Discurso no Senado Federal

APELO PARA QUE HAJA ACORDO ENTRE OS LIDERES NO SENTIDO DE QUE SEJAM SUBMETIDOS AO PLENARIO OS PROJETOS QUE TRATAM DA PRIVATIZAÇÃO DA VALE DO RIO DOCE.

Autor
José Eduardo Dutra (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: José Eduardo de Barros Dutra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REGIMENTO INTERNO.:
  • APELO PARA QUE HAJA ACORDO ENTRE OS LIDERES NO SENTIDO DE QUE SEJAM SUBMETIDOS AO PLENARIO OS PROJETOS QUE TRATAM DA PRIVATIZAÇÃO DA VALE DO RIO DOCE.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/1996 - Página 17918
Assunto
Outros > REGIMENTO INTERNO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, ACORDO, LIDERANÇA, INCLUSÃO, ORDEM DO DIA, PROJETO DE LEI, PRIVATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), VIABILIDADE, PLENARIO, SENADO, DELIBERAÇÃO, ASSUNTO.

O SR. JOSÉ EDUARDO DUTRA (PT-SE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, pediria a paciência de V. Exª por mais alguns instantes, porque, no final da minha fala, farei um apelo a V. Exª.

Pode ter passado despercebido pelos Srs. Líderes a votação de um requerimento - o item nº 7 da pauta -, da Senadora Regina Assumpção, que pede dispensa de parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania para um projeto de sua autoria.

Quero ressaltar a situação surrealista que, por vezes, vive esta Casa. O Projeto da Senadora modifica a Lei nº 8.031 sobre privatizações, especificamente no que se refere à Companhia Vale do Rio Doce. O Plenário, como todos lembram, aprovou no ano passado um requerimento para que fosse ouvida a CCJC sobre um projeto de minha autoria, que também modifica essa lei sobre a CVRD.

Existe um outro projeto meu, que está para ser votado na CAE e sobre o qual, tenho certeza, quando vier a plenário, será aprovado requerimento para que seja ouvida a CCJC. E este Plenário acabou de aprovar um requerimento que dispensa o parecer da CCJC sobre matéria bastante semelhante.

Gostaria de fazer um apelo ao Presidente da Casa e aos Srs. Líderes, até em respeito à Instituição e à iniciativa de vários Senadores, pois existem quatro projetos em tramitação nesta Casa, de iniciativa de Senadores de diversos Partidos, que tratam da questão da Vale: o da Senadora Regina Assumpção, que estabelece regras para a aplicação dos recursos; outro, do Senador Coutinho Jorge, com o mesmo objetivo; outro, de minha autoria, que já tem parecer favorável na Comissão de Assuntos Econômicos, ainda não foi votado e estabelece a possibilidade de o Congresso Nacional, até 60 dias após a publicação no edital, retirar a empresa da privatização, ou estabelecer condicionantes que possam implicar a modificação do edital; e um outro projeto de resolução, apresentado pela Senadora Júnia Marise, que estabelece também obrigações do Conselho Nacional de Estatização.

Creio que vai ficar muito feio para o Senado se todos esses projetos ficarem prejudicados, depois da venda da Vale. Todos sabemos que a questão da privatização da Vale do Rio Doce é um assunto que interessa à Nação. Até consultei a Mesa se existe, regimentalmente, possibilidade de o Presidente - parece que não -, antes do encerramento desta Sessão Legislativa, incluir esses quatro projetos na Ordem do Dia para que o Senado decida qual deles aprovar, rejeitar os quatro, ou fazer uma mesclagem de todos. Enfim, que o Senado tome uma posição sobre a matéria.

O Brasil é um país tão surrealista que o Diário Oficial não é oficial. Recentemente, dentro do pacote do Governo, foi apresentada uma justificação sobre o projeto de desestatização, afirmando "os recursos arrecadados com a privatização de todas - estas palavras grafadas em negrito - serão aplicados para abater a dívida pública". Está no Diário Oficial e deveria ser oficial. Mas, depois da publicação, um funcionário do segundo escalão do Governo, o Presidente do BNDES, disse que não era bem assim e que o acordo seria cumprido e o dinheiro decorrente da venda aplicado na divisão com os Estado. Alguém está enganando alguém!

Assim, em nome do respeito que deva merecer a Instituição, entendo que o Senado deve se posicionar, mesmo que seja para rejeitar todos os projetos. O Senado não quer se meter na questão da Vale do Rio Doce, mas, com os artifícios regimentais existentes e que podem ser aplicados pela maioria, não dá para evitar a votação desse projeto e, assim, no ano que vem, todos serão considerados prejudicados.

Não ficará bem para esta Casa. É uma falta de consideração com as iniciativas - de visões diferentes - de pelo menos quatro Senadores, que têm demonstrado a preocupação, através de iniciativas legislativas, de que o Senado se manifeste de alguma forma, tenha alguma influência nesse processo - o Senado ou o Congresso, porque os projetos abordam questões pertinentes às duas Casas.

A idéia do Governo é publicar o edital com o preço em dezembro e privatizar em fevereiro - coincidentemente, Natal e Carnaval. Não sei se a intenção do Governo é meramente se aproveitar dessas épocas.

É o apelo que faço. Não sei se regimentalmente o Presidente teria esse poder. Mas, considerando até que o Presidente tem manifestado a sua preocupação em relação ao assunto, proponho que seja feito um acordo com os Líderes, para que essas quatro matérias sejam incluídas na Ordem do Dia até o dia 15 de dezembro. E aí o Plenário do Senado deliberaria sobre o assunto. O Governo, junto a sua maioria, rejeitaria a todos ou aprovaria o que quisesse. Mas, sinceramente, o que não é possível é o Senado da República continuar empurrando com a barriga uma questão tão importante como esta.

Esse é o apelo que faço à Presidência da Casa e aos Srs. Líderes, no sentido de que, até o dia 15 de dezembro, se resolva o assunto.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/1996 - Página 17918