Discurso no Senado Federal

JUSTIFICANDO O REQUERIMENTO 670, DE 1996, DE SUA AUTORIA, CONVOCANDO O MINISTRO ODACIR KLEIN PARA PRESTAR INFORMAÇÕES, PERANTE O PLENARIO DO SENADO FEDERAL, ACERCA DO PAPEL DO MINISTRO DOS TRANSPORTES NO AMBITO DO PROGRAMA DE DESESTATIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DAS ATIVIDADES TRADICIONALMENTE EXERCIDAS PELO SETOR PUBLICO, BEM COMO, DAS CONDIÇÕES DA MALHA RODOVIARIA FEDERAL.

Autor
Jader Barbalho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PA)
Nome completo: Jader Fontenelle Barbalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINISTRO DE ESTADO, CONVOCAÇÃO.:
  • JUSTIFICANDO O REQUERIMENTO 670, DE 1996, DE SUA AUTORIA, CONVOCANDO O MINISTRO ODACIR KLEIN PARA PRESTAR INFORMAÇÕES, PERANTE O PLENARIO DO SENADO FEDERAL, ACERCA DO PAPEL DO MINISTRO DOS TRANSPORTES NO AMBITO DO PROGRAMA DE DESESTATIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DAS ATIVIDADES TRADICIONALMENTE EXERCIDAS PELO SETOR PUBLICO, BEM COMO, DAS CONDIÇÕES DA MALHA RODOVIARIA FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/1996 - Página 11808
Assunto
Outros > MINISTRO DE ESTADO, CONVOCAÇÃO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, REQUERIMENTO, ORADOR, CONVOCAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DOS TRANSPORTES (MTR), PRESENÇA, PLENARIO, ESCLARECIMENTOS, POLITICA DE TRANSPORTES, DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA, PRIVATIZAÇÃO, MANUTENÇÃO, REDE VIARIA, REDUÇÃO, RECURSOS, ORÇAMENTO, ESPECIFICAÇÃO, SITUAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O Sr. Jader Barbalho - Senador Ney Suassuna, V. Exª ocupa a tribuna representando o nosso Partido nesta Casa, o PMDB. Porém, permito-me dar meu testemunho, neste aparte, na condição de Líder do PMDB no Senado. V. Exª está a enumerar toda a trajetória de Franco Montoro. S. Exª está presente nesta sessão do Senado Federal, Casa que integrou, tendo o privilégio de ver o reconhecimento ao seu trabalho, de público, em vida, o que, às vezes, não ocorre com tantos homens públicos, neste País ou fora dele, que só após a morte recebem esse reconhecimento. Franco Montoro é daquelas figuras que se transformaram em instituição neste País, ponto de referência da vida pública brasileira. Há um dado, além desse vasto currículo, que, no meu entendimento, é o maior mérito do nosso homenageado: a sua coerência política, o fato de ter sido sempre um democrata, em toda a sua vida sempre lutando para que a democracia no Brasil não fosse suprimida; e, quando o foi, Franco Montoro foi um dos esteios neste País, no sentido de que a democracia pudesse ser restabelecida. Tive o privilégio de ser Governador do meu Estado à época em que Franco Montoro foi eleito Governador de São Paulo. Fomos da safra de governadores da primeira eleição direta - o Senador Júlio Campos, que preside esta sessão, também era dessa época. Neste aparte, quero dar o meu testemunho sobre a iniciativa de Franco Montoro com relação ao processo de retomada das eleições diretas no Brasil. Foi exatamente no Palácio Bandeirantes, por sua iniciativa e por sua liderança, que nós, governadores do PMDB, nos reunimos para darmos início a toda uma campanha que acabou por resultar na campanha das Diretas, na apreciação da emenda constitucional, na eleição de Tancredo por via indireta, já que a via direta não era possível, enfim, no processo de redemocratização do Brasil. Por tudo isso que V. Exª está a enumerar - e, seguramente, V. Exª e os demais oradores poderiam falar de tantos outros predicados da vasta e brilhante carreira a serviço do Brasil -, Franco Montoro merece ser, neste momento, destacado. Gostaria de ressaltar esse aspecto do papel importante, fundamental naquele momento. De todos nós, Governadores, Franco Montoro, pelo seu passado, pela sua autoridade pessoal e pelo fato de ser Governador do Estado econômica e politicamente mais importante da Federação, foi quem liderou o processo. O primeiro gesto concreto e público em favor das eleições diretas no Brasil foi exatamente de Franco Montoro. Por isso mesmo, meu caro Senador Ney Suassuna, é com grande alegria que, na condição de Líder do PMDB nesta Casa, por meio destas modestas palavras, quero traduzir também o sentimento de todos os nossos companheiros de Bancada. Franco Montoro deixou o PMDB, por motivos que não cabem, absolutamente, discutir neste momento, talvez de natureza local ou outros. O fato é que nós, do PMDB, nos sentimos muito felizes de poder inserir na história do nosso Partido a certeza de que parte dessa história foi feita pelo nosso homenageado. Meus cumprimentos.

O SR. NEY SUASSUNA - Muito obrigado.

Encerro, Sr. Presidente e Sr. André Franco Montoro, nosso homenageado, dizendo que hoje, aqui desta tribuna, vai-se traçar o perfil completo dessa brilhante vida, desse exemplo de brasileiro. A cada um de nós compete fazer uma parte desse mosaico. O Senador Lúcio Alcântara me sucederá, com certeza, falando de outras pedras desse mosaico.

Mas queria prestar a minha homenagem e a homenagem do meu Partido, agora também respaldada pelas palavras do meu Líder, que havia me delegado essa missão. Na Paraíba, existe uma madeira muito forte, a qual nos referimos quando queremos afirmar que alguém é muito forte e que seu exemplo merece ser seguido: a braúna. Portanto, no linguajar de paraibano, gostaria de reverenciar Franco Montoro, reiterando a admiração do povo paraibano e do PMDB a essa braúna paulista. Meus parabéns!

 

O SR. PRESIDENTE (Júlio Campos) - Concedo a palavra ao nobre Senador Lúcio Alcântara, autor do Requerimento nº 654, que destina a Hora do Expediente a homenagear os 80 anos de nascimento do grande brasileiro André Franco Montoro.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, meu caro amigo e colega de Partido, Governador Franco Montoro, antes de mais nada, desculpe-me o atraso; um pequeno incidente terminou retardando a minha chegada aqui, mas foi bom para que pudesse ouvir as palavras do meu colega Senador Ney Suassuna e me dispensasse da cronologia política e profissional da vida do Senador Franco Montoro.

Quero ater-me a alguns aspectos da sua vida que julgo da maior relevância, a fim de que os brasileiros - homens e mulheres que estão participando da vida pública deste País, bem como os jovens e todos aqueles que se sintam vocacionados para a política - possam distinguir nos traços de sua vida ensinamentos preciosos, que colaboram de maneira valiosa para o engrandecimento do País e das instituições políticas da nossa terra.

Sou muito econômico em homenagens, até para valorizar aquelas que proponho. Nesses 18 meses de mandato no Senado, propus duas homenagens: a primeira, aos 170 anos de instalação do Senado brasileiro; a segunda, esta homenagem ao Deputado Franco Montoro, pela transcurso de seus 80 anos de vida bem vivida. Apesar de não ser íntimo de S. Exª, pois sou um companheiro recente de Partido, julguei-me autorizado a propor esta homenagem, para que quem observasse de longe a sua trajetória pudesse dela ter conhecimento, exaltá-la e engrandecê-la.

No Ceará, havia um cronista muito jocoso, talentoso, chamado Milton Dias, falecido na maturidade, que costumava dizer em suas brincadeiras que todas as homenagens deveriam lhe ser prestadas em vida. No Brasil temos dois extremos: ou elogiamos o poderoso do dia - que é muito mais bajulação do que homenagem -, ou esperamos que alguém morra para depois render-lhe todos os tributos. Queremos vida longa, eterna, se fosse possível, para Franco Montoro. Entretanto, vamos homenageá-lo no dia de hoje, porque ele é merecedor, não se trata de favor algum.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, analisando-se a vida pública de André Franco Montoro, vamos encontrar alguns traços - aliás, o Senador Jader Barbalho aludiu com toda propriedade a um deles - que o identificam ao longo de toda essa trajetória. Uma vida pública como a dele, muitas vezes, é feita de contradições, de hesitações, de vacilações, de desacertos. A vida pública é muito exigente, e os julgadores são muito austeros.

Na vida de André Franco Montoro há alguns traços que identificam muito bem a sua personalidade. Primeiro, a natureza cristã da sua personalidade. Ele faz da sua formação cristã uma espécie de apostolado, de prática e de pregação permanente, cujas raízes vão estar na antiga Ação Católica, fundada pelo Cardeal Leme, e naquele grupo de Tristão de Athayde, de Queiroz Filho e tantos outros. A partir de um Congresso Católico que aconteceu em Montevidéu, em 1947, eles regressaram ao Brasil com a idéia de levar aqueles princípios cristãos para a política, para a vida pública, o que terminou desaguando na formação do antigo Partido Democrático Cristão. Esse partido era também o reflexo de uma tendência mundial, do pós-guerra, com De Gasperi, a democracia cristã italiana e outros que entendiam de levar esse testemunho cristão para a política e para a vida pública, por meio de uma agremiação, de um partido político.

Franco Montoro manteve-se e mantém-se fiel a esse ideário a vida toda. Ainda hoje, ele não dissocia a sua atividade político-partidária desses grandes marcos da sua formação moral e política. Inclusive, tanto na Democracia Cristã quanto depois, no MDB, no PMDB e agora no PSDB, procurou balizar a sua atuação política na busca de uma fórmula que, sendo democrática, fosse uma espécie de terceira via para essas propostas capitalistas liberais ou socialistas marxistas e que pudesse, realmente, encarar o homem como o grande objetivo, como o grande destinatário da sua atividade política. Quer dizer, o lado cristão e o lado social marcam, como um sinal muito evidente, toda a sua trajetória política.

Ao mesmo tempo em que ele é uma espécie de missionário da democracia, um obcecado pelo processo democrático, causa-me espanto e uma enorme alegria ver a sua vitalidade, a sua energia, o seu entusiasmo, a maneira como percorre o Brasil todo fazendo cursos de cidadania, de formação política, falando aos jovens, trabalhando entusiasmado, quer dizer, permanentemente em atividade, dando de si o melhor que tem, toda a sua energia, sua capacidade de aglutinar pessoas, a sua dinâmica, justamente em favor desta grande causa que é a democracia.

O Senador Jader Barbalho aludiu a um episódio que também foi marcante na vida de Franco Montoro. Não sei se os textos, se a História lhe presta a justa homenagem, mas Franco Montoro foi o homem que capitaneou, que empolgou o movimento pelas diretas. Na época, era eu um modesto Deputado Federal, que, com outros companheiros, criamos o Movimento Pró-Diretas, do PDS. Entre outros, dele fizeram parte o Deputado Israel Pinheiro Filho e o Deputado Albérico Cordeiro. Estivemos presentes naquele monumental comício do Vale do Anhangabaú, que foi o resultado de um esforço de aglutinação do então Governador Franco Montoro para mobilizar as lideranças políticas e a sociedade brasileira em favor do retorno das eleições diretas.

Talvez esse tenha sido, nos últimos tempos, o movimento que mais mobilizou, que mais encantou, que mais seduziu o povo brasileiro. Quem estava presente no dia em que foi votada aqui a emenda das diretas pode testemunhar que viu pessoas aos prantos, como se ali tivessem encontrado o fim de todas as suas esperanças, o desejo da reinstitucionalização do País, do reencontro com a democracia.

Felizmente, prosseguimos com todos os percalços e estamos, hoje, vivendo um processo de plenitude democrática. Mas há que se dar esse crédito, entre outros, ao Governador Franco Montoro, como o grande líder daquele Movimento, até pela sua condição pessoal e também institucional de Governador do grande Estado de São Paulo.

O Sr. Ramez Tebet - Permite V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Ouço o aparte do nobre Senador Ramez Tebet, que está aflito para dar o seu testemunho. Eu já o observava, mas queria apenas concluir o meu raciocínio.

O Sr. Ramez Tebet - Nobre Senador Lúcio Alcântara, é justamente neste ponto do pronunciamento de V. Exª que eu posso dar um testemunho do que considero uma das páginas mais marcantes, se não a mais marcante, da vida pública do nosso homenageado. Olhando o Plenário neste momento, percebo que talvez só nós dois, Deputado Franco Montoro, estivemos na reunião convocada por V. Exª aos 11 Governadores da oposição, quando foi firmado um manifesto de luta pelo retorno do País à democracia com as eleições diretas. Eu estava lá como Vice-Governador do meu Estado, Mato Grosso do Sul, representando o então Governador Wilson Barbosa Martins que, naquela oportunidade, por motivo de força maior, não pôde estar presente - eu, o único Vice, entre os outros 10 Governadores. É uma página que eu tenho marcada indelevelmente na minha vida porque, como Vice-Governador, estive ao lado dos 10 Governadores para firmar o documento e, depois, marcharmos juntos, capitaneados por V. Exª, em direção ao primeiro e maior comício realizado em favor da redemocratização do País através das eleições diretas. Acompanho a sua vida e dou esse testemunho pessoal de um fato que, talvez, seja o mais marcante da sua vida. Mas também sou testemunha, sem vivência, do Professor Franco Montoro, do grande Governador de São Paulo, do grande conferencista e do grande homem público. Por isso peço a V. Exª, Senador Lúcio Alcântara, que aceite este modesto aparte ao seu excelente pronunciamento. V. Exª merece os maiores aplausos desta Casa pela iniciativa da homenagem que se presta ao grande homem público de São Paulo, André Franco Montoro. É isso que queria deixar registrado, afirmando o meu contentamento e minha satisfação, em meu nome pessoal, e permitindo-me fazê-lo em nome do Estado de Mato Grosso do Sul.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Senador Ramez Tebet, o aparte de V. Exª tem inclusive um teor histórico que serve para engradecer o meu modesto discurso. Antes de conceder outros apartes a Colegas que desejam se pronunciar neste momento, queria chamar a atenção também para um outro aspecto da vida pública do Deputado Franco Montoro.

S. Exª é um apóstolo da participação, da descentralização. O seu Governo foi todo assim: S. Exª municipalizou a merenda escolar, realizou pequenas e numerosas obras nos Municípios com a comunidade em convênio com os Municípios. É uma pessoa permanentemente preocupada com pequenas coisas que tornam viáveis grandes projetos. A sua passagem pelo Governo do Estado de São Paulo, quando S. Exª muito realizou em matéria de desconcentração, de chamamento às comunidades, aos Municípios, aos sindicatos, às entidades para participarem do seu esforço de governo, é também um depoimento da sua clarividência.

Em 1993, Franco Montoro não tinha mandato. Nós, inclusive, não pertencíamos ao mesmo partido, embora eu o admirasse à distância. Através da Fundação Waldemar Alcântara, convidei-o a ir a Fortaleza para fazer uma palestra num programa chamado Memória Governamental, a fim de expor sua experiência na vida pública, suas vicissitudes e frustrações. Ele aquiesceu prontamente ao meu convite, compareceu e fez uma belíssima palestra - com esse jeito coloquial que tem de falar, mas com muita densidade e conteúdo -, mostrando com entusiasmo, diria quase que juvenil, tudo que conseguiu realizar, os seus sonhos e, sobretudo, sua perspectiva de futuro, que anima a sua vida e a atividade pública e parlamentar agora, com um conteúdo que deve ser motivo de estímulo às pessoas para que participem da vida pública brasileira.

A vida pública no Brasil é muito ingrata. A juventude das nossas instituições, a instabilidade da nossa democracia costumam encurtar o período de vida pública das pessoas. Então, quando vemos alguém que iniciou a vida pública em 1947 e continua hoje em plena atuação, servindo de exemplo, de animador político, temos que saudar o fato como algo que nos enche de entusiasmo e ao mesmo tempo tê-lo como uma referência na atividade política, parlamentar, no Executivo, por onde tenha passado.

Por isso propus esta homenagem, com o apoio regimental dos Senadores que se encontravam no plenário no momento, na certeza de que estavam com isso contribuindo, não para fazer mais alguma homenagem ao conjunto das que S. Exª já recebeu ao longo da sua vida pública, que já é altamente representativa, mas para mostrar que nós, que fazemos o Senado da República hoje, não estamos indiferentes a sua atividade e à contribuição que já deu e ainda dará à política brasileira.

O Sr. Coutinho Jorge - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Ouço V. Exª, Senador Coutinho Jorge.

O Sr. Coutinho Jorge - Senador Lúcio Alcântara, V. Exª, de forma clara e objetiva, mostra uma série de talentos qualidades e atuações do nosso ilustre Franco Montoro. Todo mundo concorda com estas considerações: a sua luta em favor do cristianismo na política; a luta em favor da democracia política, centralizada sobretudo na sua ação, já descrita pelo nobre Senador Jader Barbalho, nas Diretas Já; a sua atuação como grande executivo à frente do Governo de São Paulo; como parlamentar, desde Vereador, Deputado Federal a Senador; como brilhante professor. Mas, sobretudo, meu caro Lúcio Alcântara, V. Exª mostra uma qualidade fundamental de Franco Montoro: S. Exª é alguém entusiasmado, é a juventude personificada num grande homem público. Tudo que S. Exª faz é como se fosse um animador da política. Como bem disse o Senador Jader Barbalho, Franco Montoro é uma referência política a nível nacional. Além disso tudo, gostaria de lembrar a sua importante atuação internacional, o seu papel numa luta que S. Exª encetou há muito tempo, com relação à dívida externa dos países subdesenvolvidos. Franco Montoro tem desenvolvido um trabalho sério, chegando ao extremo de ir ao tribunal de Haia para defender o seu ponto de vista, correto, lúcido e claro, sobre essa realidade que prejudica os países subdesenvolvidos. Hoje, S. Exª é o representante brasileiro no Parlamento Latino-Americano - e, durante muito tempo, foi seu conselheiro -, onde defende os problemas da América Latina. No ano passado, em Bruxelas, num grande encontro do Parlamento Europeu com o Parlamento Latino-Americano, Franco Montoro defendeu as suas teses de forma brilhante, aplaudido por todos os parlamentares europeus e latino-americanos. S. Exª dirige com grandeza, em nome do Brasil, a participação brasileira no Parlamento Latino-Americano. Só esses exemplos mostram o viés deste grande homem público, o grande animador político, entusiasta, uma referência política por tudo que fez e faz em favor do Brasil no cenário nacional e mundial. Essa é a contribuição que ofereço ao discurso V. Exª, nobre Senador Lúcio Alcântara.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Nobre Senador Coutinho Jorge, muito obrigado.

V. Exª aludiu a uma faceta de Franco Montoro, a que ainda não me tinha referido, qual seja, o seu espírito integracionista, essa sua aptidão para promover todos os esforços que vise, sobretudo, à integração da América Latina. S. Exª está no ILAM - Instituto Latino-Americano. Quando saiu do Governo de São Paulo, dedicou-se a essa tarefa, à grande Pátria de que falava Bolivar.

Isso tem uma razão de ser. Neste Congresso em Montevidéu, a que aludi no início da minha palestra, Congresso Católico de 1947, entre outros estavam Rafael Caldera, Presidente da Venezuela e Eduardo Freire, ex-Presidente do Chile.

Franco Montoro é, em uma palavra, exemplo de vocação política, de vocação para a vida pública, no sentido, inclusive, da raiz latina da palavra, vocatio, chamamento, convocação. Por isso mesmo, transformou-se nessa espécie de referência a que o Senador Jader Barbalho referiu-se com toda propriedade no seu discurso.

O mandato de Deputado Federal para S. Exª pode ser uma espécie de otium cum dignitate, isto é, vir aqui para concluir, de alguma maneira, a sua participação na vida pública brasileira, evitando acomodar-se, como infelizmente fazem alguns muitos mais jovens. S. Exª é aquele homem em permanente atividade. Ainda ontem, S. Exª procurou-me numa sala do Senado, onde eu participava de uma Comissão, querendo saber como andava o projeto das rádios comunitárias, o que estava acontecendo. É um homem sintonizado com a atualidade, com o dia-a-dia, identificado com os melhores valores da vida pública brasileira. Essa é uma constante de sua vida.

Hoje, aos 80 anos, exercendo o mandato de deputado federal, S. Exª é fiel aos mesmos valores que professava quando constituiu junto com outros companheiros a chamada "vanguarda democrática" no glorioso Estado de São Paulo.

O Sr. Carlos Wilson - Permite-me um aparte, Senador Lúcio Alcântara?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Ouço V. Exª, Senador Carlos Wilson.

O Sr. Carlos Wilson - Senador Lúcio Alcântara, antes de tudo, quero parabenizá-lo pela iniciativa de homenagear, indiscutivelmente, uma das maiores figuras da vida pública nacional. Sabemos do sacrifício e da injustiça da vida pública. Mesmo assim, sentimo-nos animados nela permanecer quando vemos figuras como Franco Montoro que é para nós um exemplo de dignidade, de serviços prestados ao Brasil. Cada um procurou nos apartes e nos discursos retratar momentos da vida pública de Franco Montoro. Momentos nas Diretas Já, como foi destacado aqui, pelos Senadores Jader Barbalho e Ramez Tebet, momentos na luta contra a ditadura, momentos no processo de redemocratização do País, momentos de Franco Montoro na formação dos partidos. E retrato um momento mais recente, que tenho o privilégio de viver. Não fui Senador à época de Franco Montoro, mas acompanho S. Exª por muitos anos. Hoje, como membro da Executiva Nacional do PSDB - e aqui se encontra o nosso ex-Presidente Artur da Távola, que mais do que ninguém pode dar este testemunho - quando o Partido tem uma dificuldade, não vê caminhos, a primeira pessoa a quem se recorre é ao Senador Franco Montoro, pela sua experiência, pelo seu equilíbrio e, acima de tudo, pelo seu exemplo na vida pública nacional. Então, quando V. Exª, Senador Lúcio Alcântara, requereu do Senado Federal esta homenagem, pode ter certeza, V. Exª tinha razão; V. Exª não é pródigo em homenagens, mas hoje está homenageando aquele que é um pouquinho de cada um de nós. Na verdade, o Deputado, o Senador, o Governador Franco Montoro é um dos grandes referenciais da nossa vida pública. Por conseguinte, é uma soma de todos na vida pública nacional. Parabéns Senador Lúcio Alcântara, pela justa homenagem.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Muito obrigado Senador Carlos Wilson. V. Exª, menos pelos elogios que me fez, mas muito mais pelo conteúdo do seu aparte, foi muito feliz nas observações que trouxe, nesta tarde, ao Plenário do Senado. Realmente, o Deputado Franco Montoro é aquela figura a que recorremos, agora no nosso caso específico do PSDB, nas horas de dificuldades, nas horas em que precisamos de uma pessoa experiente e ao mesmo tempo um espírito atual, renovador, inquieto. S. Exª é um homem cordial, generoso, mas é também, nessa sua maneira de ser, um homem bravo. Teve, por exemplo, num determinado momento político, a disposição de liderar a formação de um novo partido; teve a disposição de liderar o Movimento pelas Diretas. Isso tudo mostra que coragem, firmeza, determinação não é sinônimo de bravata, e sim de convicção pessoal que se expressa em atitudes e gestos concretos.

O Sr. Iris Rezende - Permite-me V. Exª um aparte?

O Sr. Lúdio Coelho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Não quero me alongar mais. Há outros Senadores que querem apartear. Eu ouviria apenas o Senador Iris Rezende e o Senador Lúdio Coelho, pedindo que sejam breves para que eu possa concluir e ensejar a outros Colegas a oportunidade de também se manifestarem a respeito nesta tarde.

O Sr. Iris Rezende - Muito obrigado pela oportunidade do aparte, Senador Lúcio Alcântara. Fiz questão de aparteá-lo para documentar a minha emoção com relação a esta histórica homenagem que se presta a um dos homens mais dignos da política de nosso País - Franco Montoro. Desejo associar-me às palavras de V. Exª, que em tão boa hora tomou a iniciativa de fazer com que parte da sessão do Senado do dia de hoje fosse dedicada a homenagear Franco Montoro pelos seus 80 anos de vida. V. Exª, na verdade, vem quase inovar, porque o que presenciamos no mundo político são homenagens póstumas, quando os autores dos grandes gestos, dos grandes feitos já não têm mais como se sensibilizarem pelas posições daqueles que os homenageiam. Quando V. Exª tomou essa iniciativa, eu a achei interessante, porque mais uma emoção - tenho certeza disso - Franco Montoro tem agora na vida, sentindo que os seus 80 anos de vida e muitos e muitos anos de luta não foram em vão, pois ele foi procurando, com seu trabalho, construir um País novo, uma Pátria à altura dos nossos sonhos. Paralelamente a essa luta insana, ele foi servindo, também, de exemplo a nós outros, aos homens públicos deste País, porque a vida de Franco Montoro, devemos acentuar, mostra aos homens públicos deste País que vale a pena trabalhar com sentimento, movido pelo sentimento patriótico, com honestidade, com espírito cristão, humano, voltado, sobretudo, para aqueles que mais sofrem. Tive e tenho o prazer de privar da amizade de Franco Montoro, lá dos nossos velhos tempos de PSD, MDB e PMDB. Lamentei, digo com muita franqueza, quando Franco Montoro deixou as hostes do PMDB para fundar outro partido, mas compreendi, também, aquela criatura inquieta que sempre quer mais, que sempre quer aperfeiçoar. De forma que, cumprimentando V. Exª pelo gesto, deixo aqui registradas, que me permitam meus Colegas de Bancada, as homenagens de Goiás, em nome de Onofre Quinan e Mauro Miranda, ao nosso querido amigo e ilustre homem público Franco Montoro.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Muito obrigado, Senador Iris Rezende, pela intervenção de V. Exª, o que contribui para colocar no devido lugar a figura do Deputado Franco Montoro.

Depois do aparte do Senador Lúdio Coelho, vou concluir o meu pronunciamento para não impedir que outros Senadores possam fazer também a sua homenagem.

O Sr. Lúdio Coelho - Senador Lúcio Alcântara, acompanho a vida do Governador Franco Montoro desde 1945, nos tempos de Jânio Quadros e de outros que já desapareceram. Olhando para V. Exª, professor Franco Montoro, estou me lembrando do pós-guerra, quando homens idosos, mas atualizados, assumiram a responsabilidade da reconstrução do mundo como Adenauer, Chiang Kai-Shek e tantos outros, e pensando em quanto V. Exª pode servir ao nosso País com sua experiência, sua competência. Lembro-me também de que em seu Governo V. Exª dava grande importância às pequenas coisas, cuidando do que era mais importante no dia-a-dia dos Municípios do Estado de São Paulo. Naquele tempo, no longínquo Mato Grosso do Sul, ficávamos observando seu desempenho. Desejo homenageá-lo em nome do meu Estado do Mato Grosso do Sul, porque somos quase um quintal de São Paulo; somos, assim, um servidor de São Paulo porque produzimos lá os produtos primários e os enviamos para São Paulo desenvolvê-los. Que Deus o proteja, e que V. Exª continue nos seus 80 anos com a mesma força, a mesma fé, a mesma esperança de sua juventude.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA - Muito obrigado, Senador Lúdio Coelho.

Queria pedir desculpas aos Srs. Senadores que desejavam apartear meu pronunciamento, pedindo que o façam nos discursos dos oradores que se seguirão e que, certamente, vão ter a oportunidade, com muito mais brilhantismo, de tratar dessa vida fascinante e exemplar do Deputado Franco Montoro.

Mas não quero concluir meu pronunciamento sem me referir a um aspecto particular de sua vida, que é o fato de S. Exª ser um homem de bem, um pai de família exemplar que tem dado exemplos que são certamente de grande importância para seus familiares, descendentes, referindo-me a uma figura também muito querida de uma pessoa sempre atuante e dinâmica. E, para escapar desse truísmo de dizer que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher, digo que, na verdade, ao lado de um grande homem há uma grande mulher, que é Dª Lucy Pestana Silva Franco Montoro, que está aqui partilhando dessas homenagens que o Deputado Franco Montoro recebe neste momento.

Por isso, ao concluir minhas palavras, desejo que o Deputado Franco Montoro persevere nesse mesmo caminho, nessa mesma linha, nessa luta em favor da democracia, da formação da cidadania, do aperfeiçoamento dos costumes políticos, do fortalecimento de nossas instituições, dando um belo exemplo a todos os brasileiros que podem se inspirar na sua vida para seguir por esse mesmo caminho difícil, duro, cheio de incompreensões, que é a política, principalmente em um País como o nosso, onde as instituições são frágeis e não dispomos dos mesmos instrumentos para promovermos o bem comum, como é do nosso dever e da nossa obrigação. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/1996 - Página 11808