Discurso durante a 26ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA PRESTADA PELO SR. LEON FREJDA SZKLAROWSKY AO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO, NA ACADEMIA MAÇONICA DE LETRAS DO DISTRITO FEDERAL.

Autor
Bernardo Cabral (S/PARTIDO - Sem Partido/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA PRESTADA PELO SR. LEON FREJDA SZKLAROWSKY AO EX-SENADOR NELSON CARNEIRO, NA ACADEMIA MAÇONICA DE LETRAS DO DISTRITO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/1996 - Página 4755
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DE BRASILIA, DISTRITO FEDERAL (DF), AUTORIA, LEON FREJDA SZKLAROWSKY, PROFESSOR, HOMENAGEM, NELSON CARNEIRO, EX SENADOR.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o professor Leon Frejda Szklarowsky, especialista em Direito Tributário, mas sobretudo um homem de letras, meu amigo há muitos anos, prestou uma homenagem ao nosso sempre saudoso Nelson Carneiro e fez-lhe uma homenagem póstuma na Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal.

A peça que o Professor Leon Szklarowsky conseguiu produzir, Sr. Presidente, merece figurar nos Anais desta Casa.

Permito-me fazer a sua leitura.

HOMENAGEM AO ACADÊMICO NELSON CARNEIRO

ORAÇÃO PÓSTUMA.

      O estimado irmão - acadêmico NELSON CARNEIRO partiu para o Oriente Eterno em 6 de fevereiro deste ano, na cidade onde viveu boa parte de sua vida, na cidade rainha do Brasil - o Rio de Janeiro, de ontem, de hoje e de sempre, encravado no mar azul, envolto nas montanhas e engalanada por edifícios - estátuas, que a tornam um monumento da natureza, que às vezes lhe é impiedosa e verte suas lágrimas até esconder seu chão, até lavar suas entranhas e levar seus filhos e chorar pela dor que involuntariamente produz!

      Nelson nasceu na boa terra da Bahia, de Jorge Amado, de Rui Barbosa, de Castro Alves, o poeta da dor e do martírio, do cacau, do céu azul, do mar verde e das praias infindas e lindas, que marcam o homem, que incendeia sua alma e o lança na ventura de um porvir melhor. Na terra da música, da poesia, da mãe menininha, do candomblé, do pai preto velho, da vastidão dos templos e do bom filho que sempre retorna.

      Mas Nelson era um intelectual, um poeta, um político, um homem bom, um homem puro, um buscador de idéias e um pregador das boas causas. E deixou suas origens, porque tinha que lutar, precisava de um lugar onde pudesse fazer brotar a semente, expandir suas idéias e gratificar sua alma sedenta do bem.

      Lembro-me do Nelson, jovem, advogado e político brilhante, na velha e sempre nova Faculdade, que brotou duma pequenina cidade, tornando-se uma incandescente fogueira da espiritual fornalha brasileira.

      Lembro-me do Nelson piedoso, do Nelson fulgurante, do Nelson tribuno, que foi à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, das Arcadas, de Varela, Castro Alves, Rui Barbosa, que te elevaram, Academia gloriosa, às alturas infindas do espírito!

      Lembro-me do Nelson, vibrante, que se punha a falar da lei do divórcio, naquele tempo que nem se podia tocar.

      Lembro-me do Nelson que se pôs a pugnar pela separação do homem e da mulher que nem se podiam falar, quanto mais se amar.

      E eu, no verdor dos meus anos, de estudante de Direito lhe perguntara: Mas, Deputado, o divórcio é bom? É a solução? Será melhor assim?

      E ele me respondera, cabisbaixo, na sua candura: "menino" (eu até vibrei com esse menino, mas menino era mesmo e ainda o sou!), "o divórcio é como remédio amargo e forte. Bom, para quem está doente. O divórcio, não é para mim, que sou feliz, senão para quem é infeliz no casamento e remédio mais não tem!"

      Assim era Nelson Carneiro.

      Só lhes contei uma pequena faceta do Nelson que conhecia, porque presenciara, quando o divórcio era uma bandeira pecaminosa e condenada, no Brasil, é claro.

      Nelson, porém, não parava.

      Não se aquietava.

      Agigantava-se, quando lhe vinha uma idéia na cabeça.

      Lutava até não poder mais

      E Nelson veio p'ra Brasília.

      Veio, como todos os pioneiros vieram.

      Armado apenas de fé e esperança

      da terra que estava para nascer.

      Veio como deputado.

      Veio como cavaleiro andante das grandes idéias

      que um dia veria crescer.

      Veio, como irmão,

      veio como maçom

      que um dia soube ser.

      E assim foi Nelson,

      até o fim de sua fecunda e gloriosa vida.

      Maçom, acadêmico, poeta, sonhador, escritor, político, realizador e construtor, o lapidador da pedra bruta.

      Mas, antes de tudo, o bom homem que permanece entre nós, porque os justos não morrem jamais.

      E, por isso, resolvi dedicar-lhe um poema-prosa, que escrevi, especialmente, para quem continua vivo, entre nós, pelo que fez, pelo que foi e pelo que legou. É o retrato de sua alma gentil e cândida, de sua vida vibrante e caminhada gravada na pedra polida, que jamais se apagará.

      "Viver é lutar.

      Lutar é viver.

      Talvez sonhar.

      Um dia morrer.

      Talvez, renascer.

      Oh, que prazer!

      A natureza é sábia. Dotou o homem da capacidade incomensurável de superar as situações infinitamente adversas. Os Livros Sagrados provam-no, com exemplos que superam as expectativas. Eis aí o grande mistério que o homem é capaz de desvendar. Por que estamos aqui? O que fazemos? Com certeza, o homem tem uma missão a cumprir. Nada existe por acaso. Do contrário, nada teria sentido. Negar alguma coisa é admitir sua existência, porque absurdo é negar o nada.

      Ensinam as Escrituras que o homem é feito à semelhança de Deus.

      Vale a pena lutar e superar as adversidades!

      Viver é lutar.

      Lutar é viver.

      Talvez sonhar.

      Um dia morrer.

      Talvez, renascer.

      Oh, que prazer!

      Quanta coisa boa acontece! Quanta coisa ruim acontece!

      E estamos vivos! Que bom viver. Que bom sentir. Que bom participar de tudo. Que bom respirar, andar, pensar, ver, fazer e, mais que tudo, caminhar sempre para a frente, reto, com extrema precisão, sem se abater, olhando para trás apenas para visualizar quanto chão percorremos; olhando para baixo tão-somente para descobrirmos que, apesar de tudo, estamos ainda em cima e não no fundo do poço, sem esperanças, sem metas, porque temos dentro de nós a eterna flama da fé, nas profundezas de nossa alma, que ilumina, como o sol incandescente, a negritude do céu! E torna a escuridão o amanhecer radiante de luz e vida, com a natureza brotando, os animais saltitando alegremente e o homem lutando, lutando, vencendo e caminhando e realizando seus desejos e marcando sua presença na Terra com seus feitos, qual dádiva dos Céus!

      Que mais queremos? A que mais devemos aspirar?

      Certamente, que o espírito humano se alumie de vez, preparando-se para, finalmente, ingressar na idade de ouro moral e espiritual proclamada pelos iluminados e almejada por todos. Também decifrar, num relampejar, quão suave e doce é a vida, se soubermos lapidá-la com o cinzel da sabedoria, da bondade e da fraternidade!"

      E, assim, foi Nelson,

      até o fim de sua fecunda e gloriosa vida.

      Viveu, morreu e renasceu,

      para todo o sempre!"

      Irmão Acadêmico Leon Frejda Szklarowsky.

      Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal - 14 de março de 1996.

Eis aí, Sr. Presidente, um dos homens que construiu um passado, um homem cuja biografia todos conhecemos, sobretudo eu que tive a honra de conviver com Nelson Carneiro quando menino, praticamente jovem acadêmico e depois, quando aqui cheguei, como Deputado Federal - nessa época S. Exª já era homem consagrado, Mais tarde, no convívio com seus familiares, tive a honra de ter, hoje Deputada Federal, Laura Carneiro como minha estagiária, no meu escritório de advocacia, no Rio de Janeiro e, mais tarde, como minha colega e assistente.

Tudo isso faz com que, nesta hora, relembre através desta oração, que é uma oração-poesia, que não chega a ser um discurso, através da palavra do nosso querido amigo Professor Leon Frejda Szklarowsky, um pouco do Nelson Carneiro maçônico.

Sr. Presidente, quero relembrar, o que certa feita li, que há certo tipo de pessoa humana que não morre, fica encantada. É o caso de Nelson Carneiro. Há no Senado a sua passagem a toda hora, através do que ele deixou, das suas convicções, dos seus projetos.

Nelson Carneiro, na Assembléia Nacional Constituinte, foi um gigante. Posso dar este testemunho.

Por isso, a estas palavras, quero também fazer com que se inscreva nos Anais da Casa um artigo, também de autoria do nosso Professor Leon Frejda Szklarowsky, sob o título "Paladino", dado a lume no Jornal de Brasília, edição de 13/03/96.

Com estas palavras, volto, ainda hoje, a homenagear a memória de Nelson Carneiro. Tenho a certeza de que V. Exª, na Presidência, não só como intelectual, mas como homem de letras, se associa a esta homenagem.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/1996 - Página 4755