Discurso no Senado Federal

COMENTANDO NOTICIAS DOS JORNAIS DE RONDONIA, QUE TRAZEM FOTOS DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO DE MÃOS DADAS COM AUTORIDADES ESTADUAIS, NOTORIAMENTE ENVOLVIDAS EM ILEGALIDADES.

Autor
Ernandes Amorim (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Ernandes Santos Amorim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE RONDONIA (RO), GOVERNO ESTADUAL.:
  • COMENTANDO NOTICIAS DOS JORNAIS DE RONDONIA, QUE TRAZEM FOTOS DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO DE MÃOS DADAS COM AUTORIDADES ESTADUAIS, NOTORIAMENTE ENVOLVIDAS EM ILEGALIDADES.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/1996 - Página 16153
Assunto
Outros > ESTADO DE RONDONIA (RO), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, FOTOGRAFIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, PRESIDENTE, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DE RONDONIA (RO).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE RONDONIA (RO), IRREGULARIDADE, APLICAÇÃO DE RECURSOS, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL, COMPROMETIMENTO, GOVERNADOR, PRESIDENTE, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS.

O SR. ERNANDES AMORIM (PMDB-RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para falar especialmente de Rondônia.

Há poucos dias, lendo os jornais do meu Estado, tomei conhecimento de que houve uma solenidade, uma festa, programada pelo ex-Governador Newton Cardoso. As fotografias exibidas pelos jornais mostravam o Governador do Estado de Rondônia, além do Presidente da Assembléia, de mãos dadas com o Presidente da República. Essas imagens causaram-me estranheza, até por que, em tempos passados, quando existia o Serviço Nacional de Informações, o SNI, o Presidente não ficava exposto a esse ridículo.

O Estado de Rondônia está sendo saqueado, roubado, levado à inadimplência total pelo atual Governador. A Saúde acabou, a Segurança não existe, a Educação está falida. Há pouco tempo, denunciei que os recursos destinados às obras da estrada que liga Colorado a Rolim de Moura estão sendo desviados. O Governo desviou R$4 milhões e não executou a obra. Denunciei também irregularidades em relação à merenda escolar: o Governador diz que comprou frango, carne, mas esses produtos não chegaram. O prejuízo foi de R$3 milhões. Levantamos ainda na Secretaria de Comunicações da Casa Civil o desvio de mais de R$2 milhões. Trata-se de uma nota fiscal de uma empresa cujo endereço não existe, mas o Governador assinou autorização de pagamento. Houve desvio também de verba destinada à Saúde: R$7 milhões para comprar ambulâncias que custavam, cada uma, R$23 mil, mas que foram adquiridas por mais de R$40 mil. Mesmo assim, com todas essas irregularidades que se passam no Estado de Rondônia, vê-se nas fotografias o Governo do Estado e o Presidente da República de mãos dadas.

Há pouco tempo, o Governo de Rondônia conseguiu R$108 milhões. Foram pagas as obras já executadas em três Governos anteriores. Fizeram avaliação de planos já passados e, por negociata junto ao Governo, gastou-se uma soma violenta de recursos. O que vemos é que ninguém toma providências.

Ainda esta semana, Sr. Presidente, o Governo do Estado por pouco não se desentendeu com o Secretário da Fazenda, que tirou dinheiro da arrecadação para pagar a folha de pessoal. Queria o Governador que aquele dinheiro fosse destinado ao pagamento de acertos de contas, que, segundo informações, seriam rateados, meio a meio, entre os interessados. Concretizando-se essa negociata, o funcionalismo público entraria em greve, haveria tumulto, e o Estado poderia recorrer ao Senhor Fernando Henrique Cardoso para falar da calamidade que poderia estar ocorrendo no Estado de Rondônia, e o Governo simplesmente repassaria mais dinheiro para Rondônia, como tem feito com outros Estados. Porque talvez haja um motivo para os outros Estados receberem recursos e mais recursos. O Estado de Rondônia, se fizesse uma aplicação séria dos recursos, se fosse um governo honesto, sério, não teria necessidade de estar a todo dia batendo às portas do Governo Federal, à cata de recursos para gastar em desvios, e não em obras, como deveria ser feito.

Espero que o Governo Fernando Henrique Cardoso tenha na sua assessoria um serviço de informação que possa acompanhar a administração do Estado de Rondônia, para verificar o que lá ocorre, não permitindo desperdício de dinheiro federal e o beneficiamento de meia dúzia de pessoas corruptas, administradas pelo próprio Governador, em detrimento dos interesses da sociedade daquele Estado. Precisamos de recursos no Estado de Rondônia, mas para melhorar a situação da saúde, da educação e da segurança.

O Governador do Estado, hoje, se dá ao luxo de chegar nos quatro cantos do Estado de Rondônia para dizer que o Senador Amorim e o Deputado Júnior estão aqui impedindo o envio de recursos para o Estado. Imaginem V. Exªs que pedimos recursos no orçamento passado, de dois milhões e pouco, para a BR-421 de Rondônia, para o qual já foi assinado o convênio Governo-DNER. Solicitamos, o Deputado Expedito Júnior e eu, que fosse feito o acompanhamento, por parte do Tribunal de Contas, da licitação. O Governo, no entanto, divulga pelos quatro cantos do meu Estado que atrapalhamos o envio dos recursos. Na verdade, estamos fiscalizando os recursos federais, que é uma das nossas obrigações como Parlamentares representantes de nosso Estado.

Essa atitude se faz ainda mais necessária, porque há uma grande conivência entre o Governo do Estado e a Assembléia Legislativa, inclusive com a participação de seu Presidente em todas essas falcatruas.

O Presidente da Assembléia Legislativa durante a gestão anterior a mantinha com R$1,2 milhão, com sobras de recursos, mas o atual Presidente recebe por volta de R$3,4 milhões por mês, que são em grande parte desviados a tal ponto de, durante esta semana, por falta de pagamento, ter faltado luz, telefone e água para beber, sem citar ainda o fato de o funcionalismo estar, às vezes, com seus salários atrasados e sem ter recebido aumento algum durante esse tempo. Sabemos, no entanto, que a Assembléia Legislativa de Rondônia paga na cidade de Colorado, no interior do Estado, cidade de origem do Presidente da Assembléia, R$450 mil pela assessoria de uma empresa de consultoria de informática que não existe; segundo informações, esse dinheiro vai para o bolso do Presidente da Assembléia Legislativa.

Solicitamos ao Presidente do Tribunal de Contas que fizesse uma fiscalização nas contas da Assembléia Legislativa, mas aquele órgão não teve ainda - talvez - a coragem ou a boa vontade de fazê-la.

Vemos o desperdício do dinheiro público no Estado de Rondônia e não sabemos a quem pedir socorro, a quem recorrer. E o Ministério Público tem recebido denúncias através da imprensa, principalmente pelo jornal O Correio de Rondônia, com as notas fiscais, as de empenho e as de recebimento. Não há autoridade para inibir esse vandalismo que existe no Estado. Fico envergonhado em ver essa situação acontecer lá, sem ter quem tome uma providência.

Peço ao Presidente Fernando Henrique - um cidadão honesto, sério -, que, quando tiver oportunidade, meça o envolvimento que tem o Governo de Rondônia com essa situação.

Se houvesse realmente justiça, aquele Governador já estaria na cadeia, talvez não em Rondônia, porque os recursos que foram mandados, ano passado, para a conclusão da penitenciária daquele Estado, R$1,5 milhão, foram desviados, não se tendo concluído a obra. Hoje os presos de lá ficam presos até em cercados de arame. Fico preocupado, porque se a Justiça decretar a prisão do próprio Governador, não haverá local para prendê-lo.

Espero que isso mude. O Brasil está mudando. E o Presidente Fernando Henrique Cardoso pode averiguar isso através de seu serviço de informações; não pelas autoridades do Partido de Sua Excelência, o PSDB, como era o Vice-Governador de Rondônia, que o próprio Governador demitiu da Secretaria de Saúde para que ele não administrasse os recursos que estavam sendo enviados para aquela Secretaria.

O Presidente Fernando Henrique tem muito o que fazer para ajudar Rondônia, que pede socorro urgente para não ir à falência mais cedo, pela irresponsabilidade de seus governantes.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/1996 - Página 16153