Discurso no Senado Federal

LAMENTANDO O ASSASSINATO DO SR. PAULO CESAR FARIAS. COMENTARIOS AO RELATORIO DIVULGADO PELA ONU SOBRE O INDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM DIVERSOS PAISES DO MUNDO. ENALTECENDO A SERIE 'CAMINHOS DO BRASIL', LEVADA AO AR PELA REDE GLOBO DE TELEVISÃO.

Autor
Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. TELECOMUNICAÇÃO.:
  • LAMENTANDO O ASSASSINATO DO SR. PAULO CESAR FARIAS. COMENTARIOS AO RELATORIO DIVULGADO PELA ONU SOBRE O INDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM DIVERSOS PAISES DO MUNDO. ENALTECENDO A SERIE 'CAMINHOS DO BRASIL', LEVADA AO AR PELA REDE GLOBO DE TELEVISÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/1996 - Página 10654
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. TELECOMUNICAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, HOMICIDIO, PAULO CESAR FARIAS, EMPRESARIO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE ALAGOAS (AL).
  • DIVULGAÇÃO, INDICE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, BRASIL, ESTUDO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), AMBITO INTERNACIONAL, REFERENCIA, EXPECTATIVA, VIDA, RENDA PER CAPITA, DESIGUALDADE REGIONAL, REDUÇÃO, CRESCIMENTO DEMOGRAFICO, MORTALIDADE INFANTIL, MIGRAÇÃO, ZONA URBANA, PAIS.
  • ELOGIO, JORNALISMO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), TRATAMENTO, ESTUDO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, BRASIL.

O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a minha intenção era fazer um pronunciamento baseado nas pesquisas e estudos promovidos pela ONU e aperfeiçoados pelo IPEA com relação à posição do Brasil no contexto mundial e comentar o excelente programa "Caminhos para o Brasil", produzido pela Rede Globo de Televisão com bases nesses dados.

No entanto, deparo-me com fato ocorrido em meu Estado, sobre o qual não poderia deixar de fazer um registro e de lamentar o ocorrido. Alagoas, um Estado de uma bela tradição, que se esforça para se colocar entre os Estados que podem e devem crescer, sofre mais uma tragédia: o lamentável assassinato do empresário Paulo César Farias e de sua companheira.

Não pretendo fazer o necrológio de Paulo César Farias, mas, desta tribuna, não posso deixar de lamentar o episódio. Não quero, nem posso, nem devo julgar ou analisar o que fez ou deixou de fazer o Sr. Paulo César Farias. Mas, nesse meu registro, tenho de reconhecer que o Paulo César Farias era um homem querido da sociedade alagoana, bem relacionado, que deixa vários amigos consternados com esse bárbaro assassinato. Todos nós, em Alagoas, lamentamos, porque sabemos que Paulo César era um homem polêmico, mas era também um homem de fácil trato, que não tinha um inimigo em Alagoas.

Os fatos por ele vivenciados no período do Governo do Presidente Fernando Collor o tornaram conhecido nacionalmente, mas isso não afetou o bem-querer que muitas pessoas mantinham por ele em Alagoas. Lamentamos o que ocorreu e espero que Alagoas seja lembrado como um Estado que quer ser progressista e não como um Estado em que ocorrem fatos lamentáveis como este.

Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje à tribuna para fazer um comentário sobre a divulgação pela ONU do Índice de Desenvolvimento Social, que adquiriu uma nova dimensão no Brasil, depois do estudo realizado para essa instituição pelo IPEA. A série periódica sobre dados como expectativa de vida, nível de escolaridade, e renda per capita constituía um quadro estático da realidade social que, no caso do Brasil, sempre foi extremamente adverso, sobretudo pela constatação invariável de que possuímos, um dos piores desempenhos mundiais em matéria de concentração de renda.

Este ano, pela primeira vez, tivemos uma visão dinâmica de nossos problemas que, sem dúvida, continuam muito graves. Mas tomamos conhecimento, ao mesmo tempo, de profundas e significativas mudanças ocorridas nos últimos 20 anos, que estão mudando a nossa configuração social e econômica. Já é possível avaliar as conseqüências do aumento da expectativa de vida, do declínio da taxa de fecundidade e do crescimento demográfico, aliadas ao decréscimo da mortalidade infantil, além de importantes mudanças nos movimentos populacionais. Sob esse último aspecto, vale assinalar a diminuição da migração tradicional dos pequenos para os grandes centros urbanos, o que fez com que tenha diminuído a taxa de crescimento e expansão das grandes áreas metropolitanas. Há uma notória valorização de cidades do interior, onde a qualidade de vida atinge padrões razoáveis e, em algumas áreas, até mesmo de excelência.

Nada, no entanto, ficou mais claro do que a assimetria regional brasileira, um assunto que interessa particularmente ao Senado, responsável constitucionalmente pelo equilíbrio federativo.

Parece que superamos de vez o conceito de "Belíndia", popularizado pelo economista Edmar Bacha, assunto que, por sinal, já tinha sido abordado com notável perspicácia pelo sociólogo francês Jacques Lambert, quando, na década de 60, teve enorme popularidade seu clássico "Os Dois Brasis".

Quero ressaltar, no entanto, que os números divulgados por, virtualmente, todos os jornais brasileiros não deram a todos nós a exata noção dessas transformações, servindo mais aos especialistas que, no recesso do mundo acadêmico, se encarregam de buscar explicações e razões para a realidade brasileira contemporânea, traduzindo-a como resultante de nossa própria evolução histórica. Coube à Rede Globo, com a audácia criativa de seu Departamento de Jornalismo, traduzir, de forma eloqüente e ao mesmo tempo acessível, o significado dinâmico dessas mudanças. Numa série de seis pequenas e antológicas reportagens, que foram ao ar na última semana, com o título de "Caminhos do Brasil", foi possível a milhões de espectadores em todo o País entender o significado profundo desse novo Brasil que se delineia neste fim de século.

Sem descurar dos aspectos negativos que ainda nos angustiam e numa linguagem visual que todos puderam entender, a equipe profissional da emissora conseguiu o milagre de transformar um assunto árido e técnico numa verdadeira antologia didática de nossos problemas. É, Sr. Presidente, uma demonstração incontestável de competência profissional, aliada a uma beleza plástica sem comparação. O poder de síntese da série honra os profissionais do jornalismo da Rede Globo.

Os que foram capazes de concebê-lo, de realizá-lo e de dar um incontestável tratamento jornalístico ao assunto, merecem o nosso aplauso e fazem jus ao nosso reconhecimento. As imagens e o texto são incomparáveis, como expressão de síntese explicativa. Têm o dom de resenhar a realidade brasileira, com uma capacidade didática que nenhum tratado sociológico seria capaz de compendiar com tanta criatividade, competência, rigor e riqueza de detalhes.

Sem dúvida alguma, ficamos devendo à Organização das Nações Unidas essa iniciativa que vem se repetindo há alguns anos em todo o mundo. Mas somos devedores também do Instituto de Pesquisas Econômicas do Ministério do Planejamento pelo aspecto dinâmico que o levantamento diacrônico atribuiu a esse rico acervo de informações. Mas é aos profissionais do Departamento de Jornalismo da Rede Globo, com a série "Caminhos do Brasil", que temos que agradecer a forma inteligente e objetiva de transformar esses dados, índices, números e cifras em matéria viva, que o Ministério das Relações Exteriores bem poderia mandar verter em outras línguas, para permitir que outros povos possam compreender o processo de transformações silenciosas por que passa o nosso País. Tenho a certeza de que seria uma iniciativa extremamente útil, junto a outras que já vêm sendo tomadas pelo Itamaraty, para a divulgação do Brasil em outros países.

Ao fazer este registro, Sr. Presidente, deixo aqui consignada a minha admiração a toda equipe responsável por esse programa. Manifesto, como brasileiro, o meu reconhecimento pelo inestimável serviço público de caráter didático dessa obra exemplar e torno pública a emoção que pude sentir, como expectador, ao ver como pulsa, vibra, trabalha e vive o nosso povo, expressão do mundo real que nos cerca, muito mais eloqüente do que o mundo legal e muitas vezes irreal, em que temos que viver por força de nossa condição de homens públicos, parlamentares e legisladores.

Peço ao jornalista Evandro Carlos de Andrade, que vem promovendo uma revolução silenciosa no Departamento de Jornalismo dessa emissora, que seja o intérprete de meu aplauso a seus colegas que tornaram possível essa matéria, especialmente à repórter Mirian Leitão, que apresentou de maneira competente e profissional a série de reportagens, que foi, ao mesmo tempo, uma demonstração da excelência e do nível técnico que já atingiu a televisão brasileira.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/1996 - Página 10654