Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DA CAMARA DOS DEPUTADOS A 11 BANCARIOS QUE SE SUICIDARAM, EM VIRTUDE DE DIFICULDADES FINANCEIRAS EM DECORRENCIA DO PLANO REAL.

Autor
Lauro Campos (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DA CAMARA DOS DEPUTADOS A 11 BANCARIOS QUE SE SUICIDARAM, EM VIRTUDE DE DIFICULDADES FINANCEIRAS EM DECORRENCIA DO PLANO REAL.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/1996 - Página 8875
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, BANCARIO, SUICIDIO, MOTIVO, CRISE, CONJUNTURA ECONOMICA, DEFASAGEM, SALARIO, AMEAÇA, DEMISSÃO, CATEGORIA.

O SR. LAURO CAMPOS (PT-DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há cerca de uma semana, a Câmara dos Deputados prestou uma homenagem a onze bancários que, não suportando as agruras da conjuntura atual, se suicidaram. São onze brasileiros que não resistiram à dureza do combate que a vida lhes ofereceu.

Realmente aquela classe, aquela categoria que até há pouco tempo era considerada privilegiada, que tinha um futuro alvissareiro pela frente, podendo galgar os vários patamares da profissão, em alguns bancos atingiram até mesmo a diretoria, uma classe que podia ficar tranqüila diante da situação de sua família, da direção e condução de seus filhos, de repente foi assolada por esse enxugamento, por essa redução da base monetária, por esse dominó que vai derrubando banco a banco e que vai levando, como estratégia geral da política tanto no nível da administração pública quanto da administração privada, a recorrer ao tal dos downsizing, à reengenharia, à informática, cada vez maior, e à robótica, etc. Com isso, sabemos que os trabalhadores do setor bancário têm recorrido ao suicídio como forma desesperada de escapar do futuro que se desfechou como uma cortina negra. Onze bancários recorreram ao suicídio!

Li há muitos anos, embora não fosse da minha especialização ou dos meus interesses mais imediatos, um alentado trabalho de um positivista respeitável, Émile Durkheim, sobre o suicídio. Recordo-me que Émile Durkheim estabelece três categorias de suicídio, cada uma delas com características ligadas a determinadas classes sociais: o suicídio anômico, o suicídio egoísta e o suicídio altruísta. São as três categorias em que Durkheim coloca os suicídios na sociedade moderna.

O anômico é o de uma sociedade de mercado, de uma sociedade que desampara os indivíduos, que os isola e que os leva a recorrer a esse tipo de suicídio.

Mas lá, naquele trabalho clássico sobre suicídio, não vi nenhuma categoria que pudesse explicar esses onze suicídios de bancários brasileiros.

Realmente estamos diante de um fenômeno praticamente inédito. Uma categoria tranqüila e bem remunerada é, de repente, levada a recorrer ao suicídio como forma de escapar de seu futuro.

Não é de estranhar que esses companheiros bancários não tenham tido coragem suficiente para enfrentar a vida atual. É que a Febraban, há meses, já havia ameaçado com 180 mil demissões no setor. E vemos, a cada momento, estímulos e incentivos para que os funcionários dos bancos, tanto dos bancos oficiais quanto dos bancos privados, venham a se aposentar.

Diante disso, quero unir-me, incorporar-me a essa homenagem que a Câmara dos Deputados prestou a esses onze combatentes, que, como tantos outros no campo e em outros movimentos sociais, não têm podido garantir sua sobrevivência.

Quero estender minha homenagem a esses onze bancários e congratular-me com a Câmara dos Deputados por ter dedicado uma sessão inteira em homenagem à memória dessas vítimas de nossa política financeira, econômica e dita social.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/1996 - Página 8875