Discurso no Senado Federal

QUESTIONANDO A EFICIENCIA SOCIAL DA DEMOCRACIA BRASILEIRA EM CONTRAPARTIDA A REALIDADE DO PAIS.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DEMOCRATICO.:
  • QUESTIONANDO A EFICIENCIA SOCIAL DA DEMOCRACIA BRASILEIRA EM CONTRAPARTIDA A REALIDADE DO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/1996 - Página 8772
Assunto
Outros > ESTADO DEMOCRATICO.
Indexação
  • ANALISE, INEFICACIA, MODELO, DEMOCRACIA, BRASIL, DIFICULDADE, MAIORIA, POVO, ACESSO, INFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO, SAUDE, DISPARIDADE, SALARIO, IMPUNIDADE, CRIME DO COLARINHO BRANCO.
  • CRITICA, SENADOR, DEFESA, DEMOCRACIA, DESCONHECIMENTO, SITUAÇÃO, POBREZA, VIDA, OPÇÃO, LUTA, ARMAMENTO.

O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB-PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na verdade, tenho um extenso pronunciamento para fazer hoje - e para isso esperarei a Ordem do Dia -, mas o debate que foi aqui colocado pelos Senadores Geraldo Melo, José Eduardo Dutra e Elcio Alvares me chama a colocar alguma reflexão.

Todos falamos em democracia, todos, evidentemente, desejamos a democracia. E democracia, Senador Elcio Alvares, no seu conceito formal, significa fazer prevalecer o direito da maioria. Democracia é isso. Democracia existe quando existe respeito ao direito do povo.

Nós temos uma democracia formal, não uma democracia real, porque, na verdade, V. Exª há de convir que no nosso Brasil não se faz a vontade da maioria. Porque se democracia existisse no nosso País, Senador Elcio Alvares, não existiriam as diferenças salariais astronômicas que existem aqui. Será que a maioria do povo brasileiro pensa que nós, Senadores e Deputados Federais, temos o direito de ganhar o salário de oitenta professores ou oitenta policiais militares de alguns Estados? Ou que alguns aposentados deste País que ganhem R$20, R$30, R$50 mil, ganhando, portanto, o direito de quinhentos trabalhadores normais? Isso é democracia? É evidente que a vontade da maioria não está sendo satisfeita nesse processo.

Ora, os trabalhadores rurais sem terra saem por este País afora dispostos a matar e a morrer para terem 50 hectares de terra. E nós vemos, por exemplo, o dono da CR Almeida afirmar agora que comprou, no Estado do Pará, 4,6 milhões de hectares de terra; nós vemos a Jari Florestal com 3 milhões de hectares de terra; nós vemos o Bamerindus, de propriedade do nosso querido Colega, com 120 mil hectares de terra no meu Estado do Pará; nós vemos também a Queiroz Galvão, a Cetenco Engenharia, a Camargo Corrêa, o Banco Itaú, o Banco Sudameris; enfim, os banqueiros e as empresas construtoras são as grandes proprietárias de terras em nosso País. E o pobre do trabalhador rural, que precisa trabalhar, à vezes tem que matar ou morrer para ter um pedaço de terra. Isso é democracia? Que democracia é essa? Que vontade de maioria é essa que se implanta neste nosso Brasil? Onde está a democracia?

A democracia é uma falácia. A democracia existe quando existe o acesso à informação, quando o cidadão comum é capaz de discernir entre o que é bom e o que é ruim para ele. Infelizmente, não existe democracia nem na distribuição dos meios de comunicação deste País, que vivem ensinando ao povo brasileiro que política é coisa de corrupto e de safado. E, infelizmente, grande parte do povo brasileiro assimila essa informação e vai para a eleição entendendo que só há política nas vésperas da eleição. E normalmente ele vota naqueles que fizeram uma vicinal de última hora, que lhe prestaram um benefício qualquer em determinado momento de dificuldade. Vota num cidadão que não sabem quem é, nem a qual partido pertence e qual é o seu projeto político. E essas pessoas vêm para este Congresso Nacional para defender essa democracia que o Senador Elcio Alvares e que o Senador Geraldo Melo estão defendendo. Isso não é democracia. Ainda temos muito a conquistar.

Será que a maioria do povo brasileiro, dos democratas deste País, entendem que somente a classe média, que somente aqueles que têm acesso à saúde podem fazer um exame de ultra-sonografia, ou um exame mais complicado? O pobre comum não tem acesso a esses exames. Qual o lavrador, desses pobres sem-terra que morreram, homens de mãos calejadas, que pode sonhar em ver seu filho formar-se advogado, dentista, médico? Enfim, que democracia é essa?

Quando alguém fala em luta armada, em buscar essa justiça e essa democracia até mesmo pela violência, caberia aos democratas que estão neste Senado, neste Congresso Nacional, defendendo com tanta garra essa democracia, sensibilizarem-se um pouco com a realidade da vida dessa gente, com a realidade da vida do Brasil.

Em outros países do mundo, da Europa, por exemplo, onde as pessoas têm acesso à informação, têm formas e meios de se impor ao processo político, não existem as diferenças salariais que existem aqui, nem a impunidade que existe aqui, em relação aos crimes do colarinho branco. Hoje está todo mundo solto: Collor, PC, bem como os Senadores e os Deputados Federais que roubaram o Orçamento da União e que nem sequer devolveram o dinheiro - muito mal, alguns deles perderam o mandato! Houve Senadores que roubaram esta Nação e nem o mandato perderam.

Portanto, Sr. Presidente, há muito o que se refletir quando se defende democracia.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/1996 - Página 8772