Discurso no Senado Federal

HOMENAGEIA O TRANSCURSO DO OCTOGESIMO ANIVERSARIO NATALICIO DO DEPUTADO FEDERAL ANDRE FRANCO MONTORO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEIA O TRANSCURSO DO OCTOGESIMO ANIVERSARIO NATALICIO DO DEPUTADO FEDERAL ANDRE FRANCO MONTORO.
Aparteantes
Emília Fernandes, Hugo Napoleão.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/1996 - Página 11767
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ANDRE FRANCO MONTORO, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Deputados, Deputado Franco Montoro, se não costumeira a realização de uma sessão como esta, que rara felicidade teve o ilustre Senador Lúcio Alcântara de convocá-la para estarmos aqui, neste momento, homenageando Franco Montoro.

Tenho dito desta tribuna que o Brasil está vivendo um momento muito difícil, em que as referências para o povo brasileiro estão sendo muito escassas. Os Partidos vivem uma fase complexa, sem comunismo, o capitalismo sob interrogação, sem União Soviética, em nível de mundo, em nível de Brasil, em nível de ideologias; interrogamo-nos não sobre se cumprimos nosso dever, mas sobre a maneira como o estamos cumprindo.

O Senador Lúcio Alcântara foi muito feliz, pois estamos falando de um nome que é uma referência neste País.

No Brasil temos dúvidas, interrogações: "Para onde ir?", "Qual o caminho a seguir?", "Quem são as pessoas?", "O que estão fazendo as pessoas?"

Franco Montoro, indiscutivelmente, esteja no Partido em que estiver o cidadão, pertença à religião a que pertencer o cidadão, é uma referência, porque quando fala, analisa e defende suas teses, sabemos que, primeiro, é sempre a mesma pessoa. Pode estar no Governo, pode ser Senador, pode ser Governador, pode ser Deputado, pode não ter mandato, pode estar no PDC, pode estar no PMDB, pode estar no PSDB, mas as suas idéias, os seus princípios, a sua ética e a sua doutrina são uma linha reta; S. Exª não muda, não altera o seu pensamento.

Desafio que, ao longo do tempo, se traga, referente a Franco Montoro, um pronunciamento divergente de outro com relação aos princípios da socialdemocracia, com relação aos princípios da democracia cristã, com relação aos princípios de uma integração da América Latina, com relação a um regime parlamentarista mais aberto, com relação à ética na política.

Esse é o Franco Montoro.

V. Exª sabe, meu querido Franco Montoro, do carinho e respeito que tenho por sua pessoa. Mais do que os oradores que me antecederam, quis o destino que, praticamente ao longo da minha vida pública, fosse eu um seguidor permanente de V. Exª. Era eu Deputado Estadual, no Rio Grande do Sul, e V. Exª Deputado Federal, Presidente do nosso velho MDB. V. Exª, já de saída, quando poderia ter optado pela Arena - muitos do PDC fizeram essa escolha -, optou pelo Partido difícil, pela árida posição do MDB.

Eram épocas difíceis, como aquela de 1970, quando o nosso Partido tinha, de um lado, os que diziam que dever-se-ia extinguir o Partido e, do outro lado, os que diziam que deveríamos votar em branco - e foi uma montanha de votos brancos; de outro lado, os que defendiam a tese de que deveria haver a renúncia coletiva ao mandato. O MDB ficou reduzido a uma Bancada de sete Senadores, o resto era Arena. Foi a época em que a Arena era o maior Partido do Ocidente.

Naquele ano, se não me engano, ganhamos apenas em São Paulo, com V. Exª, e também no Rio de Janeiro, porque a derrota foi generalizada. V. Exª comandou aqui, como Líder, o MDB. Comandou, lutou, defendeu, com as mesmas idéias e com os mesmos princípios.

Lembro-me de que, jovem ainda, Deputado Estadual, por contingências, pela importância da política no Rio Grande do Sul, com os exilados Jango e Brizola ali do lado, merecia eu o convite para participar das difíceis e árduas reuniões ou no apartamento de V. Exª ou no do Dr. Ulysses Guimarães ou, ainda, no do Dr. Tancredo Neves. Naquelas reuniões dramáticas, muitas delas, onde se interrogava como seria o dia seguinte, lembro-me da palavra, da firmeza e da dignidade de V. Exª, sem os gestos exagerados de aparecer por aparecer, mas com a firmeza da decisão de estar no lugar certo, no momento certo.

Lembro-me quando Oscar Passos, Presidente do MDB, não se elegeu Senador pelo Acre. Homem extraordinário Oscar Passos. Estávamos, na época, um grupo muito pequeno, em uma reunião célebre, uma convenção, onde o Presidente era Oscar Passos, o 1º Vice era Franco Montoro e o 2º Vice era Ulysses Guimarães, e o Rio de Janeiro, que tinha três Senadores do MDB, não tinha nenhum membro na Executiva. Tivemos um longo debate, uma longa discussão, onde o MDB do Rio de Janeiro queria ter - já que era o único Estado que tinha Governador e três Senadores - um membro na Executiva. E o debate se prorrogou até o momento em que o Sr. Franco Montoro concordou que aquele Estado tivesse um membro na Executiva. Assim ficou acertado.

São Paulo, porém, tinha dois vices: o primeiro, que era Franco Montoro; e o segundo, que era Ulysses Guimarães. Então, Oscar Passos indagou, na ocasião, no lugar de quem entraria Amaral Peixoto? Nesse momento, reinou um silêncio total. E Franco Montoro, que era o 1º Vice-Presidente, respondeu que não haveria problema, que Amaral Peixoto poderia entrar em seu lugar.

Para Oscar Passos, a questão estava resolvida: Amaral Peixoto entraria na vice-presidência, no lugar de Franco Montoro. Foi quando o querido amigo Dr. Ulysses Guimarães interferiu, propondo, já que São Paulo tinha a primeira e a segunda vice-presidências, e se o Rio de Janeiro iria entrar na vice-presidência, que fosse na segunda e não na primeira; com o que todos concordaram. Só que isso não aconteceu. Ulysses Guimarães não saiu; ao contrário, Franco Montoro saiu, passando Ulysses Guimarães para a primeira vice-presidência e Amaral Peixoto para a segunda.

O Deputado Franco Montoro deve lembrar-se do discurso que fiz, daquela tribuna, em nome da convenção, saudando-o como o grande responsável pelo entendimento e pela grande unidade que se fazia no Partido, em virtude de seu desprendimento naquele momento.

O destino é o destino. Dois anos depois, Oscar Passos não se elege Senador. Embora todos pensássemos que seria até melhor ele presidir o Partido mesmo sem mandato e morando no Rio de Janeiro, por uma questão de ética, entendeu que, tendo sido derrotado no Acre, não podia presidir um Partido no Brasil; e renunciou, subindo, assim, o Dr. Ulysses Guimarães à Presidência do Partido.

Lembro-me de muitos e muitos atos do Dr. Franco Montoro. Recordo-me do que foi dito aqui pelo orador, Líder do PFL, então Governador do Piauí. É verdade, a ação dos Governadores do MDB e dos Governadores do então PDS, do Nordeste, com a dissidência que o Sr. José Sarney, o Sr. Marco Maciel e outras pessoas fizeram no Governo, foi da maior importância. Mas tudo começou com uma ação importante do Senador Franco Montoro.

O nosso candidato do MDB chamava-se Ulysses Guimarães. Quem não era favorável a Ulysses Guimarães, por várias razões, era a Franco Montoro - a dúvida e a interrogação que existia no Partido era entre Ulysses Guimarães e Franco Montoro. Franco Montoro, sendo Governador de São Paulo, não sendo Presidente do MDB, não tendo as rixas que o Dr. Ulysses tinha tido, para muitos, era um candidato mais natural do que o Dr. Ulysses.

Estávamos no Partido, do qual eu era vice-presidente, com a interrogação do que fazer, quando o Governador de São Paulo, Franco Montoro - e está aqui o Senador Jader Barbalho, Governador à época, que pode confirmar - reuniu-se com os Governadores do MDB - José Richa, Jader Barbalho, Iris Rezende - e fecharam em torno da candidatura de Tancredo Neves. Depois, procuraram Governadores dissidentes hoje, que fazem parte do PFL, como o Senador Hugo Napoleão e tantos outros, e realizaram um grande movimento dos governadores, que foi o baluarte, a viga mais forte da candidatura Tancredo Neves/José Sarney à Presidência da República. Atitude de Franco Montoro.

Se Franco Montoro tivesse ficado quieto naquela reunião, a destinação ou seria para o Dr. Ulysses ou para ele. Mas talvez não saísse ninguém. Entretanto, aquele momento em que Franco Montoro teve a grandeza e o gesto de, como Governador de São Paulo, articular a candidatura do Governador de Minas - primeiro, entre os Governadores do PMDB; depois, com Governadores de outros Partidos que estavam dissidentes - foi decisivo e definitivo para o resultado positivo da candidatura Tancredo Neves/José Sarney. Mais um gesto que caracteriza aquilo que é tão difícil: renunciar às vésperas de se obter o poder.

O Sr. Hugo Napoleão - Permite V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Com muito prazer.

O SR. Hugo Napoleão - Permita-me uma leve incursão no discurso de V. Exª para ratificar suas palavras. Já tive oportunidade aqui, aparteando o nobre Senador José Roberto Arruda, de lembrar que o então Governador Franco Montoro era uma espécie de coordenador de todos nós, até porque fizemos reuniões no Palácio dos Bandeirantes à época. Mas me permito, então, repito, aduzir uma pequena argumentação apenas para dizer que na ocasião de todas as Assembléias Legislativas de todos os Estados da Federação brasileira, modéstia à parte, a primeira a eleger os seus seis delegados ao Colégio Eleitoral foi, exatamente, a do Estado do Piauí: companheiros meus, do antigo PDS, sob minha coordenação. Esse foi um fato importante naquele momento, bem sabe o Presidente José Sarney, com quem tive vários encontros, inclusive um deles em Teresina, no Palácio do Karnak, quando S. Exª me alertou que estávamos para assistir à transformação da história e não queria que o Piauí dela ficasse fora. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª.

Conto esses fatos para mostrar a profundidade da personalidade de Franco Montoro.

Dentro do meu Partido, então MDB, tínhamos os homens que traçavam diretrizes: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e, basicamente, Franco Montoro, que tinha o seu velho pensamento, quase repetitivo e que dele, às vezes, nós ríamos, sobre a democracia cristã, a ética e a socialdemocracia. A tese de que cada um deveria dar a sua parte, e que a sociedade deveria dar as mãos para construir uma grande Pátria; e uma grande Pátria só seria grande com pequenas obras realizadas pelo conjunto da sociedade.

Fizeram uma acusação ao Deputado Franco Montoro: de que o grande erro do seu Governo foi não ter feito propaganda das grandes e importantíssimas obras realizadas por ele. Mas, quando as divulgava, fazia-o sempre afirmando que o seu Governo era o Governo das obras pequenas. Pequenas, mas importantes, como a merenda escolar, a distribuição de hortifrutigranjeiros, de alimentos às pessoas mais necessitadas, como se isso pudesse ser chamada de obra pequena.

Não posso me esquecer nunca que houve um desentendimento, em São Paulo, entre o Partido e o então Chefe da Casa Civil, que era o seu filho.

Acho até natural, Chefe da Casa Civil e filho criam um ambiente difícil e V. Exª aceitou a tese do Partido, demitindo o filho, homem de bem, sério e digno, como V. Exª. Qualquer outra pessoa, em tese, mandaria o Partido às favas. Mas V. Exª governou com o Partido. V. Exª tem um espírito tão sério e tão íntegro, uma maneira tão correta de ver as coisas que, às vezes, em tese, "erra pelo exagero."

O Presidente da República da época; o Presidente do Partido, Dr. Ulysses Guimarães; V. Exª, Governador de São Paulo; Mário Covas, Prefeito de São Paulo, enfim todo o Partido não queria o Quércia para Governador no seu lugar. V. Exª também não. Mas V. Exª não movimentou uma palha para que não se cumprisse ou não se respeitasse a decisão daquela Convenção. E V. Exª podia ter feito, tinha condições de costurar, de manobrar, de alterar o resultado da Convenção em São Paulo. Vários apelos, várias sugestões e várias propostas o Governador Franco Montoro recebeu, no sentido de articular: "O Presidente da República é nosso, o Governador é nosso, o Prefeito de São Paulo é nosso, o Presidente Nacional e Estadual do Partido é nosso. Será que todas essas coisas não derrotam o Vice-Governador numa Convenção?"

O Dr. Franco Montoro, de quem o Quércia não era o candidato, não interveio na Convenção, respeitou a decisão. Essas são questões até delicadas de serem analisadas. E ao analisar um político profissional pode até parecer meio ridículo; alguém pode argumentar: "Quer dizer que o Montoro podia ter ganho a Convenção e não ganhou; podia ter escolhido o candidato..."

Esse é o Franco Montoro, essa é a personalidade de Franco Montoro. Isso é o que ele chama de ética na política, neste seu artigo, que peço a transcrição nos Anais do Senado Federal.

Franco Montoro, em recente publicação deste ano, diz:

      "Multiplicam-se em toda parte movimentos populares ou associativos reivindicando ética na vida pública, na vida social e no comportamento pessoal. Há um retorno à ética, na virada do século. Quiseram construir um mundo sem ética. E a ilusão se transformou em desespero.

      No campo da política, a famosa operação "mãos limpas", que se celebrizou na Itália e estendeu-se às democracias de quase todas as nações do mundo, teve e tem o mesmo significado da retomada das exigências da ética.

      Depois da esperança generosa, dos benefícios das democracias do pós-guerra, quase todas as nações tiveram uma experiência de decepção e revolta. As populações foram surpreendidas pela revelação da prática generalizada de fraudes, desvios de verbas públicas, corrupção de administradores e empresários e máfias de toda a ordem, que transformaram a "coisa pública" em "cosa nostra".

      Os escândalos revelados provocaram uma reação generalizada na consciência pública, que passou a exigir ética na política. Essa exigência deu origem, em todos os continentes, a um amplo movimento de investigações, processos, condenações que atingiram inúmeros agentes públicos."

E fala, inclusive, da situação do Brasil.

Esse é o Franco Montoro. O Franco Montoro que clamava, quando Deputado, Líder da Oposição, no regime militar; quando Governador de São Paulo no Governo do Presidente Sarney, ou no Governo do Presidente Itamar, ou hoje no Governo de Fernando Henrique. É o mesmo Franco Montoro. É isso que admiro em V. Exª. Por isso o carinho imenso que tenho por V. Exª.

Vejo que aqueles artigos antigos e livros, que V. Exª tinha a gentileza de me mandar quando eu era um jovem e modesto Deputado do Rio Grande do Sul, são os mesmos que estou agora vendo aqui. A publicação de hoje, "Um Novo Modelo de Desenvolvimento", cá entre nós Deputado, o novo modelo é o velho. É a velha democracia cristã, é a velha socialdemocracia que V. Exª sempre defendeu. E a "Perspectiva de Integração da América Latina", que hoje é uma realidade, é a mesma que V. Exª defendia, lá no início, quando parecia uma ilusão ridícula, uma utopia falar em integração e justiça. É também um mérito do Presidente Sarney, que, quando Presidente, teve uma posição extraordinariamente positiva nesse sentido. Mas V. Exª, muito antes disso, quando nunca havia se falado nisso, já defendia essas teses. Isto para mim é o importante: coerência.

Vamos bater no peito e analisar o seguinte: para quantas pessoas, neste País, podemos olhar e perceber, em primeiro lugar, que aparentam 60 anos, quando têm 80 anos de vida e 50 de vida pública, falando hoje das mesmas coisas que falaram no primeiro dia; que defendem hoje as mesmas idéias que defenderam no primeiro dia? E olha que conseguiu sacudir. Houve a Revolução de 1964: ditadura, cassações, violências e arbítrios. E V. Exª esteve no poder, esteve na Oposição e pensou sempre do mesmo jeito, teve sempre a mesma posição, a mesma linha.

Lembro-me de quando Montoro me procurou, triste e amargurado, dizendo que o PMDB não tinha mais jeito. S. Exª insistia comigo, então Governador do Rio Grande do Sul, para acompanhá-lo a um novo Partido. Dizia que, para ele, isso era uma questão ímpar, muito pessoal e que ele tinha ficado inclusive com essa missão diante dos novos formantes do Partido; ou seja, que o Simon era o homem do Montoro. Era verdade. Eu não o acompanhei, amargurado, por causa dele. Pensei: se o Montoro está tomando uma posição dessa, eu que o conheço, é porque a situação, realmente, é dramática e ele deve ter razões muito profundas.

Se formos analisar hoje, meu querido Montoro, V. Exª poderá dizer: "Viu, Simon, eu tinha razão. A democracia em questão está aí, está lá o meu discípulo Fernando Henrique no poder. Seu Partido, Simon, olha aí a confusão em que está." É provável que sim. Mas V. Exª haverá de fazer justiça, porque, se tivéssemos ficado juntos, naquele momento, em que não era a hora do Dr. Ulysses, provavelmente, em vez da votação boa, mas insuficiente do Covas, e completamente insignificante do Dr. Ulysses, tivéssemos impedido o fenômeno Collor. Mas aconteceu, lamentavelmente aconteceu.

Vou fazer, agora, uma inconfidência. Talvez deixe V. Exª mal, meu querido Montoro, mas vou fazer: Franco Montoro é o mesmo Franco Montoro. Outro dia, estávamos reunidos, tomando café da manhã com um grupo grande de políticos e outras pessoas heterogêneas, discutindo o Brasil. Quando se deu a palavra a Montoro, Montoro era o mesmo. E deu um show de política econômica e social para o Brasil: no campo salarial é isso; no campo da economia é isso; no campo das relações pessoais é isso. Deu um show. Diz Franco Montoro: "Temos que nos reunir aqui. Aqui há pessoas muito importantes: há Senadores, há Deputados, há Bispos, há pessoas significativas. Temos que levar o que está se passando aqui ao Presidente da República". Foi quando eu lhe perguntei por que nós deveríamos levar quando o Presidente de Honra do PSDB, professor e criador do Presidente da República, deveria fazê-lo pessoalmente; dizer todas essas coisas a uma conversa a dois com o Presidente da República. S. Exª teve que rir, tivemos que rir. Mas quero chamar a atenção: há de convir as mesmas idéias.

Por isso, Sr. Presidente, falo com emoção aqui, falo do amigo, falo do Líder, falo do companheiro, falo do estadista, falo do brasileiro. Volto a citar até o seu estilo. Montoro não é do estilo de radicalização, do agredir, do atingir. Montoro é do estilo de expor as suas idéias, de dizer o que pensa, o que sente. Montoro não é do estilo de atingir as outras pessoas e demonstrar o ridículo, ou seja lá o que for. Montoro não faz inimigos. Montoro ou faz amigos, ou faz pelo menos pessoas que o admiram. Por isso, vivemos hoje um momento, neste Senado, difícil de se repetir.

Ora, Srs. Senadores, Franco Montoro ocupou cargos. Passada a vida pública, ser S. Exª o que é hoje, nesta sessão, perante o Brasil, a unanimidade do respeito, da credibilidade, é muito difícil.

A Srª Emilia Fernandes - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço V. Exª com todo o prazer.

A Srª Emilia Fernandes - Inicialmente, eu gostaria de solidarizar-me com o pronunciamento de V. Exª, porque faz uma retrospectiva histórica presenciada, vivida junto com este homem ilustre, político da História brasileira, que hoje é homenageado no Senado Federal. Portanto, eu gostaria de somar-me às homenagens de cumprimento que recebe o ilustre Deputado Franco Montoro, nesta tarde, dizendo que temos um profundo reconhecimento pela dedicação da significativa parte da sua vida à construção da história do povo brasileiro, principalmente pela sua luta na busca da integração da América Latina. Cumprimento V. Exª e tenho a certeza de que o pronunciamento que o Senador Pedro Simon está fazendo na tribuna representa a Bancada do Rio Grande do Sul. Deputado Franco Montoro, receba os nossos cumprimentos e o desejo de uma vida cada vez mais feliz com histórias e páginas e mais páginas escritas da sua trajetória de vida e os nossos sentimentos também de solidariedade, amor e fraternidade extensivos à sua esposa, a quem também admiramos. Agradeço o aparte ao nobre Senador Pedro Simon, que está honrando a Bancada gaúcha com o seu pronunciamento. Muito obrigada.

O SR. PEDRO SIMON - Eu que agradeço, profundamente, o aparte da prezada colega, Senadora do Rio Grande do Sul.

Mas, Deputado Franco Montoro, estou nesta tribuna como seu amigo. V. Exª sabe disso. Amigo das horas boas e das horas ruins. Tenho em V. Exª o amigo, principalmente das horas ruins - e eu as tive muitas na minha vida pessoal.

Tudo o que eu disse desta tribuna, meu querido amigo Franco Montoro, é minha obrigação. Não altera nada o conceito de V. Exª que já é nota 10. Eu ter vindo ou não a esta tribuna, o que eu disse todo o Brasil sabe e todos admiram V. Exª. Mas medindo as palavras, vou acrescentar: V. Exª que é tudo isso, querido Franco Montoro, tem hoje uma grande missão da qual não pode se furtar. Não existe hoje, neste Brasil, político com a imparcialidade, com a seriedade, com a tradição, com a retidão, com a homogeneidade de V. Exª.

Não existe no Brasil, hoje, político com a autoridade de fazer e de sentir tudo isso a uma pessoa: o Presidente da República, pessoa que todos admiramos, mas que vive uma situação muito difícil. Hoje - repito -, meu querido Franco Montoro, o mundo inteiro vive uma situação difícil. O mundo vive uma época de transformação, de acomodação. Aonde vamos terminar? Como dizia Collor, no neoliberalismo? Ou, como diz V. Exª, na socialdemocracia, no solidarismo?

Para onde estamos caminhando? Quais são os projetos que se adaptam aqui ou ali?

Meu querido Montoro, o mundo está caminhando para a globalização, mas qual é o papel do Brasil nessa globalização?

Já se viu, agora, pela medida do Ministro Francisco Dornelles que a globalização tem que ser contida, tanto que aumentou de 20 para 70% o imposto sobre brinquedos, porque estavam quebrando praticamente todas as fábricas de brinquedos brasileiras.

Nessa globalização que vem vindo, os Estados Unidos não estão estudando qual será seu papel, assim como o Japão, a Alemanha e a China. Qual é o nosso papel? Qual é a nossa política? O que estamos preparando para que nos adaptemos a esse mundo globalizado?

Tenho confiança no Presidente Fernando Henrique Cardoso, na sua dignidade, na sua seriedade, no seu caráter e na sua ânsia de acertar. Não tenho medo de Fernando Henrique, mas de que acertemos o caminho a seguir para que encontremos o lugar certo.

Que bom se o Presidente ouvisse mais V. Exª. Que bom se agora, neste domingo, quando V. Exª terá a homenagem do Brasil inteiro em São Paulo, com a presença do Presidente da República, baixinho possa dizer-lhe: "Olha, Fernando, precisamos conversar mais um pouco lá fora." Passado isso, teremos que conversar algumas coisas lá, talvez para ele esclarecer V. Exª e para que V. Exª possa ajudar a esclarecer o Brasil. Porque se V. Exª for para a tribuna da Câmara dos Deputados e fizer um pronunciamento analisando a política econômico-social do Presidente Fernando Henrique, dizendo que é por aí que se deve ir, serei um dos que vai parar para pensar. Se o Franco Montoro, que é isso que eu sei, que é o que admiro, o que eu respeito, defende essas idéias, diz que é esse o caminho, então vou parar duas vezes para pensar. É difícil, mas V. Exª nunca teve missão fácil.

Acho que para o País, para as pessoas que têm tradição, que têm história, para as pessoas que medem as palavras e as ações antes de agir - e há muitas pessoas neste Brasil -, uma palavra de Franco Montoro com relação à hora em que estamos vivendo e a política do Governo é da maior importância.

Portanto, posso dizer, de coração aberto, que se V. Exª analisar o que aí está e disser: "é esse o caminho", eu acredito. Se o que está aí é o novo modelo de desenvolvimento, ouvindo o seu conselho, o Presidente Fernando Henrique Cardoso poderá adotá-lo como novo modelo de desenvolvimento.

Agradeço a honra de haver falado aqui e agradeço a mim mesmo; a mim agradeço a honra que Deus me concedeu de falar numa hora como esta, de alegria, de festa, que temos junto a nós um Franco Montoro inteiro, alegre, tranqüilo, com a sua trajetória, com o seu discurso, com a sua saúde, com o seu futuro. Numa hora desta, que bom estarmos reunidos, prestando esta homenagem a Franco Montoro. O Brasil inteiro, a partir dos próximos dias, vai silenciar, pois, fora os agradecimentos, as homenagens, muito provavelmente virá o pronunciamento, à Nação e ao Presidente, do querido Governador, Senador, Ministro e Deputado, grande estadista Franco Montoro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/1996 - Página 11767