Discurso no Senado Federal

ANALISE DO PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DOS PARTIDOS POLITICOS POR MEIO DA OPINIÃO PUBLICA. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO ARTIGO, DE SUA AUTORIA, INTITULADO 'O PMDB MORREU. VIVA O PMDB', PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NA SEMANA PASSADA.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • ANALISE DO PROCESSO DE RECONSTRUÇÃO DOS PARTIDOS POLITICOS POR MEIO DA OPINIÃO PUBLICA. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO ARTIGO, DE SUA AUTORIA, INTITULADO 'O PMDB MORREU. VIVA O PMDB', PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO, NA SEMANA PASSADA.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/1996 - Página 17015
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, ANALISE, PROCESSO, RECONSTRUÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RETOMADA, LUTA, INTERESSE, POVO.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a minha intenção é colaborar para a idéia geral da reconstrução dos Partidos, fazendo uma análise do processo de reconstrução por meio da opinião pública, da opinião do eleitor.

Para isso, quero reproduzir, nesta sessão, um artigo que escrevi e que a Folha de S.Paulo publicou na semana passada, com o seguinte título:

      "O PMDB morreu. Viva o PMDB

      Nesse 3 de outubro, sem glórias, lamentos ou saudades, morreu o PMDB. Distante de suas origens, expatriado de seus compromissos, apartado dos que lhe deram vida ou a própria vida, morreu o PMDB."

      Decrépito, decompôs-se ao calor da realidade nacional. Cada voto, digitado ou rabiscado, foi como um raio de sol abrasando e consumindo o velho Partido.

      "Na verdade, uma morte anunciada. Tudo dentro dos conformes. Do previsto, pesado e medido. De acordo com Constâncio: "Segundo fizeres, assim te farão".

      E o que fizemos?"Renegamos os nossos princípios. Pisoteamos, como apóstatas furiosos, "tudo o que construímos com sacrifícios, dores, renúncias e bravura. Atiramos à fogueira o último resquício de vergonha. De nossas bandeiras de ontem, não restam farrapos. Do nosso programa, vagas e, ainda assim, retóricas lembranças com que alguns insistem em brindar o público em perorações de ocasião. Nada mais entediante. E falso.

      E o que nos fizeram? O justo, o combinado. Se apostatamos, se boa parte do PMDB decidiu-se pelas facilidades" - que são tantas e tão generosas - "da aliança neoliberal, abjurando os compromissos de sangue com os trabalhadores da cidade e do campo, com os pequenos e médios empresários nacionais, com os estudantes e a juventude, com os marginalizados e excluídos disso que chamam (supremo cinismo!) "economia de mercado", se traímos todos eles, o que esperar em retribuição? Fizemos o malfeito. Fizeram o bem-feito.

      Fustigados em quase todas as capitais e grandes cidades, acuados cada vez mais para os grotões, somos hoje a contraface da Arena-PDS de ontem. Com uma diferença; eles reciclaram-se, transformaram-se em PFL, PPB, PTB, PDT.

      E nós? Uma triste caricatura do que fomos..." O personagem de Thomas Mann em Morte em Veneza. Amanhece, escorre a maquilagem e já não somos nós nem uma coisa e nem outra.

      Eles reciclaram-se e, da simbiose de apelos, gestos e trejeitos tipicamente fascistas com uma modernidade canalha nascem os arremedos franquistas, vestidos com saias da "dama de ferro". Com alguma pitada sociológica, é verdade.

      Reciclam-se e malbarateiam as esperanças populares com acenos de empregos, de moradias, de saneamento, de cingapuras, de leve-leite, de creches, de postos de saúde, de saneamento de comida - oh! Deus -, tudo, exatamente tudo o que o catecismo neoliberal (que eles praticam e rezam enquanto não estão no palanque) tem como heresia.

      Nessa competição de vantagens, nós também entramos. Gongóricos, retóricos, empostados desfilamos pelos palanques do Brasil afora a mesma demagogia. E foram raros, de contar nos dedos das mãos, os que, do PMDB, foram às origens do desemprego, das falências, do sucateamento do Estado (et pour cause, da saúde, da educação, do saneamento e mais).

      Envelhecido e envilecido, o PMDB não soube (ou não quis?) contrapor-se à onda conservadora, quando não, em alianças oportunistas e repelentes, aderiu gostosamente à maré montante.

      E, assim, o PMDB morreu.

      Pois que viva o PMDB! Porque não existe outro caminho. O PT afinou o grito. O lobo bravio, o guarapuava da política brasileira uiva manso e desliza grácil no oportunismo do discurso eleitoral. Do não ao sim; e do sim ao sim, senhor!

      Pois que também viva o PT! Porque não existe outro caminho. Já que o PSDB... ora, o PSDB! E do PDT resta tão-somente a dignidade de Leonel Brizola. Ao velho combatente o destino reserva ver o seu partido esfrangalhar-se e descaracterizar-se, tomado de assalto por ex-validos do regime militar, por lideranças brotadas e cevadas às sombras da ditadura e que hoje se valem do marketing, da mídia, do bom aprendizado fascista para hipnotizar e coagir os eleitores; quando não se dizem inspirados pelo Espírito Santo.

      Pois, então, que viva o PMDB e que viva o PT.

      Um novo PMDB, um novo PT. De volta às origens. De volta aos compromissos que nos deram a vida. De volta à casa e aos sonhos dos trabalhadores. De volta às pequenas e médias empresas nacionais. Aos escritórios, aos bancos, às lojas comerciais. Às escolas e igrejas. Aos marginalizados e excluídos. De volta aos produtores e trabalhadores rurais. De volta, enfim, à essência e razão de ser da nação.

      De volta, também, ao conceito de nação, de brasilidade, de patriotismo, de nacionalismo. Sem o ranço xenófobo dos que nunca apreenderam tais conceitos e só os usaram e, vez em quando, os sacam em defesa de cartórios, corporações e privilégios mesquinhos.

      O PMDB morreu, viva o PMDB!

      Quem se habilita à dura, mas viável, tarefa de reconstruí-lo? De suas pedras espalhadas temos ainda rochas firmes para refazer suas fundações. Nos sonhos e esperanças estilhaçadas dos brasileiros buscaremos o alento, a força e a inspiração. Esse mesmo povo, que um dia nos deu as armas e o ânimo para a luta, não há de negar o mesmo gesto. Basta uma coisa: que sejamos, de fato, os seus soldados. Por mais longa que se anuncie a marcha da retomada, há ainda em nós força suficiente para empreendê-la.

      Portanto, à estrada.

Sr. Presidente, é uma contribuição para a discussão sobre a reconstrução dos Partidos; não mais de cima para baixo, através de leis e discussões estéreis, mas a perspectiva da adaptação dos Partidos aos interesses dos brasileiros.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/1996 - Página 17015