Pronunciamento de Jonas Pinheiro em 27/06/1996
Discurso no Senado Federal
DESTAQUE DO ESTADO DE MATO GROSSO COMO UM DOS GRANDES CELEIROS AGRICOLAS DO PAIS. URGENCIA DA REFORMULAÇÃO DA ATUAL MATRIZ DE TRANSPORTE EXISTENTE NAQUELE ESTADO PARA O ESCOAMENTO DE SUA PRODUÇÃO.
- Autor
- Jonas Pinheiro (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
- Nome completo: Jonas Pinheiro da Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA DE TRANSPORTES.:
- DESTAQUE DO ESTADO DE MATO GROSSO COMO UM DOS GRANDES CELEIROS AGRICOLAS DO PAIS. URGENCIA DA REFORMULAÇÃO DA ATUAL MATRIZ DE TRANSPORTE EXISTENTE NAQUELE ESTADO PARA O ESCOAMENTO DE SUA PRODUÇÃO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 28/06/1996 - Página 10887
- Assunto
- Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
- Indexação
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- ANALISE, EFICACIA, SITUAÇÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), PRODUÇÃO, GRÃO, RESUMO, PROCESSO, DESENVOLVIMENTO AGROPECUARIO, PROBLEMA, CUSTO, TRANSPORTE, MANUTENÇÃO, REDE VIARIA.
- DEFESA, REFORMULAÇÃO, MATRIZ, TRANSPORTE, VIABILIDADE, TRANSPORTE INTERMODAL, UTILIZAÇÃO, FERROVIA, HIDROVIA, RODOVIA.
- COMENTARIO, IMPORTANCIA, IMPLANTAÇÃO, FERROVIA, LIGAÇÃO, ESTADO DE RONDONIA (RO), ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REDE FERROVIARIA FEDERAL S/A (RFFSA), REDUÇÃO, FRETE, VANTAGENS, ECONOMIA, RECURSOS, DESENVOLVIMENTO AGRICOLA, SOLICITAÇÃO, APOIO, SENADOR.
O SR. JONAS PINHEIRO (PFL-MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como mato-grossense, honra-me representar meus concidadãos neste Congresso Nacional e aqui abordar e debater temas que interessam à Nação brasileira, à Região Centro-Oeste e, particularmente, ao meu Estado, Mato Grosso.
Portanto, Sr. Presidente, Srs. Senadores, trago a esta Casa as preocupações e os anseios daqueles que buscam transformar Mato Grosso num celeiro brasileiro e ali construir as bases de uma sociedade justa e economicamente forte.
Mato Grosso teve sua ocupação acelerada a partir dos anos 70, estimulada por incentivos fiscais e por programas especiais, nesse processo, que teve como agente principal o Governo Federal. Foi fundamental a consolidação das grandes rodovias de integração nacional, que vinculou, por asfalto, a fronteira oeste e norte com a região Centro-Sul do País.
Coincidentemente com a divisão de Mato Grosso, esse processo permitiu que áreas de terras fossem rapidamente ocupadas. Levou, inclusive, ao nascimento de cidades e instalação de importantes pólos econômicos, aproveitando-se das enormes potencialidades de riquezas da região.
As modificações ocorridas nos últimos anos transformaram Mato Grosso. É o terceiro Estado brasileiro produtor de grãos, o primeiro produtor de madeira e o segundo produtor de ouro do Brasil. A sua população, de 320 mil habitantes, em 1960, saltou para mais de 3,5 milhões de habitantes nos dias atuais.
Assim se desponta como o mais importante e promissor celeiro agrícola do País. Produziu, na última safra, cerca de 7,5 milhões toneladas de grãos, sendo o segundo produtor nacional de soja, com 5,7 mil toneladas.
A produtividade física de suas lavouras situa-se acima da média nacional e, no caso da soja, atinge a 2.600 kg/ha, também acima da média nacional e da obtida nos Estados Unidos.
A par disso, Mato Grosso tem um efetivo bovino de 13 milhões de cabeças, desenvolvido sob o regime extensivo de criação, sendo o quinto rebanho nacional e representando importante centro produtor de carne.
Diversas iniciativas em fase de implantação estão sendo feitas para estimular a produção avícola e suína, através de sistemas integrados de produção, que garantirão elevados níveis de racionalidade técnica e econômica.
Entretanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o desenvolvimento mais acelerado de Mato Grosso vem sendo bloqueado por enormes carências de ordem estrutural e, dentre elas, situam-se as de sua rede de transportes.
O elevado custo com transporte decorre do enorme distanciamento dos centros fornecedores e distribuidores nacionais e internacionais e, sobretudo, da carente rede viária. Compromete a competitividade dos produtos regionais, avilta os preços recebidos pelos produtores e provoca negativos reflexos econômicos.
Por outro lado, há que considerar que a matriz de transporte está alicerçada quase que exclusivamente no transporte rodoviário, onde os custos são, indiscutivelmente, mais elevados.
Dessa maneira, a busca de novos mercados para aprovisionamento e produção encontra-se frontalmente comprometida pela impossibilidade de atingi-los a preços competitivos.
Há ainda que se levar em conta os elevados custos com a aquisição de produtos para consumo da população e dos insumos, máquinas e equipamentos agrícolas, produzidos nas Regiões Sul e Sudeste do País e no exterior, que são também fortemente onerados pelos elevados preços dos fretes.
Lamentavelmente, a União e os Estados não conseguem assegurar não só a abertura de novas vias de penetração e escoamento como uma adequada manutenção da rede viária existente.
Tal fato leva a uma situação de impasse e bloqueio da própria atividade produtiva, com a manutenção e mesmo o agravamento da crise econômica e social na região.
Essa problemática mostra, de forma inequívoca, que é absolutamente impossível assegurar o processo de desenvolvimento auto-sustentado no Mato Grosso e de suas regiões limítrofes sem que se promova uma reformulação na atual matriz de transporte, viabilizando o sistema de transporte intermodais considerando o sistema viário, hidroviário e o ferroviário.
Nesse contexto, Sr. Presidente, merece especial destaque a implantação da Ferronorte. Esta, em particular, pela possibilidade de viabilizar o escoamento da produção da rica e fértil região do Brasil Central até aos centros de consumo e industrialização da região Centro-Sul e do exterior.
A Ferronorte foi iniciada em agosto de 1992, e prevê, na primeira etapa, a construção do trecho de 400Km, em Mato Grosso do Sul, entre Aparecida de Taboado, divisa com São Paulo, e Alto Taquari, já em Mato Grosso.
Com esse primeiro trecho, a Ferronorte servirá diretamente aos importantes pólos agrícolas da região denominada "Chapadão dos Gaúchos" e, através da integração com o transporte rodoviário, oferecerá uma alternativa bem mais econômica para o escoamento dos produtos agrícolas do norte de Mato Grosso do Sul, do sul de Goiás e, principalmente, de Mato Grosso, destinados aos mercados da Região Centro-Sul e à exportação.
A seguir, em etapas subseqüentes, a Ferronorte prosseguirá até Cuiabá, em Mato Grosso, totalizando 956Km e, posteriormente, alcançará Santarém, no Pará, e Porto Velho, em Rondônia.
É prevista ainda a sua ligação com a malha ferroviária da Rede Ferroviária Federal e da Estrada de Ferro Vitória-Minas, da Companhia Vale do Rio Doce, em Minas Gerais e Espírito Santo, com opção de acesso inclusive aos portos de Vitória, Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul.
Assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse empreendimento, pela sua grande dimensão, está sendo implantado por etapas, a partir dos trechos cuja demanda de transporte já viabiliza a sua construção com capitais privados.
Nesse sentido, é importante ressaltar que o primeiro trecho, juntamente com a malha ferroviária complementar já existente, criará um corredor ferroviário de 1.300Km.
Com esse primeiro trecho e uma operação eficiente no Corredor, a Ferronorte propiciará redução nos custos de escoamento de até R$20,00 por tonelada. Essa redução evoluirá para R$27,00 com a sua chegada em Rondonópolis e para R$32,00 ao alcançar Cuiabá.
Vale destacar, Sr. Presidente, que atualmente o escoamento da produção da região tem ocorrido através do transporte rodoviário. As distâncias, que chegam a superar 2.000Km, têm elevado os custos de escoamento para patamares de R$80,00 por tonelada, já tendo alcançado mais de R$100,00 por tonelada nos períodos de safra.
Essa economia, já no primeiro ano de plena operação da Ferronorte, deverá alcançar R$160 milhões, considerando apenas a implantação de seu trecho inicial, e dobrar em 20 anos, totalizando, assim, um montante da ordem de R$4,8 bilhões no período.
Sem dúvida, Sr. Presidente, esse barateamento dos fretes estimulará a agricultura e demais atividades econômicas da região, com reflexos positivos na geração de empregos, renda e arrecadação pública local.
O fortalecimento dos setores industrial, de comércio e de serviços induzidos pelo desenvolvimento agrícola ocorrerá com mais intensidade nos pólos econômicos de retaguarda.
Com a intensificação do intercâmbio viabilizado pela ferrovia, os mesmos benefícios verificados nos pólos econômicos de retaguarda, como Campo Grande e Cuiabá, ocorrerão também nos pólos econômicos mais ao norte, ao longo das rotas hidroviárias, como Porto Velho, Manaus, Santarém e Belém, quando essas cidades forem chamadas a dar suporte ao desenvolvimento agrícola dessas novas fronteiras.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, podem-se destacar, dentre outros, os seguintes benefícios públicos com a implantação da Ferronorte:
- viabilização da cultura de produtos com menor valor específico, como é o caso do milho, cuja produção mostra-se hoje inviável em regiões mais distantes. Além disso, a possibilidade de rotação de culturas também em áreas de fronteira permitirá um melhor controle fitossanitário, de fundamental importância para as culturas de soja da região;
- redução, e até mesmo eliminação de subsídios governamentais, na comercialização do milho e arroz produzidos na região e que têm consumido dezenas de milhões de reais anualmente;
- menor desgaste das frotas e das rodovias. A economia na manutenção de estradas permitirá que mais recursos sejam canalizados para a pavimentação e expansão da malha rodoviária da região;
- economia de diesel da ordem de R$20 milhões/ano, evoluindo para R$45 milhões num horizonte de 20 anos, o que representará uma economia global da ordem de R$650 milhões no período;
- melhor controle da arrecadação tributária.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é importantíssimo que se destaque o caráter altamente inovador desse empreendimento. Trata-se de uma iniciativa do setor privado a ser viabilizada pelo apoio e a concessão outorgada pelo setor público.
Assim, a concepção desse empreendimento prevê uma nova parceria com o setor privado na realização de investimentos públicos através de concessões, atraindo investimentos privados através de recursos de capital de risco.
Para a viabilização da operação econômica ao longo de todo o corredor ferroviário de 1.300Km estão sendo também realizados investimentos na ponte sobre o rio Paraná, na divisa dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, em melhorias na malha da Fepasa e nas condições de acesso, circulação e descarga de composições ferroviárias nos portos de Santos e Sepetiba.
Os recursos para a construção da travessia sobre o rio Paraná, por se tratar de ponte rodoferroviária, tem como fonte os orçamentos do Governo Federal e do Governo de São Paulo, em conformidade com o convênio assinado por ambos.
As obras com recursos do Governo do Estado de São Paulo foram realizadas. Cabe, agora, ao Governo Federal concluí-las, cumprindo, assim, os compromissos assumidos. Inclusive, no Orçamento Geral da União de 1995 e 1996, foram consignados recursos para a conclusão da ponte rodoferroviária de cerca de R$150 milhões, os quais não foram até então liberados.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao apresentar nesta tribuna essas considerações, solicito aos membros desta Casa, bem como às autoridades federais e estaduais, que dêem o integral apoio à Ferronorte para que, através desse importante empreendimento, se possa abrir nova perspectiva para o desenvolvimento das regiões centrais do nosso País.
Nesse particular, destaca-se a concretização dos compromissos assumidos pelo Governo Federal para a conclusão da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná e para viabilizar a ligação do trecho da Ferronorte com a Fepasa.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, finalmente agradeço a honra de ter sido ouvido por V. Exªs. Quero manifestar a minha convicção na agricultura, na Região Centro-Oeste, no meu Estado de Mato Grosso. Quero também reiterar a minha disposição de continuar trabalhando, para que se possam viabilizar iniciativas que transformem a agricultura de Mato Grosso e da Região Centro-Oeste, abrindo, assim, um novo horizonte de progresso e de riquezas para aquela importante região interiorana e para o Brasil. Muito obrigado.