Discurso no Senado Federal

PROTESTANDO VEEMENTEMENTE CONTRA O BOICOTE DOS MEMBROS GOVERNISTAS DA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS A REUNIÃO DE HOJE, QUE OUVIRIA DEPOIMENTOS DOS PRINCIPAIS LIDERES SINDICAIS DO PAIS.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • PROTESTANDO VEEMENTEMENTE CONTRA O BOICOTE DOS MEMBROS GOVERNISTAS DA COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS A REUNIÃO DE HOJE, QUE OUVIRIA DEPOIMENTOS DOS PRINCIPAIS LIDERES SINDICAIS DO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/1996 - Página 10353
Assunto
Outros > SENADO. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • PROTESTO, AUSENCIA, SENADOR, BANCADA, GOVERNO, PARTICIPAÇÃO, DEPOIMENTO, LIDERANÇA, SINDICATO, TRABALHADOR, CONVITE, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, OPORTUNIDADE, DEBATE, CONVOCAÇÃO, GREVE.
  • CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO, CONSULTA, TRABALHADOR.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, sinto-me na responsabilidade de falar a respeito de um fato inusitado ocorrido hoje pela manhã no Senado Federal. A Comissão de Assuntos Econômicos, em decorrência de requerimento de minha autoria, aceito pela Comissão - o convite foi providenciado pelo Presidente Gilberto Miranda -, havia convidado os Presidentes das centrais sindicais dos trabalhadores para uma audiência: Vicente Paulo da Silva, da CUT; Luiz Antonio de Medeiros, da Força Sindical; Enir Severino, da Confederação Geral dos Trabalhadores; Ubiraci Dantas, Vice-Presidente da Central Geral dos Trabalhadores; e o Presidente da Central Autônoma dos Trabalhadores, Laerte Teixeira da Costa. Inclusive ontem fiz um convite a todos os Senadores para que ali comparecessem. O Jornal do Senado corretamente ressaltou, ontem e hoje, a realização dessa reunião.

Há aproximadamente três semanas, a convite do Senador Fernando Bezerra, Presidente da Confederação Nacional da Indústria, tive o cuidado de ouvir dois mil e setecentos empresários. Quando eles se reuniram no Hotel Nacional com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, falaram a respeito de suas reivindicações e ouviram as palavras de Sua Excelência. O mesmo ocorreu no Salão Negro do Senado Federal. Aqui desta tribuna cheguei a comentar as palavras dos empresários.

Sr. Presidente, ontem à tarde, como percebi a grande relevância da oitiva, não apenas por parte do Senado, mas também da Câmara, sugeri à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público daquela Casa que se juntasse à nossa Comissão de Assuntos Econômicos. Conversando com o Presidente da Comissão da Câmara, Deputado Nelson Otoch, propus que esses representantes sindicais também aqui comparecessem. S. Exª, concordando, sugeriu que fosse feito um ofício nesse sentido por parte do Presidente da nossa Comissão. Nesse caso, mesmo que a Comissão não se reunisse, os representantes sindicais seriam ouvidos. Conversei com o Senador Francelino Pereira, que, por ser o mais velho, substituiu o Senador Gilberto Miranda em relação à formulação do convite. Ponderei que seria importante que se mandasse até um ofício. S. Exª disse-me que estava de saída para o Tribunal Eleitoral, que voltaria mais tarde, quando conversaríamos. A meu ver, já havia o entendimento de que o convite seria feito. Foi o que depreendi de suas palavras: "Na minha volta, trataremos disso".

Solicitei à minha chefe de gabinete que conversasse com o Secretário da Comissão de Assuntos Econômicos, que, por sua vez, como costuma fazer, teve a iniciativa de já adiantar o ofício. O Presidente demorou-se um pouco. Houve uma falha, aí, de minha responsabilidade. Acontece que, em função de ter sido feito um convite por determinação do Presidente da Comissão, eis que o Líder do Governo, Senador Elcio Alvares, utilizou-se da desculpa de pequena falha de fato administrativo, se é que houve um, e, numa descortesia para com os Presidentes das Centrais Sindicais dos Trabalhadores, montou um sistema de barreira, onde o seu assessor interpelava cada Senador que chegava para ir à Comissão de Assuntos Econômicos e que fosse da base de Partidos do Governo. Com algumas exceções. Inclusive é importante ressaltar que o Senador Francelino Pereira ali esteve, procurando ouvir os trabalhadores. Em que pese o apelo que fiz em voz alta na Comissão de Infra-Estrutura ao Senador Elcio Alvares, não se demoveu S. Exª nem os demais Senadores para irem pelo menos assinar e dar a presença, uma vez que o Senador Francelino Pereira, de forma inusitada, disse que só abriria a reunião, não para deliberação, mas para ouvir os Presidente das Centrais Sindicais, se quorum houvesse. Um fato inusitado na Comissão de Assuntos Econômicos. Desde 1991 estou nesta Casa e jamais houve tal exigência para ouvir depoimentos. Mas hoje se exigiu, para ouvir trabalhadores! E para ouvir trabalhadores, Sr. Presidente, os Senadores da base governamental se ausentaram. Todos que foram aqui perto ouvir os empresários mais importantes do País, acharam por bem não ouvir trabalhadores sobre a situação de desemprego, de política salarial, de uma política que para os trabalhadores não é adequada, e ainda colocam uma justificativa administrativa pequena, diante de fato importante.

Ora, Sr. Presidente, as Centrais Sindicais aqui convidadas estipularam para 21 de junho a decretação de uma paralisação. Seria oportuno, seria importante que os Líderes do Governo aproveitassem a oportunidade até para demoverem os trabalhadores da sua decisão de greve geral, mas preferiram a ausência. É inadmissível! Protesto veementemente contra a atitude dos Senadores que, ouvindo o Líder do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, se recusaram a participar da oitiva.

Há Senadores, como o Senador Osmar Dias e o Senador Pedro Simon, que é do PMDB, que desde o início da reunião ali estavam.

Ora, Sr. Presidente, não compreendo isso.

Hoje, o Ministro Pedro Malan, quando falava perante a Câmara dos Deputados, na Comissão de Finanças e Tributação, disse que o Governo havia consultado lideranças empresariais, economistas e outros segmentos, esquecendo-se de dizer - aliás, porque não aconteceu - que tinha consultado trabalhadores.

Este Governo, para sua política econômica, de fato não consulta trabalhadores. E condeno a atitude de Senadores que também preferem apenas ouvir empresários. Espero que esta seja a última vez que ocorra tal tratamento para com representantes legítimos dos trabalhadores brasileiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/1996 - Página 10353