que ele faz, Senador Edison Lobão. Há cerca de dois meses, esse cidadão, em Pernambuco, defendeu a privatização da Petrobrás. Ora, todos sabem que o Presidente da República assumiu um compromisso com este Congresso Nacional, oficial, de que jamais permitiria a privatização da Petrobrás. Veio uma carta ao Presidente José Sarney para que o Relator, Senador Ronaldo Cunha Lima, aquiescesse ao pedido do Presidente da República e aprovasse aquela emenda da forma que ela veio da Câmara. Havia um compromisso formal do Presidente da República de não privatizar a Petrobrás. E esse cidadão, desobedecendo a orientação do seu superior, que é o Presidente da República - pois, afinal de contas, ele exerce um cargo de confiança -, publicamente defendeu a privatização da Petrobrás em Pernambuco. Quem é esse cidadão, que representatividade tem ele para fazer críticas a políticos, para fazer críticas a homens públicos? Aliás, diga-se de passagem, Senador Edison Lobão, não vi, até agora, um único Parlamentar no Congresso Nacional defender a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Então, ou nós todos estamos errados, ou está errado o Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Muito obrigado.

O SR. EDISON LOBÃO - Agradeço o aparte de V. Exª e leio aqui, Sr. Presidente, alegações atribuídas, repito, ao Sr. Luiz Carlos Mendonça de Barros, para quem V. Exª estaria desejoso de impedir a privatização da Vale porque pretende mantê-la como canal eleitoreiro. Como se a Companhia Vale do Rio Doce algum dia tivesse se prestado para manobras de natureza eleitoral neste País.

Se querem privatizar a Vale do Rio Doce, vendam o que está na superfície: as linhas férreas, os navios, os prédios. Mas vender o subsolo brasileiro é um absurdo com o qual não podemos concordar no Senado da República.

Eu, que sempre me manifestei a favor da manutenção da Vale em mãos de brasileiros, mãos do Estado, houve um instante em que contribuí para retardar um pouco a votação do projeto do Senador José Eduardo Dutra, que propõe o exame, por parte do Senado Federal, da proposta governamental de privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Mas acho que devemos, agora, apressar a votação desse projeto, até para evitar manifestações truculentas e impróprias dessa natureza, se é que foram feitas.

Sr. Presidente, agradeço a tolerância de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/1996 - Página 7171