Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PRESTADA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO AO GEOGRAFO E PROFESSOR MILTON SANTOS.

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PRESTADA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO AO GEOGRAFO E PROFESSOR MILTON SANTOS.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/1996 - Página 17042
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, MILTON SANTOS, PROFESSOR, GEOGRAFO, ESTADO DA BAHIA (BA), INICIATIVA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP).

O SR. ROBERTO FREIRE (PPS-PE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de hoje até quarta-feira, a Universidade de São Paulo presta uma emocionada e ao mesmo tempo instigante homenagem à cultura e ao humanismo brasileiros. Recai sobre a figura do professor Milton Santos, 70 anos, baiano por nascimento e formação e um dos mais importantes geógrafos de toda a história brasileira, largamente conhecido em todo o mundo.

O seminário intitulado O Mundo do Cidadão-um Cidadão no Mundo dá a exata dimensão da homenagem, pois reunirá, além de brasileiros, intelectuais de renome da França, Estados Unidos, Canadá, México, Venezuela e Argentina.

Milton Santos, um brasileiro que ganhou os meios intelectuais de todos os continentes, tem como principal característica ser cosmopolita sem perder a identidade com o seu povo, o seu país. Consegue ao mesmo tempo pensar as grandes transformações do mundo, sem se descomprometer com o simples cidadão, com o ideal de justiça, com o princípio da solidariedade entre as pessoas.

Citemos um comentário de Santos em matéria publicada domingo na Folha de S. Paulo, no caderno "Mais", acerca do processo de globalização. Diz ele : "a vontade dessa globalização perversa a que estamos assistindo é reduzir o papel do cidadão. É transformar todo mundo em consumidor, usuário e, se possível, em coisa, para mais facilmente se inclinar diante de soluções anti-humanas. Essa globalização- continua o geógrafo- por enquanto não leva em conta o homem. De modo que esse espaço do cidadão tem que ser recriado..... Não é o mundo que vai criar o cidadão. O chamado mundo quer acabar com as cidadanias, mas cada nação e cada espaço e cada cidade é que vão ter a força de recriar esse cidadão- que vai contribuir, creio eu, mais tarde, para sugerir uma outra globalização".

O espírito irrequieto e brilhante de Milton Santos nos é útil também para entender fenômenos no campo da política. Vem dele o alerta, por exemplo, de que perigosamente os partidos , além de contarem com poucos intelectuais, não querem ser mais políticos mas, sim , meras legendas eleitorais. 

Em relação às últimas eleições para prefeito, a abordagem de Santos , também veiculada pela Folha de São Paulo, deve ser considerada. Afirma ele: "as eleições se tornaram um ato de consumo eleitoral. Os candidatos são vendidos como produtos, e os eleitores processam a campanha eleitoral como um convite a consumir o seu próprio voto - e é o que fazem -, e isto está ligado ao tipo de regime que temos no Brasil, a democracia de mercado".

Ou seja, Santos, do alto de sua sabedoria, clama por aquilo que percebemos como candidatos nas últimas eleições: mais debate e mais política. Em outras palavras, menos administrativismo e melhorismo que contribuem somente para aprofundar a exclusão e a injustiça no interior dos espaços urbanos.

Aproveitamos dessa tribuna para render também as nossas homenagens e também as do Partido Popular Socialista a esse grande brasileiro.

Santos nos dá uma certeza: enquanto houver inteligência a esperança por um Brasil e um mundo melhores nunca se dissipará.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/1996 - Página 17042