Discurso no Senado Federal

PROJETO AGROINDUSTRIAL DA EMPRESA FRUIT-RON - INDUSTRIA, COMERCIO E TRANSFORMAÇÃO DE FRUTAS DE RONDONIA.

Autor
Odacir Soares (PFL - Partido da Frente Liberal/RO)
Nome completo: Odacir Soares Rodrigues
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • PROJETO AGROINDUSTRIAL DA EMPRESA FRUIT-RON - INDUSTRIA, COMERCIO E TRANSFORMAÇÃO DE FRUTAS DE RONDONIA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/1996 - Página 16912
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, APOIO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE RONDONIA (RO), PROJETO, EMPRESA AGROINDUSTRIAL, TRANSFORMAÇÃO, FRUTA, SETOR, FRUTICULTURA, IMPEDIMENTO, EXODO RURAL, REFORÇO, ECONOMIA, PEQUENO PRODUTOR RURAL, REGIÃO.
  • SOLICITAÇÃO, FLORA VALADARES, PRESIDENTE, BANCO DA AMAZONIA S/A (BASA), MANUTENÇÃO, APOIO, EMPRESA AGROINDUSTRIAL, TRANSFORMAÇÃO, FRUTA, PRODUTOR RURAL, FRUTICULTURA, ESTADO DE RONDONIA (RO).

           O SR. ODACIR SOARES (PFL-RO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cumpro hoje com indizível alegria, a grata tarefa de trazer a esta Casa, informações sobre o projeto agroindustrial da empresa FRUIT-RON - Indústria, Comércio e Transformação de Frutas de Rondônia.

           A FRUIT-RON está localizada no Distrito Industrial do Município de Ji-Paraná, o mais populoso do Estado de Rondônia. Tem acesso por via rodoviária com o Centro-Sul, pela Rodovia BR-364, que liga Porto Velho/Ji-Paraná/Cuiabá. Conta com conexão diária, via aérea, com o Centro-Sul, através de vôos regulares da TAM.

           A FRUIT-RON em cooperação com o Governo do Estado de Rondônia (Secretaria de Estado da Agricultura, EMATER) e com o apoio financeiro do Banco da Amazônia S.A., está estimulando fortemente o setor estadual da fruticultura, com o plantio de extensas áreas de acerola, abacaxi, mamão papaya, maracujá e coco-da- bahia.

           A área agrícola do projeto fruticultura abrange os municípios de Theobroma, Jaru, Urupá, Ouro Preto d'Oeste, Governador Jorge Teixeira, Ji-Paraná, Cacoal e Presidente Médici. A EMATER informa que o projeto abrange um total de 790 propriedades cadastradas e assistidas. A idade atual das plantações é de no mínimo dois anos, já em fase produtiva.

           A mais extensa área de plantio é o de acerola, com 563 hectares; o mamão papaya, com 401 hectares; o abacaxi com 360 hectares e o maracujá, com 98 hectares. Além dessas áreas existe, na abrangência do projeto fruticultura, um plantio de 2.612 hectares de coco-da-bahia, destacando-se como o maior plantador o município de Ouro Preto d'Oeste,com 1.630 hectares.

           O produtores rurais do projeto fruticultura foram financiados pelo Banco da Amazônia, via FNO Especial, num total de 536 produtores; o Banco do Estado de Rondônia-BERON, financiou com recursos do PLANAFLORO, 195 produtores; e 59 produtores que bancaram os custos com recursos próprios.

           Cada produtor é financiado em um alqueire (2,42 hectares) de fruticultura, com um investimento de R$ 3.400,00 correspondendo R$ 2.000,00 para a aquisição de mudas certificadas das espécies, e R$ 1.400,00 para a infra-estrutura.

           O quadro das receitas brutas para cada alqueire (2,42 hectares) está desagregado em : acerola, produzindo 10.000 quilos de acerola verde, comercializadas a R$ 0,20/quilo, R$2.000,00; 6.000 quilos de acerola madura, a R$ 0,30/quilo, R$1.800,00; abacaxi, com 6.000 quilos, a R$ 0,20 resulta R$1.200,00 e a produção de coco-da-bahia (em 100 pés) uma produção de 8.000 frutos a R$ 0,15 com R$1.200,00. O somatório dessas receitas brutas atinge R$6.200,00 por alqueire, ou R$ 2.562,00 por hectare.

           Ressalte-se, Sr. Presidente, que os maiores custos da fruticultura são da mão-de-obra familiar. Este é um dos méritos indiscutíveis do projeto, que é o de ter sido desenvolvido para atingir o público alvo dos pequenos produtores, dar utilização à força de trabalho do conjunto familiar, propiciar novas fontes de ingresso e contribuir para evitar o êxodo rural, que assola outros Estados e já aflige Rondônia. 

           A criação dessa nova riqueza agrícola para o Estado de Rondônia, foi possível pela confiança que os produtores inspiraram na Empresa FRUIT-RON, que é originária do Paraná, pelos estímulos concedidos pelo Governo do Estado de Rondônia, tendo exercido uma forte determinação no Grupo, o anúncio da chegada da energia elétrica da Usina Hidroelétrica de Samuel, ao interior e, em particular, a Ji-Paraná.

           Na verdade, Sr. Presidente, sou testemunha de quantas esperanças e quantas novas iniciativas de micro, médias e grandes empresas, estão sendo tomadas com a chegada do "linhão" da UHE de Samuel ao nosso interior. É quase certo que hoje a capacidade geradora da UHE de Samuel já é insuficiente para atender a demanda reprimida por tantos anos.

           O importante é que a iniciativa privada de Rondônia não está somente à espera do que o Governo pode ou não pode fazer. No setor de geração de energia, um sem número de pequenas unidades geradoras estão sendo concluídas. É o caso da Usina do Grupo Cassol, do Grupo Eletro Goes em Vilhena.

           Combinando a capacidade de geração de energia, com a capacidade da produção do setor agropecuário de Rondônia, tenho não somente a esperança, mas a firme convicção de que dentro em pouco o nosso Estado estará incorporando maiores ganhos para o produtor rural, através da verticalização da produção, e começando uma nova etapa, na economia de Rondônia, que é a agroindustrialização.

           O empreendimento industrial da FRUIT-RON tem uma sólida base e conta com possibilidades futuras de ampliações. O terreno industrial é de 24.000 metros quadrados; a área construída, conta com um prédio industrial com 1.800 metros quadrados de área livre; três casas (administração, refeitório, vestiário) com 563 metros quadrados. Conta, ainda, com uma balança rodoviária com capacidade para 60 toneladas.

           Os detalhes técnicos do projeto industrial da FRUIT-RON: suprimento de água de poço artesiano próprio; câmaras frigoríficas com capacidade de 3.174 metros cúbicos, a uma temperatura de -25°C; o túnel de congelamento, com uma capacidade de 167 metros cúbicos, a uma temperatura de -40°C. Todo o equipamento é da conceituada marca "Madel". A unidade já se encontra em operação.

           As características da linha de produção, tem uma capacidade de três toneladas/hora de matéria prima (acerola, abacaxi, goiaba, mamão papaya, maracujá). O equipamento é "SIMA", de Pouso Alegre, Minas Gerais, totalmente em aço inoxidável, que permite a produção de suco integral.

           O equipamento deverá iniciar a produção em 1996. O concentrador de sucos está programado para 1997. A FRUIT-RON conta com laboratório para análises físico-químicas no local. É feito o monitoramento e análises microbiológicas a cargo da empresa "Controlbio" de São Paulo.

           Desde junho de 1996 a FRUIT-RON começou a receber e adquirir a produção já existente de acerola e de maracujá. O Projeto de fruticultura de Rondônia é uma realidade, dentre tantas adversidades ele começa a figurar como uma possibilidade real para a melhoria da fonte de ingresso dos produtores.

           Em contrapartida a FRUIT-RON conta com instalações e equipamentos modernos, adequados para a industrialização e comercialização de seus produtos nos mercados mais exigentes do mundo. Isto é possível por ter asssegurado a matéria prima, produzida entre centenas de pequenos produtores de diferentes municípios rondonienses.

           A FRUIT-RON, desde que continue a merecer o apoio do Governo do Estado de Rondônia e do agente financeiro Banco da Amazônia, deverá iniciar a 2ª fase de seu projeto, incentivando contratualmente novas áreas de plantio, bem como com a introdução de novas espécies frutíferas, como por exemplo, o camu-camu, a pitanga, o mangostão, que vem sendo objeto de estudos de mercado e produção agrícola, de parte da FRUIT-RON.

           Nesta futura fase a FRUIT-RON não se limitará a produção de polpas. Desenvolverá a verticalização de seus produtos, com a produção de sucos prontos para o consumo, sucos concentrados, doces e geléias, buscando desta forma projetar-se em diversos segmentos, tanto no mercado interno como no externo.

           Mas, Sr. Presidente, nem tudo na análise do projeto FRUIT-RON são resultados positivos e perspectivas para um futuro promissor, tanto para a FRUIT-RON, como para os seus produtores associados.

           Os atrasos verificados na liberação dos recursos financiados pelo BASA, desde aproximadamente dois anos (o projeto FRUIT-RON é de agosto de 1994) até o ano em curso, não permitiu a aquisição de acerola da safra 1995/96, correspondendo a 1.200 toneladas de acerola e 400 toneladas de maracujá, com um volume de recursos de R$1.400.000,00. O não ingresso dessa receita no empreendimento frustrou os investimentos que resultariam desta primeira safra. Este faturamento seria destinado ao suporte de aquisição das novas safras para as colheitas do ano agrícola 1996/97.

           O que se verificou no campo, Sr. Presidente, foi a perda total da safra, causando prejuízos irrecuperáveis tanto para a FRUIT-RON como para os agricultores, já que os mesmos tinham parcelas vencendo dos seus financiamentos. Este fato, à margem das perdas financeiras, ocasionou uma perda muito maior, que é a perda de credibilidade do empreendimento industrial.

           A empresa para contornar a situação, teve que se valer de todos os recursos de que dispunham. Teve que partir para um permanente "corpo a corpo" com os produtores.Tive oportunidade de assistir uma assembléia de produtores participantes do projeto fruticultura, com dirigentes da FRUIT-RON, reunidos na Câmara Municipal de Rolim de Moura. Foi edificante verificar a clareza das informações passadas aos agricultores, e, em troca, de receberem, até com certa rudeza, as críticas, os ressentimentos do momento difícil que vivenciavam os produtores com as perdas na produção.

           O papel desempenhado pelas Associações dos produtores, com a EMATER e representantes do Banco da Amazônia em conjunto com os gerentes da FRUIT-RON na discussão do problema foi marcante. Muita sinceridade, muita correção de parte à parte. Mas estes procedimentos não fariam reverter a situação das perdas da produção, das perdas das receitas. E o que é pior, a perda parcial da credibilidade do empreendimento.

           Pudemos constatar os esforços feitos pela empresa em construir a câmara fria e o túnel de congelamento para receber última colheita, originada da florada de acerola da safra 1996. Foi feito no devido tempo e iniciando as primeiras negociações com futuros clientes.

           A FRUIT-RON trouxe à Ji-Paraná técnicos da CAJUBA, de Nova Soure, Bahia, para conhecerem o processo produtivo da fruticultura rondoniense, e em particular, da cultura da acerola. Estes contatos resultaram no acerto da aquisição pela CAJUBA de 300 a 400 toneladas de acerola "in natura" congelada, o que resultaria num faturamento inicial de R$260.000,00. Entretanto entraves burocráticos do Banco da Amazônia não permitiram o repasse dos recursos para a aquisição das caixas plásticas para a coleta do produto em tempo hábil.

           É preciso que os agentes financeiros, os produtores, os agentes de comercialização tenham em conta que a fruticultura envolve práticas que devem ser feitas num tempo muito curto, e naquele exato momento. Não admite retardamentos e procedimentos de entraves burocráticos. Não admite a falta de cuidado e de responsabilidade de parte dos produtores e dos industriais no cumprimento das cláusulas pactuadas.

           O ciclo de produção da acerola é de 18 dias , a contar do botão floral até o fruto em ponto de colheita verde e de 21 dias até o ponto de colheita madura (vermelha). É preciso ter em conta ainda a alta perecibilidade do fruto (24 horas); o transporte dos frutos tem que ser feito em acondicionamento em caixas plásticas, que impede o amassamento e perda dos frutos. O resultado do citado retardamento na concessão do "socorro" financeiro solicitado ao Banco da Amazônia, foi o cancelamento da venda da produção das 300 a 400 toneladas de acerola a CAJUBA, que prejudicou financeiramente a FRUIT-RON, e novamente resultou em perdas de imagem junto a futuros clientes.

           Diante do exposto, que trazemos a esta Casa, para repetir o quanto é difícil produzir, o quanto é difícil ser agricultor, vimos solicitar à Presidência do Banco da Amazônia, na pessoa da Dra. Flora Valadares, coincidentemente uma rondoniense, que continue a apoiar , como já apoiou, o empreendimento da FRUIT-RON e dos produtores de fruticultura de Rondônia.

           A FRUIT-RON está necessitando com urgência a liberação de recursos da ordem de R$ 323.000,00 de capital de giro para a aquisição da safra 1996/97 que se está iniciando (já foram adquiridas as primeiras 130 toneladas de acerola).

           É necessário notadamente nesta fase de consolidação do projeto, um decidido apoio financeiro, sem entraves burocráticos, sem tardanças. Para que possamos evitar mais um fracasso, mais uma frustração, que temos a certeza não se coadunam com a linha de trabalho do Banco da Amazônia, e muito menos com os procedimentos, sempre muito corretos, da Dra. Flora Valadares.

           Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/1996 - Página 16912