Discurso no Senado Federal

PARABENIZANDO A REVISTA VEJA PELA REPORTAGEM DO DIA 30 DO CORRENTE, INTITULADA 'UM MILAGRE CHAMADO COMIDA', E RESSALTANDO A IMPORTANCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO NACIONAL EM TORNO DO COMBATE A FOME E A MORTALIDADE INFANTIL.

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • PARABENIZANDO A REVISTA VEJA PELA REPORTAGEM DO DIA 30 DO CORRENTE, INTITULADA 'UM MILAGRE CHAMADO COMIDA', E RESSALTANDO A IMPORTANCIA DA CONSCIENTIZAÇÃO NACIONAL EM TORNO DO COMBATE A FOME E A MORTALIDADE INFANTIL.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/1996 - Página 17924
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ELOGIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, VITORIA, MUTIRÃO, SOCIEDADE, COMBATE, FOME, MORTALIDADE INFANTIL.
  • IMPORTANCIA, PARCERIA, SETOR, SOCIEDADE, BRASIL, EFICACIA, COMBATE, FOME, MORTALIDADE INFANTIL.

A SRª MARINA SILVA (PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Revista Veja, de 30 do corrente, traz uma matéria de capa que é um alerta e um chamamento para todos os homens e mulheres de bem deste País.

E o título da matéria é bem sugestivo para a mobilização desses homens e mulheres de bem, pois diz o seguinte: Um milagre chamado comida. E exibe a fotografia de uma criança que se encontrava em pele e osso, em 1994, e que hoje, três anos depois, é uma criança bonita, fofinha, daquelas cujas bochechas gostamos de apertar, exibindo 15 quilos.

Sei que várias outras pessoas já se referiram à problemática da fome, da mortalidade infantil. A fome não é uma mazela que aflige apenas a vida das nossas crianças, porque os pais, os familiares, os milhões de excluídos deste País também são assolados por ela. Porém, ela tem a sua face mais perversa quando manifestada nas nossas crianças indefesas, que sequer podem contar, nesta terra "tão generosa" - entre aspas, porque não pode ser considerada generosa uma terra que assassina as suas crianças -, com o essencial para a sua vida, que é a alimentação correta para poderem sobreviver.

Eu estava lendo a matéria, e quero parabenizar a Revista Veja pelo trabalho que fez, mas tenho discordância em um ponto, que diz:

      "Vitória sem dono - Tão notável quanto os números é a forma pela qual se chegou a eles."

Ou seja, os números que dão conta da diminuição da mortalidade infantil.

      "A queda na mortalidade infantil é uma vitória sem um dono único. Não é produto exclusivo de nenhum governo - federal, estadual ou municipal -, nem de uma determinada entidade religiosa ou civil. Ela resulta de um dos maiores e mais bem-sucedidos mutirões já feitos no Brasil, envolvendo os três níveis de governo e dezenas de organizações, entre as quais se incluem o Unicef - o Fundo das Nações Unidas para a Infância -, a Igreja e as organizações não- governamentais, ONGs. É também uma prova de que, neste caso, salvar vidas não requer planos mirabolantes, nem grandes despesas."

A minha discordância é no fato de se dizer que não há um nome, não há um "dono" pela queda da mortalidade infantil. Pode até não haver um dono, mas há um nome: parceria.

A partir do momento que assumimos a responsabilidade de fazer, através de uma ação horizontal, aquilo que precisa ser feito para resolvermos os problemas que estamos enfrentando, é líquido e certo que teremos os resultados, digamos assim, necessários. A parceria, envolvendo os mais diferentes setores da sociedade brasileira, numa verdadeira cruzada de combate à fome e à mortalidade infantil, teve esse resultado. De forma muito feliz, a revista diz que não há um dono, nem há essa necessidade, basta que o problema seja resolvido.

Precisamos aprender a trabalhar sem a obrigação de nos considerarmos o "pai da criança". Basta sermos parceiros e fazermos o possível para minorar a dor e o sofrimento das pessoas, que nem sequer é material, mas espiritual. Ver as nossas crianças morrerem de fome, ver uma sociedade com milhões de excluídos, que não tem sequer um prato de comida, é uma dor que extrapola o plano material; ela fere aquilo que há de mais sagrado: a nossa alma. É essa a chaga que precisamos curar.

A revista Veja está de parabéns, mas está de parabéns a parceria que se criou neste País, que se formou para combater a fome e a mortalidade infantil.

Homenageio, portanto, esses milhares de brasileiros que, segundo a matéria, formaram um mutirão que envolveu mais de cem mil pessoas no Brasil inteiro. Fico feliz porque a Prefeitura do PT, no Estado do Acre, a administração do Prefeito Jorge Viana, deu uma grande contribuição, juntamente com as Igrejas e associações de bairro, no combate à desnutrição infantil e à mortalidade no Estado do Acre e na Capital, Rio Branco.

Em homenagem a todas essas pessoas do Poder Executivo, do Poder Legislativo, da sociedade civil e das Organizações Não- Governamentais, concluo o meu pronunciamento com uma frase de Fernando Pessoa, citada no livro do Frei Leonardo Boff. Ele diz que o poeta consegue definir São Francisco e que nos encontramos na pré-história do esforço que ainda precisa ser envidado. Mas, segundo Fernando Pessoa, "Tudo vale a pena se a alma não é pequena".

Essa homenagem é para os homens e mulheres de bem que assumiram a responsabilidade de curar as chagas da nossa alma, da alma da sociedade brasileira.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/1996 - Página 17924