Pronunciamento de Romeu Tuma em 18/07/1996
Discurso no Senado Federal
TRANSCURSO DO QUINQUAGESIMO PRIMEIRO ANIVERSARIO DO RETORNO DA FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA - FEB.
- Autor
- Romeu Tuma (PSL - Partido Social Liberal/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- TRANSCURSO DO QUINQUAGESIMO PRIMEIRO ANIVERSARIO DO RETORNO DA FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA - FEB.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/07/1996 - Página 12659
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, RETORNO, FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB), SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, EFEITO, AUMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO, DEMOCRACIA.
- HOMENAGEM, EX-COMBATENTE, VETERANO, FORÇA EXPEDICIONARIA BRASILEIRA (FEB), NECESSIDADE, APOIO, GOVERNO.
O SR. ROMEU TUMA (PSL-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, comemoramos hoje o 51º aniversário da volta da Força Expedicionária Brasileira, a gloriosa FEB, um acontecimento que transcendeu o aspecto militar para marcar profundamente nossa História pátria.
Quero iniciar este breve pronunciamento reproduzindo palavras do livro Trinta Anos Depois da Volta, com o qual o ilustre General Otávio Costa nos legou o conhecimento de fatos produzidos pela presença da FEB nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial e que se transformaram, depois, no marco inicial de uma das maiores mudanças já verificadas em nossa vida política e institucional, desembocando no restabelecimento de franquias democráticas e, por conseqüência, num salto de desenvolvimento econômico e social.
Diz o livro:
"O saldo primeiro dessa presença foi o despertar da confiança do homem brasileiro em suas próprias potencialidades. Batendo-se, cara a cara, contra um dos melhores soldados da história da humanidade, o brasileiro descobriu que o verdadeiro valor está no fundo de cada um, na inteligência e no caráter, e não nas exterioridades da apresentação."
Diz mais, ao ressaltar que a FEB não foi uma simples expedição, não foi uma presença simbólica na guerra contra o nazismo:
"É preciso pensar no paradoxo de um país vivendo em regime ditatorial participar de uma guerra de caráter marcadamente ideológico, logo ao lado das democracias. Seriam inevitáveis as conseqüências."
Quais foram essas inevitáveis conseqüências? São muitas, mas entre as principais está o fato de que se reacendeu a consciência democrática do nosso povo e, paralelamente, com a construção de Volta Redonda, deu-se início à industrialização do País. Como escreveu aquele autor, "se tudo começou com Volta Redonda, tudo começou com a FEB".
Mas, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, tais conquistas custaram muito sangue fraterno, pois perdemos no conflito 451 preciosas vidas, tivemos 1.577 feridos e 1.145 acidentados, além de 58 extraviados, dos quais 35 caíram prisioneiros do inimigo. Com a contribuição de todos os Estados brasileiros, a FEB compreendera o envio à Itália de 25.334 homens, dos quais 15.069 entraram em combate com o apoio dos demais, que foram distribuídos pelos órgãos não divisionários e Depósito de Pessoal. Os despojos de nossos pracinhas mortos, trazidos do Cemitério de Pistóia, a 5 de outubro de 1960, encontram-se no Monumento Nacional à FEB, que, com seus 6.850 metros quadrados, domina o panorama do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Nos 239 dias em que permaneceu na frente de combate, entre 6 de setembro de 1944 e 2 de maio de 1945, a FEB defrontou-se com 10 grandes unidades nazistas e 3 fascistas, capturando 20.573 prisioneiros de guerra, dos quais 892 oficiais e 2 generais. Depois disto tudo, de 8 de maio a 3 de junho de 1945, nossos heróis foram incumbidos da ocupação militar do território conquistado no teatro de operações italiano, principalmente na região que abrange as cidades de Alessandria e Piacenza. Em seguida, substituída pela Divisão Cremona, italiana, a FEB concentrou-se em Francolise, preparando-se para o retorno ao Brasil.
O 1º escalão, sob o comando do vitorioso General Zenóbio da Costa, com 4.931 homens, a maioria do 6º Regimento de Infantaria, partiu de Nápoles no navio-transporte norte-americano "General Meigs" e chegou ao Rio de Janeiro a 18 de julho de 1945. Portanto, há 51 anos, Sr. Presidente. O 2º escalão, integrado à base do 1º RI por 6.187 expedicionários, partiu de Nápoles a 12 de agosto e chegou ao Rio 10 dias depois, no navio norte-americano "Mariposa". E, a 3 de outubro, desembarcavam no mesmo porto os últimos integrantes da FEB, trazidos pelo navio norte-americano "James Parker". Em todas essas datas, nossa Pátria viveu momentos de orgulho e afirmação, que se repetiram em seguida na acolhida que cada Estado deu aos seus filhos. Mas, foi sem dúvida o 18 de julho aquele em que nosso povo apresentou uma das maiores demonstrações de júbilo e carinho já vistas em solo pátrio, quando acorreu em massa às ruas do Rio de Janeiro para acolher os irmãos-heróis que voltavam. Sob um grande arco do triunfo e um dilúvio de papel picado, em meio a ensurdecedora ovação popular e manifestações de afeto, passaram nossas tropas em desfile militar. E o simbolismo da homenagem centralizou-se em dois emblemas, que encimavam aquele arco do triunfo: de um lado, a "cobra fumando", símbolo da FEB; do outro, o "senta a pua", emblema da Força Aérea Brasileira, nossa heroína nos céus conflagrados.
Depois, felizmente, vieram as conseqüências daquele paradoxo e a Nação, redemocratizando-se, recuperou sua coerência ideológica. Além disto, dos antigos quadros da FEB saíram um Presidente da República - Humberto de Alencar Castello Branco; um Vice-Presidente - Adalberto Pereira dos Santos; um Presidente deste Senado - Paulo Torres; três Governadores: Cordeiro de Farias, Emílio Ribas e Luiz Mendes da Silva; nove Ministros de Estado; inúmeros Senadores, Deputados, magistrados, generais, presidentes de empresas públicas, jornalistas e professores. E até humildes trabalhadores, que, no anonimato dos cidadãos menos afortunados, souberam manter intacta, mesmo ante todas as dificuldades, a honra consolidada nos campos de batalha.
Quero, neste momento, render minha homenagem à Associação dos ex-Combatentes do Brasil e à Associação Nacional dos Veteranos da FEB, assim como ao Conselho Nacional das Associações Nacionais dos ex-Combatentes do Brasil, ao qual são elas filiadas, pois têm sabido, às vezes até com dificuldades materiais, manter acesa a chama de amor à liberdade, avivada naquele confronto bélico.
Importa ainda lembrar nesta data, Srªs e Srs. Senadores, que alguns desses heróis - pracinhas brasileiros -, que outrora se lançaram às armas para ajudar a conter a monstruosidade opressora que ameaçava o mundo, enfrentam, hoje, num embate silencioso, muitas dificuldades. Após vivenciarem a dura realidade da guerra durante suas juventudes, esses homens, hoje debilitados pela idade e com a precária saúde que lhes restou, lutam contra uma realidade adversa que não pode ser vencida apenas com a coragem e o heroísmo de um soldado. Necessário se faz que o Estado devote uma atenção especial a esses heróis, remanescentes de lutas passadas, não permitindo que, a despeito da glória que lhes empresta a história, sucumbam a um cotidiano amargo, na condição de expedicionários. É fundamental que o Estado não decepcione esses homens, que marcaram profundamente os 51 anos do pós volta ao solo brasileiro, emprestando-lhes uma assistência mais efetiva, que nada mais representa que um ato de gratidão e reciprocidade.
Por tudo isso, nobres Pares, senti-me na obrigação de registrar a passagem desta data como modesta contribuição para que seja perpetuada a memória de uma das mais belas páginas de nossa história. Uma página escrita a sangue por quem ajudou o mundo a livrar-se da tirania.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.