Discurso no Senado Federal

MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRRA NO PONTAL DO PARANAPANEMA, COM O OBJETIVO DE DIALOGAR COM O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, NA OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DE HIDROELETRICA NO MUNICIPIO DE ROSANA-SP.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • MOBILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRRA NO PONTAL DO PARANAPANEMA, COM O OBJETIVO DE DIALOGAR COM O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, NA OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DE HIDROELETRICA NO MUNICIPIO DE ROSANA-SP.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/1996 - Página 14673
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • CRITICA, COMPORTAMENTO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, DIALOGO, COORDENAÇÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, OPORTUNIDADE, VIAGEM, MUNICIPIO, ROSANA (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INAUGURAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, IMPOSSIBILIDADE, OCORRENCIA, ESCLARECIMENTOS, ENTENDIMENTO, IMPLANTAÇÃO, REFORMA AGRARIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT-SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Fernando Henrique Cardoso foi, ontem, para Rosana inaugurar a usina hidroelétrica daquela cidade, perto da fronteira entre o Estado de São Paulo e do Paraná, justamente no Pontal do Paranapanema, uma das regiões onde a questão da terra tem sido mais tensa. Seria a oportunidade para Sua Excelência dialogar com os fazendeiros, com os trabalhadores, com os representantes do Movimento dos Sem-Terra. Afinal de contas, que melhor oportunidade teria o Presidente, que tanto se desloca, seja aqui pelo Brasil ou para o exterior, de conhecer de perto e dialogar, olho a olho, com os agricultores, com os fazendeiros e com os trabalhadores sem-terra?

Os trabalhadores sem-terra daquela região, de Teodoro Sampaio, de Presidente Prudente e de Rosana, para ali se deslocaram e estavam na expectativa de dialogar com o Presidente da República. Entretanto, segundo a imprensa, Sua Excelência teve a oportunidade de andar de helicóptero, de rever e experimentar os escargots criados na Vila de Porto Primavera, que, segundo afirmou, sobre isso ele entende. Pela primeira vez, teve a oportunidade de conhecer frutas de urucum e mamona.

Sr. Presidente, quem acompanha com atenção as ações e palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso, certamente deve lembrar que, há cerca de um ano, Sua Excelência, referindo-se aos trabalhadores do Movimento dos Sem-Terra, afirmou que gostaria muito de conversar com o Sr. José Rainha Júnior. Isso aconteceu antes mesmo da decretação da prisão de José Rainha Júnior e Diolinda Alves de Souza, sua esposa.

Portanto, seria natural que, estando José Rainha Júnior em liberdade, nada devendo à Justiça, ele que é considerado um dos líderes do Movimento dos Sem-Terra, que houvesse, portanto, a oportunidade de dialogar com o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Ainda mais porque está José Rainha Júnior dialogando com seus companheiros e com os fazendeiros do Pontal do Paranapanema, nesses últimos meses, realizando negociações para os assentamentos, para a realização da reforma agrária.

Há seis meses, estão tentando negociar as terras do Município de Sandovalina, mas até agora tudo ficou nas intenções. Eles têm estranhado a atitude da Procuradoria que, segundo eles, tem atrasado o acordo, afirmando que as terras do oitavo perímetro seriam devolutas, sem que, na prática, haja qualquer ação discriminatória.

Sr. Presidente, qual não foi a minha surpresa, ao ler, hoje, nos jornais que quando perguntado, na região do Pontal do Paranapanema, se iria receber José Rainha Júnior, o Presidente Fernando Henrique Cardoso respondeu: "Nem sei quem é". Não é possível que Sua Excelência esteja com a memória assim tão fraca, ainda mais porque tem um serviço de informação e, com certeza, estava sabendo da presença dos trabalhadores sem-terra e do Sr. José Rainha. Então, fazer uma afirmação dessa natureza constitui uma forma de não respeitar os trabalhadores sem-terra. O Presidente e seus ministros normalmente atendem, com muita atenção, aos empresários do sistema financeiro, aos empresários do setor industrial, do setor de comércio, do setor de serviços. Por que razão empresários são mais cidadãos do que os líderes do Movimento dos Sem-Terra?

Por que razão perdeu o Presidente, ontem, a oportunidade de dialogar com a coordenação do Movimento dos Sem-Terra, eis que, na tarde de hoje, estão agora 500 trabalhadores sem-terra na sede do Banco do Brasil, neste horário, lá em Teodoro Sampaio, aguardando aquilo que não acontece há meses: a liberação de recursos do Pronaf para realização do assentamento e daquilo que se faz necessário para a realização do Movimento dos Sem-Terra.

Ontem, José Rainha, em nome da coordenação do Movimento dos Sem-Terra, encaminhou um ofício ao Superintendente do Incra, Dr. Miguel Moisés Abeche Neto, dizendo do respeito que tem tido pelo esforço de negociação empreendido por S. Sª. Ontem mesmo, telefonei ao Sr. Superintendente do Incra para dizer da importância da realização desse esforço e de seu empenho para o entendimento entre os trabalhadores sem terra, fazendeiros e a Justiça, porque se faz necessário um esforço da Promotoria da Justiça, em São Paulo, coordenado com o Incra, para que se chegue a uma definição sobre o assentamento dos trabalhadores sem terra.

Se se quiser realizar a reforma agrária, é preciso que estejamos todos dialogando. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem, perdeu a oportunidade de participar diretamente do diálogo com o Movimento dos Sem-Terra. Sua Excelência apenas ouviu um dos fazendeiros que ali foi protestar contra a ocupação de sua fazenda, que, na opinião dos sem-terra, seria improdutiva. Refiro-me ao fazendeiro Luiz Antônio Nabhan Garcia, dono da fazenda São Manoel, ocupada na semana passada e desocupada por determinação judicial. O fazendeiro entregou ofício em que acusa o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra de instituir o terrorismo entre os produtores rurais da região. Informa o Sr. Garcia que as invasões de propriedades abalaram toda a produção agropecuária, em virtude da forma segundo a qual teriam procedido os trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.

A oportunidade do esclarecimento seria o diálogo direto do Presidente Fernando Henrique com os trabalhadores sem terra. O Presidente quer que a coisa se faça dentro da lei. Muito bem! Mas que haja diálogo. É preciso que o Presidente Fernando Henrique Cardoso dialogue mais diretamente com os trabalhadores em todo o Brasil; e, sobre a reforma agrária, com os trabalhadores da terra e com os trabalhadores sem terra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/1996 - Página 14673