Discurso no Senado Federal

NOTA OFICIAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES SOBRE A ESPIONAGEM POLITICA ENVOLVENDO A CHAMADA P2, O SERVIÇO SECRETO DA POLICIA MILITAR, EM BRASILIA.

Autor
José Eduardo Dutra (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: José Eduardo de Barros Dutra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). SEGURANÇA PUBLICA.:
  • NOTA OFICIAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES SOBRE A ESPIONAGEM POLITICA ENVOLVENDO A CHAMADA P2, O SERVIÇO SECRETO DA POLICIA MILITAR, EM BRASILIA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/09/1996 - Página 16377
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • LEITURA, NOTA FISCAL, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPOSIÇÃO, SERVIÇO SECRETO, POLICIA MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF), DEFESA, IDONEIDADE, ATUAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, GOVERNADOR, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), EXTINÇÃO, ESPIONAGEM, APURAÇÃO, RESPONSABILIDADE, APOIO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CAMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL (CLDF).
  • DEFESA, AMPLIAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA MILITAR, AMBITO NACIONAL, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL, APURAÇÃO, SERVIÇO SECRETO, ESTADOS.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (PT-SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu gostaria de tecer alguns comentários sobre o recente episódio de Brasília envolvendo a chamada P2, o Serviço de Investigação da Polícia Militar.

Inicialmente, eu gostaria de ler uma nota oficial do Partido dos Trabalhadores - PT, assinada pelo Presidente Nacional do Partido, José Dirceu.

      "Os acontecimentos desta última semana em Brasília trazem novamente a público a atuação das PMs e de seus serviços secretos, ilegais e inconstitucionais, as chamadas P2, Serviço Reservado da PM.

      O PT sempre se opôs e denunciou não só a tendência - herança da Ditadura Militar - das PMs se constituírem em poder militar paralelo aos governos dos Estados, à autoridade civil e ao Judiciário, como tem exigido uma ampla reforma no sentido de desmilitarizar as PMs, extinguir seus serviços secretos e acabar com a espionagem política.

      Foram essas as exigências do PT nos episódios trágicos de Corumbiara e Eldorado dos Carajás.

      Em entrevistas, notas oficiais e artigos publicados pela imprensa, a Direção do PT e seu Presidente Nacional exigiram o fim da P2 e denunciaram o seu caráter ilegal e inconstitucional.

      Independentemente dos objetivos escusos e mesquinhos, e do uso político que está sendo feito em torno da denúncia de prática de espionagem política contra o serviço reservado da PM de Brasília, chegou a hora de os governos do PT, de todos os governadores e do Governo Federal liquidarem de vez essa aberração policial que viola a lei e a Constituição.

      Essa é exigência mínima de uma república democrática onde imperam a Constituição e o Estado de Direito: extinguir o Serviço Reservado da PM, punir os responsáveis por seus crimes e iniciar um amplo processo de reestruturação e desmilitarização das PMs.

      São Paulo, 23 de setembro de 1996

      José Dirceu, Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores."

Sr. Presidente, Srs. Senadores, essa nota reflete a posição oficial do nosso Partido a respeito desse episódio.

Eu gostaria apenas de acrescentar alguns comentários: primeiro, a nossa absoluta confiança no Governo do Distrito Federal, não só por ser essa a prática do nosso Partido, como já explicitado na nota, mas também pela própria biografia e temperamento democrático do Governador Cristovam Buarque. S. Exª, inclusive, já tomou medidas concretas para apurar e acabar com esse tipo de prática. Desmobilizou, por exemplo, o Serviço de Informações Reservadas da Polícia Militar; determinou ao Secretário de Segurança Pública a elaboração e implantação, no prazo de sete dias, de um planejamento de segurança voltado exclusivamente para a área operacional; e convidou entidades como a OAB-DF, a FENAJ e a Comissão de Direitos Humanos, da Câmara Legislativa, para acompanharem esse planejamento.

Quero também registrar o empenho do Governo do Distrito Federal em ir fundo na apuração das responsabilidades nesses episódios, porque o que diferencia os governos não é a existência ou a inexistência de denúncias de irregularidades, mas a postura que eles adotam frente às denúncias, frente aos fatos que surgem. E este é um fato emblemático que diferencia o Governo do Distrito Federal, por exemplo, do Governo Federal.

Quando a Oposição propôs, na Câmara Distrital, a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar responsabilidades, o Governo e a sua base parlamentar deram todo apoio, assinaram o requerimento de criação da CPI; eles vão participar da CPI, vão trabalhar para que ela não acabe "em pizza" e para que, efetivamente, ela apure, de maneira conseqüente, todos esses episódios.

Ao contrário, por exemplo, do que fez o Governo Federal, que, nos casos dos bancos e Sivam, procurou e conseguiu impedir a criação de CPIs tanto no Senado como na Câmara dos Deputados.

Entendemos que a questão dos serviços secretos das PMs mereceria uma investigação nacional, porque sabemos que isso não é prática apenas da PM do Distrito Federal: acontece nas PMs de todos os Estados. Talvez fosse até interessante considerarmos a proposta apresentada pela Vice-Governadora Arlete Sampaio e pelo Deputado Agnelo Queiroz, do PC do B, de implantar uma CPI, no Congresso Nacional, para investigar esses verdadeiros instrumentos, esses verdadeiros resquícios da ditadura, que confundem inteligência e informação, particularmente na questão operacional - que todo Governo precisa ter -, com bisbilhotice e utilização da invasão da privacidade dos cidadãos não se sabe bem para quê.

Entendemos que seria importante que o Congresso Nacional, aproveitando o episódio de Brasília, se dispusesse a investigar de maneira profunda, possibilitando que se desencadeasse, na sociedade civil brasileira, um amplo movimento para acabar com os serviço secretos das PMs em todos os Estados.

Sabemos que isso é um resquício da ditadura. A História do Brasil inclusive nos ensina que, na célebre reunião do Conselho de Segurança Nacional que decidiu sobre a implantação do AI-5, quando, se não me engano, o Ministro Jarbas Passarinho, ou o próprio Presidente Costa e Silva tentava convencer o Vice-Presidente Pedro Aleixo - que era uma voz solitária contrária à decretação do AI-5 - de que esse Ato era necessário, mas temporário e passageiro, ouviu do Vice-Presidente Pedro Aleixo: "Eu sei e V. Exª sabe que é passageiro e temporário. Agora, quem é que vai explicar isto, depois, para o guarda da esquina?" E nós vemos que esses resquícios da ditadura contribuem para a continuidade de episódios como esse.

Então, gostaríamos de mostrar aqui, em primeiro lugar, a posição oficial do Partido dos Trabalhadores não só com referência a esse episódio de Brasília, mas também à existência dos serviços secretos das PMs em todos os Estados. Queremos manifestar o nosso apoio e a nossa confiança no Governo do Distrito Federal, que vem fazendo por merecê-los em função das atitudes concretas que tomou, e de dizer que esperamos que não só a CPI da Câmara Distrital como também uma possível CPI do Congresso Nacional venham a apurar todos esses fatos - não só o do Distrito Federal, como outros, recentes.

Ontem, por exemplo, a televisão mostrou o nosso Maxwell Smart tupiniquim, do Paraná, que se entregou de maneira ridícula, o que demonstra que episódios desse tipo acontecem em todos os Estados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/09/1996 - Página 16377