Discurso no Senado Federal

RELEVANCIA PARA O PROCESSO DE PAZ DA VISITA DO PRESIDENTE FRANCES, SR. JACQUES CHIRAC, AO ORIENTE MEDIO.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • RELEVANCIA PARA O PROCESSO DE PAZ DA VISITA DO PRESIDENTE FRANCES, SR. JACQUES CHIRAC, AO ORIENTE MEDIO.
Publicação
Publicação no DSF de 30/10/1996 - Página 17767
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APOIO, JACQUES CHIRAC, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, VISITA OFICIAL, ORIENTE MEDIO, DEFESA, PAZ, EXISTENCIA, ESTADO, ISRAEL, PALESTINA.
  • CRITICA, POLITICA EXTERNA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), LIMITAÇÃO, ATUAÇÃO, PAIS, POLITICA INTERNACIONAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB-RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna para destacar a importância do trabalho, da ação, da visita do Presidente Jacques Chirac, da França, ao Oriente Médio.

Estranhei quando o presidente americano e os Estados Unidos solicitaram à União Européia que ficassem fora da questão do Oriente Médio. Não consegui entender a razão. Parece-me que um maior número de países poderia ajudar a encontrar uma fórmula de entendimento para aquele que é um drama cruel da realidade mundial de hoje.

Gostei muito de ver o Presidente Jacques Chirac não aceitar a determinação, ou a orientação, ou o conselho americano e, por conta própria, ir aos países do Oriente Médio. Pelo que acompanhei na Imprensa, os posicionamentos de S. Exª nos vários países foi da maior competência. Teve S. Exª a orientação de estimular a busca da paz, do entendimento e de uma fórmula por meio da qual se pudesse chegar a um princípio que, pelo menos, desse o descanso de aliviar as tensões lá existentes. Pelo que sei, todos saíram satisfeitos.

Defendeu S. Exª, como não poderia deixar de fazê-lo, a importância do Estado de Israel, da manutenção e das condições de uma vida pacífica, para que as conclusões da ONU com relação àquele Estado sejam respeitadas. Conseqüentemente, criticou as fórmulas daqueles que, por quaisquer meios, estejam tentando evitar a existência do Estado de Israel.

Por outro lado, defendeu S. Exª a necessidade da criação do Estado Palestino. Já houve um avanço importante, o reconhecimento de uma entidade com assento inclusive nas organizações internacionais, que é o Estado palestino. Dessa forma, que a Palestina se transforme realmente num Estado com território, numa Nação com vida definitiva.

O Presidente Chirac reconheceu a crueldade que seria o desaparecimento do Líbano, a importância da saída dos invasores que lá estão, e a necessidade de se encontrar uma destinação tranqüila e definitiva para as pessoas que lá moram há tanto tempo, notadamente no sul do Líbano, e que, por rivalidades entre libaneses e israelenses, podem terminar pagando a conta.

Salientou S. Exª a importância das conclusões pacíficas entre Iraque e Israel, entre Síria e Israel, entre Egito e Israel, para que se chegue realmente a uma solução definitiva.

O Presidente Chirac foi muito inteligente e competente em todos os pronunciamentos. Foi imparcial e demonstrou realmente a sinceridade de quem quer encontrar uma solução.

Creio que foi mais proveitosa a visita e maior o conteúdo do diálogo do Presidente francês com vários países e diversas nacionalidades do Oriente Médio do que as decisões do Presidente americano que, todos sabemos, têm cunho eleitoral, pois são tomadas em época de eleição e provenientes da força e o poder que da colonização israelita naquele país, mormente pela influência que exerce nas eleições pelos meios de comunicação sob seu poder. Por isso, volto a repetir que a ação e o trabalho do Presidente Chirac foram serenos naquela região de conflitos. Até compreendi a agitação que houve, em determinado momento, entre a segurança de Israel e este líder francês. Afinal de contas, S. Exª estava em territórios onde ambos os povos convivem. Por outro lado, é natural que quisesse mais liberdade de manifestação e locomoção. Também é natural que os palestinos quisessem uma convivência mais próxima com S. Exª. Precisa-se, inclusive, compreender a preocupação dos israelitas que, há pouco, acabaram de ver seu Primeiro-Ministro morrer, estupidamente, em um atentado numa situação semelhante. Não se queria que acontecesse algo sério com o Presidente francês em território de Israel. Graças a Deus, nada aconteceu. O exemplo dado pelo Presidente Chirac - eu que era simpatizante de Mitterrand e não nutro, a nível internacional, qualquer simpatia maior pelo Sr. Jacques Chirac, sou obrigado a reconhecer que ele foi muito competente. Foi competente, primeiro, por mostrar que na questão do Oriente Médio, como, de resto, em qualquer questão, não somente uma superpotência, como os Estados Unidos, pode dizer to be or not to be, é ou não é, vai ser ou não vai ser.

Penso que hoje a unidade européia é uma realidade, o Japão é uma realidade, nós somos uma realidade. Todos temos condições de influenciar, de tentar colaborar e ajudar para que esses núcleos dramáticos de crueldade existentes em alguns locais do mundo, como na África, como no Leste Europeu e como no Oriente Médio, desapareçam.

Feliz a atitude de Jacques Chirac, e levo a minha admiração até ele, dizendo que fez bem em não aceitar, digamos assim, o conselho americano: não se meta a Europa no Oriente. Como não se meta? Por que não se meta? Porque é propriedade exclusiva? De repente, os chefes da política internacional da condução do mundo são os americanos. Eu acho que os franceses se meteram muito bem, foram muito competentes. Houve uma palavra de estímulo, e correta. Ele não inventou algo para agradar os israelitas aqui, os jordanenses lá, os palestinos ali adiante, os sírios lá, ou os egípcios ali. Não. Ele teve uma linha de conduta e, nessa linha de conduta, ele está certo: cada um tem que ceder um pouco para que haja o entendimento. O entendimento só pode haver quando, do lado dos árabes, acabe a idéia de que o Estado de Israel não é permanente, de que tem que lutar para causar o temor permanente para Israel. Israel deve ter uma vida pacífica e entender que tem territórios que precisa devolver.

Para Israel é bom que o entendimento e que o diálogo entre israelitas e árabes seja feito de uma maneira ordeira e pacífica e não pago a um preço tão caro. Israel é o que paga, realmente, um preço caro para manter permanentemente as suas tropas de vigília.

Apenas digo: meus cumprimentos ao Presidente francês; que o exemplo dele seja seguido pelo Primeiro-Ministro da Inglaterra, pelo Primeiro-Ministro da Alemanha, pelo Primeiro-Ministro japonês; que a Europa, que a Ásia, que nós brasileiros tenhamos a coragem que teve Chirac de ir lá ajudar e colaborar de forma efetiva para a paz no Oriente Médio.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/10/1996 - Página 17767