Pronunciamento de Artur da Tavola em 20/06/1996
Discurso no Senado Federal
HOMENAGEM PELO FALECIMENTO DO EX-MINISTRO E EX-DEPUTADO FEDERAL RENATO ARCHER.
- Autor
- Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
- Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM PELO FALECIMENTO DO EX-MINISTRO E EX-DEPUTADO FEDERAL RENATO ARCHER.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/06/1996 - Página 10533
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, RENATO ARCHER, ESTADO DO MARANHÃO (MA), EX-DEPUTADO, EX MINISTRO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), MINISTERIO DA CIENCIA E TECNOLOGIA (MCT).
O SR. ARTUR DA TÁVOLA (PSDB-RJ. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando morre um político, fico sempre com a sensação de que ali vai um sonho.
Afinal, o que é a política? Talvez uma atividade feita mais para derrotas do que para vitórias, feita mais para incompreensões do que para compreensões. Se repararmos a vida dos grandes políticos, perceberemos que ela talvez seja grandiosa pelas derrotas até mais do que pelas vitórias, mesmo porque os grandes políticos são vitoriosos na derrota e os maus políticos são derrotados na vitória.
Sempre que morre um político de estipe, de qualidade, essa meditação me vem naturalmente, porque são carreiras compostas de experiências absolutamente únicas.
A vida tem-me ensinado que a política é uma atividade absolutamente incompreensível, exceto para quem a faz. É incompreensível, porque quem não está na intimidade do processo não lhe compreenderá a natureza profunda, as dificuldades, as peculiaridades. Também não terá largado o seu critério de compreensão para essa mistura complexa da individualidade com o serviço à coletividade, dos aspectos pessoais com os aspectos puramente públicos.
Na trajetória de Renato Archer, esses elementos do sonho, da vitória, da derrota, da busca me parecem permanentes. Talvez pudéssemos caracterizá-lo, se quiséssemos ficar com um desses elementos, como o da busca. Renato Archer foi um homem que sempre buscou na sua vida pública. Observemos que ele dividiu a sua atividade, de modo até bem equilibrado, entre a atividade pública parlamentar, a atividade pública executiva e a atividade privada.
Na atividade privada, como ressaltou o Senador Hugo Napoleão, ele viveu um dos momentos gloriosos e dolorosos dessa atividade. Foi sócio de Celso da Rocha Miranda, brasileiro exemplar, a quem o tempo ainda fará justiça por sua capacidade de antever o futuro, por sua abertura, por sua postura de empresário moderno a um tempo em que o empresariado brasileiro não se abrira ainda para as novas idéias de incorporação do trabalhador ao fruto do trabalho. Além disso, Celso da Rocha Miranda foi um sonhador de futuros, foi um dos pioneiros da aviação, um homem que investiu primeiro na petroquímica, enfim, sempre vislumbrou caminhos adiante - Renato Archer paralelo a Celso da Rocha Miranda - e ao mesmo tempo injustiçado. O fechamento da Panair do Brasil é um dos episódios mais tristes e mais asquerosos da história política brasileira, quando uma empresa é esmagada violentamente sem nenhuma razão.
Celso da Rocha Miranda levou 25 anos lutando. Ganhou no Supremo e foi pilhado por um câncer nos rins, exatamente, quando estava a um passo de obter aquilo que lhe custou tanto sacrifício, tanto sonho - Renato Archer a seu lado.
Renato, portanto, viveu essas alternativas que a política traz. Acrescente-se-lhe ainda a experiência de oficial de Marinha, de um oficial de Marinha exatamente atingido no momento do movimento militar.
Ele, portanto, tinha essa experiência variada da realização, do sonho, da vitória, da derrota, de tudo enfim que constitui a tessitura dramática da atividade política. Sonhou e buscou, buscou um país que agora começamos a atingir: este País democratizado; este País aberto a uma discussão nova do ponto de vista de todas as suas instituições; este País que amainou ódios internos, que aplainou radicalismos, que aproximou antigos adversários; este País que, enfim, hoje procura criar uma nova parceria ideológico-política que o leva para adiante, parceria tão nova que muito difícil de ser entendida pelas cabeças menos afeitas às transformações e às modernidades.
Ele foi também um grande dirigente da Embratel - fato, aliás, ressaltado pelo Senador Hugo Napoleão -, se não me engano, ao tempo em que S. Exª era Ministro. Tenho amigos na Embratel que têm, da passagem de Renato Archer pela Presidência da empresa, as melhores referências.
A Embratel é uma empresa que acumula êxitos e acertos no Brasil desde a década de 70 e hoje também se abre para essa grande modernização.
Portanto, não estou aqui a fazer a oração de despedida formal que um representante de um partido político faz de outro que parte. Estou, em efeito, procurando traduzir o sentido profundo de uma vida dedicada ao seu País. E esta é a grande e pouco compreendida saga da política: vidas dedicadas ao seu país; cada qual a seu modo, todos respeitáveis desde que o interesse público seja o predominante. E essas vidas dedicadas ao País são vidas que normalmente não encontram durante o processo o aplauso, o merecimento, o reconhecimento devido.
Aliás, a morte tem essa estranha generosidade entre algumas das suas perversidades. A morte, no instante seguinte ao seu acontecimento, define de imediato uma vida. Parece que a natureza dotou a partida de alguém desse pequeno condão de uma vida a ser definida num átimo a partir da morte. Tenho visto filhos incompatibilizados com os pais, no instante seguinte à morte de um deles, reconhecer o seu valor e o seu sentido.
A morte de Renato Archer, portanto, de repente, colima o processo inteiro de uma vida, de uma vida de busca, de uma vida de amor pelo seu País, dedicação às próprias convicções. Tive ainda a oportunidade de participar um pouco com ele de um projeto que hoje me encanta, que é o projeto da realização da Olimpíadas do ano 2004, no Brasil, com base na cidade do Rio de Janeiro. Digo Brasil, porque essa é uma causa brasileira e não do Rio de Janeiro. É uma causa que envolve um potencial absolutamente desconhecido da maioria das pessoas, porque a realização de uma olimpíada é hoje um fato grandioso no mundo do ponto de vista turístico, do ponto de vista cultural e até do ponto de vista do emprego. Para que se tenha uma idéia, a realização das Olimpíadas no ano 2004 teria a garantia de 100 mil empregos diretos, nos 8 anos que precederiam a preparação para esse grande evento, sem contar todas as vantagens.
Pude assistir ao entusiasmo com que Renato estava mergulhado nessa atividade e, de alguma maneira, colaborar com ela. Pretendo até trazer a esta Casa alguns dados, adiante, sobre a importância desse evento.
Fique, portanto, o respeito, a homenagem sincera, que não é uma simples palavra formal de despedida, mas o reconhecimento do valor de uma vida.
Muito obrigado, Sr. Presidente.