Pronunciamento de Roberto Requião em 23/10/1996
Discurso no Senado Federal
REITERANDO A SOLICITAÇÃO DE ESCLARECIMENTOS DO GOVERNADOR DO PARANA A COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SOBRE A SITUAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO DO ESTADO E SOBRE O ACORDO FIRMADO COM A INDUSTRIA AUTOMOTIVA RENAULT E O PRE-CONTRATO COM A CHRYSLER. COMENTANDO ARTIGOS PUBLICADOS NOS PRINCIPAIS JORNAIS DE CIRCULAÇÃO NACIONAL ACERCA DA REUNIÃO REALIZADA PELA BANCADA DO PMDB, PARA DISCUTIR A INDICAÇÃO DO PROXIMO PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
SENADO.
POLITICA PARTIDARIA.:
- REITERANDO A SOLICITAÇÃO DE ESCLARECIMENTOS DO GOVERNADOR DO PARANA A COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SOBRE A SITUAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO DO ESTADO E SOBRE O ACORDO FIRMADO COM A INDUSTRIA AUTOMOTIVA RENAULT E O PRE-CONTRATO COM A CHRYSLER. COMENTANDO ARTIGOS PUBLICADOS NOS PRINCIPAIS JORNAIS DE CIRCULAÇÃO NACIONAL ACERCA DA REUNIÃO REALIZADA PELA BANCADA DO PMDB, PARA DISCUTIR A INDICAÇÃO DO PROXIMO PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/10/1996 - Página 17465
- Assunto
- Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL. SENADO. POLITICA PARTIDARIA.
- Indexação
-
- CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), ATRASO, ESCLARECIMENTOS, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SITUAÇÃO, FOLHA DE PAGAMENTO, SONEGAÇÃO, INFORMAÇÃO, ACORDO, EMPRESA ESTRANGEIRA, INDUSTRIA AUTOMOTIVA.
- CRITICA, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, NEGOCIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), VOTO FAVORAVEL, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TROCA, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, PROTESTO, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.
- PROXIMIDADE, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, DIRETORIO REGIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DEBATE, REELEIÇÃO.
- LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, CARLOS HEITOR CONY, JORNALISTA, ACUSAÇÃO, FALTA, ETICA, PROPOSTA, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, na verdade são duas comunicações. Na primeira delas, quero reiterar o fato de que o Governo do Estado do Paraná, até hoje, não prestou informações à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, onde dois projetos do seu interesse tramitam, sobre a situação da sua folha de pagamento e, mais ainda, sobre o acordo que fez com a indústria Renault de automóveis e sobre o pré-contrato que tem com a indústria Chrysler.
O Governo do Estado tem, reiteradamente, na imprensa do Paraná, considerado esses acordos como segredos de Estado. Não existe segredo de Estado quando está envolvido dinheiro público e não é possível que o Governador negue a mim e ao Senador Osmar Dias, Senadores pelo Paraná, as informações que estamos pedindo para fazermos tramitar dois projetos de interesse do Estado.
Se o Governador não mostra os acordos é porque alguma coisa não pode ser mostrada. Se alguma coisa não pode ser mostrada é porque é ilegal ou fere os interesses do Paraná e dos paranaenses.
A segunda comunicação, Sr. Presidente, diz respeito a uma reunião realizada pela Bancada do PMDB, na qual fechamos questão em torno da prática antiga e institucionalizada no Senado de o PMDB indicar o Presidente da próxima Comissão Diretora.
A par da posição tomada por 23 Senadores, vejo na imprensa uma orquestração diversa. O jornal Folha de S. Paulo de hoje, por exemplo, numa matéria da jornalista Marta Salomon, da Sucursal de Brasília, diz o seguinte:
"O PMDB - maior partido da base política do governo - não abre mão das presidências da Câmara e do Senado e exige o apoio do governo às candidaturas em troca dos votos dos peemedebistas em favor da reeleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
A proposta de barganha foi feita pelo líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PA): "O presidente quer a reeleição e nós queremos as duas presidências. Se o partido acordar com o governo ser favorável à reeleição, o PMDB cumpre."
Ela continua dizendo que o jogo esbarra no PFL e faz algumas outras considerações.
Espero que o Líder da Bancada do PMDB no Senado desminta a afirmação, não só publicada no jornal Folha de S. Paulo mas reproduzida mais ou menos da mesma forma em todos os grandes jornais diários do País.
De minha parte, quero assegurar que o meu voto não será negociado. E, de resto, numa conversa hoje pela manhã com o Presidente do Partido, Paes de Andrade, tive a boa notícia de que o Presidente Nacional do PMDB está contactando os presidentes regionais do Partido para a realização de um congresso partidário, ocasião em que as bases e os delegados dirão com clareza o que pensam da reeleição.
A reeleição não pode ser objeto de negociação e o Presidente do Senado deve ser um Senador que tenha independência e valorize o Parlamento. Tenho certeza de que, como o meu, o voto da maioria absoluta dos Senadores não está num balcão de negócios.
O Sr. Pedro Simon - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. PRESIDENTE (Levy Dias) - Senador Pedro Simon, nesta fase, de comunicação inadiável, não são permitidos apartes, mas a Mesa pode inscrever V. Exª, porque teremos tempo nos 15 minutos de prorrogação da Hora do Expediente.
O SR. ROBERTO REQUIÃO - Tenho certeza de que o nosso Líder, Senador Jader Barbalho, vai desmentir a jornalista da Folha de S. Paulo, que coloca a declaração de S. Exª entre aspas. É importante que ele faça isso, para a imagem da sua carreira política e para a construção do próprio currículo da sua vida, fundamentalmente da sua vida pública.
A mesma Folha de S. Paulo tem um artigo interessantíssimo, do antigo guerreiro da democracia, Carlos Heitor Cony. O título, Sr. Presidente, é Ossos do ofício, e espero trazê-lo ao conhecimento deste Plenário de forma rápida, se V. Exª me permitir.
O artigo é o seguinte:
"Ossos do ofício
Carlos Heitor Cony
Rio de Janeiro - Nem me dei ao trabalho de pesquisar as pesquisas recentemente divulgadas sobre as possibilidades da reeleição no Congresso. Tenho insistido, em algumas crônicas, sobre o antagonismo entre a ética e a política, por sinal, chovendo no molhado - uma forma de chuva que particularmente me agrada, pois só prejudico a quem já está prejudicado.
A política é amoral mesmo, e os que a exercem são às vezes, cumulativamente, imorais também. A emenda da reeleição para beneficiar o atual presidente consegue ser ao mesmo tempo amoral e imoral - além de custar caro aos financiadores voluntários ou não da campanha.
Para livrar a cara de FHC e da atual safra de políticos, lembro que o negócio vem de longe. Os profetas do Velho Testamento, que hoje são levados a sério, no tempo deles eram desprezados, vozes que clamavam no deserto. João Batista foi decapitado, Jeremias sofreu o diabo, Jó perdeu tudo o que tinha, Daniel foi jogado na cova dos leões - tudo isso fazia parte do ofício. No fundo, eles sabiam que estavam do lado certo ao condenar os apetites do poder - e isso lhes bastava.
Não estou insinuando qualquer aproximação entre os profetas e a minha modesta indignação contra o amoralismo político no tempo que me coube na face da Terra. Olho assombrado a cara presidencial, poço de tanta mentira, de tanto esforço para articular sobre o nada, topando qualquer vexame desde que saia ganhando um novo mandato.
Em escala descendente, a corriola quer ganhar proporcionalmente, dividindo o butim do assalto à mais simples das regras morais que deve presidir a vida humana.
Daí a inutilidade das pesquisas sobre as intenções do Congresso. Se o Governo tem recursos para comprar, os congressistas, em sua maioria, têm o que vender. Os latinos assim definiam a transação: "asinus asinum fricat".
A Gazeta Mercantil publica hoje a informação de que o Governo da República, o Presidente Fernando Henrique, já montou um pequeno comitê de negociação, e o processo da corrupção do Congresso Nacional avança de forma clara, limpa e despudorada.
Sr. Presidente, só quero reafirmar que tenho certeza de que a maioria absoluta dos votos do Senado da República não estão à venda, e o meu decididamente não está nem nesse momento, nem em nenhum outro. Os compromissos que tenho são com os eleitores do Paraná que acreditaram em mim e que não me mandaram aqui para negociar Liderança, Presidência do Senado ou qualquer outro cargo, o que desmoraliza o mandato que me concederam.
Muito obrigado, Sr. Presidente.