Pronunciamento de Romeu Tuma em 08/05/1996
Discurso no Senado Federal
COMEMORAÇÃO DOS 51 ANOS DO TERMINO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, RESSALTANDO A EXPRESSIVA COLABORAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB) NAQUELE EPISODIO.
- Autor
- Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- COMEMORAÇÃO DOS 51 ANOS DO TERMINO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, RESSALTANDO A EXPRESSIVA COLABORAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB) NAQUELE EPISODIO.
- Aparteantes
- Ramez Tebet.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/05/1996 - Página 7701
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, ANIVERSARIO, ENCERRAMENTO, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, ANALISE, CONFLITO, PARTICIPAÇÃO, RECONHECIMENTO, ATUAÇÃO, FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB).
O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a concessão do Senador Antonio Carlos Valadares, sempre gentil, um cavalheiro e um grande Senador.
Não poderia deixar de usar a palavra neste dia oito de maio. Ao celebrarmos, hoje, o quinquagésimo primeiro aniversário do término da Segunda Guerra Mundial, mais que comemoração - em tudo e por tudo justa -, somos convidados a refletir sobre o significado do conflito. É o que tentaremos fazer, ressaltando a brilhante e heróica participação brasileira no teatro das operações.
Foram múltiplas razões que fizeram da Segunda Guerra Mundial um acontecimento efetivamente singular. A extensão do território transformado em cenário de luta, a quantidade e a inovação tecnológica dos armamentos utilizados, o número de combatentes envolvidos, foram alguns dos aspectos que identificaram e individualizaram a Segunda Guerra.
Mas, acima de tudo, a Guerra iniciada em 1939 teve a defini-la o grande confronto que, por sua intrínseca dramaticidade, colocou a Humanidade ante seu mais incontornável dilema: Civilização ou Barbárie.
Creio residir nesse ponto o fulcro da reflexão que a data ora comemorada nos impele a fazer. Mesmo porque, como nos lembra Eduardo Galeno, "a História é um profeta com o olhar voltado para trás." Assim, ao desvendar o que foi, prenuncia o que virá. Compreendendo os sinais emitidos pelo passado, entendemos com mais nitidez o presente que vivemos e aprendemos a balizar com mais consistência e segurança o futuro que haveremos de construir.
Por sua singularidade, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Segunda Guerra não se confunde com nenhuma outra que a precedeu, mesmo no mundo contemporâneo. Conquanto os diversos fatores que determinaram o início das hostilidades tenham estado presentes em conflitos anteriores, algo de absolutamente novo veio caracterizar a Segunda Guerra, de forma inquestionável: mais que um jogo de potências ou mero confronto de interesses nacionais localizados, estava em marcha, naquele momento, um vigoroso projeto expansionista, alicerçado ideologicamente na frontal repulsa aos valores liberais e democráticos. Tratava-se do totalitarismo nazi-fascista.
O aspecto mais estarrecedor dos regimes totalitários é o fato de que, neles, a ausência de liberdade, a opressão institucionalizada, a prática banalizada do terror, a educação dirigida e o cerceamento da opinião conjugam-se e subordinam-se a um projeto maior de Estado que aniquila a Cidadania. É o todo anulando as partes.
Foi exatamente para impedir o desenvolvimento desse tipo de barbarismo político que se levantaram governos e nações, num esforço coletivo.
Foi exatamente para fazer prevalecer os mais elevados princípios da Civilização que a Humanidade aceitou pagar o pesado tributo imposto pela guerra: mobilização de cerca de noventa milhões de combatentes, entre 1939 e 1945; a morte de cinqüenta e cinco milhões de pessoas, metade das quais civis, em grande parte sacrificadas nos campos de concentração e extermínio nazistas; milhões de mutilados; imensas áreas agrícolas arrasadas; milhares de cidades destruídas.
Para orgulho de todos nós, o Brasil não se omitiu, sobretudo pela emocionada e consciente ação de seus cidadãos. Tendo uma exata percepção do cenário internacional - tornada mais aguda com a agressão do Eixo ao País, materializada pelo afundamento de navios brasileiros em nosso litoral -, a população fez das ruas o palco de comícios permanentes e empurrou o Governo Vargas a tomar a única atitude que dele se esperava: comprovados os atos de guerra contra a soberania nacional, reconheceu-se, a 22 de agosto de 1942, "a situação de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras - Alemanha e Itália".
Em verdade, a sociedade brasileira, em sua quase totalidade, desde o início do conflito, ficou flagrantemente ao lado da causa aliada. O jornalista e escritor Joel Silveira, testemunha viva daquele período, inclusive nos campos da Itália, confirma: "De fato, desde o dia 1º de setembro de 1939, quando Adolf Hitler, invadindo a Polônia, desencadeou o que viria a ser a Segunda Guerra Mundial, o povo brasileiro em sua grande maioria tomava o partido das nações brutalmente agredidas pelo nazi-fascismo. Logo nos primeiros dias da guerra, essa tomada de posição era demonstrada nos vários e incandescentes comícios improvisados pela massa popular nas várias regiões do País, particularmente no Rio e em São Paulo".
Aliás, deve-se lembrar que, quatro dias antes de o Governo anunciar o estado de beligerância entre o Brasil e as potências européias do Eixo, estudantes cariocas, liderados pela recém-criada União Nacional dos Estudantes, apoderaram-se do prédio número 132 da Praia do Flamengo, sede do Clube Germânia e local de reunião da elite da colônia alemã na então Capital, lá instalando o "Quartel-General dos Estudantes" contra a "quinta-coluna" no Brasil.
Único país latino-americano a enviar contingentes militares para lutar ao lado dos aliados contra o nazi-fascismo, o Brasil prestou expressiva contribuição para o término da Segunda Guerra. Sob o comando do General Mascarenhas de Moraes, a Força Expedicionária Brasileira contou, no campo de batalha, com o heroísmo e a bravura de vinte e cinco mil, quatrocentos e quarenta e cinco combatentes. De igual modo, há que se ressaltar o desempenho de nossa Marinha no patrulhamento do Atlântico Sul e do grupo de caça da Força Aérea que, atuando na área do Mediterrâneo, completou quatrocentos e quarenta e cinco missões com pleno êxito.
A atuação brasileira no conflito, Sr. Presidente e Srs. Senadores, nos orgulha profundamente. Enfrentando as mais adversas condições, souberam nossos soldados multiplicar suas forças na defesa de uma nobre causa. Seguindo uma tradição advinda do período colonial, "nossos guerreiros, destemidos, com intrépida bravura, foram sempre valorosos combatentes", como bem salientou o General Darcy Lázaro.
Ao final da guerra, a Força Expedicionária Brasileira contabilizava o aprisionamento de dois generais, oitocentos e noventa e dois oficiais, dezenove mil seiscentos e oitenta e nove praças, num total de vinte mil, quinhentos e oitenta e três inimigos; ademais, apreendeu oitenta canhões, cinco mil viaturas militares, além de muito material bélico.
Sofremos mil novecentos e sete baixas durante a guerra, das quais novecentos e setenta e uma de passageiros e tripulantes dos trinta e um navios mercantes afundados pelos submarinos inimigos.
Quem viu de perto o conflito soube reconhecer o valor da atuação brasileira. Há exatos cinqüenta e um anos, no momento da capitulação alemã, o governo britânico, em mensagem assinada pelo Rei Jorge VI, congratulava-se com o Presidente Getúlio Vargas, destacando: "O Brasil pode reivindicar para si uma parte digna na vitória das Nações Unidas. Seus filhos deram ainda mais brilho às armas brasileiras, em brava camaradagem de armas com as forças aliadas na Itália e puseram à disposição dos aliados recursos indispensáveis, de toda a espécie, para o esforço de guerra comum".
Pode-se dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que a Força Expedicionária Brasileira, no campo de luta, cumprindo com seu o dever, fez ainda mais: representou um momento de afirmação nacional, sintetizando a alma de toda a Nação.
Compondo a coalizão antinazi-fascista, o Brasil juntou seus esforços ao de todos aqueles que compreendiam o enorme perigo que o totalitarismo representava para o mundo. Esse verdadeiro sentimento moral esteve sempre presente, em todos os momentos, em nossa participação no conflito. Não foi por outra razão que, ao cessarem as hostilidades em território italiano, o Comandante da FEB tinha dirigido mensagem ao Presidente Vargas, no seguinte diapasão: "Cumprida nossa árdua missão, estamos liberados para regressar à Pátria, com a consciência tranqüila por tê-la bem servido, atraindo para seu nome glorioso a estima e o respeito dos povos que amam a liberdade".
Ao reverenciarmos nossos heróis de cinqüenta e um anos atrás, devemos emprestar às nossas palavras a correspondência concreta da ação.
O Sr. Ramez Tebet - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. ROMEU TUMA - Pois não, Senador.
O Sr. Ramez Tebet - Com a permissão de V. Exª, gostaria de trazer a minha modesta homenagem à Força Expedicionária Brasileira, à luta que o mundo inteiro travou e o Brasil dela fez parte através da FEB, lutando bravamente nos campos da Itália em uma luta que se travou entre o totalitarismo e a democracia. O seu triunfo, que veio repercutir aqui, no Brasil, fez cair o regime de força que então vigorava em 1945, restabelecendo, a partir de 1946, a democracia no Brasil. Lembro-me, Senador Romeu Tuma, que nessa ocasião, eu ainda cursava o então curso primário, era escoteiro e fazia parte da banda da escola primária, onde estudei no meu torrão natal, e foi com muita emoção - estou retrocedendo no tempo - que então comparecíamos à estrada de ferro Noroeste do Brasil para receber nossos heróis de guerra. Quero cumprimentar V. Exª pela lembrança que teve e está tendo, como Senador da República, fazendo com que esta Casa se recorde - e não só se recorde - e preste reverência à memória daqueles que, nos campos de batalha, lutaram para defender o regime da liberdade no mundo. Cumprimento V. Exª e peço sua permissão para que a minha voz se junte à sua; as minhas palavras em nada acrescentam às suas, mas, sem dúvida, refletem o meu estado de espírito, o meu estado de alma neste momento, num justo preito de reconhecimento à memória de tantos quantos tombaram nos campos de batalha em defesa da liberdade e da democracia. Os meus cumprimentos ao brilhante pronunciamento de V. Exª.
O SR. ROMEU TUMA - Senador Ramez Tebet, agradeço e incorporo ao meu discurso as honrosas palavras de V. Exª, no momento em que rememoramos fatos heróicos da nossa história.
Ao reverenciar os nossos heróis de cinqüenta e um anos atrás, devemos emprestar às nossas palavras a correspondência concreta da ação. Que as lições da guerra nos ensinem o caminho da paz, da prosperidade e da reconciliação internacional. Neste momento em que o pranto se transmuta em canto, em que a dor e o desalento cedem lugar à esperança, é necessário que reafirmemos nossa crença nos mesmos elevados valores que nos fizeram pegar em armas. Lembrar sempre que a liberdade é o único caminho para integrar a humanização da sociedade.
Ao agradecermos, num misto de gratidão e respeito, aos que combateram o bom combate, é justo que reassumamos nossos compromissos de não permitir que a intolerância e a discriminação encontre terreno fértil na sua propagação. Esse é o nosso dever. Sejamos dignos do legado que recebemos de quem, no momento certo, cumpriu sua missão.
Era o que tinha a dizer.