Discurso no Senado Federal

REPAROS A MATERIA PUBLICADA NA REVISTA VEJA NA QUAL SÃO CITADAS DECLARAÇÕES DO DEPUTADO AUGUSTO FARIAS REBATENDO INSINUAÇÕES QUE TERIAM SIDO ATRIBUIDAS AO ORADOR SOBRE SEU POSSIVEL ENVOLVIMENTO NA MORTE DE SEU IRMÃO PAULO CESAR FARIAS, QUANDO FEZ COMENTARIOS INVERIDICOS E DESAIROSOS ACERCA DO FALECIMENTO DE SEU FILHO E DE SUA PRIMEIRA ESPOSA.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • REPAROS A MATERIA PUBLICADA NA REVISTA VEJA NA QUAL SÃO CITADAS DECLARAÇÕES DO DEPUTADO AUGUSTO FARIAS REBATENDO INSINUAÇÕES QUE TERIAM SIDO ATRIBUIDAS AO ORADOR SOBRE SEU POSSIVEL ENVOLVIMENTO NA MORTE DE SEU IRMÃO PAULO CESAR FARIAS, QUANDO FEZ COMENTARIOS INVERIDICOS E DESAIROSOS ACERCA DO FALECIMENTO DE SEU FILHO E DE SUA PRIMEIRA ESPOSA.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Bernardo Cabral, Edison Lobão, Eduardo Suplicy, Elcio Alvares, Emília Fernandes, Geraldo Melo, Hugo Napoleão, Humberto Lucena, Iris Rezende, Jader Barbalho, Josaphat Marinho, José Eduardo Dutra, José Fogaça, Marina Silva, Ney Suassuna, Osmar Dias, Ramez Tebet, Romeu Tuma, Sebastião Bala Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/1996 - Página 13888
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • CRITICA, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, IMPUTAÇÃO, ORADOR, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, FAMILIA, HOMICIDIO, PAULO CESAR FARIAS, EMPRESARIO, ESTADO DE ALAGOAS (AL), DUVIDA, SENADOR, MOTIVO, CRIME, ELIMINAÇÃO, INFORMAÇÃO, CORRUPÇÃO, VITIMA.
  • CRITICA, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, INFORMAÇÃO, DADOS, MORTE, FAMILIA, ORADOR.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, confesso que é com muito pesar e com muita mágoa que subo à tribuna neste momento. Era um assunto sobre o qual eu imaginava que tinha o direito de ter o respeito e - por que não dizer? - o esquecimento da sociedade.

Atuei muito firme, nesta Casa, na CPI do Impeachment, na CPI do Orçamento. Defendi, intransigentemente, a criação da CPI dos corruptores, que, lamentavelmente, o Governo Federal não deixou criar. E quando houve a morte do Sr. PC Farias, dei alguns depoimentos sobre o fato. O primeiro depoimento foi no sentido de que achei que a Polícia de Alagoas foi muito rápida em terminar com as provas, exageradamente rápida; segundo, eu disse, de saída, inclusive divergindo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que seria muito importante que a Polícia Federal entrasse imediatamente no assunto; e terceiro, estranhei o pronunciamento do irmão do Sr. PC; achei-o muito frio e que ele havia aceitado com muita rapidez a tese de crime passional. Em um dos programas de televisão, eu afirmei que a informação que eu possuía, por intermédio de pessoas importantes do Governo, é que teria sido realmente queima de arquivo, e que a família do PC, seu irmão e seus filhos, estavam muito preocupados, assustados e, por isso, queriam encerrar o caso.

Primeiramente, em nenhum lugar - nesta tribuna, em rádio ou em jornal -, levantei insinuação de que o Deputado Augusto Farias teria qualquer tipo de envolvimento na morte do irmão, o Sr. PC. Isso nunca passou pela minha cabeça; jamais imaginei isso. Pelo contrário, podemos ter todas as divergências, mas sempre chamou a atenção do Brasil a unidade da família do Sr. PC Farias. Ao contrário da família Collor, em que a mãe estava doente de um lado, o irmão morrendo de outro, e mesmo assim havia divergência, radicalização de inimizade, a família do Sr. PC Farias, desde o início, mostrara uma unidade, um entrosamento, uma amizade que merece respeito.

Repito: em nenhum momento, fiz insinuações de que o Deputado Augusto Farias teria participação no fato que envolveu a morte do seu irmão. Agora, sempre fui um dos que defendeu que seria muito estranho considerar aquilo um crime passional; sempre disse que tudo parecia mais uma queima de arquivo.

Tenho comigo a Veja e a IstoÉ desta semana. Há quatro semanas, a Veja defende a tese de que foi um crime passional. Ela vem preparando essa tese, culminando com uma declaração do legista de Campinas. A IstoÉ, que desde o início vem divergindo da tese de crime passional, publica laudo contestado, continuando a divergir e apresentando alguns legistas e alguns juristas que contestam o laudo apresentado pelo legista de Campinas.

Até aí, nada demais. Acontece que há uma reportagem da Veja, assinada por um jornalista, o Sr. Joaquim de Carvalho, que teria entrevistado o Deputado Augusto Farias, que teria dito:

      "Acho que, agora, finalmente, podemos chorar em paz a morte de meu irmão".

A matéria continua:

      "Augusto tem motivos de sobra para se queixar das acusações que sofreu. Mas excedeu-se ao responder na mesma moeda ao Senador Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul, que, no auge das especulações, insinuou na televisão que Augusto Farias era suspeito da autoria do crime".

Volto a repetir: em nenhum momento insinuei que o Sr. Augusto Farias tinha qualquer participação na morte de seu irmão. O que disse é que eu tinha informações de que tendo sido uma queima de arquivo com perigos grandes, a família queria equacionar a questão para que não houvesse mais vítimas, nas pessoas inclusive dos sobrinhos.

Continua:

      "Pedro Simon é suspeito da morte da mulher dele, que se suicidou. Ela pode ter se suicidado de tanto Simon responsabilizá-la pela morte de seu filho, que também se havia suicidado, afirmou, ressuscitando um fato antigo e não comprovado."

Ora, Sr. Presidente, na verdade, trago aqui duas certidões de óbito e as manchetes de dois momentos dramáticos que vivi na minha vida.

Eu era 1º Vice-Presidente do PMDB. O Dr. Ulysses Guimarães estava tendo um dos seus problemas, e eu o substituía na presidência do Partido, naqueles dias que sucederam o registro da chapa Tancredo Neves para Presidente da República e José Sarney para Vice-Presidente, tendo o Sr. Moacyr Dalla como Presidente da Casa, considerando que a Mesa do Senado era malufista.

Naquela época, tínhamos então muitos Senadores e Deputados aí presentes, a começar pelo Presidente Sarney, e tínhamos medo de que a Mesa do Senado rejeitasse o registro da nossa candidatura, sob o argumento de que José Sarney tinha sido da ARENA e tinha assinado ficha no PMDB. E a nossa tese é que podia, porque o artigo dizia o seguinte: "Não pode ninguém se candidatar por outro Partido pelo qual tenha sido eleito. Quer dizer, já havia o PDS; cidadão do PDS, eleito pelo PDS, não podia ser eleito pelo PMDB. Mas como o Sarney tinha sido eleito pela Arena, ele assinou ficha no PMDB, e nós o registramos como nosso candidato.

Havia uma movimentação; o Sr. Maluf tinha estudos jurídicos, a imprensa vinha publicando que iriam embargar, impugnar a candidatura sob o argumento de que o Sr. Sarney tinha trocado de partido.

Então, numa reunião nossa do Comando - lembro-me que estavam presentes o Sarney, o Dr. Tancredo, o Dr. Ulysses, o Marco Maciel e o Bornhausen e outros - era uma quarta-feira, final de outubro, e na semana seguinte, terça e quarta, eram dia 1º e 2, Dia de Todos os Santos e Finados. O Congresso Nacional iria ficar um período em recesso branco - não haveria movimentação - e esses eram os dias em que a Mesa se reuniria para decidir a questão de aceitar ou não o registro da chapa Tancredo-Sarney.

Decidimos, então, fazer um plantão em Brasília: Tancredo, Ulysses, Sarney, Marco Maciel e eu faríamos um rodízio para que, naquele período de doze dias, Brasília não ficasse sem um de nós para acompanhar, caso de uma hora para outra a Mesa fosse convocada, ou se reunisse, que estivéssemos presentes para acompanhar e defender o registro da candidatura com os argumentos jurídicos que tínhamos em mãos.

Eu fiquei em Porto Alegre naquele fim de semana.

Naquele sábado, eu me comprometera com a questão da Aliança Democrática, porque fui um dos que ajudaram na sua composição. As reuniões eram feitas permanentemente na minha casa e na casa de Marco Maciel. Por tudo isso, fiquei um tempo enorme sem ir a Porto Alegre. Como a chapa fora feita, já estava registrada, tudo resolvido, eu me comprometi com a minha família passar aquele feriadão na praia com ela. No último instante, telefonei para dizer à minha mulher que eu não poderia ir. E ela disse: "como não vai poder?" Eu respondi: "não vou poder ir. Vocês vão para a praia amanhã, sábado, e domingo estarei lá. Estarei toda a semana que vem. Quarta-feira é Dia de Todos os Santos, quinta-feira é Finados, portanto, ficarei toda a semana que vem." Tudo bem. Quando minha mulher estava indo para a praia, com os meus filhos, aconteceu um acidente, e perdi um filho de 11 anos. Esse filho que a Veja disse que se suicidou.

Está aqui. Entrego para registro nos Anais, todas as notícias dos jornais, na presença de V. Exªs. Faço questão de entregar essa documentação para que conste dos Anais. E quando me perguntarem por que, direi que é porque tenho mais três filhos: um de 25, um de 23 anos, e um filho de 2 anos de idade. Daqui a pouco, sairá uma notícia na Veja e até explicar o que é e o que não é...! Que um filho meu se suicidou e, pelo suicídio de um filho meu, cobrei da minha mulher, e ela também se suicidou! Uma maluquice dessa natureza publicada assim! Tenho que vir à tribuna, é o mínimo que posso fazer.

Essa matéria que eu trouxe não é minha. Quando eu disse que viria à tribuna, o meu assessor deu-me essa matéria. Por isso, vou lê-la, mas já há muito tempo que eu não via essa matéria. Foi com muita dor e sofrimento que eu a revi nesses últimos dias. São chagas que temos. Quem perdeu um filho pequeno sabe que somos uma espécie de um grupo que nos unimos. O Alceu Collares, que perdeu um filho afogado, disse-me algo que eu nunca mais esqueci. Disse-me que eu não esqueceria, mas aprenderia, aos poucos, a conviver com isso. Essa é uma confraria daqueles que entendem isso.

Então, foi uma dor muito grande rever essa matéria, mas faço questão de mostrá-la. Aqui está a foto do acidente de carro, com a batida.

Contarei mais um aspecto dramático. Esse filho que perdi era o mais moço, tinha 11 anos. Além dele, eu tinha dois filhos mais velhos: um de 15 e outro de 13 anos. Quando guiávamos o carro, coisa tradicional de três crianças, os dois mais velhos discutiam quem iria na frente. Sempre um queria ir sentado no banco da frente guiando ou com o pai ou com a mãe, ou eu ia sentado no banco da frente, e a Tânia ia sentada no banco de trás com os dois filhos, ou vice-versa.

No dia, estava aquela discussão de quem iria ou não sentado no banco da frente. Nesse momento - e o coitadinho do Mateusinho já estava no lugar dele sentado atrás, que era o lugar que ele sempre sentava -, a minha mulher disse:

"Vocês dois vão para trás. Mateus sente aqui na frente!". E o Mateus sentou no banco da frente do carro. Como ele era pequeno e estava dormindo no momento do acidente, ele morreu. Se o mais velho estivesse sentado no banco da frente, pelo acidente em si, talvez nada tivesse ocorrido. Isso aconteceu com o meu filho, que a imprensa diz ter-se suicidado.

Minha mulher sofreu muito com isso. Minha mulher era bonita e sofreu apenas cicatrizes no rosto. Ela dizia que Deus a havia punido nas duas coisas que ela gostava: na sua beleza e nos seus filhos. Na verdade, foi muito difícil a minha mulher superar aquele acidente. Perder um filho é dramático; perder um filho num acidente de automóvel é dramático; perder um filho num acidente de automóvel guiado pela própria mãe é dramático. A minha mulher não conseguia tirar da cabeça que o Mateusinho estava sentado no banco de trás do carro e que ela havia-lhe pedido que passasse para o banco da frente. Isso foi o mais dramático.

Na verdade, a minha mulher passou a sofrer bastante. Eu diria que ela nunca mais foi a mesma. Sofreu depressões, mágoas e tristezas. Minha mulher também morreu e de enfarto.

Estão aqui as páginas dos jornais. Não só estou entregando os dois atestados de óbito, como estou entregando as manchetes de todos os jornais, publicadas com a mais ampla matéria e as explicações que foram feitas na oportunidade, em que, até pela minha posição - eu tinha largado o Ministério -, a começar pelo Presidente Sarney, houve uma participação imensa e um acompanhamento permanente. Aquilo foi a morte da minha mulher.

Até publicaram algo que me emocionou muito e que marcou a minha vida: no mesmo dia em que saiu a notícia da morte da minha mulher, um jornalista do Zero Hora publicava a charge "Simon, a luta continua", porque "a luta continua" era o lema do MDB do Rio Grande do Sul.

Isso aconteceu. Foi difícil superar, foi muito difícil. Não nego que a minha vida foi muito árdua. Eu era um rapaz, Deputado de primeiro mandato, quando a Revolução - no Rio Grande do Sul estavam as grandes lideranças, era João Goulart, era Leonel Brizola, os grandes políticos do Brasil estavam lá no meu Estado - cassou todos. De uma hora para outra, recém-saído dos bancos escolares, eleito Deputado, assumi o comando da vida partidária. Para nós do Rio Grande do Sul, a vida foi muito difícil, pelo fato de Jango, Brizola, os exilados do Brasil, da Argentina, do Chile e os do Paraguai estarem ali no Uruguai. Ali era uma zona de guerra permanente. Nós do Rio Grande do Sul vivemos dramas permanentes.

Olhem, meus irmãos, por vinte e tantos anos presidi aquele Partido e foram vinte e tantos anos de dor e sofrimento: cassações e mais cassações, torturas e mais torturas. Eu era praticamente a única pessoa para assumir o comando partidário, porque não existia nenhuma autoridade. O governador era nomeado, o prefeito de Porto Alegre era nomeado, o comandante do 3º Exército era o papa. E nós resistíamos.

Então, guardo um sentimento. Quando nasceu um dos meus filhos, tive que sair do hospital, porque havia uma clima de prisão, de violência lá no alto Uruguai, e só voltei quando meu filho já tinha praticamente uma semana de vida.

Procurei dar atenção, procurei dar carinho em casa, mas na verdade, na verdade, aqueles foram dias em que os acontecimentos nem sempre permitiram que eu desse à minha casa aquilo que eu gostaria de ter dado. Aquilo para mim era considerado uma missão. Não se pede para dela participar mas não há como fugir. De um lado, havia um movimento que considerava ser aquele regime vitorioso; de outro, estávamos nós, os que acreditávamos que a democracia tinha a sua vez e a sua voz e que precisávamos fazer alguma coisa. Eu vivia uma situação difícil. Talvez por isso eu tenha comandado por tanto tempo a Oposição e não tenha sido cassado, porque sempre fui contra a radicalização. Divergi do Dr. Brizola no grupo de 11, divergi quanto às guerrilhas, divergi quanto ao voto em branco. Sempre defendi a tese de que deveríamos debater dentro da democracia e decidir no voto. Quando comentavam que o momento era excepcional e que havia chances enormes de uma revolução, eu replicava que não era possível, porque o Brasil não é Cuba e que, se isso fosse possível, os americanos, que colocaram 300 mil mariners em El Salvador, trariam muitos mais para o Brasil e acabariam por dividi-lo em Brasil do Norte e Brasil do Sul.

De certa forma, sofri dos dois lados, pois os que desejavam a luta armada tinham em mim a voz contrária; o mesmo ocorria com aqueles que pretendiam o regime militar.

Vivi e sofri aquele período, sofri tremendamente o drama de estar entre a obrigação de fazer aquilo que minha consciência dizia que eu devia fazer e a obrigação que, como ente natural, eu tinha para com a minha mulher e os meus filhos.

Não me considero melhor que ninguém. Na minha vida tenho procurado fazer aquilo que acho que devo. E acho que o nosso Brasil está tão longe dos verdadeiros ideais. O nosso Brasil está tão diferente de como eu gostaria de vê-lo. É um país de minorias tão arraigadas em seus privilégios, país de maiorias tão esquecidas, tão humilhadas e espezinhadas.

Não sei se por felicidade ou por infelicidade - sinceramente não sei - ainda jovem, estudante da Faculdade de Direito, tive como meu orientador, meu padrinho, meu mestre, um homem como o Senador Alberto Pasqualini. Três vezes por semana, na casa do seu irmão, que era diretor da Folha da Tarde, ou na biblioteca da Assembléia Legislativa, Alberto Pasqualini reunia um grupo de jovens e nos dava orientações. Durante cinco anos fui assim orientado. De tal forma aquilo entrou na minha cabeça, de tal maneira aquilo formou a minha maneira de ser que, mesmo se eu quisesse mudar, não conseguiria.

Os homens nasceram irmãos! Os bens foram distribuídos pelo mundo para que os homens se dêem as mãos e distribuam esses bens entre eles!

Claro que a propriedade privada existe! É óbvio que o mais competente pode crescer, pode avançar, pode enriquecer, mas em hipótese alguma se pode aceitar que o menos competente, que o mais incapaz, que aquele que faz o trabalho mais humilde e mais insignificante não tenha, mesmo esse, o direito de viver com dignidade, com decência, como merece a criatura humana.

Alguns dizem que sou meio sonhador, que sou meio paquiderme, que parei no tempo. Não sei. Tenho procurado fazer a minha parte. Nunca brinco com a honra de ninguém. Aqui nesta tribuna, durante o processo de Impeachment do Sr. Collor de Mello, até a última hora, não abri o meu voto. E a CPI do Impeachment, assim como a CPI do Orçamento, praticamente, nasceu no meu gabinete. Junto com o Senador Suplicy, que foi quem começou - e havia uma guerra para que elas não se realizassem - modéstia à parte, eu, agindo com autoridade, consegui fazer com que fossem criadas e instaladas. Mas nunca abri o meu voto. Eu dizia: nós, Senado, somos um tribunal e, como tal, só podemos declarar nosso voto depois de a defesa falar, e ela fala em último lugar. Até o último momento, o advogado ou o próprio Sr. Collor poderia vir aqui apresentar um argumento que eu seria obrigado a aceitar. O Senador Elcio Alvares, que foi Presidente da Comissão, lembra que esse era o pensamento de nós todos com relação àquela questão.

Então, dificilmente, tacho. Sou duro. Debato, discordo, apresento denúncia, mas não brinco com a honra de ninguém. Cobro, como cobro explicações sobre o caso do Banco Nacional, como cobro explicações sobre o Proer, que até agora ninguém investigou porque que não saiu para o Banco Econômico como saiu para o Banco Nacional. É certa esse investimento todo para o Proer? Será que essa força que o governo está dando para o sistema financeiro não deveria ser dada para um sistema na agricultura?

Mas não estou brincando nem com a honra do Senhor Fernando Henrique Cardoso nem com a honra do Ministro da Fazenda. Se conheço falo, se não conheço não falo.

Por isso, lamento que o jornalista Sr. Joaquim de Carvalho, com a responsabilidade que tem, tenha utilizado o tipo de argumentação que usou. Até entendo o desabafo do Deputado. Acho que ele está no seu direito. Quer dizer, falaram tanto do irmão dele desde o tempo da CPI até a sua morte que entendo o fato de ele falar o que fala. Mas o Sr. Joaquim de Carvalho poderia ter feito uma pesquisa antes de permitir a publicação da matéria. Ele podia ter investigado a veracidade dos fatos.

Somos a favor da liberdade de imprensa. Alguém como o Pedro Simon que acusa, que fala tem de aguentar calado a resposta. E eu aguento calado. Mas o jornalista poderia ter averiguado um pouco mais, até por que a Veja, com relação a mim, tem dívidas. Em mais de uma oportunidade, no meu gabinete, pediu desculpas pelo erro que cometeu. E eu nem lembro mais.

Venho a esta tribuna exatamente para dizer que pode ser que eu tenha culpa. Talvez eu devesse ter dito naquela oportunidade: "Sou o mais jovem entre vocês, o Dr. Ulysses chama a D. Mora e fica aqui, o Tancredo fica aqui e eu tenho que ir porque tenho um compromisso em Porto Alegre." Mas como fui escalado, aceitei ser o primeiro.

A morte do meu filho foi um acidente, a coitadinha da minha mulher estava dirigindo o carro. Como havia de passar pela minha cabeça dizer que ele morreu porque ela estava dirigindo o carro? Pelo amor de Deus! São coisas que não desejamos para o maior inimigo do mundo. Uma mãe perder um filho é dramático, ainda mais quando o acidente ocorreu enquanto ela dirigia o carro.

Há três anos, estava dormindo e, quando acordei, vi o Mateusinho, meu filho que morreu, batendo em minha perna: "Acorda, papai!" Eu disse: "O que meu filho está fazendo aqui?" "Papai do Céu me mandou ficar contigo." Levantei-me e ele não estava mais. Fui ao quarto onde ele dormia com meu outro filho, Tomaz, e olhando aquela cena parecia que estavam os dois dormindo. Mal consegui caminhar, acendi a luz e vi que lá só estava o Tomaz. Não contei nada para ninguém. Dois meses depois, minha atual esposa me disse que estava grávida. Quis dar ao meu filho, que tem dois anos, o nome de Mateus, o que não me deixaram fazer.

Assim, penso que, se Deus me tirou, Ele mesmo me deu. Deus me tirou um filho com dez anos e Deus me deu um filho. Então, volto a repetir, essas coisas a gente não esquece.

Eu tenho esse complexo de culpa, já que foram tantos e tantos os anos de caminhadas por aquele Rio Grande do Sul; de repente, tocava o telefone e iam dizendo que prenderam fulano em Rio Grande. Lá ia o Pedro Simon pegar um carro correndo para ir ao Rio Grande. Modéstia à parte, como era respeitado, conseguia tirar as pessoas da cadeia. Apesar de líder da oposição, tanto o Guazzelli, como o Peracchi, como o Meneghetti, o Triches, o Amaral eram Governadores com quem eu falava a qualquer momento, e eles me respeitavam. Eu era a pessoa que podia fazer aquilo; só que me ocupava vinte e quatro horas por dia.

Então, Sr. Presidente, trago aqui - pedindo desde já a transcrição nos Anais da Casa - essa noticiazinha, que a mim me sangrou. Abrir o jornal e ler uma notícia como esta e não ter contestação... O meu filho tem o direito de saber o que houve, o que aconteceu.

Gostaria de mandar uma cópia deste meu pronunciamento para a direção da Veja. Não quero que reparem, que alterem; não tenho queixa, não tenho nada! Mas é só para mostrar que as pessoas devem medir as palavras, tem que haver uma maneira de medir.

Vinha à Tribuna hoje para mandar o meu abraço ao Odacir Klein, esse grande Ministro, com quem aconteceu uma tragédia, que pode acontecer com qualquer um. Dramaticamente, aconteceu. E digo, de público, que não conheço ninguém mais digno, mais sério, mais honesto do que Odacir Klein. Entendo que o político tem que pagar um preço, tem que estar exposto, mas, às vezes, ilustre Dr. Civita, seria necessário orientar as pessoas a fazerem uma certa revisão. Não para esconder. É político? Que ponham na capa da revista! É escândalo? Coloquem na capa! Mas não precisa sangrar, quando não é preciso sangrar; não precisa esmagar, quando não é preciso esmagar.

O que se percebe aqui é um sentimento até meio de prazer masoquista, tipo: "Agora, vou dar o troco!" Com toda sinceridade, não consigo entender isso. Volto a repetir: respeito o Deputado. Ele não devia saber de nada disso, pois era um guri. Alguém deve ter contado para ele. Mas respeito o Deputado! Mas o jornalista poderia ter meditado, ter refletido, ter visto que essas coisas não eram verdadeiras, e não achar que talvez fosse me calar a boca. Como fui uma das pessoas que mais insistiu na tese de que não era crime passional, podem ter pensado em me dar uma cutucada, para que, com isso, eu parasse de falar. O que não vai acontecer. Vou analisar, estudar e, se for o caso, volto ao assunto. Ninguém nunca me calou, sob nenhuma hipótese, em nenhum momento.

Posso estar com o coração sangrando, posso estar sofrendo, mas não é agora que vão me calar.

O Sr. Humberto Lucena - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não, Senador Humberto Lucena.

O Sr. Humberto Lucena - Senador Pedro Simon, todas as pessoas que leram essa reportagem ficaram perplexas, justamente pela perversidade com V. Exª. Como bem diz V. Exª, mesmo que o Deputado tivesse prestado a infeliz declaração por conta da emoção, não era nunca para ser publicada. V. Exª está nesta tribuna por ser o homem autêntico que é, mas nem precisaria chegar aí, porque todos conhecemos V. Exª. E veja V. Exª, pelo silêncio que reina neste plenário, o apreço, a admiração, a estima que todos temos por V. Exª. Eu bem avalio a mágoa que lhe vai no coração, de homem de bem, de homem sério, de homem digno que é, não só na vida pública como também na vida privada e voltado sempre para suas obrigações, partidárias ou familiares. Quanto à análise que fez dos acontecimentos, eu lembraria a V. Exª que, como Líder do PMDB no Senado naquela época, acompanhei de perto todo o desenrolar da Aliança Liberal e fiz parte de todas as reuniões, inclusive em sua casa, e pude bem perceber o envolvimento em que V. Exª se encontrava naqueles instantes. Mas sempre preocupado com a situação de sua família, que estava no Rio Grande do Sul. Senti o seu sofrimento, lembro-me bem quando ocorreu o falecimento de sua esposa, após o falecimento de seu filho. O Deputado Ulysses Guimarães, que era Presidente da Câmara - eu era Presidente do Senado na época -, chamou-me para que juntos fôssemos a Porto Alegre. Lá estivemos na casa de V. Exª, fazendo-lhe uma visita. V. Exª estava acabrunhado, recebendo o apoio de todos os amigos e nos recebeu num ambiente de profundo abatimento. Eu queria, com estas palavras, apenas trazer a V. Exª a minha solidariedade pessoal e partidária. Não só do PMDB ou de minha parte, mas de todos os companheiros de Bancada que estejam ou não neste plenário. Receba o nosso apoio forte e sincero, certo de que a Nação inteira há de compreender que V. Exª continua a ser o homem que sempre foi. V. Exª não pode ser vítima de injustiças como essas, e não serão fatos dessa natureza que haverão de abater o seu ânimo de luta, que conhecemos e que faz parte da sua formação de homem público. V. Exª citou bem o caso, por exemplo, do Ministro Odacir Klein. Ainda há pouco telefonei-lhe para levar também a ele a minha solidariedade nessa hora de angústia. Ele está pagando pelo cargo que ocupa. Todo esse sensacionalismo em torno do assunto é porque ele é Ministro dos Transportes. Se não fosse, não ocorreria esse noticiário. E sabemos todos que foi um acidente de trânsito que poderia ocorrer com qualquer um de nós. Receba V. Exª o meu abraço demorado e fraterno de amigo, de admirador e de companheiro de tantas lutas.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. José Fogaça - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não, Senador José Fogaça.

O Sr. José Fogaça - Quero dar o testemunho de quem acompanhou de muito perto, aliás, de muito mais perto do que gostaria, todos os episódios relatados na Veja, porque, na maioria desses casos, eu me encontrava, senão próximo, pelo menos em constante contato de relacionamento com V. Exª. De modo que quero dar o depoimento, não só meu, mas creio que do Rio Grande do Sul inteiro, da imprensa, do quanto tem de verdade, da mais absoluta verdade naquilo que V. Exª traz como esclarecimento a esta Casa. Confesso até que para mim, que pude - assim como tantos gaúchos - acompanhar de perto, pari passu, todos esses episódios, tudo estava tão claro e esclarecido, que não cheguei a aperceber-me, Senador Pedro Simon, da crueldade - que só agora noto -, da perversidade dessa notícia e da deformação que ela contém. Cheguei a dizer a V. Exª - e cometi este engano pessoal - que a considerava apenas um erro de imprensa que não teria maior repercussão, sem perceber o enorme conteúdo dramático, quer dizer, o drama humano, pessoal, vivido por V. Exª nesse episódio. No entanto, da mesma forma como V. Exª coloca e reproduz os fatos no seu verdadeiro nível de realidade, Senador Pedro Simon, também penso que extraímos do seu pronunciamento não só a dor e a amargura de um homem que viveu esse triste episódio, não só o quanto é lancinante a dor da perda de um filho num acidente de automóvel, registrado pela imprensa de todo o nosso Estado e de todo o País à época, com a seqüente degradação física de sua esposa, D. Tânia, que, tendo sofrido demais com aquele acidente, foi acometida de uma doença que acabou culminando com o enfarte que lhe tirou a vida. Todos nós acompanhamos esses fatos praticamente no dia-a-dia. E não queríamos que a revista Veja tivesse feito o mesmo. Agora, publicar uma nota dessas, sem checar a informação, sem avaliar a fonte e o dado que ali se contém e sem avaliar as conseqüências emocionais, o drama humano que está ali contido, parece-me uma grande irresponsabilidade. Muito mais do que a reposição da verdade de um fato da sua vida, creio que V. Exª está fazendo talvez o mais contundente e possivelmente o mais comovente pronunciamento em favor da ética na imprensa. Cobra-se ética na política, mas nunca haverá ética na política se não houver ética na imprensa. Quero registrar o pronunciamento de V. Exª como a mais dura, mais severa, mais contundente, mais pontiaguda cobrança por ética na imprensa deste País. Ética e respeito humano: que isso exista na imprensa brasileira. Que a revista Veja faça uma reflexão madura, séria e que seja capaz de olhar no seu próprio espelho, ela que nos cobra ética. A ética na política tem de ser cobrada diariamente, mas aqui estamos pedindo ética na imprensa. Daqui por diante, toda vez que tiver que me valer de um pronunciamento em relação à ética na imprensa, o pronunciamento de V. Exª e esse triste episódio dessa publicação infeliz da revista Veja, usarei como o mais lapidar exemplo nesse sentido. Obrigado, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON - Eu que agradeço as palavras do não apenas colega, mas amigo, porque V. Exª, sendo meu contemporâneo e amigo, testemunhou, acompanhou todos os fatos. V. Exª sabe que os fatos ocorreram como descrevemos. E como diz V. Exª, o Rio Grande do Sul todo sabe disso. Quer dizer, é isto que V. Exª disse: os fatos que narrei aqui foram do conhecimento do Rio Grande do Sul. Não há um fato em que haja alguma dúvida, alguma interrogação ou, como disse a revista Veja, fatos ainda não esclarecidos. Não há nada que nunca tenha sido esclarecido! Sempre foram esclarecidos! Por isso agradeço muito o aparte de V. Exª.

O Sr. Bernardo Cabral - V. Exª me permite um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Bernardo Cabral - Senador Pedro Simon, eu ia homenageá-lo com meu silêncio, até porque entendo a profunda dor que deve V. Exª estar sentindo desde o instante em que tomou conhecimento dessa publicação. Acontece que o lado amargo da notícia não haverá ninguém no Rio Grande do Sul nem nesse Plenário que conseguirá impedir que, no resto do País, uma revista que tem mais de um milhão de exemplares de tiragem, no mínimo quatro pessoas a lêem nas suas famílias, fora o Rio Grande do Sul e esta Casa, fiquem sem saber da verdade. E aí me lembro de quando cheguei à Câmara dos Deputados. Entre os nomes de que me lembro, Rubem Azevedo Lima, Carlos Castello Branco, Flamarion Borges, o próprio Fernando César Mesquita, que era do Comitê de Imprensa, nenhuma notícia saía sem que esses repórteres checassem a veracidade. Quantas vezes estávamos reunidos - nós, que éramos da Oposição - e a qualquer intriga, havia sempre a pergunta para checar e assim se chegar àquilo que disse o Senador José Fogaça: à ética jornalística. Que preço alto paga o homem público! Eu imagino V. Exª, e aqui vários já fomos objetos da mais pura humilhação quando fatos poderiam ser evitados com um simples telefonema confirmando a notícia. Penso que a solidariedade desta Casa não tem tanta importância para a retidão e a verticalidade de V. Exª. Não tem importância o reconhecimento de nós, que sabemos o quanto V. Exª está e foi ferido com uma notícia dessa. O que deve ter importância é a própria revista tomar cuidado com alguém que pode servir-se dela como veículo, e não sabemos com que finalidade, com que objetivo, para denegrir a imagem, a honra de um homem público com uma notícia que é demasiadamente amarga.

Portanto, se não lhe pude dar o meu silêncio, que era como queria homenageá-lo, quero que veja nas minhas palavras exatamente a dimensão da dor por que V. Exª passa.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado, nobre Senador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - V. Exª me permite?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Em primeiro lugar, quero louvar o esforço que V. Exª deve estar fazendo para se manter com a tranqüilidade com que faz este importante e grave pronunciamento. Há de passar por todos o sofrimento que V. Exª teve e está tendo com essa notícia. Se tivesse sido verdadeira, a publicação já seria uma indignidade. Sendo uma infâmia, como é, é inqualificável. Fico triste quando vejo a Veja, que já foi tão importante na vida deste País, de certa época para cá usar de expedientes como esse, de irresponsabilidade total, em assuntos dessa ordem, ferindo as pessoas que não poderiam jamais ser feridas em assuntos que tais, como V. Exª está em relação a essa infâmia. Fico triste, porque como disse com tanta propriedade o Senador José Fogaça, os pregoeiros da ética são aqueles que menos a praticam neste País. Fico triste, e V. Exª vê que todos estão contristados com o episódio. Eu mesmo tomei conhecimento pelo discurso de V. Exª. E sofri, porque já tive problema na minha família, grave, mais grave até do que esse que V. Exª passou, há cerca de dez anos, e sei o que a gente sofre a vida inteira. Posso imaginar, portanto, como isso lhe dói, como isso está lhe provocando um sofrimento desses que não passam nunca, mas que sempre desejávamos que não fossem relembrados, sobretudo da forma caluniosa com que foi. Quero trazer não só a minha solidariedade, como a de meu colegas, Senador Josaphat Marinho e Waldeck Ornelas, nesse episódio em que, creio, todo o Senado está ao seu lado, todo o povo brasileiro está ao seu lado. Quero mais ainda dizer: serve como exemplo a sua atitude e o esforço para manter a serenidade, porque a sua indignação deve ser capaz de arrebentar qualquer parede para dar vazão ao que lhe vai na alma. Portanto, trago-lhe neste instante a solidariedade, que sei, é de todo o Senado.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V. Exª.

Antes de pegar o avião, fui ao cemitério colocar uma flor no túmulo do meu filho e da minha esposa. Com essa atitude, ganhei uma certa tranqüilidade, que até então eu não tinha. Foi ali, olhando aquelas duas imagens, que eu, de certa forma, mudei o tom do meu pronunciamento.

O Sr. Elcio Alvares - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Com muito prazer, Senador Elcio Alvares.

O Sr. Elcio Alvares - O depoimento de V. Exª, Senador Pedro Simon, é profundamente comovente. Estamos aqui no exercício da vida pública, respeitamo-nos como homens públicos. V. Exª, ao longo de uma esteira luminosa, tem timbrado, permanentemente, com o comportamento que o alçou à condição de figura das mais respeitadas no cenário político da vida pública brasileira. Neste instante, eu poderia fazer o discurso do Senador da República, do companheiro, do parceiro de muitas alegrias e de muitas tristezas. Entretanto, Senador Pedro Simon, quero ficar no recôndito de uma amizade muito forte, que é sublinhada permanentemente pela admiração, pelo apreço e - sabe V. Exª mais do que ninguém - pela gratidão. Para mim, V. Exª tem um valor excepcional. Divergimos. V. Exª, na sua linha de Senador independente, fazendo críticas ao Governo, e eu, às vezes, falando em defesa do Governo. Mas, Senador Pedro Simon, entre nós existe um liame muito forte. Um liame que, enquanto vida eu tiver - seja na vida pública ou na vida pessoal -, faço questão de manter, porque é resultado de uma admiração que não tem limites e, a esta altura, sinto até dificuldades em expressá-la. Falar como Senador é reportar ao nosso companheirismo, mas falar como amigo - neste momento, talvez seja eu a pessoa que mais lhe tem apreço, em virtude de gestos pessoais - é remontar a uma vida que, desde o primeiro momento, na humildade do meu mandato, recebeu do seu gesto apenas exemplo de afeto. A sua dor é a minha dor. A sua dor é a dor de todos. E veja como isso é importante na vida pública. De repente, somos tocados por algo que nos irmana e nos identifica. Dizer que é uma formalidade de discurso, que os apartes vão, no âmago do seu discurso, colocar solidariedade, não é retratar este momento que estamos vivendo. Há uma comoção, que cresce e avulta, em razão da profunda e verdadeira amizade que lhe depositamos. Se somos assim com o Senador Pedro Simon, seremos inteiramente superlativos com toda a sua família, principalmente aqueles que já se foram. Meu abraço de profunda amizade, Senador. A sua lágrima é uma lágrima universal, é uma lágrima de todos nós.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado, meu prezado amigo.

O Sr. Hugo Napoleão - V. Exª me permite?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não.

O Sr. Hugo Napoleão - Nobre Senador Pedro Simon, todos nós, nesta Casa, e particularmente eu mesmo, estamos acostumados a ver o Parlamentar, o homem público, o ex-Ministro, o ex-Governador, o tribuno Pedro Simon a esgrimar a boa esgrima, a crescer na tribuna, defendendo as grandes causas do seu querido Rio Grande do Sul, as grandes causas do nosso querido Brasil. Todos nós o vemos, às vezes, até, como o cavaleiro de La Mancha, Dom Quixote, a investir em defesa daquilo em que acredita. Todos nós admiramos o espírito combativo de debatedor e de defensor das causas que lhe parecem as mais justas e as mais consentâneas para a nacionalidade. Hoje, infelizmente, pelas razões que V. Exª expõe, vemos um Pedro Simon triste, um Pedro Simon - para usar expressões do próprio orador - com o coração sangrando. Isto nos faz tristes a todos nós. Isso traz, também, sangue aos nossos corações. Nesta hora, só podemos lhe dizer que estamos irmanados na sua dor, na sua tristeza, na esperança de que dias futuros sejam mais amenos e venham amainar, venham a substituir este momento de profunda dor e de reflexão sensata, sincera, nobre, que V. Exª faz na Casa, na tarde de hoje. Nada mais me resta dizer senão do meu respeito, da minha admiração, do meu apreço e da minha solidariedade.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V. Exª

O Sr. Eduardo Suplicy - Permite V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Pedro Simon, gostaria também de externar a minha solidariedade, e por São Paulo também, o Senador Romeu Tuma pede que lhe estenda a mesma solidariedade. V. Exª nos permitiu, hoje, comungar do seu sofrimento diante de fatos que machucaram tanto V. Exª com respeito ao seu filho, à sua mulher, e esclarecendo fatos que muitos aqui não conhecíamos tão bem. No que diz respeito aos fatos que pudemos testemunhar ao seu lado, inclusive tendo assistido à entrevista de V. Exª no programa do Jô Soares, e tendo aqui escutado com muita atenção os pronunciamentos de V. Exª relativos à morte do Sr. Paulo César Farias, era mais que natural que V. Exª tivesse feito todas as perguntas que, de fato, formulou e que tivesse chamado a atenção para o empenho das autoridades quanto à elucidação dos fatos. Em nenhum momento ouvi de V. Exª qualquer alusão que significasse uma suspeita direta a qualquer dos irmãos, inclusive ao Deputado Augusto Farias. V. Exª, ao formular as perguntas que demandavam esclarecimentos, fazia o que solicitava a Nação, pois desejava-se o completo esclarecimento daquele trágico episódio, parte de uma tragédia brasileira que nos faz sofrer desde as eleições de 1989. Receba V. Exª o meu abraço.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado, nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Jader Barbalho - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Ouço o aparte do nobre Senador Jader Barbalho.

O Sr. Jader Barbalho - Companheiro Pedro Simon, ponderei a V. Exª que desistisse deste pronunciamento. Assim o fiz porque o considero uma daquelas personalidades da vida pública brasileira que dispensa explicações sobre fatos e episódios como esse, no qual, lamentavelmente, V. Exª se vê envolvido. E sabia o quanto seria duro para V. Exª tratar do tema na tribuna do Senado. Quando li a reportagem, seguramente tive a mesma sensação que a opinião pública brasileira teve ao ler o noticiário que envolve V. Exª e familiares já falecidos. Apenas mais uma miséria, mais nada além disso! Para mim, e creio que para o Senado, seria dispensável qualquer explicação. Porém, devo compreender que para a pessoa humana, para o cidadão Pedro Simon era indispensável vir à tribuna. Portanto, aqui retiro a minha ponderação, porque não teria condições de fazer a mesma análise, de estar emocionalmente envolvido no fato, como estava e está V. Exª. Lamento profundamente, companheiro Pedro Simon! Para mim, para o Senado, para a opinião pública brasileira, pelo seu passado, ninguém há de lhe cobrar justificativas por atitudes públicas e de natureza pessoal. V. Exª é homem que merece todo o respeito não só do Rio Grande do Sul, mas do Brasil como um todo. Apenas lamentamos que a vida pública, inevitavelmente no Brasil e aqui particularmente, seja um verdadeiro corredor polonês, onde ninguém pode percorrer e ninguém a percorre gratuitamente, principalmente aqueles que têm sucesso, como V. Exª o tem na vida pública, pelo acatamento e, repito, pelo respeito da opinião pública brasileira. Sobre o fato a que se referiu há pouco o Senador Eduardo Suplicy, V. Exª apenas cobrou, no episódio nebuloso - de certa forma, nebuloso até hoje - como Parlamentar e como homem público. V. Exª não merecia uma resposta a uma atitude pública, quando apenas representa o interesse público, muito menos no nível em que foi dada, através da injúria e da ofensa pessoal. V. Exª é apenas mais uma vítima da miséria que é fazer, lamentavelmente, vida pública neste País!

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V. Exª, meu Líder.

O Sr. Ramez Tebet - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não, Senador Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet - Senador Pedro Simon, esse episódio, permita-me dizer-lhe isso, só valoriza a classe política, porque só os homens públicos de valor, só aqueles que se dedicam a defender os interesses da coletividade, só aqueles que buscam a verdade estão assim tão expostos diante da opinião pública. Não quero transmitir-lhe a minha solidariedade de Senador e de colega, quero transmitir-lhe a minha solidariedade de amigo e de companheiro; e quando digo que lhe transmito a solidariedade de amigo e de companheiro, estou dizendo que me solidarizo integralmente com V. Exª, respeitando e sabendo a dor e a indignação que lhe invadem a alma e o coração neste momento. Mas também tenho plena convicção de que nada vai perturbar o caminho de V. Exª como representante do Rio Grande do Sul, estado que tem traçado para ajudar a buscar a verdade, a ajudar a construir um Brasil melhor. Receba, portanto, de mim, este abraço de amigo e de companheiro. Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. José Eduardo Dutra - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON - Pois não, Senador José Eduardo Dutra.

O Sr. José Eduardo Dutra - Senador Pedro Simon, gostaria também de solidarizar-me com V. Exª, em meu nome pessoal, em nome da Casa, do Partido dos Trabalhadores e em nome do Senador José Alves, de Sergipe. Já tive oportunidade de registrar, da tribuna desta Casa, a profunda admiração que tenho por V. Exª. Lembro-me que o sucedi nesta tribuna por ocasião do primeiro pronunciamento que fiz. Disse-lhe, então, que tinha muita honra em pronunciar-me depois de V. Exª, pelo fato de V. Exª ter sido para a minha geração um exemplo de resistência democrática, um exemplo de parlamentar combativo e atuante. Quero também registrar o meu testemunho de que ouvi o pronunciamento que V. Exª fez nesta Casa com relação à morte de PC Farias. Ouvi também a sua entrevista no Programa Jô Soares. A esse respeito, V. Exª simplesmente fez as indagações que todos nós e toda a Nação estávamos fazendo. Portanto, V. Exª não poderia, de forma alguma, ter recebido a resposta que foi dada pelo Deputado Augusto Farias, publicada pela revista Veja. Gostaria de deixar o meu abraço e a nossa irrestrita solidariedade. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON - Muito obrigado a V.Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/1996 - Página 13888