Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DA EMANCIPAÇÃO POLITICO-ADMINISTRATIVA DA CIDADE DE TRES LAGOAS, NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, TRANSCORRIDA NO ULTIMO DIA 15. COMENTANDO REPORTAGEM DA REVISTA EXAME, DE 19 DE JUNHO, INTITULADA 'AS CIDADES QUE VÃO ATRAIR DINHEIRO'.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • COMEMORAÇÃO DA EMANCIPAÇÃO POLITICO-ADMINISTRATIVA DA CIDADE DE TRES LAGOAS, NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, TRANSCORRIDA NO ULTIMO DIA 15. COMENTANDO REPORTAGEM DA REVISTA EXAME, DE 19 DE JUNHO, INTITULADA 'AS CIDADES QUE VÃO ATRAIR DINHEIRO'.
Aparteantes
Mauro Miranda.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/1996 - Página 10208
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EXAME, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INVESTIMENTO, INICIATIVA PRIVADA, INSTALAÇÃO, INDUSTRIA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGIÃO CENTRO SUL.
  • NECESSIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, REGIÃO CENTRO OESTE, ESCOAMENTO, MERCADORIA, PARCERIA, INICIATIVA PRIVADA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EXAME, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PROGRAMA DE INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, INICIATIVA PRIVADA, INFRAESTRUTURA, MUNICIPIOS, REGIÃO CENTRO SUL.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou regressando do meu Estado, o Mato Grosso do Sul, da minha cidade natal, que, no dia 15 último, completou 81 anos de emancipação política e administrativa.

Lá, assisti ao desfile cívico militar, aos jogos esportivos. Vi uma cidade que, embora vivendo os dramas que vive toda a Nação brasileira, no dia do seu aniversário estava em festa.

Sr. Presidente, eu não sabia que iria, pouco depois, este País tomar conhecimento, através de uma revista de grande circulação nacional, uma revista séria da importância de Exame, na sua edição nº 612, de 19 de junho de 1996, traz mais esperança para nós.

Hoje ouvi, nesta Casa, o debate de problemas sociais e da reforma agrária. Sabemos que tudo isso envolve desemprego, miséria, violência. Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sou um otimista inveterado.

Tenho defendido aqui, em várias ocasiões, a necessidade de este País interiorizar o seu desenvolvimento. Tenho entendido e dito até que o caminho natural é a região Centro-Oeste do País. E qual não foi o meu contentamento e satisfação ao ver que esta revista traz muita esperança para todos nós.

Sob o título "As cidades que vão atrair dinheiro", ela pergunta: "Já ouviu falar de Três Lagoas?" - é a minha cidade, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores - "E de Aparecida do Taboado e São Simão?" Aparecida do Taboado é a cidade vizinha à de Três Lagoas, região onde fui mais votado. Essa revista aponta na direção do futuro reservado a cidades importantes deste País que, pela sua posição geográfica e por outras particularidades que possuem, esses municípios estão fadados a ser os aceleradores do progresso e o desenvolvimento no nosso País. Nós que somos daquela região sabemos que a revista retrata a realidade, quando diz:

      Nos próximos quatro anos, um conjunto de mais de 40 cidades, situadas na região Centro-Sul do país, deverá receber cerca de 60 bilhões de reais. Esses recursos compõem um vasto programa de investimentos anunciados tanto por governos e estatais como por empresas privadas. Serão gastos em infra-estrutura, seja em transportes, energia, saneamento ou telecomunicações. Há ainda outros 40 bilhões de reais que serão investidos na instalação de indústrias e outros empreendimentos pelo setor privado.

Esses municípios integram aquele conjunto que está sendo chamado de Cidades Emergenciais. Todas aparecem como promissoras nos estudos preparados por agências de desenvolvimento.

Esses municípios serão as vedetes para o capital privado nos próximos anos. Estimou-se o impacto que esses gastos produzirão em diversos setores, como a construção civil, o comércio, o setor financeiro e a indústria de máquinas e equipamentos. A concretizar-se isso, como esperamos que aconteça, a conclusão é animadora. Esses investimentos seriam capazes de gerar mais de 1,5 milhão de empregos nos próximos quatro anos.

E aí entra a minha cidade.

      Observe o exemplo da Champion, um dos maiores produtores de papel e celulose do mundo. A empresa já comprou 80.000 hectares de terras em Três Lagoas - sim, Município do meu Estado de Mato Grosso do Sul -, que está à margem do Rio Paraná, quase na fronteira com o Estado de São Paulo. A meta é plantar mais de 1 milhão de pés de eucalipto nos próximos três anos e começar a operar a fábrica na virada do século. Investimento total: 1,2 bilhão de dólares.

Sou da cidade, sou da região. Os três-lagoenses estão impacientes para que essa indústria de papel, de celulose, funcione o mais rapidamente possível. E a Champion não só adquiriu as terras, não só está plantando, como está contribuindo na implantação da infra-estrutura do município que me viu nascer, a nossa Três Lagoas.

      É a primeira vez que um projeto de celulose, em que boa parte da produção será destinada à exportação, é alocado a uma distância considerável do litoral. São quase 800 quilômetros de distância do mar.

Mas como, então, pode isso acontecer? Tem uma explicação, diz a revista e constatamos nós como filhos da cidade.

      De Três Lagoas será possível navegar os produtos até o Mercosul através do rio Paraná ou a outros mercados pelo rio Tietê (com conexões ferroviárias) até os portos de Santos ou Paranaguá.

E faz a revista o exame de uma constatação.

      Outra vantagem é o preço das terras. No Mato Grosso do Sul, o hectare chega a ser até cinco vezes mais barato do que em São Paulo e três vezes mais barato do que em regiões litorâneas em outros Estados.

      Vários fatores colaboram para que o Centro-Oeste e suas conexões com o litoral concentrem muitos investimentos nos próximos anos. A hidrovia Tietê-Paraná, operada parcialmente desde 1991, ganhará impulso com algumas obras que deverão ser terminadas ainda este ano, como é o caso da eclusa de Jupiá, no rio Paraná, que permitirá a navegação até os países do Mercosul. O investimento de 19 milhões de dólares, a cargo da Cesp, já está em andamento.

Portanto, há um potencial hidroviário e ferroviário na região, porque a Noroeste do Brasil, a primeira malha ferroviária da Rede Ferroviária Federal já foi privatizada, com esperanças, portanto, de que os trens voltem a deslanchar nos trilhos que construíram a grandeza e o desenvolvimento do nosso Estado.

      O Noel Group, empresa americana que assumiu essa malha, deverá investir 300 milhões de dólares em modernização dos equipamentos e ampliação dos trilhos.

Essa região é ligada aos grandes centros produtores e consumidores deste País, ligada ao Porto de Santos por meio do transporte ferroviário, que voltará a operar, por meio do transporte hidroviário e também por meio do asfalto da Marechal Rondon, que chega a São Paulo e depois ao Porto de Santos.

      Essa região que parte de São Paulo em direção ao oeste é, sem dúvida, a mais promissora do país.

A minha cidade, que completou 81 anos, tem tudo para receber e dar a sua parcela de grande contribuição para o desenvolvimento nacional.

Ainda há um outro empreendimento ferroviário sendo construído na nossa região. Às margens do rio Paraná, situa-se a cidade de Aparecida do Taboado e por lá passam os trilhos da Ferronorte - Ferrovias Norte do Brasil S.A., empresa controlada pelo Grupo Itamarati e detentora de concessão para construção e exploração comercial de uma nova ferrovia atravessando o Centro-Oeste e a Amazônia Legal, que iniciou, em agosto de 1992, a construção do trecho de 400 quilômetros, em Mato Grosso do Sul, entre Aparecida do Taboado, divisa com São Paulo, e Alto Taquari, já em Mato Grosso. Serão 5 mil quilômetros de ferrovias, fruto de uma feliz parceria, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre a iniciativa particular e o poder público.

Faço este registro como homem otimista, esperançoso de ver o progresso e o desenvolvimento deste País, na crença de que precisamos interiorizar o desenvolvimento do Brasil para desafogar as grandes metrópoles. Esses investimentos são concretos, são obras já iniciadas e que estão necessitando, cada vez mais, que nós, que a sociedade sul-mato-grossense, o Centro-Oeste, meu caro Senador Mauro Miranda, nos mantenhamos unidos, convencidos do nosso grande potencial e da necessidade que temos de que o Governo nos ajude mais, que olhe mais para o Centro-Oeste, que olhe mais para Mato Grosso do Sul, para Goiás, que melhore as nossas estradas.

Dos 80 mil hectares adquiridos pela Champion, a maior parte está localizada entre Três Lagoas e Inocência, onde a estrada ainda é de terra e - pior do que isso - está praticamente intransitável. Precisamos, pois, de recursos para atrair investimentos, que estão chegando mas que, com certeza, acorrerão mais depressa se houver a parceria entre o poder público e a iniciativa privada. Essa seria uma feliz conjugação, volto a repetir, que promoveria mais eficazmente o desenvolvimento daquela região e do nosso País.

O Sr. Mauro Miranda - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Mauro Miranda - Meu prezado Senador Ramez Tebet, quero associar-me a V. Exª nesta hora de alegria, quando o nobre Senador lembra o aniversário de sua querida Três Lagoas e ao mesmo tempo dá esse brado de alegria e entusiasmo com relação ao desenvolvimento da nossa região. Eu também, como V. Exª, sou otimista porque moro numa das regiões mais ricas e mais prósperas deste País. Ontem, junto com vários outros Senadores, estive em Cuiabá para discutir o Corredor Centro-Leste, uma obra importantíssima que vai trazer mais desenvolvimento para aquela região. Entretanto, percebo que o poder público e o Governo central estão distantes de nós; estamos sendo considerados periferia ainda. A iniciativa privada já nos descobriu, as revistas e os economistas deste País nos descobriram, mas não existe uma ação concreta do Governo Federal no sentido de fomentar o desenvolvimento da região. Vi, no Mato Grosso, o grupo Maggi, de grande tradição naquela região, fazer uma hidrovia de 870 quilômetros de extensão pelo rio Madeira ligando-o até o Porto de Itaquatiara, no Estado do Amazonas, obra de iniciativa privada exclusivamente. O mesmo acontece com o grupo Champion, que está chegando em Três Lagoas, e com o grupo Perdigão, que estamos recebendo e abraçando em Rio Verde. Como V. Exª falou, a nossa é a região de mais expectativa de crescimento e precisa de um ademão do Governo Federal, especialmente na área de transportes, para que os nossos produtos tenham competitividade nos portos e no comércio internacional, sobretudo a soja, a carne e o milho, produtos vitais que têm procura em todos os mercados internacionais. Por isso quero associar-me ao seu pronunciamento. Que a nossa frente do Centro-Oeste permaneça cada vez mais unida! Temos de motivar todo o País, o Senado inteiro e especialmente o Presidente da República, para que dê um pequeno ademão, especialmente nos grandes corredores de exportação, para viabilizar a comercialização dos nossos produtos. Sei que, com isso, o nosso Estado e a nossa região darão uma forte contribuição ao crescimento do Brasil.

O SR. RAMEZ TEBET - Senador Mauro Miranda, agradeço e incorporo seu aparte. Sei do seu entusiasmo, do conhecimento que V. Exª tem da nossa região. O seu clamor é o clamor de todos nós. É preciso que o poder público faça um programa de desenvolvimento para o Centro-Oeste.

V. Exª é do Estado de Goiás, mas conhece Mato Grosso do Sul e sabe que as BRs que estão asfaltadas por lá utilizaram recursos do Estado. E essa é uma das razões, senão a principal, do endividamento do Mato Grosso do Sul. Tivemos de fazer pelo Estado aquilo que a União deveria fazer por nós.

Cito um exemplo que V. Exª conhece muito bem: a pavimentação da BR-262 no trecho Campo Grande-Três Lagoas foi feita com recursos do Governo Estadual.

É preciso que o Governo Federal injete recursos em regiões que possam dar retorno. E está provado que a região Centro-Oeste tem todas as condições de dar um excelente retorno para o resgate da grande dívida social deste País.

Imaginem quantos milhões de empregos serão gerados, quando os empreendimentos que estão anunciados, como a construção da Ferronorte, forem definitivamente implantados! Quando a Champion começar a operar na minha Três Lagoas, quantos empregos serão concedidos neste País!

Tudo isso é muito importante. Mas não há uma infra-estrutura adequada. De que a iniciativa privada mais reclama? Reclama da infra-estrutura de que o nosso interior está carente.

O apelo e a consideração, Senador Mauro Miranda, que V. Exª faz têm toda procedência. Que o Governo Federal volva seus olhos para essa região! A iniciativa privada está chegando primeiro. Vamos ver se chegamos juntos, com aquilo que é imprescindível para a parceria da iniciativa privada com o Poder Público, para a consecução de empreendimentos tão importantes, não pelo aspecto material, mas pelo aspecto social.

O que se discutiu hoje no Senado? Discutiu-se os grandes problemas sociais que estão assolando este País. Ocupo esta tribuna hoje por este motivo, pois retornando do meu Estado, deparei-me com a revista Exame, que faz uma análise detalhada das possibilidades da nossa região.

Nós, os moradores da região de Três Lagoas e de Aparecida do Taboado, sabemos de tudo isso. Estamos esperando por esses empreendimentos de forma ansiosa e queremos que eles se concretizem o mais rapidamente possível. E essa revista de grande projeção nacional está contribuindo conosco. Por que ela está contribuindo? Ela começou perguntando quem já ouviu falar de Aparecida do Taboado e de Três Lagoas, porque são cidades quase que desconhecidas do cenário nacional.

Quero dizer aos responsáveis pela revista Exame que peço à Mesa que incorpore esta reportagem ao meu modesto pronunciamento, porque, se Três Lagoas e Aparecida do Taboado e outros municípios aqui citados não eram conhecidos, com toda certeza, por intermédio da publicação dessa reportagem, passaram a ser conhecidos no Brasil. Queremos não só que os nossos municípios e a nossa região sejam efetivamente conhecidos, mas também que eles possam realmente responder às expectativas da iniciativa privada e de todos nós.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/1996 - Página 10208