Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE, NOS TERMOS DO REQUERIMENTO 525, DE 1996, DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO E OUTROS SRS. SENADORES.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE, NOS TERMOS DO REQUERIMENTO 525, DE 1996, DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO E OUTROS SRS. SENADORES.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/1996 - Página 9477
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADOLPHO BLOCH, EMPRESARIO, CRIAÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, pela manhã, eu refletia sobre a saga da Rede Manchete: suas dificuldades de sobreviver no mercado difícil; a independência do seu jornalismo a iluminar, em momentos cruciais, a consciência nacional; a opinião clara de Villas Boas Corrêa, de Carlos Chagas, a simpatia irradiante de Márcia Peltier, e associava essa saga a um poema de um poeta português que, exilado do regime salazarista, morreu na minha cidade, Curitiba, o poeta Sidónio Muralha.

Dele é o poema "Roteiro", que se parece muito com a nossa Manchete:

      "Parar. Parar não paro.

      Esquecer. Esquecer não esqueço.

      Se caráter custa caro pago o preço.

      Pago embora seja raro.

      Mas homem não tem avesso

      e o peso da pedra eu comparo à força do arremesso.

      Um rio, só se for claro.

      Correr, sim, mas sem tropeço.

      Mas, se tropeçar, não paro

      - não paro nem mereço.

      E que ninguém me dê amparo

      nem me pergunte se padeço.

      Não sou nem serei avaro

      - se caráter custa caro

      pago o preço."

É uma lição de vida; é um roteiro de existência; é um exemplo semelhante ao da Rede Manchete, insistindo em dar pluralidade à opinião da rede televisiva brasileira.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha satisfação é enorme ao subir esta tribuna para saudar uma grande empresa brasileira de telecomunicações cujo 13º aniversário hoje se comemora.

A Rede Manchete vem levando, desde 1983, a milhões de lares espalhados por todo o País, uma programação de excelente qualidade técnica e notável significação cultural.

Contando com cinco estações próprias, situadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, além de 42 emissoras afiliadas, a Rede Manchete contribui de modo brilhante e incontestável para a diversificação das opções de que dispõe o telespectador brasileiro.

É difícil estimar, no mundo de hoje, a importância da televisão como veículo de comunicação social: difunde, dia e noite, não só informações, mas também valores e padrões de comportamento; proporciona não apenas entretenimento, mas também concorre à educação e à formação do processo civilizatório dos povos.

A qualidade da programação tem sido a bandeira mais importante da Manchete nesses 13 anos. Desde o início, sobressaiu-se o jornalismo por ela praticado, que não se limita a transmitir a notícia, mas procura analisá-la e considerar suas mais amplas implicações. Logo na memorável mobilização popular pelas "Diretas já", mostrou o jornalismo da Rede Manchete louvável independência e compromisso intransigente para com a verdade. Essa tradição, até hoje mantida, tem sido responsável por ampla audiência e pelo grande número de prêmios concedidos ao Jornal da Manchete, bem como a diversos programas especiais de natureza jornalística.

Menção especial pode ser feita às telenovelas da Manchete, que evitam os apelos fáceis e a entronização da banalidade. A emissora tem procurado conjugar ao entretenimento temas de relevância cultural, histórica e social. Como podemos esquecer "Dona Beija", que abriu, com seus encantos, o caminho para a conquista do mercado externo? Ou da ainda mais notável reconstituição histórica da "Kananga do Japão"? E o que dizer da fantástica renovação da linguagem televisual empreendida por "Pantanal", obtendo por resposta um estrondoso sucesso? Agora mesmo, assistimos, em "Tocaia Grande", uma excelente adaptação da obra de Jorge Amado.

Essa preocupação de levar ao mais amplo público realizações de conteúdo cultural tem orientado a programação da Manchete em sua diversidade de atrações, sejam aquelas dedicadas às crianças, sejam os filmes ou o teatro ao vivo, sem esquecermos a cobertura dos esportes, como a das Olimpíadas que se avizinham. O enriquecimento do nosso panorama televisivo, representado pelos programas da Manchete, é de inestimável importância para a vitalidade da cultura brasileira em nossos dias.

É impossível prescindirmos, no quadro do jornalismo da televisão brasileira, da opinião nacionalista e esclarecida do Jornalista Carlos Chagas. Impossível pensar na Rede Manchete sem que nos venha à mente a excepcional figura de seu idealizador e criador, esse incrível Adolpho Bloch, cuja recente partida, no pleno vigor intelectual de seus 87 anos, ainda dói no coração dos seus amigos e admiradores. Este é, na verdade, o primeiro aniversário da emissora que se comemora sem a sua presença e sem a sua direção. Mas que belo exemplo deixa ele, não apenas aos funcionários das empresas Bloch, que devem continuar sua tarefa, mas a todos nós. Exemplo de independência, de opinião clara, de imparcialidade.

Chegou Adolpho Bloch ao Brasil em 1922, com 14 anos, caçula de uma família de imigrantes judeus provenientes da Ucrânia. E logo estão os Bloch, que tinham perdido todas as posses com a instalação do governo soviético, empenhados em montar uma pequena gráfica no Rio de Janeiro. Em 1952, resolve Adolpho, contra a vontade dos irmãos e sócios, lançar uma revista de circulação nacional para concorrer com a poderosa O Cruzeiro. O resultado aí está: a revista Manchete, mantida nas bancas até hoje, com 44 anos ininterruptos de circulação nacional, representando um recorde entre revistas do gênero em toda a América Latina. Adolpho lançou, em seguida, dezenas de outras revistas, mantendo sempre a preocupação com a modernização constante do parque gráfico da Bloch Editores. A criação da rede de estações de rádios AM e FM, cobrindo as principais cidades brasileiras, foi outra em suas realizações marcantes.

Homem dotado de generoso espírito público, profundamente preocupado com os destinos da Nação que elegera como sua, Adolpho Bloch vai se entusiasmar com a atuação de Juscelino Kubitschek desde a época em que este governou Minas Gerais, mantendo um importante e ativo apoio a todas as suas ousadas realizações enquanto Presidente da República, especialmente na construção da nova capital. Já nos dias amargos do ostracismo político, Adolpho Bloch foi o amigo de incontestável e irrepreensível lealdade, tendo cedido a Juscelino uma sala do Edifício Manchete, que lhe serviu de escritório nos seus dois últimos anos de vida. Essa sala tornou-se o primeiro museu do grande estadista, embrião do Memorial JK, que Adolpho Bloch iria idealizar e construir.

A criação da Rede Manchete de Televisão foi o empreendimento de maior vulto e o mais desafiante entre todos aqueles aos quais se lançou Adolpho Bloch. A ele levou sua notável capacidade de iniciativa, sua energia vital, a amplitude de sua visão empresarial, cultural e política.

A TV Manchete, que mantém hoje uma presença de inestimável importância no quadro das telecomunicações brasileiras, é filha da criatividade desse excepcional brasileiro por opção. Seu perfil está bem delineado entre os das demais emissoras, contribuindo para que tenhamos um panorama diversificado de produções e de oferta na televisão brasileira, imprescindível para o permanente enriquecimento de nosso sistema de comunicação e para a vida democrática. A competência de seus quadros profissionais, no jornalismo e nas demais áreas, é por todos reconhecida.

Também é considerável o investimento acumulado em equipamentos técnicos os mais modernos e nas instalações, como o maravilhoso edifício que serve de sede à empresa, com projeto de Oscar Niemeyer, abrigando o teatro e o museu de arte brasileira, e abrindo 100 metros de fachada para a Baía de Guanabara. Em tudo isso se percebe ainda o toque inconfundível da sensibilidade e grandeza de seu fundador.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a continuação da obra de Adolpho Bloch na Rede Manchete está nas mãos de pessoas do mais alto gabarito, como o Presidente Pedro Jack Kapeller - o sobrinho Jaquito -, como os diretores Carlos Sigelman, Fernando Barbosa Lima e Carlos Chagas. A eles, a todos os funcionários da Rede Manchete cabe a responsabilidade de levar ainda mais alto o ideal de uma grande rede de televisão, esteada na qualidade de suas realizações e comprometida com a cultura brasileira.

      "Parar. Parar não paro.

      Esquecer. Esquecer não esqueço.

      Se caráter custa caro

      pago o preço.

      Pago embora seja raro.

      Mas homem não tem avesso

      e o peso da pedra eu comparo

      à força do arremesso.

      Um rio, só se for claro.

      Correr, sim, mas sem tropeço.

      Mas se tropeçar não paro

      - não paro, nem mereço.

      E que ninguém me dê amparo

      nem me pergunte se padeço.

      Não sou, nem serei avaro

      - se caráter custa caro

      pago o preço."

Preço da pluralidade nas comunicações. O Brasil de hoje talvez passe pela sobrevivência dessa heróica rede de televisão fundada por Adolpho Bloch.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/1996 - Página 9477