Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS A MEMORIA DO EX-MINISTRO RENATO ARCHER, DESTACANDO SUA TRAJETORIA POLITICA.

Autor
Humberto Lucena (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Humberto Coutinho de Lucena
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS A MEMORIA DO EX-MINISTRO RENATO ARCHER, DESTACANDO SUA TRAJETORIA POLITICA.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/1996 - Página 11428
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RENATO ARCHER, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA CIENCIA E TECNOLOGIA (MCT).

O SR. HUMBERTO LUCENA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia em que o Senado prestou sua homenagem à memória do ex-ministro Renato Archer, eu estava ausente de Brasília, participando de convenções partidárias na Paraíba. Assim, ocupo hoje a tribuna, para fazer a minha manifestação pessoal e do PMDB do meu Estado, de profundo pesar pelo desaparecimento desse caro e ilustre companheiro.

Em 1959, quando assumi o meu primeiro mandato de deputado federal, sob a legenda do PSD, já encontrei Renato Archer na Câmara dos Deputados, no tradicional Palácio Tiradentes, como um dos integrantes da chamada Ala Moça do PSD, a que pertenciam também Ulysses Guimarães, Vieira de Melo, José Jofly, Leoberto Leal, Cid Carvalho, Nestor Jost e João Pacheco Chaves, grupo muito ligado ao então Presidente Juscelino Kubitschek, desde o lançamento de sua candidatura, em 1955. A Ala Moça defendeu, com entusiasmo, o nome do ilustre companheiro de Minas Gerais, conseguindo superar divergências criadas por alguns setores do partido.

Essa postura da Ala Moça levou o Presidente Juscelino a prestigiá-la. Tanto assim que Ulysses Guimarães foi eleito Presidente da Câmara dos Deputados, e Vieira de Melo assumiu a Liderança do PSD e, depois, do Governo, na Câmara dos Deputados. Ambos sempre ajudados, de perto, pelo então Deputado Renato Archer.

Sem dúvida, a desenvoltura com que Renato Archer, desde então, agia na Câmara dos Deputados, resultava da vocação política que herdara dos seus ancestrais, particularmente de seu pai, Sebastião Archer, que foi Governador do Maranhão, de 1947 a 1951, e Senador por esse Estado de 1955 a 1971.

Tanto assim que, em 1951, foi eleito Vice-Governador do Maranhão, daí partindo para exercer vários mandatos de Deputado Federal, até que, em dezembro de 1968, teve o seu mandato cassado e suspensos por dez anos os seus direitos políticos, na mesma ocasião em que o então regime militar aplicava as mesmas penas ao ex-Governador Carlos Lacerda.

É de recordar-se que Renato Archer teve atuação decisiva na formação da chamada Frente Ampla, que conseguiu reunir os ex-Presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart ao ex-Governador Carlos Lacerda, num dos momentos históricos do autoritarismo militar.

Na sua eficiente atuação parlamentar, além das articulações políticas que lhe eram atribuídas pela Liderança do nosso Partido na Câmara Federal, quantas vezes, fora dela, Renato Archer destacou-se como um estudioso dos problemas nacionais, sendo de salientar a sua especialização em matéria de energia nuclear, tema que sempre tratou com amplo conhecimento de causa, assumindo uma posição firme e corajosa em defesa dos interesses nacionais. Tanto que chegou a ser indicado, em 1956, para o Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como representante do Governo brasileiro por dois anos.

Após a indicação do primeiro Gabinete-Parlamentar da história republicana, chefiado por Tancredo Neves, Renato Archer foi convidado, pelo Ministro das Relações Exteriores San Tiago Dantas, a assumir o cargo de Subsecretário dessa Pasta, tendo dado uma contribuição das mais valiosas para que se consolidasse no Brasil a chamada política externa independente.

Com a implantação do regime militar no País, em 1964, a carreira política de Renato Archer entrou em declínio, em virtude do seu posicionamento firme, contrário aos atos de exceção. Por isso mesmo, não logrou, em 1965, ser eleito Governador do Maranhão, sobretudo em virtude da forte pressão do Governo Federal contra a sua candidatura.

Um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro, em 1965, após a extinção do PSD, partido a que pertencia, e dos demais Partidos de então, Renato Archer lutou denodadamente pela restauração da democracia no Brasil. Foi justamente a sua constante atividade contra o regime militar que o levou a ter o mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos, logo após a edição do Ato Institucional nº 5, sendo, então, alvo de perseguição política, policial e inclusive preso seguidamente e processado.

Após ter sido forçado a abandonar a vida pública, dedicou-se à iniciativa privada. Entretanto, mesmo antes da anistia que o beneficiou, participou, em 1978, da Frente Nacional de Redemocratização, movimento que articulou a candidatura do General Euler Bentes Monteiro à Presidência da República, em alternativa à candidatura do General João Baptista Figueiredo.

Ao readquirir seus direitos políticos, filiou-se novamente ao MDB e, após o fim do bipartidarismo, inscreveu-se no PMDB, tendo sido, mais uma vez, candidato ao Governo do Maranhão, em 1982, quando a vinculação de votos, instituída pela ditadura militar, inviabilizou a vitória dos candidatos da oposição.

Após participar da campanha pelas Diretas Já e da eleição de Tancredo Neves para Presidente da República, sempre ao lado de Ulysses Guimarães, de quem se tornou, além de companheiro inseparável, amigo íntimo de todas as horas, Renato Archer, por escolha de Tancredo, foi Ministro da Ciência e Tecnologia no Governo Sarney e, mais adiante, Ministro da Previdência Social. No Governo Itamar Franco, exerceu as altas funções de Presidente da Embratel.

A sua última missão político-partidária foi a de Presidente do PMDB do Rio de Janeiro.

Renato Archer deixou viúva Madeleine Deutsch Archer, que, além de sua esposa, foi a grande companheira de todas as suas lutas, a quem transmito, desta tribuna, as minhas sinceras condolências pelo falecimento do seu querido esposo e nosso grande companheiro do PMDB.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/1996 - Página 11428