Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS AO POETA AMAZONENSE THIAGO DE MELLO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS AO POETA AMAZONENSE THIAGO DE MELLO.
Aparteantes
Artur da Tavola, Humberto Lucena, Lúcio Alcântara, Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/1996 - Página 13883
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, THIAGO DE MELLO, POETA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), IMPORTANCIA, OBRA LITERARIA, BRASIL.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é reconfortador falar sobre a poesia, porque quando se aborda a essência dessa arte divina, automaticamente enveredamos pelos caminhos do amor, da compreensão e da solidariedade. Hoje, gostaria de fazer alguns comentários sobre a obra de um homem que, com talento e profunda sensibilidade, conviveu anos a fio com a arte da poesia. Refiro-me a Thiago de Mello, de inspiração tão vasta quanto a terra que lhe serviu de berço, o Amazonas.

Natural de Barreirinha-AM, filho de Pedro Thiago de Mello e Dona Maria Mitouso de Mello, Thiago de Mello, desde a sua infância, revelou uma inconfundível vocação para as letras. Depois de concluir o curso secundário no Colégio Estadual do Amazonas, Thiago migrou para o Rio de Janeiro, em 1943, com apenas 16 anos, ingressando na Faculdade de Medicina, cursando até o 4º ano.

Foi, como ele até hoje reconhece, uma incursão intelectual planejada. A anatomia nunca lhe trouxe a paz, aquela paz espiritual que é proporcionada por um soneto, e os diagnósticos jamais lhe trouxeram a alegria de um verso alexandrino bem acabado. Assim, abandonou os estudos. Perdeu-se provavelmente um grande médico, mas o Brasil, com aquela decisão, ganhou um dos maiores poetas das últimas décadas.

Findo o ciclo intempestivo da Medicina, Thiago de Mello dedicou-se com a costumeira persistência às letras, como poeta e jornalista, dirigindo, nesse interregno, o Departamento Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro. De 1959 a 1964, prestou serviços ao Itamaraty, como adido cultural na Bolívia e no Chile, tendo inclusive lecionado nesse último país. Por questões eminentemente políticas, acabou sendo afastado do cargo e, na véspera da sua despedida das terras andinas, recebeu expressiva homenagem dos intelectuais chilenos. Em 1964, retornava ao Rio de Janeiro.

Como poeta e escritor, Thiago de Mello produziu uma vasta obra literária, onde sempre estão presentes o amor pelo seu semelhante e a solidariedade aos oprimidos. Em 1951, lançou o seu primeiro volume de poesias "Silêncio e palavras", logo seguido pelo "Narciso cego" e "A lenda da rosa". "Vento geral" e "Madrugada camponesa", este último editado em português e espanhol, refletem as idéias de um pensador maduro, voltado para os mistérios do ser interior. "Faz escuro, mas eu canto porque amanhã vai chegar" e "Antologia poética de Pablo Neruda" são livros que trazem na sua essência verdadeiros discursos poéticos.

Ainda em 1957, Thiago de Mello publicou um livro de prosas que mais tarde se revelaria num hino de amor e de louvor à sua terra natal. "Notícia de visitação que fiz no verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos" é uma narrativa ágil, sensível e, ao mesmo tempo, vigorosa, da pujança do Amazonas e da simplicidade dos caboclos que habitavam nas suas margens. Ainda em 1957, ele publicaria "A Estrela da manhã", criterioso ensaio sobre poema de Manuel Bandeira. Em 1963, foi editada uma coleção de poemas traduzidos pelo notável Pablo Neruda. "A Canção do amor armado", de 1965; "Estatutos do Homem", de 1973; "Poesia comprometida com a minha e a tua vida", de 1975; "Horóscopo para os que estão vivos", de 1980; "Mormaço na floresta", de 1981; "Arte e ciência de empinar papagaios", de 1983; e "Manaus, Amor e Memória", de 1984, são outras manifestações do talento e da inspiração do grande mestre da Amazônia.

Poeta laureado no Brasil e em vários países da América do Sul, é evidente que a atividade literária de Thiago de Mello é permanentemente acompanhada com justo orgulho pela imprensa amazonense. O jornal A Crítica, na semana passada, dedicou uma página inteira ao poeta, anunciando o seu próximo lançamento literário.

Diz o jornal:

      "No período de 13 a 25" - e essa é a razão de hoje, dia 13 de agosto, estar eu nesta tribuna - "o poeta amazonense Thiago de Mello estará se preparando para uma maratona de eventos em São Paulo, onde estará lançando, na Bienal Internacional do Livro, a sua obra mais recente, ´De uma vez por todas`, com a qual pretende encerrar a sua produção poética, dedicando-se daí para frente à prosa e ao projeto social por ele criado e voltado para a defesa das crianças que vivem nas florestas."

O Sr. Artur da Távola - Permite-me um aparte, Senador Bernardo Cabral?

O SR. BERNARDO CABRAL - Já em seguida.

Continua o jornal:

      "A respeito de sua nova produção, que reúne verso e prosa, Thiago de Mello confessa que não se trata do melhor nem do pior que já escreveu, mas ressalta que é um livro importante para os leitores que o têm acompanhado, porque faz uma espécie de resumo de sua vida e um balanço do que fez, do que viveu e do que escreveu."

As maravilhosas criações literárias de Thiago de Mello tornaram-no amigo e confidente de expressivas figuras da intelectualidade universal, como Neruda e Borges. Por sinal, tornou-se mundialmente famosa a entrevista que ele fez com o grande poeta argentino, algo que dificilmente se repetirá em sua vida, porque, segundo ele, "todos os intelectuais que gostaria de entrevistar já morreram". Mas, de qualquer forma, já tem produzido um vasto material para um livro intitulado "Valeu a pena viver", no qual resgata a beleza da vida e a sabedoria de amigos que considera "radiosos", como Manuel Bandeira, Pablo Neruda, Ênio Silveira, Otto Maria Carpeaux e o pintor italiano Roberto Sambonet.

Ouço, primeiro, V. Exª, Senador Artur da Távola e, a seguir, o eminente Senador Lúcio Alcântara.

O Sr. Artur da Távola - Senador Bernardo Cabral, nenhum de nós poderia tirar de V. Exª e do Estado do Amazonas a honra de prestar a homenagem merecida e devida a Thiago de Mello. Por essa razão - de certa forma, morrendo de inveja -, ficamos como pingentes do oportuno discurso de V. Exª, que justamente homenageia uma voz maior da Amazônia para o Brasil. Thiago de Mello traça uma trajetória muito curiosa, porque redescobre a Amazônia ao longo do seu processo de amadurecimento, quando se transfere para o Rio de Janeiro, primeiro escrevendo como um poeta marcado por angústia existencial, por temas ligados a toda a poesia da sua chamada geração de 45, um poeta do ser, alguém que se examina num mundo complexo e conturbado. Trata-se da geração do existencialismo, da geração do fim da Segunda Guerra Mundial, do começo da entrada de veios de natureza psicológica, psicanalítica, enfim, é um período nitidamente existencial. Ele, inclusive, torna-se cronista do jornal O Globo, na década de 50, e faz uma trajetória muito curiosa: a da busca da afirmação literária para a redescoberta de uma outra etapa mais profunda no seu ser, que é a etapa telúrica. Essa etapa ele continua vivendo nesses últimos dez anos, após ter também passado pela fase política - uma dentre tantas outras descobertas. É muito curiosa - em qualquer vida - essa trajetória; na dele, sobretudo. Thiago de Mello se retira para Barreirinha exatamente perto dos 60 anos, quando o chamado êxito mundano já lhe acenava, inclusive com o apoio vindo da poesia política daquela época, quando a sua obra se identificava com a luta de redemocratização do País. Ele redescobre a Amazônia, em plano mais profundo, na casa dos 60 anos. Como é de seu temperamento, entrega-se por inteiro a essa descoberta, indo morar no interior do Amazonas, onde de novo procria - aliás, matéria farta em vida - e entra fundo em contato com a terra, o viver de seu povo e as lendas amazônicas, depois de haver passado pelo mundo.

Não concordo quando diz que tem pena de si, "porque todos os intelectuais que gostaria de entrevistar estão mortos". A inteligência humana é criação constante, permanente e desafiadora. Muitos dos que estão mortos, quando em vida, não mereceram o acatamento que em morte tiveram. Compreendo-o nisso. O que talvez esteja morrendo para Thiago de Mello são os seus amigos, a sua geração. E esse mundo novo, multifário, globalizante, não nacional, é um mundo muito surpreendente para um poeta com essa formação. Quero apenas dar um depoimento de muita importância, para mim pessoalmente e para um grupo de exilados políticos que aportou em 1964 ao Chile: Thiago era adido cultural, cargo que era extremamente prazenteiro, pelas facilidades, pela aceitação da sociedade. Era uma figura muito querida e conhecida no Chile. À época não se usavam cabelos compridos, e Thiago com sua vasta cabeleira e a roupa branca era sucesso nas ruas do Chile e também sucesso nos salões, como poeta, como intelectual. E quando, em 1964, lá chegou o primeiro grupo de exilados, ainda do AI-1 e do AI-2 - chamo-os de os pré-históricos, já que para uma certa crônica a História começa a partir do AI-5. Mas somos do AI-1 e AI-2, da geração de 64, que ficou afastada 18 anos, violência legal sem precedentes no mundo -, Thiago de Mello deu solidariedade integral, total a seus companheiros brasileiros exilados. Evidentemente foi demitido pouco tempo depois e permaneceu a trabalhar no Chile, ocasião em que até trabalhamos juntos. Entre parênteses, digo que é padrinho de um filho meu, nascido no exílio, tal a gratidão que nós, exilados, em lá chegando, tivemos pela atitude de Thiago Mello. Essa é justamente a época em que ele se politiza, curiosamente indo até a uma postura radical, a qual posteriormente abandonou. Enfim, é uma vida de extrema riqueza. Peço desculpas a V. Exª pela extensão do aparte. Quase lhe roubei o tempo, mas eu não poderia deixar de dizer alguma coisa, havendo tanto a dizer, sobre uma pessoa com quem convivi, que é amiga fraterna e querida, um poeta importante deste País e que tem uma trajetória de extrema beleza. A verdade com que se entrega a cada uma de suas crenças é o apanágio da vida de Thiago, porque é dessa verdade que é feita a matéria-prima dos poetas. Congratulo-me com V. Exª pela oportunidade e pela qualidade do discurso.

O SR. BERNARDO CABRAL - Senador Artur da Távola, ao começo da sua manifestação, que evidentemente já está acolhida com o carinho que V. Exª merece, ouvi V. Exª dizer que entrava no meu discurso como um pingente. Não entendi a princípio, mas apenas ao final do seu aparte: desta concha áspera e dura que é a minha manifestação, V. Exª, tal como aqueles mergulhadores do Pacífico, retirou uma pérola e, com o seu aparte, pôs um pingente num cordão fino e sem nenhuma valia, se não aquela de ser amazonense e prestar uma homenagem a Thiago. Na beleza do seu aparte, V. Exª compõe o que Thiago merece: a condecoração com um pingente valioso.

O Sr. Lúcio Alcântara - V. Exª me permite um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Ouço V. Exª, Senador Lúcio Alcântara.

O Sr. Lúcio Alcântara - Desejo trazer também a minha manifestação de aplauso ao poeta Thiago de Mello. V. Exª, como amazonense, tem realmente a primazia para fazer esse elogio justo...

O SR. BERNARDO CABRAL - Ainda que não tenha maior mérito nem maior inteligência.

O Sr. Lúcio Alcântara - ... e merecido. Lembro uma passagem que tem V. Exª como um dos atores mais importantes: sessão de instalação da Assembléia Nacional Constituinte. V. Exª se lembra que houve um ato público nos jardins do Congresso e ali tivemos "Estatutos do Homem", na voz do próprio Thiago de Mello. Com aquela sua postura amazônida, com aquele seu traje branco e com aquela sua sensibilidade, ele recitou para todos nós, que ali estávamos no início de uma grande e memorável jornada, que foi justamente a elaboração da Constituição de 88, os seus versos, que são de grande força, força espiritual, força política, força telúrica, de grande carga humanística. Então, um homem fiel à poesia e fiel à sua terra, a Amazônia - não apenas o Estado do Amazonas, mas a Amazônia como um todo. De forma que com esse pequeno acréscimo, congratulo-me com a iniciativa de V. Exª, fazendo um pedido no sentido de que esse anúncio feito nas páginas de A Crítica, de que vai silenciar a sua poesia, não se cumpra. Que ele faça a prosa e continue fazendo a poesia, para o encantamento de todos os brasileiros. Muito obrigado.

O SR. BERNARDO CABRAL - Obrigado, eminente Senador Lúcio Alcântara. V. Exª lembra uma fase nossa da Assembléia Nacional Constituinte que, com a sua abertura foi valorizada com a declamação do Thiago. E vou encerrar o meu pronunciamento exatamente com uma estrofe de "Estatutos do Homem".

Já que o Senador Artur da Távola lembrou várias figuras, lembro que, no ano de 1966, o escritor Otto Maria Carpeaux definiu as obras de Thiago de Mello da seguinte forma:

      "Foi o primeiro grande poeta que o Amazonas deu ao Brasil: terra nova, criando uma poesia nova. Do escuro das selvas tropicais veio o raio de luz que nos restabeleceu a visão do mundo, os contornos verdadeiros das coisas e das almas..."

Com esta citação, recolho outra, de uma carta que veio de Genève, datada de 13 de janeiro de 1974, do educador Paulo Freire. Vejam que beleza de intróito:

      "Eita, Thiago velho de guerra, amigo sempre, companheiro imenso, Poeta "de mesmo", sorriso constante para o mundo e para os seres humanos, capaz de conversar com uma flor, de entender os passarinhos e doar a vida bonita aos esfarrapados do mundo, aguente o barco, irmão. Precisamos de você, da sua fé e coragem, do seu desprendimento, da sua poesia..."

Não vou ler a carta toda para não cansar os Colegas, não pela beleza do seu conteúdo, mas pela minha manifestação.

A Srª Marina Silva - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Com prazer, nobre Senadora.

A Srª Marina Silva - Parabenizo V. Exª pelo discurso de homenagem que está fazendo. No dia do aniversário da morte dos chacinados de Corumbiara, de cuja cerimônia participei na Catedral do Município de Porto Velho, tive a oportunidade de ouvir ali recitados "Estatutos do Homem" em homenagem àqueles que lutam pela vida. Naquele instante, fiquei pensando o quão seria edificante se alguns decretos fossem feitos pelos poetas. Porque assim ficaria decretado que não mais haveria miséria, não haveria mais um ser humano sem terra para morar, bem como ficariam decretadas tantas outras mudanças, com as quais, naquela linda peça, o poeta nos homenageia com um sinal de esperança. O meu aparte a V. Exª se dá apenas para, timidamente, solidarizar-me com o seu pronunciamento e agradecer por existirem pessoas capazes de nos tocar com a sua sensibilidade, com o seu compromisso e com o seu desprendimento, levando a todos nós algum tipo de esperança, algum tipo de desejo de fazer com que essa vida terrena possa ser melhor partilhada. Assim, parabenizo V. Exª, agradecendo a Deus por a nossa Amazônia, além da beleza exuberantemente empírica de sua natureza, ser capaz de gerar belezas que vêm da alma. Muito obrigada.

O SR. BERNARDO CABRAL - É exatamente isso, Senadora Marina Silva. Este é Thiago de Mello que conhecemos, monstro sagrado da literatura brasileira, poeta dos igarapés, cantador das belezas da nossa região. E, nem a propósito, V. Exª lembra o que disse o editor Martins Fontes, que, no meu entender, soube como ninguém definir a grandeza de seu gênio:

      "Thiago de Mello, poeta e cantador, caboclo do Amazonas, nascido em Barreirinha.

      O seu recado é o da esperança e de fé no homem.

      O seu recado é o amor.

      Com os "Estatutos do Homem", seu canto foi ouvido mundo afora.

      Os povos de língua espanhola ganharam uma tradução de Pablo Neruda. Edições ilustradas foram publicadas no Uruguai, na Argentina, no Chile, no Peru, em Cuba, em Portugal, nos Estados Unidos. Posters no México, na Argentina, no Chile, na Alemanha e em Portugal, onde se venderam mais de 100 mil cópias.

      Discos no Brasil, na França, em Cuba, na Checoslováquia, Portugal e Alemanha.

      Os versos dos "Estatutos do Homem" têm servido como mensagem de Natal.

      Gravados a fogo sobre couro são encontrados em feiras de arte popular no Chile, no México, no Uruguai.

      Em Berlim, foi lançado, em 1977 a "Cantata dos Estatutos do Homem", composição de Peter Janssens para orquestra e coral, posteriormente apresentado em oito cidades alemãs".

Observem como, hoje, ecoa neste Plenário. É exatamente a voz que ressoa, no mundo inteiro, tantos e tantos países diferentes em derredor de Thiago de Mello.

O Sr. Humberto Lucena - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - É este eco que me faz ouvir V. Exª, Senador Humberto Lucena.

O Sr. Humberto Lucena - Senador Bernardo Cabral, V. Exª, com a sua inteligência e com o seu talento, brinda-nos nesse cair da tarde com um discurso inspirado nesse imenso valor de nossa cultura literária, que é Thiago de Mello. Gostaria de dizer a V. Exª que ele não é apenas um poeta da Amazônia nem do Brasil, é um poeta da humanidade. E que V. Exª não saia desta tribuna sem insistir na entrada de Thiago de Mello na Academia Brasileira de Letras. Pelo que sei, ele ainda não é um imortal. Mas, tenho para mim que ninguém tem mais a dimensão da imortalidade, pela sua extraordinária dimensão cultural do que Thiago de Mello.

O SR. BERNARDO CABRAL - Sr. Presidente, devo concluir e acho que nada para Thiago, se aqui estivesse, e como não pôde estar presente, enviou duas das criaturas que ele mais adora: um, eu não diria o continuador, porque é muito difícil saber onde começa a inteligência de um e termina a de outro, que é este bravo e notável poeta brasileiro, que honra as tradições do pai, Manduca, que ali se encontra, com os óculos escuros e a sua barba branca, disfarçado, ao lado de sua esposa Valéria, como que a agradecer a homenagem que lhe presta esta Casa.

Mas sei que Thiago não ficaria tão satisfeito quanto agora, porque agora acaba de assumir a Presidência a Senadora Emilia Fernandes. E sempre Thiago foi um declamador, um autor da beleza, da inteligência da mulher brasileira.

Nada melhor para Thiago que eu encerre esta manifestação, sabendo ele que uma representante feminina ocupa a Presidência, com uma estrofe do seu "Estatuto do Homem":

      "Fica decretado que o homem

      não precisará nunca mais duvidar do homem.

      Que o homem confiará no homem

      como a palmeira confia no vento,

      como o vento confia no ar,

      e como o ar confia no campo azul do céu."

Esse é Thiago.

Pelo Thiago, por Thiago, o meu muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/1996 - Página 13883