Discurso no Senado Federal

IMPORTANCIA ESTRATEGICA DA ATIVIDADE E DAS PESQUISAS SOBRE PECUARIA NO PAIS, DESTACANDO A CRIAÇÃO DAS RAÇAS ZEBUINAS, EM ESPECIAL, DA GUZERA. APELO AO MINISTRO DA AGRICULTURA, SR. ARLINDO PORTO, NO SENTIDO DE QUE NÃO SE PERMITA O FECHAMENTO DO CENTRO EXPERIMENTAL DE ALAGOINHA E UMBUZEIRO, SEM UMA DISCUSSÃO MAIS AMPLA COM OS SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA PECUARIA ZEBUINA.

Autor
Geraldo Melo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RN)
Nome completo: Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PECUARIA.:
  • IMPORTANCIA ESTRATEGICA DA ATIVIDADE E DAS PESQUISAS SOBRE PECUARIA NO PAIS, DESTACANDO A CRIAÇÃO DAS RAÇAS ZEBUINAS, EM ESPECIAL, DA GUZERA. APELO AO MINISTRO DA AGRICULTURA, SR. ARLINDO PORTO, NO SENTIDO DE QUE NÃO SE PERMITA O FECHAMENTO DO CENTRO EXPERIMENTAL DE ALAGOINHA E UMBUZEIRO, SEM UMA DISCUSSÃO MAIS AMPLA COM OS SEGMENTOS ENVOLVIDOS NA PECUARIA ZEBUINA.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/1996 - Página 14776
Assunto
Outros > PECUARIA.
Indexação
  • DEFESA, IMPORTANCIA, ATIVIDADE PECUARIA, TRABALHO, PESQUISA, DESENVOLVIMENTO, PECUARIA, BOVINO.
  • SOLICITAÇÃO, ARLINDO PORTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), AMPLIAÇÃO, DISCUSSÃO, IMPEDIMENTO, DECISÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ENCERRAMENTO, ATIVIDADE, CENTRO DE ESTUDO, PESQUISA AGROPECUARIA, MUNICIPIO, ALAGOINHA (PB), UMBUZEIRO (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), PREJUIZO, DESENVOLVIMENTO, PECUARIA, BOVINO.

O SR. GERALDO MELO (PSDB-RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do Orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, o objetivo da minha presença nesta tribuna é o de dar conhecimento a esta Casa das preocupações expressas em documento que recebi do Centro Brasileiro de Melhoramento de Guzerá, após ter recebido um telefonema de um criador da raça, o Sr. Bernhard Winkler, Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Guzerá.

Esse pode parecer um assunto de segunda classe e uma preocupação muito pequena, mas na realidade não é. A atividade pecuária no Brasil é hoje, sem dúvida alguma, uma das mais importantes do mundo. Se se fala na importância de reduzir a fome no mundo e no Brasil, não se pode menosprezar a importância da atividade pecuária e do trabalho de pesquisa que, ao longo de anos, se realiza no Brasil, País onde as raças zebuínas encontraram condições extraordinárias de adaptação e de desenvolvimento.

A importância desse trabalho de pesquisa se mede de muitas formas, e eu citaria apenas uma. Na década de 30, nas exposições nacionais de Uberaba, havia notícia de reprodutores que ganharam o campeonato nacional pesando 800 quilos. Ao longo desse período, graças ao avanço do conhecimento científico e ao trabalho importante de agências especializadas de pesquisa e dos próprios criadores, chegou-se hoje a verificar como algo corriqueiro nas exposições de agropecuária no País que 800 quilos é peso de fêmea e não mais de touros reprodutores, cujo peso hoje oscila em torno dos 1.100kg. Isso é importante, pois um único animal será capaz de produzir uma quantidade maior de alimentos, de carne, de proteína, para ser colocada nas mesas e para ser consumida pela população, do que era possível há 30, 40, 50 anos.

Ao mesmo tempo, o mesmo tipo de esforço permitiu que muito se ganhasse através do trabalho de seleção num campo chamado de "velocidade de ganho de peso", significando que o peso maior atingido pelos animais é alcançado mais rapidamente e que o novilho que antes se considerava na idade de um simples bezerro desmamado chega ao peso conveniente para o abate.

Dentro desse vasto campo de atividade de interesse na área da pecuária, é preciso destacar fortemente a importância dos animais das raças zebuínas. Essa importância manifesta-se desde que - os números não são exatos, mas as proporções não estão erradas -, no final do século passado e início deste século, o Brasil começou a importar animais para formação do seu rebanho. Importou mais de 100 mil animais das espécies taurinas, de origem européia, e aproximadamente vinte ou trinta mil animais das raças zebuínas, animais chamados bos indicus, originários da Índia. Embora tenha importado de animais de origem indiana 10% mais ou menos dos animais de origem européia, a adaptação dos animais indianos às condições ecológicas do Brasil é tão fantástica que hoje, apesar disso, os animais de origem indiana representam mais de 90% de um rebanho de mais de cem milhões de cabeças que há no Brasil.

Dentre as raças zebuínas, há uma de grande importância para o País e de importância extraordinária para o Nordeste, que é a raça Guzerá. Por quê? Porque não se trata propriamente de uma raça zebuína especializada. Não se trata de uma raça destinada exclusivamente a leite ou exclusivamente à produção de carne. Trata-se dos chamados animais de aptidão mista, que são animais de grande velocidade, de grande peso, de grande precocidade e, ao mesmo tempo, produtores de quantidades razoáveis, satisfatórias de leite.

A seca ocorrida no final da década de 70, que se prolongou por mais de quatro anos no Nordeste, desarticulou e virtualmente dizimou todo o estoque de bovinos da região naquele período, sobrevivendo quase incólumes os animais da raça Guzerá, cujo nome é uma adaptação, no Brasil, ao estado de Gujarath, na Índia, de onde provém.

Do esforço de seleção de animais Guzerá no Brasil, participaram modestamente, com um nível de informações e de conhecimento que foi auto-adquirido, esforço próprio, através do estudo de cada um deles, homens como Efrem Epifânio Pereira, Ernesto de Salvo, cujo filho, Antonio Ernesto de Salvo, é hoje o Presidente da Confederação Nacional da Agricultura e talvez um dos mais importantes zootecnistas e criadores de Guzerá no Brasil, o velho João de Abreu, fundador da linhagem JA, a família Pena, de Minas Gerais, pioneira com os animais da linhagem CP.

            Ao lado disso, há um esforço do governo que não pode ser esquecido. Existem na Paraíba, Estado vizinho ao meu Estado do Rio Grande do Norte, dois centros experimentais localizados em Alagoinha e Umbuzeiro, de onde tem saído uma contribuição importante ao desenvolvimento, ao aperfeiçoamento, ao aprimoramento da raça Guzerá no Brasil. Chega agora ao conhecimento dos criadores, dos pesquisadores, dos estudiosos e dos interessados, que estaria nas cogitações da Embrapa encerrar as atividades tanto do Centro Experimental de Alagoinha quanto do de Umbuzeiro.

Vim a esta tribuna por conhecer o assunto, por saber da sua importância para o Brasil, para dirigir daqui um apelo ao eminente Senador Arlindo Porto, Ministro da Agricultura, no sentido de que S. Exª não permita, sem uma discussão mais ampla, sem uma troca mais completa de informação com a própria Associação Brasileira de Criadores de Zebu de Uberaba, com a Associação Brasileira de Criadores de Gado Guzerá, com o Centro Brasileiro de Melhoramento de Guzerá, com criadores de responsabilidade no País, não permita que esses esforços, que se realizam em Alagoinha e Umbuzeiro, ao longo de dezenas de anos, esforços que já deram frutos muito importantes, sejam abolidos e sepultados.

Faço esse apelo ao Ministro Arlindo Porto na esperança de que S. Exª seja sensível a ele, pois a pecuária zebuína de aptidão mista, a pecuária que reúne carne e leite, é fundamental para o povo brasileiro.

Repito um trecho da carta que recebi do Centro Brasileiro de Melhoramento de Guzerá, que diz o seguinte:

      "Há cerca de três anos, ouvi, de viva voz, por mais de uma vez, tanto do atual Presidente da Embrapa como do Dr. Martinez, a expressão de que a Embrapa do Gado de Leite considera o zebu leiteiro estratégico para o Brasil e os Trópicos."

Isso que era verdade então, continua sendo verdade hoje. Espero que o Ministro Arlindo Porto não permita que esses esforços desapareçam, em benefício do País e da Região Nordeste.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/1996 - Página 14776