Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/1996 - Página 9451
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADOLPHO BLOCH, EMPRESARIO, IMIGRANTE, CRIAÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eminente Senador Ney Suassuna, que preside esta sessão; eminente Vice-Presidente da Rede Manchete, Dr. Carlos Sigelmann, que por certo está encarnando também aqui Jack Kapeller, o nosso "Jaquito"; eminentes e queridos amigos Murilo Mello Filho e Carlos Chagas - um, Murilo, há quase quarenta anos ininterruptos; o outro, Carlos Chagas, há mais de trinta, e os dois têm mantido comigo um sentimento de amizade que tem sido suficientemente forte para vencer o tempo, a distância e o silêncio; Srªs e Srs. Senadores:

O Senador Roberto Requião conseguiu hoje estilar em todos nós um sentimento - estou certo - de que não somos possuídos: o sentimento da inveja. Com a autoria do seu requerimento, nesta homenagem merecida à Rede Manchete, S. Exª produziu aquilo para que um Parlamentar deve estar sempre atento, uma homenagem mais do que merecida. Diz S. Exª, no poema que leu, que, se caráter custa caro, S. Exª paga o preço. Digo, por meu turno: se esta ousadia de usar a tribuna agora custa caro, quero pagá-lo. Porque eu deveria não vir de mãos abanando, com um discurso denso, adrede preparado, para que pudessem os dois primeiros ser comparados na sua superioridade a este meu, que seria muito menor.

Ora, se, de improviso, é evidente que ele não poderá ser comparado, também não pago um preço a mais pela ousadia de usar a tribuna depois dos dois oradores: Senadora Benedita da Silva, que nos dá o segundo item da inveja, porque nasceu no Rio de Janeiro e ali está a Rede Manchete; e o Senador Roberto Requião, porque produziu, sem dúvida nenhuma, uma peça de oratória vinda lá de dentro.

O que deverei eu fazer, portanto? Vir para cá e ser repetitivo? Falar sobre a Rede Manchete, do seu 13º aniversário, das conquistas, dos sofrimentos, do tempo tantas vezes perdido em perseguição de outras com maior disponibilidade financeira? Será que isso acrescentaria alguma coisa? O que posso eu dizer então, sem correr o risco da comparação do discurso que é a lamparina para o sol, dos que aqui foram pronunciados? Ou dizer alguma coisa que me toca o coração? É por aí que devo dizer.

Quando conheci Adolpho Bloch - e quero prestar a minha homenagem centralizando-a nele - foi pelas mãos de Murilo Mello Filho. Era então um simples Deputado Estadual, depois de ter sido Chefe da Casa Civil, onde começou a amizade entre mim e Murilo.

Homem extremamente afável, guardo dele, sem dúvida nenhuma, a idéia do cidadão que era um combatente. Ele trazia sempre presente aquela pessoa que não faz da esperança um trânsito para o desencanto. Ele alimentava suas esperanças sabendo que podia sonhar sempre com vitórias. Depois, Deputado Federal, Murilo dirigia a Revista Machete aqui em Brasília. A nossa amizade se estreitou e, mais tarde, já como Presidente do Centro Cultural Brasil-Israel, no Rio de Janeiro, com o meu mandato cassado, 10 anos de direitos políticos suspensos, Adolpho Bloch me recebia no seu apartamento, na Avenida Atlântica, no Edifício Machado de Assis.

E os planos que ele elaborava, o que ele dizia para o futuro, dava uma idéia de que ele era eterno. E se não o foi em termos físicos, está aqui provando a sua eternidade na lembrança de todos nós.

É incrível como certas pessoas trazem consigo, de forma tão arraigada, o sentimento da existência, que ela é capaz de sobrepujar a materialidade momentânea, eventual, para se firmar ad eternum.

Adolpho Bloch dizia sempre - e eu anotei - que o relógio das religiões marca séculos e não horas. É que ele era judeu-ucraniano e sabia, pela perseguição que havia sofrido com a sua família, que é bom que se marquem séculos, que o relógio, com seus ponteiros, não pense nas horas. Não havia, portanto, dentro dele, o sentimento do fanatismo religioso, até na forma como defendia Israel, após a sua criação. Quem visita aquele país vê, sobretudo em alguns institutos como o Weizmann, o seu nome como um dos doadores. Sente-se na criação da revista Manchete e, depois, da TV Manchete um sentimento que ele deve ter carregado a vida inteira.

No instante em que o Senado Federal, a mais alta Casa Legislativa, presta homenagem à Rede Manchete, no seu 13º ano de existência, e não consegue englobar tudo da figura de Adolpho Bloch, deve-se dizer - é uma idéia que tenho - que ele foi muito grande para o seu tempo.

Se considerarmos que um homem, após ter ultrapassado meio século de existência, consegue criar dentro de si, em concorrência com uma outra rede de televisão estabelecida e estabilizada há tanto tempo, a idéia de que deveria lutar para que se mostrasse uma alternativa, como se ele não soubesse dos percalços, é de se registrar que essa homenagem é mais do que sincera.

Todos nós, hoje, pagamos um preço, não apenas o preço do poema do Senador Roberto Requião. É como se estivéssemos aqui, chegando perto do pedágio, e tivéssemos que parar o nosso veículo para pagá-lo; caso contrário, não poderíamos ultrapassar as barreiras.

Pago, hoje, o preço desse pedágio. Quero ultrapassá-lo. Quero que nos Anais da Casa fique registrado que aquele Deputado Federal, que teve o seu mandato cassado e dez anos de direitos políticos suspensos, sempre recebeu de Adolpho Bloch o carinho, a ternura, o apoio - e ele já havia feito por Juscelino Kubitschek, como já registrado aqui e não vou repetir, tudo o que um amigo leal pode fazer.

Se não trouxe um discurso preparado, denso, como ele merecia, se venho com as mãos vazias, devo dizer que estou com meu coração cheio de ternura, de agradecimento, de reconhecimento. Talvez por isso penso que devo corrigir a frase: Adolpho Bloch não foi somente grande para a sua época; foi genial para o seu tempo.

E, se é assim, se é com esse sentimento que eu dizia a V. Exªs que tinha a audácia de ocupar a tribuna, é menos pelo valor que o discurso pudesse ter e mais pelo sentimento que nesta hora eu deveria registrar. E, ao registrá-lo, quero fazer minha, na conclusão desta fala, uma palavra que foi dita pelo meu velho e querido amigo Murilo Mello Filho. Num dos melhores artigos que já se escreveu sobre Adolpho Bloch, Murilo dizia: "Adolpho sempre sonhou com o Brasil grande". Este Brasil grande está hoje homenageando a memória de Adolpho Bloch.

Obrigado, Sr. Presidente. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/1996 - Página 9451