Discurso no Senado Federal

CRITICAS DO EX-MINISTRO CIRO GOMES AO SR. JURACY MAGALHÃES, CANDIDATO A PREFEITURA DE FORTALEZA, PUBLICADAS NO JORNAL TRIBUNA DO CEARA.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • CRITICAS DO EX-MINISTRO CIRO GOMES AO SR. JURACY MAGALHÃES, CANDIDATO A PREFEITURA DE FORTALEZA, PUBLICADAS NO JORNAL TRIBUNA DO CEARA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/07/1996 - Página 13158
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, CIRO GOMES, EX MINISTRO DE ESTADO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, TRIBUNA DO CEARA, ESTADO DO CEARA (CE), ACUSAÇÃO, JURACY MAGALHÃES, CANDIDATO, PREFEITO DE CAPITAL, INFLUENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), AUSENCIA, VOTAÇÃO, SENADO, EMENDA CONSTITUCIONAL, AUTORIZAÇÃO, ELEGIBILIDADE, PARENTE.
  • ELOGIO, TRABALHO, JURACY MAGALHÃES, GESTÃO, PREFEITO, ESTADO DO CEARA (CE).
  • DEFESA, MANUTENÇÃO, INELEGIBILIDADE, PARENTE.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, tenho muito apreço e amizade pelo Sr. Ministro Ciro Gomes. S. Exª foi um grande Ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco. Assumiu o cargo num momento muito difícil, quando um fato profundamente lamentável atingia o então Ministro da Fazenda. Foi uma decisão corajosa a do Presidente Itamar Franco. Não era o Sr. Ciro Gomes o homem preferido do candidato do Governo. Fernando Henrique Cardoso preferia o atual Ministro da Fazenda, que estava diretamente ligado a ele, pois era Presidente do Banco Central.

Itamar Franco houve por bem escolher o Sr. Ciro Gomes, por quem tenho amizade. Acompanhei seu trabalho como Ministro e após essa nobre missão. O mesmo ocorre atualmente, quando observo seu esforço em implantar suas idéias em vários debates, inclusive, muitas vezes divergindo do seu Partido e do seu Presidente da República em teses importantes e sérias. Porém, neste momento, sou obrigado a vir a esta tribuna falar sobre uma matéria, publicada no jornal Tribuna do Ceará, deste dia 24 de julho de 1996, onde esse meu amigo faz uma grave acusação ao ex e futuro Prefeito Juraci Magalhães, pessoa pelo qual tenho a maior estima.

Em primeiro lugar, lamento que a vida nos traga essas situações, porquanto vejamos: quem era Juraci Magalhães? Este fora Vice-Prefeito de Ciro Gomes que, por sua vez, precisou sair para ser Governador do Ceará. Dessa forma, a necessidade de ceder o seu lugar ao seu substituto imediato naquela cidade de Fortaleza que os aponta como grandes administradores nesse período.

Ainda hoje está o novo prefeito de Fortaleza a ser apontado, por todas as pesquisas, como o mais cotado dentre todas as prefeituras das capitais brasileiras.

Diz o querido amigo Ciro Gomes que Juraci Magalhães estaria influenciando o PMDB nesta Casa para que não fosse votada uma emenda à Constituição que permite aos afins serem candidatos.

Por ser mais velho - não sei se o Ciro Gomes já andava de calças curtas -, participei de um célebre debate quando deputado estadual. O Dr. Leonel Brizola, cunhado do Presidente da República, João Goulart, queria ser candidato à presidência da República e lançava o célebre slogan: "Cunhado não é parente". Já naquela época, eu defendia a tese de que cunhado é parente. A Constituição brasileira está correta ao estabelecer a inelegibilidade de irmão, cunhado, filha ou nora de um presidente da República, de um governador ou coisa que o valha; esses não podem ser candidatos.

Esse é um assunto que defendo e não é de hoje. É uma tese - posso até estar errado - que venho há muito tempo defendendo e defendo agora. A Bancada do PMDB decidiu manter essa tese aqui no Senado. No entanto, no PMDB há quem discorde de mim, quem entende que esse assunto deve ser discutido. Sou contrário a isso; cunhado é parente e não se deve mexer na Constituição.

Há no PMDB quem acredite que isso deve ser discutido. Pode até ser, só que não às vésperas de uma eleição, depois de as convenções já haverem sido realizadas, a dois meses da eleição. Seria e é um casuísmo que não ficaria bem.

O prezado Ciro Gomes está equivocado quando diz que nós, do PMDB, atendendo a um pedido do ex-prefeito Juraci, estaríamos fazendo com que essa emenda não fosse votada. Não recebemos - nem eu e ao que eu saiba ninguém do PMDB - nenhum tipo de telefonema. Eu não sabia e nem sei se o Juraci tem ou não algum interesse nessa matéria. O que sei é que o Presidente do antigo PDS, o Senador Esperidião Amin, que apresentou essa matéria, diz que a emenda é dele, mas faz questão de dizer que a apresentou como Presidente de Partido, atendendo a uma solicitação, mas que ele não está entrando no conteúdo, porque esse é da livre consciência de cada um.

O outro ponto, Sr. Presidente: o meu amigo Ciro Gomes haverá de concordar que ele foi um bom prefeito, mas que o Juraci também foi. Quem está lá hoje foi um grande Prefeito.

Foi com orgulho que vi, num congresso, na Turquia, em Istambul, quando se debateu o problema da cidade no mundo inteiro, o grande projeto. Ficamos felizes em Porto Alegre porque o projeto de orçamento participativo da cidade ficou entre os cem melhores, no quadragésimo terceiro lugar. Também ficamos muito felizes quando o projeto de Fortaleza foi o único brasileiro aprovado entre os dez que receberam menção, com prêmio entregue pela Primeira dama, Dona Ruth Cardoso. Entre os dez melhores projetos do mundo inteiro estava um projeto da Prefeitura de Fortaleza em acordo com o convênio internacional, com uma entidade não-governamental na França.

Sr. Presidente, conheço Juraci Magalhães, acredito que é um homem de bem, simples, brincalhão, alegre, extrovertido, mas o tenho como um homem sério, e é o que todos de Fortaleza e do Ceará me dizem. Sei que também Ciro Gomes é um homem de bem. Penso que divergir é normal, ainda mais que começaram juntos. Têm posições diferentes, o que também é normal. Mas volto a repetir que tenho respeito pelo Ciro Gomes, pois ele poderia estar tranqüilamente batendo palmas a tudo o que está acontecendo. Mas tem coragem de divergir, de debater, de protestar. Tenho respeito também por Juraci. Não é à toa que ele está com mais de 60% nas pesquisas; não é à toa que, quando deixou a Prefeitura, o seu índice de popularidade era alto e também não é à toa que ele indicou o seu Secretário da Fazenda, que, mesmo sem nunca ter feito política, foi eleito e, durante os quatro anos, juntamente com Jarbas Vasconcelos, foi considerado o Prefeito de Capital de maior credibilidade nacional. Não é à toa que agora o Juraci está voltando com todo o prestígio. Há que se respeitar. Na política, podemos divergir.

Fico magoado porque os dois são meus grandes amigos. Tenho respeito, carinho e amizade pelo Ciro Gomes. Não me importa a inimizade entre ele e o Sr. Juraci. Não participo disso, porque minha opinião sobre Ciro Gomes é respeitável, e a recíproca é verdadeira. Tenho também o maior respeito pelo Juraci. Penso que é um grande Prefeito, um homem de bem e que tem o que me parece fundamental.

Não sei se V. Exª, Sr. Presidente, concorda comigo, mas, segundo aquela célebre frase de Lincoln, pode-se enganar alguns durante todo tempo ou todos durante algum tempo, mas não se engana todos durante todo o tempo. O Sr. Juraci foi prefeito. Assumiu com um índice de popularidade alto. Indicou o seu Secretário, que ganhou estrondosamente, com índice de popularidade também alto. Agora, ele volta com o índice de popularidade alto. Será que o povo de Fortaleza é incompetente, não tem visão, não enxerga? Então, não há como desrespeitar.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy) - Senador Pedro Simon, o tempo de V. Exª já está esgotado.

O SR. PEDRO SIMON - Sr. Presidente, encerro meu pronunciamento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/07/1996 - Página 13158