Discurso no Senado Federal

REPUDIO AS MANCHETES DE VARIOS JORNAIS, DE QUE O MOVIMENTO DE TRABALHADORES LIGADOS A QUESTÃO DA NECESSIDADE DA TERRA, ESTARIA COM UM PLANO DE SABOTAR A USINA HIDRELETRICA DE TUCURUI, NO PARA.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA. ENERGIA ELETRICA.:
  • REPUDIO AS MANCHETES DE VARIOS JORNAIS, DE QUE O MOVIMENTO DE TRABALHADORES LIGADOS A QUESTÃO DA NECESSIDADE DA TERRA, ESTARIA COM UM PLANO DE SABOTAR A USINA HIDRELETRICA DE TUCURUI, NO PARA.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/1996 - Página 8865
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA. ENERGIA ELETRICA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, SENADO, OPINIÃO PUBLICA, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, DENUNCIA, SABOTAGEM, ELETRICITARIO, USINA HIDROELETRICA, ESTADO DO PARA (PA).
  • INFORMAÇÃO, ENTIDADE, PARTICIPAÇÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, AUSENCIA, ELETRICITARIO, OBJETIVO, REFORMA AGRARIA, NEGOCIAÇÃO, CENTRAIS ELETRICAS DO NORTE DO BRASIL S/A (ELETRONORTE), ENERGIA ELETRICA, ESTADO DO PARA (PA).
  • CRITICA, POLITICA ENERGETICA, EXCLUSÃO, FORNECIMENTO, ENERGIA, INSUFICIENCIA, MUNICIPIO, ESTADO DO PARA (PA), PROXIMIDADE, USINA HIDROELETRICA.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, gostaria de prestar um esclarecimento ao Senado e à opinião pública do meu País sobre as manchetes de alguns jornais publicadas no dia de ontem e no dia de hoje. Elas ressaltam que as dependências da Eletronorte, em Tucuruí, foram invadidas, com a intenção de desligar e sabotar a usina.

Essa notícia partiu do Palácio do Planalto e do Governador do Pará, Almir Gabriel, dizendo que foi descoberto "um plano de sabotagem" na Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

Fiquei surpreso porque venho acompanhando esse movimento que está ocorrendo no Pará e que é organizado pela CUT - Central Única dos Trabalhadores -, pela Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura -, pela Fetagri - Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Pará - e pelos sindicatos de trabalhadores rurais da região. Eles aproveitaram o movimento "Grito da Terra Brasil", de caráter nacional, que acontece entre 1º de maio e 1º de junho, para reunir o povo dessa região na luta pela reforma agrária. É evidente que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra também está participando, mas não são eles que estão dando a direção do movimento, e sim a Contag e a Fetagri. Na verdade nem a CUT está participando diretamente, mas apenas federações e sindicatos a ela filiados.

Esses movimentos associaram-se à questão da necessidade da terra e, no meu Estado, estão fazendo dois grandes movimentos: um em Belém e outro em Tucuruí. E por que em Tucuruí? Esse movimento está buscando e reivindicando energia para o Estado do Pará. Resolveram, então, reunir-se em Tucuruí e chamar a Eletronorte para uma negociação, para que ela e o Ministério das Minas e Energia definam quando a energia da hidrelétrica de Tucuruí irá para os outros municípios do Pará, para o Baixo Amazonas, para o Baixo Tocantins, para os eixos do sul do Pará e para a margem direita do Rio Amazonas.

É inadmissível aceitar o que está acontecendo. Tucuruí, já disse e repito aqui, não foi construída para a Amazônia, foi construída para viabilizar o Projeto Albrás/Alunorte, o Projeto Alcoa, no Maranhão, e o Projeto Carajás.

Existem 69 municípios no meu Estado que não recebem energia da hidrelétrica de Tucuruí, e a maioria dos que tem essa energia não a tem em condições suficientes para implantar um parque industrial necessário ao seu desenvolvimento. Eles têm energia apenas para o consumo nas casas, mas não dá para a indústria madeireira e outras.

Cametá fica a 200 quilômetros de Tucuruí e não recebe energia. Baião fica a menos de 100 quilômetros de Tucuruí e não tem energia. Mocajuba, Tailândia, Oeiras do Pará, Limoeiro do Ajuru são cidades bem próximas à hidrelétrica, e o Governo jamais pensou em levar energia até elas.

O Pará tem cinco grandes eixos de municípios sem energia dessa hidrelétrica. Um que vai para o Baixo Tocantins, pegando Cametá, Oeiras do Pará, Limoeiro do Ajuru; na margem direita do Rio Tocantins, Tailândia, Baião e Mocajuba. Outro eixo que vai para o Baixo Amazonas, pegando toda a Transamazônica até Santarém e Itaituba. Mais dois eixos no fim do Pará, pegando de Xinguara a São Félix do Xingu, passando por Água Azul, Ourilândia e Tucumã. E outro trecho que vai a Santana do Araguaia, pegando Cumaru do Norte e Santa Maria das Barreiras. E ainda toda a margem direita do rio Amazonas, formada por nove municípios que não recebem energia dessa hidrelétrica.

Portanto, o movimento desses trabalhadores, Sr. Presidente, objetivava única e simplesmente negociar com a Eletronorte. Nós aqui no Congresso Nacional destinamos no Orçamento de 1996 R$7,5 milhões para o linhão de Cametá, e RS$13,5 milhões para o linhão do Baixo Amazonas. Para os outros três eixos não conseguimos nenhum centavo. E são recursos ainda insuficientes para essas obras.

Agora vêm os jornais e o Presidente da República dizer que os seus meios de informação detectaram um movimento dos eletricitários a nível nacional, em que iriam fechar e desligar a hidrelétrica de Tucuruí. Isso é um verdadeiro absurdo, não faz o menor sentido. Eu tenho participado da organização desses movimentos. E estou falando agora porque às três horas estarei com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura, a Confederação, com alguns parlamentares e ainda com representantes do Ministério das Minas e Energia e o Presidente da Eletronorte, pedindo que negociem com os mais de três mil trabalhadores que estão acampados nas proximidades da hidrelétrica.

Mas quero dizer que os eletricitários não têm nada a ver com isso, não participaram da organização desse movimento, não fizeram absolutamente nada nesse sentido e jamais se pensou em fechar a hidrelétrica de Tucuruí, desligá-la ou fazer qualquer ato de sabotagem como os que estão citados no jornal O Liberal, denunciados pelo Governador Almir Gabriel, no Jornal do Brasil de hoje, em O Globo e outros.

Isso é uma absoluta inverdade, não existiu jamais essa intenção por parte dos movimentos dos trabalhadores. Os eletricitários não fizeram parte desse movimento.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/1996 - Página 8865