Discurso no Senado Federal

DESPEDIDA DE S.EXA. DO SENADO FEDERAL.

Autor
Luís Alberto de Oliveira (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PR)
Nome completo: Luís Alberto Martins de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • DESPEDIDA DE S.EXA. DO SENADO FEDERAL.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Elcio Alvares, Emília Fernandes, Geraldo Melo, José Agripino, Romero Jucá, Valmir Campelo.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/1996 - Página 7372
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • DESPEDIDA, ORADOR, SENADO, OPORTUNIDADE, RETORNO, JOSE EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA, SENADOR.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA (PTB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Ramez Tebet, Srs. Senadores, ao assumir o mandato de Senador pelo Estado do Paraná, em substituição ao eminente homem público e Senador José Eduardo de Andrade Vieira, convidado de primeira hora para integrar o Ministério do Presidente Fernando Henrique Cardoso, tinha consciência das circunstâncias que acompanhavam minha difícil missão.

Como político, já tendo exercido os mais diversos cargos e cumprido longos mandatos legislativos em meu Estado, pela segunda vez vim ao Senado Federal, ocupando suplências que acabaram se revelando duradouras e plenas de episódios marcantes na vida nacional.

Nunca perdi de vista, entretanto, que, fosse qual fosse a duração de meu mandato, deveria exercê-lo com abnegação, com humildade e espírito público extremados, até mesmo porque essa é a marca que a cidadania brasileira exige dos seus representantes.

Tendo exercido a senatória pela primeira vez na circunstância histórica em que o País se mobilizou para rever a ação de seus homens e as virtudes de suas instituições, retornei nesta segunda ocasião em que o País se propõe a profundas transformações, a partir das reformas do Estado.

Não esqueço as vicissitudes e, por que não dizer, a grandeza dramática dos momentos vividos em minha primeira passagem no Senado, período marcado, por exemplo, com o impeachment de um presidente e com uma comissão que teve a coragem de cortar dela alguns membros que denegriam a imagem do Congresso Nacional.

O quadro de lutas e incertezas que então se vivia, temperado pelo vigor cívico que o nosso povo soube revelar, trouxe como signo a vontade e a ousadia que tivemos ao nos auto-investigarmos, propondo e provendo sanções cominadas pela legislação política, em substancial mudança de atuação parlamentar.

Nem tudo foi feito. Resta um longo caminho a percorrer, com a depuração e o aperfeiçoamento ético que a Nação brasileira quer e merece.

Em minha volta ao Senado, na presente legislatura, renovei minhas esperanças em servir às grandes aspirações nacionais, agora consubstanciadas em ímpetos mudancistas e reformadores; quer-se, neste sentido, construir-se uma Nação mais justa e mais harmônica, como diz a "Voz das Ruas" claramente manifestada, no fundo e na forma, da eleição do eminente Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Por isso mesmo, na condição de representante do Estado do Paraná, não hesitei um momento sequer em emprestar apoio e defesa às proposições de mudanças encaminhadas ao Parlamento pela ação do Governo Federal.

Voltado para as grandes questões nacionais, nunca perdi de vista, entretanto, os altos e legítimos interesses de meu Estado, cioso de que, para sermos universais, não devemos nunca esquecer "o rio que passa em nossa aldeia", na expressão poética de Fernando Pessoa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são em momentos de abruptas mudanças em nossas vidas, quando nos deixamos conduzir por inefável emoção, que fatalmente nos voltamos à Filosofia, "Ciência-mãe" que nos acolhe e aconselha.

Evoco e conclamo, nesse sentido, Henry Bergson, que ousou contraditar toda a filosofia dominante na segunda metade do século passado, colocando-se, inclusive, em confronto com os grandes modelos kantianos.

Contra a imobilidade da Metafísica no seu aspecto clássico, nos seus conceitos imutáveis, Bergson introduz o conceito de duração, completamente diferente do conceito de Kant. Para Bergson, o perceptivo não especifica tanto o homem quanto a memória. E a memória é duração, e duração nada mais é do que o reflexo do passado no próprio futuro.

Para a História da Filosofia, Bergson é o opositor de Kant, reformulador e iconoclasta, contra o positivismo, contra o materialismo, contra todos aqueles "ismos" que limitavam a inteligência e mutilavam suas potencialidades criadas.

Para mim, no entanto, mero leitor interessado, Bergson é tão-somente o pensador que me faz ver que não é de sã razão priorizar-se o tempo e o rigor cronológico na consagração da verdade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao apresentar neste momento minhas despedidas a esta Casa do mais alto culto republicano e testemunho vivo da democracia, não poderia deixar de registrar o meu contentamento por ter privado do tão ilustre convívio; o aprendizado que aqui auferi, de tão expressivas lideranças brasileiras, seguirá comigo e me fará crer reiteradamente na importância do Senado no estado democrático de direito.

O Sr. Valmir Campelo - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Luiz Alberto?

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Com muito prazer, eminente Líder.

O Sr. Valmir Campelo - Nobre Senador, V. Exª, na tarde de hoje, traz a esta Casa as suas despedidas. Tenho absoluta certeza de que é uma despedida temporária, porque essa não é a primeira vez que V. Exª ocupa uma das cadeiras aqui no Senado Federal. Mas não poderia deixar de transmitir o meu agradecimento, não poderia deixar, neste momento, de fazer registrar nos Anais desta Casa a minha alegria de ver um amigo tão dedicado como V. Exª nesta Casa, de sentir de perto a sua inteligência e a sua capacidade, do modo como V. Exª trata os seus pares, com educação, com respeito, com sobriedade. V. Exª prestou relevantes serviços ao Senado Federal, ao Governo do nosso País, na condição de representante do Estado do Paraná, mas também como Vice-Líder do Governo de Fernando Henrique Cardoso. V. Exª cita Bergson, dizendo que memória é duração. Tenho absoluta certeza de que, por muitos e muitos anos, esta Casa irá lembrar-se do trabalho profícuo e sério realizado por V. Exª não só pelo seu Estado, mas também em favor do nosso País. Velho companheiro, amigo e irmão, receba a minha admiração e permita-me quebrar o protocolo, para transmitir o meu abraço fraterno, os meus agradecimentos e, cada vez mais, a minha admiração.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Eminente Líder, Senador Valmir Campelo, recebo comovido as palavras de V. Exª e mais essa demonstração de amizade.

Reafirmo aquilo que já lhe disse pessoalmente: mais do que companheiros de Partido, somos irmãos de ideal, de vida política. V. Exª, com toda a sua inteligência, com todo o seu brilhantismo, tem sido um condutor das lutas do nosso Partido neste Senado. Tenho a convicção pessoal de que a V. Exª estarão destinados novos e importantes cargos, para que V. Exª continue a trabalhar pelo engrandecimento da nossa Pátria com denodo, com dedicação e com humildade.

O Sr. Geraldo Melo - V. Exª me permite um aparte, Senador Luiz Alberto?

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Com muito prazer, eminente Senador Geraldo Melo.

O Sr. Geraldo Melo - Senador Luiz Alberto, além de expressar a minha solidariedade e o meu abraço, transmitir publicamente o meu abraço fraterno a V. Exª, queria fazer um comentário. Vinha hoje para o Senado, pensando que esta poderia ser uma semana de alegria para os Senadores. Tivemos a notícia de que um companheiro nosso, Senador Arlindo Porto, sobre quem nós todos temos a imagem de um homem sereno, firme e competente, vai assumir o comando da Pasta da Agricultura, o que nos enche de esperança e nos envaidece, como amigos de S. Exª, como admiradores do seu trabalho e confiantes na sua competência. Volta a esta Casa o Senador Andrade Vieira, depois de ter ocupado a pasta da Agricultura. Só que o preço que nos é cobrado pela alegria de recebermos o Senador Andrade Vieira de volta é um preço muito alto, que é o de perdermos a companhia diária de V. Exª aqui. Conheço-o há bastante tempo. Convivemos pouco, mas nos conhecemos quando V. Exª era Presidente da União Interparlamentar e visitava o Rio Grande do Norte, sendo eu o Governador. Ali, instantaneamente, de certa forma, comprometemo-nos a construir uma grande amizade, da qual muito me orgulho. Aqui, no Senado, reencontrei V. Exª, para testemunhar, com seu trabalho diário, com a sua seriedade, o homem público dedicado ao Brasil e aos brasileiros, devotado ao estudo sério dos problemas nacionais e fiel aos interesses do Paraná. Ao lado disto, o companheiro, o amigo, o irmão, a pessoa de quem todos nos orgulhamos porque sabemos o valor, a seriedade, a dignidade de V. Exª em todos os momentos. A sua perda é muito grande para todos, mas pessoalmente é muito grande para mim, pelo tipo de relação que entre nós e as nossas famílias se instituiu. A convivência com V. Exª foi um aprendizado de prudência, de experiência, de inteligência, de seriedade no cumprimento de seu mandato. V. Exª nos honrou muito com a sua presença. Conforta-me a certeza, Senador Luiz Alberto, de saber que onde quer que V. Exª esteja nos próximos dias, meses e anos o Brasil continuará a contar com o brilho da sua inteligência, com o seu patriotismo e com a sua devoção aos interesses nacionais. Receba o meu abraço e a certeza de que aqui, neste plenário, para que fosse completa a tarefa com que esperamos retribuir a confiança em nós depositada pelo povo brasileiro, a única coisa que faltará será a presença de V. Exª, mas não nos faltará o seu exemplo e o seu padrão de comportamento. Meus parabéns a V. Exª por terminar tão bem essa tarefa, que espero seja renovada no futuro. Alguém disse, em algum momento da História do Brasil - não me lembro nem quem -, algo que talvez valha nesta hora: "A gente só sabe se uma vida foi boa quando ela termina." No momento em que V. Exª encerra a sua tarefa, pode voltar para casa cheio da satisfação de quem sabe que realizou um bom trabalho e que cumpriu a sua missão à altura das necessidades e expectativas do Paraná e do Brasil. Meus parabéns a V. Exª.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Eminente Senador Geraldo Melo, eminente Governador do Rio Grande do Norte, V. Exª, no seu aparte, traz-me a lembrança das épocas em que tive a honra e o prazer de presidir a União Parlamentar Interestadual, entidade que congrega 1.100 Parlamentares estaduais de todo o Brasil.

Foi na sua amorável Natal, naquela cidade que é esquina da liberdade, que os Deputados Estaduais se reuniram quando V. Exª foi o Governador do Estado. Pude tirar o distintivo de Presidente da UPI e entregá-lo a V. Exª para denominá-lo Deputado Estadual Honorário do Brasil, pelo entusiasmo de V. Exª, já naquela ocasião, em relação ao Parlamento e pelas lições de democracia que nos deu nos discursos que proferiu naquele encontro dos Deputados Estaduais brasileiros, em Natal.

Depois tive a oportunidade de conviver com V. Exª, de receber demonstrações de repetida amizade, companheirismo e aconselhamento. Tive a felicidade de poder voltar ao seu Estado, ao seu convívio, para, ao lado da sua família, com os meus filhos, ter o prazer de conhecer melhor aquele Estado, de ver as suas belezas naturais e, sobretudo, a beleza da grandeza humana de V. Exª, do respeito e do carinho que o povo do Rio Grande do Norte mantém para com V. Exª.

Gostaria, encerrando a resposta que faço a V. Exª, de lembrar a seguinte expressão de São Paulo: "Sê fiel até a morte, que eu te darei o reino da vida." Procurei ser fiel - e o sou -, eminente Senador, aos amigos que constituí, porque o reino da vida que Deus me dá é a amizade que tenho com eminentes homens públicos, como V. Exª.

O Sr. Elcio Alvares - V. Exª me permite um aparte, Senador Luiz Alberto?

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Com muito prazer, eminente Líder Elcio Alvares.

O Sr. Elcio Alvares - O Senador Geraldo Melo, como sempre, fotografou um aspecto bastante sui generis deste momento que estamos vivendo. Hoje a Casa está em festa: o Senador Arlindo Porto, convidado para o Ministério da Agricultura, honrará sobremodo o Governo Fernando Henrique Cardoso, pela sua posição de homem bastante retilíneo e um leal e dedicado colaborador da política de sustentação de Sua Excelência aqui no Senado. Não podemos, de maneira nenhuma, obscurecer o sentimento de tristeza que invade a todos. A sua saída, Senador Luiz Alberto de Oliveira, representa uma lacuna difícil de ser preenchida. Gostaria de, na condição de Líder do Governo - uma vez que V. Exª foi um Vice-Líder brilhante, tão companheiro e solidário -, deixar de lado o protocolo e a formalidade para dar vazão ao sentimento mais íntimo. Na vida pública, deve-se registrar o momento em que o coração prevalece e assume, por inteiro, as razões da inteligência e do próprio comportamento humano. V. Exª simboliza, nesta Tribuna, a amizade, pedra fundamental para tudo. Se tivéssemos de eleger, entre os nossos companheiros, aquele que simboliza a amizade, o traço de união entre todos, V. Exª teria, indubitavelmente, a preferência de seus Pares. Ao lado de Beth, uma companheira adorável e imprescindível da sua vida, V. Exª soube nos transmitir o calor humano. Muitas vezes, alquebrado pelas lutas parlamentares, muitos companheiros e eu encontrávamos o refúgio adequado na residência do eminente Senador Luiz Alberto de Oliveira, para que retemperássemos as nossas energias e voltássemos, no dia seguinte, para combater o bom combate. V. Exª passa por esta Casa, não com aquela fatuidade dos meteoros, pois é uma estrela brilhante, que deixa para todos nós, através de exemplos permanentes de amizade sincera e pura, uma página inesquecível de convivência humana. Senador Luiz Alberto de Oliveira, falar ao Paraná o que representou sua atuação nesta Casa seria repetir o conceito que V. Exª desfruta no seu Estado; falar ao Paraná da lacuna que começamos a registrar neste momento seria exatamente fazer um registro da perda, do desfalque que representa para o Senado da República a saída de V. Exª. Neste momento, tenho certeza, interpreto o pensamento de todos os seus Companheiros e o da Liderança do Governo que, por uma feliz coincidência, está sendo presidida pelo Senador Ramez Tebet, que, como nós, também tem a responsabilidade de ajudar o Presidente Fernando Henrique Cardoso nesta Casa. Não tenho dúvida, teríamos aqui a mesma voz de José Roberto Arruda, de Vilson Kleinübing a lhe dizer, com todo o sentimento, que V. Exª foi um companheiro notável, dando-nos, em todos os momentos, a tranqüilidade da sua amizade e, mais ainda, da sua fé no mandato e no trabalho que exercitou. Receba, no dia de hoje, nestas palavras feitas agora - todas partidas do coração - o preito maior que um homem público pode receber. Acima da verticalidade de seu comportamento e acima da probidade do cumprimento do mandato, o homem público tem que ter a certeza que o seu exemplo é lapidar para todos aqueles que convivem no seu cotidiano. V. Exª sai desta Casa, no dia de hoje, Senador Luiz Alberto de Oliveira, aureolado pela estima, pelo apreço, pela admiração sincera. Deus o acompanhe ao longo desses novos caminhos, e tenho certeza, assim como confio no País e no Governo Fernando Henrique Cardoso, de que V. Exª não é um homem público para ficar à margem dos fatos administrativos. Vamos torcer ardorosamente para que, em breves dias, se não for da tribuna do Senado, seja em outra missão ou em outros quadros administrativos da vida pública brasileira, possamos, mais uma vez, enaltecer a figura do notável Senador do Paraná, Luiz Alberto de Oliveira. Deus o acompanhe, ao lado dos seus familiares, com a certeza, cada vez maior, de que aqui V. Exª deixou uma legião imensa de amigos que jamais vão esquecê-lo, seja pelo trabalho, seja pela grande amizade que nos concedeu.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Fico sensibilizado com mais esta demonstração de amizade, de carinho pessoal, de amizade fraterna que nos une, eminente Senador Elcio Alvares. Desejo declarar a V. Exª que, mesmo tendo exercido outras funções na minha vida, uma das mais prazerosas, uma das que mais me entusiasmaram foi exatamente ter a oportunidade de servi-lo como Vice-Líder, sabendo, como sei, ao lado dos eminentes Senadores Ramez Tebet, Vilson Kleinübing e José Roberto Arruda, que servir à Liderança de V. Exª, à Liderança do eminente Presidente Fernando Henrique Cardoso é servir ao Brasil.

Desejo agradecer-lhe profundamente o convite que me formulou. Tenha V. Exª a convicção de que, pelos caminhos que andar, irei sempre tê-lo como meu líder e exemplo de homem público brasileiro.

O Sr. Romero Jucá - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Romero Jucá - Senador Luiz Alberto de Oliveira, tenho exercido a prerrogativa de falar como Líder do PFL, normalmente com muita satisfação e com muita honra. Mas hoje, na Liderança do PFL, falando por mim e por meus companheiros de Partido, faço-o sem muita satisfação. Comento a atuação de V. Exª por um dever de consciência e com o coração apertado de ter que sentir dentro em pouco a falta de um companheiro que, sem dúvida alguma, pela competência, pela seriedade e pelo espírito de amizade, ressaltado aqui pelos outros Srs. Senadores, escreveu uma história de integração e de relacionamento nesta Casa. Em nome do PFL, registro esse trabalho de V. Exª e digo que, como Senador pelo Paraná e pertencente aos quadros do PTB, V. Exª transcendeu em suas colaborações, em suas intervenções, em seu trabalho, em seu espírito público o seu Estado e o seu Partido. V. Exª foi e é um Senador do País. Portanto, de todos nós, de todos os Partidos que integram essa Casa, de todos os Senadores e funcionários do corpo técnico desta Casa, V. Exª só merece o nosso reconhecimento, o nosso apreço e a nossa homenagem. Tenho a certeza de que V. Exª deixa momentaneamente o Senado, mas não deixará a vida pública e não deixará de contribuir para o País. Sequioso que é o País de exemplos públicos, de figuras retas, sérias e competentes para fazer a transformação que almejamos, V. Exª, sem dúvida alguma, até por uma prerrogativa de necessidade, será convocado para continuar a dar uma colaboração expressa, não só ao Estado do Paraná, mas a toda a nossa Nação. Saúdo V. Exª e o abraço em nome do PFL. Digo, com muito carinho, que V. Exª vai fazer falta nesta Casa, porque foi um companheiro leal e competente, sobretudo um homem voltado para o bem deste País. Meus parabéns e aceite o nosso abraço.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Muito obrigado, eminente Senador Romero Jucá. Somos também velhos amigos, sou seu admirador deste o tempo em que V. Exª prestou relevantes serviços ao País como Presidente da Funai. Agradeço, sensibilizado, a sua demonstração de amizade, no momento em que V. Exª fala pelo Partido da Frente Liberal.

O Sr. José Agripino - V. Exª concede-me um aparte?

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Com prazer, nobre Senador.

O Sr. José Agripino - Senador Luiz Alberto - meu amigo Luiz Alberto, permita-me assim falar --, quero lhe dizer que, diferentemente de outros colegas que estão lamentando o seu discurso de despedida - claro que eu não gostaria de ouvi-lo -, ouço-o com alegria, porque vejo V. Exª fazer o seu discursos de despedida de um mandato limpo, sério, desempenhado com honradez e com respeito dos seus Pares. E isso é motivo de alegria. Todos os que o ouvem - eu estava no meu gabinete e apressei-me a vir ao plenário -, fazem-no com respeito, com o sentimento da amizade, pois são palavras de um paranaense ilustre, que aqui esteve e que poderá voltar - e voltará, pelo desejo de seus Pares -, mas que sai com a cabeça erguida. Tenho a consciência, amigo Luiz Alberto, Senador Luiz Alberto, de que esta é uma Casa de excelências: aqui têm assento ex-Presidentes da República, ex-Governadores, ex-Ministros, Parlamentares, homens ilustres, dignos, que fazem opinião. Opinião, nesta Casa, faz-se no plenário, nas comissões, nas reuniões e até no "cafezinho". V. Exª fez opinião aqui no Senado pelas suas palavras sensatas, discretas, sinceras, lúcidas, de homem experiente e bom que é. Não poderia deixar de lhe dirigir essas palavras porque vejo em V. Exª um homem público de respeito, que vai nos fazer falta. No meu entender, V. Exª fez opinião pela sensatez dos seus pontos de vista aqui sempre expostos; fez amigos pela fidalguia do seu comportamento permanente; e deixa saudades entre os seus amigos, pela sinceridade com que pratica o exercício da amizade. Estou certo de que nos encontraremos brevemente, nesta ou em outras tribunas ou em outros cargos, porque um homem com o seu preparo, com os seus méritos, com a sua capacidade, não pode passar à margem de um governo sério como o de Fernando Henrique Cardoso, que precisa de homens bons, sérios e competentes. É neste figurino que V. Exª se enquadra. Quero me associar ao sentimento de saudade, de amizade e de reconhecimento ao trabalho que V. Exª aqui fez em nome do Paraná e em nome do País. Que Deus o tenha e que me tenha permanentemente no rol de seus amigos, pois quero revê-lo sempre.

O SR. LUIZ ALBERTO OLIVEIRA - Muito obrigado, eminente Líder José Agripino.

V. Exª simboliza o perfil do Senador digno, reto e amigo. Costumo dizer que dos bons amigos que tenho, boa parcela deles é do Rio Grande do Norte. Ouvi ainda há pouco a manifestação do eminente Senador Geraldo Melo e agora ouvi a sua.

Devo reconhecer que o Rio Grande do Norte é um Estado privilegiado porque tem três Senadores de escol como V. Exª, o Senador Geraldo Melo e o Senador Fernando Bezerra. V. Exª é ex-Governador do Rio Grande do Norte por duas vezes, possui a marca do desenvolvimento, da seriedade, da dignidade e da postura correta de homem público.

Parabéns ao povo do Rio Grande do Norte por ter três Senadores da melhor envergadura moral e política.

O Sr. Bernardo Cabral- V. Exª me concede um aparte?

A Srª Emilia Fernandes - V. Exª me concede um aparte?

O SR. LUIZ ALBERTO OLIVEIRA - Ouvirei primeiramente o Senador Bernardo Cabral e posteriormente V. Exª.

O Sr. Bernardo Cabral - Se V. Exª me permitir, cederei a primazia à eminente Senadora Emilia Fernandes e, a seguir, farei o meu aparte.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Com muito prazer, Senador Bernardo Cabral. Seu cavalheirismo é habitual.

A Srª Emilia Fernandes - Agradeço o aparte e também a gentileza do Senador Bernardo Cabral. Neste momento, quando vários Senadores estão-se manifestando - tenho certeza -, de forma sincera e espontânea, os sentimentos que unem o Senador Luiz Alberto com os demais colegas desta Casa, eu não poderia ficar silenciosa. Como colega do PTB e como colega Senadora, gostaria de deixar registrados nos Anais os nossos cumprimentos a S. Exª e os nossos agradecimentos a Deus por ter conhecido esse companheiro, que tão bem soube prestigiar esta Casa e, acima de tudo, o nosso Partido. Os momentos que V. Exª passou nesta Casa são motivo de orgulho para o povo do seu Estado e para os quadros do Partido Trabalhista Brasileiro, o nosso Partido. Se por um lado, nós nos sentimos orgulhosos de mais um Senador do PTB ser chamado ao desafio de contribuir com o Governo Federal, assumindo a Pasta da Agricultura, por outro lado, lamentamos perder o convívio fraterno do Senador Luiz Alberto, a quem apresentamos nossos agradecimentos. Temos a certeza de que a sua capacidade e a seriedade com que levou a bom termo o desempenho de seu mandato ficarão guardadas no coração dos colegas Senadores e principalmente dos petebistas deste País. Senador Luiz Alberto, nós lhe desejamos muito sucesso em sua nova atividade. Temos certeza de que V. Exª dará continuidade ao seu trabalho voltado para o povo do Paraná. Leve também o nosso abraço a sua família que, de forma tão carinhosa e tão amiga, muitas vezes nos recebeu. Muito obrigada pelo convívio e que Deus o acompanhe na jornada que empreenderá daqui para frente.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Muito obrigado a V. Exª, eminente Senadora Emilia Fernandes. V. Exª, que tem engrandecido o Rio Grande do Sul, Estado de tantas e tão caras tradições políticas, V. Exª, que veio lá da fronteira, com os ventos da liberdade, com os ventos das dificuldades próprias e até do conhecimento do povo gaúcho, V. Exª, que veio lá dos Pampas amados do Rio Grande do Sul querido, tem engrandecido o Senado. Eu me sinto confortado por ter tido a oportunidade de ter um convívio tão agradável com V. Exª.

Ouço o eminente Senador Bernardo Cabral.

O Sr. Bernardo Cabral - Senador Luiz Alberto, aliás Senador Luiz Alberto Martins de Oliveira - faço assim justiça ao nome por inteiro -, se me faltassem, e penso que faltam, méritos para aparteá-lo...

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Não apoiado, Senador.

O Sr. Bernardo Cabral - ...eu já estaria feliz de ter cedido minha vez. Foi uma forma de provar ao Senado o quanto V. Exª é estimado. Não é à toa que os homens públicos não valem pela fortuna que conseguem formar, nem pelo poder de que eventualmente dispõem, mas por aquilo que realizam em prol da coletividade. V. Exª chegou ao Senado aureolado, porque, sem prática parlamentar mais demorada, mostrou consistência e densidade à medida que exercitava o múnus de relatar algumas matérias, inclusive na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Ora, quem fica para apartear no final do discurso, como eu, corre o risco da repetitividade. Quero fugir desse risco, porque o que aqui já foi dito dá a idéia de que a sua biografia pode ser escrita. Imagine V. Exª, se eu não tivesse tomado a liberdade de aparteá-lo, como ficariam esses apartes tão brilhantes ao serem comparados com outros. Seria difícil saber qual o melhor. Assim já se sabe qual deles é o mais fraco. Só por essa circunstância interrompo V. Exª. E o faço lembrando um velho paraibano, que, do alto de sua sabedoria, em determinada quadra de sua vida, voltava à Paraíba para disputar o cargo de governador. Seus inimigos políticos diziam que só estava voltando à Paraíba porque pretendia disputar esse cargo. Ministro de Getúlio, depois de ter escrito uma das páginas mais bonitas de que se tem notícia, A Bagaceira, José Américo deu, de público, a resposta. Disse: "Meus inimigos, meus detratores, estão dizendo que volto à Paraíba apenas para pleitear o cargo de Governador e se esquecem" - esta é a frase que quero destacar - "de que voltar é uma forma de renascer, e ninguém se perde no caminho da volta." Tenho a certeza de que V. Exª não se perderá no caminho da volta, que espero seja em breve.

O SR. LUIZ ALBERTO DE OLIVEIRA - Muito obrigado, meu eminente Relator Constituinte, Deputado brilhante em tantas legislaturas e eminente Senador pelo Estado do Amazonas. Suas palavras são tão fortes para mim quanto expressivo é para a Nação brasileira o caudaloso Rio Amazonas. V. Exª demonstra, com suas palavras, o apreço que conseguimos criar ao longo dessa nossa convivência.

Desejo afirmar no Senado da República que eu também já era seu admirador antes de aqui estar. Como Presidente da União Parlamentar Interestadual, convivi com V. Exª, quando V. Exª fez a tarefa gigantesca de redigir a Constituição de 1988. Posso testemunhar a lhaneza e a cordialidade com que V. Exª tratava aquele humilde Deputado estadual do Paraná, que vinha pedir seus aconselhamentos, para que pudéssemos escrever uma Constituição que fosse também uma Constituição da federação brasileira, como V. Exª também soube fazer em diversos artigos da nossa Carta Magna.

Por isso, declaro, mais uma vez neste plenário, que continuo seu aluno. V. Exª, para mim, é o mestre da amizade e da política brasileira.

Para concluir, Sr. Presidente, permito-me fazer rápidas considerações a respeito do Senado.

Esta Casa, acompanhando a ingente necessidade de modernizar-se e dessa forma fazer face aos novos desafios, tem-se mostrado, a cada dia, mais eficiente e expedita. Lembro o Professor e constitucionalista Manoel Gonçalves Ferreira Filho, quando afirma que uma das razões da crise da democracia pode localizar-se na incapacidade de o Parlamento atualizar-se e informatizar-se, acompanhando as rápidas mudanças do Executivo.

Saúdo, nesse sentido, todo o salutar esforço de modernização que o Presidente José Sarney, seus colegas de Mesa Diretora e todos os funcionários do Senado, desde a douta Consultoria até aqueles que nos servem em nossos gabinetes, têm dado no sentido de imprimir novos tempos e oferecer melhores condições de trabalho aos Srs. Senadores e ao Senado de maneira geral, porque, na verdade, com a modernização, com melhores condições de trabalho, estar-se-á promovendo e induzindo o próprio aperfeiçoamento da democracia.

Tenho a convicção de que mesmo sendo a "Casa da Prudência", como queria Rui Barbosa, esta Alta Casa do Parlamento brasileiro, pela sensibilidade e virtude de seus ilustres Senadores, saberá, também, como nos recomenda Bertold Brecht, ser a casa da transformação, pois ele disse que a principal tarefa do político é não temer o novo.

Levado ao paroxismo dos grandes desafios, caberá ao Senado um papel de protagonista no difícil caminho da construção da Nação justa e harmônica.

Não se trata apenas de desenvolvimento, de luta contra as injustiças estruturais e as desigualdades crônicas. Há todo um trabalho cotidiano, às vezes meras conjunturas, contra as quais só um paciente trabalho político é eficaz. Há, da mesma forma, a necessidade de inserimento do Brasil nos quadros internacionais, haja vista as grandes transformações derivadas da mundialização da economia e das avassaladoras integrações regionais e multirregionais.

Devo dizer aos paranaenses que sufragaram meu nome e permitiram que aqui estivesse que não hesito em, mesmo diante de tremendas dificuldades e incompreensões, acreditar piamente que este Senado pode ser e será contemporâneo ao desafio do seu tempo. "Aqueles que crêem na justiça, mesmo em oposição aos astrólogos, podem mudar o curso das estrelas...".

Os eminentes Senadores e as eminentes Senadoras que conheci não querem mudar o curso das estrelas, mas querem - isto sim - que aqui se ajude a construir uma pátria onde todos possam ter o "Sol bendito do pão", da liberdade, do trabalho e da cidadania.

Srªs e Srs. Senadores, combati o bom combate e encerrei minha carreira, mas guardo a minha fé na democracia e no Senado do meu País. (Muito bem. Palmas!)

Gostaria de registrar também o meu sincero agradecimento a todo o corpo de funcionários desta Casa, em especial às Diretorias Técnicas e a Douta Consultoria Legislativa, bem como a todos os servidores que trabalharam em meu gabinete.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/1996 - Página 7372