Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

DRAMA VIVENCIADO PELOS AGRICULTORES BRASILEIROS, EXEMPLIFICADO EM CARTA VINDA DO MUNICIPIO DE CAPANEMA/PR, SOLICITANDO A S.EXA. INFORMAÇÕES SOBRE NEGOCIAÇÃO DE DIVIDA CONTRAIDA JUNTO AO BANCO DO BRASIL.

Autor
Osmar Dias (S/PARTIDO - Sem Partido/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • DRAMA VIVENCIADO PELOS AGRICULTORES BRASILEIROS, EXEMPLIFICADO EM CARTA VINDA DO MUNICIPIO DE CAPANEMA/PR, SOLICITANDO A S.EXA. INFORMAÇÕES SOBRE NEGOCIAÇÃO DE DIVIDA CONTRAIDA JUNTO AO BANCO DO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/1996 - Página 17916
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, FILHA, PECUARISTA, MUNICIPIO, CAPANEMA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), DEMONSTRAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DIVIDA, AGRICULTOR, SOLICITAÇÃO, ORIENTAÇÃO, ORADOR.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, AGRICULTOR, PAIS.

O SR. OSMAR DIAS ( -PR. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje de manhã, recebi uma carta vinda de Capanema, no Estado do Paraná, e entendo oportuna a divulgação do seu conteúdo, pela gravidade nela contida. Diz a carta:

      "Sou Odeti, filha de um suinocultor, sem saber o que fazer.

      Venho através desta lhe pedir ajuda ou orientação.

      Tínhamos 300 matrizes de suínos, distribuídas entre 30 pequenos agricultores, em sistema de parceria, que criavam os leitões e nós comprávamos para engorda, uma média de 1.800 suínos na granja.

      Havia neste sistema de parceria a engorda de gado, com o reaproveitamento do esterco do porco, mas tudo isso está morrendo, e o senhor, como suinocultor, deve saber por quê.

      Meu pai fez um financiamento, em julho de 1995, de R$187 mil, no Banco do Brasil, para sustentar a parceria, na esperança de que como projeto feito na época de pagar com a produção. Mas nada disso ocorreu; nem a prestação do trator, financiado pelo seu Programa da Panela Cheia, conseguimos pagar. O que fazer? Como filha de um agricultor que investiu 50 anos de sua vida na terra, estou preocupada que meu pai poderá ser um sem-terra. Todos os seus bens estão penhorados nos Bancos e não sabemos o que fazer.

      Não podemos vender, e mais: quem vai hoje comprar uma granja de suínos? O que fazer?

      - Abandonar a granja?

      - Continuar produzindo e ver como fica?

      - Ir para o Paraguai e tentar vida nova lá?

      - Nos suicidar para apagar a humilhação? Não sei mais o que fazer.

      Não sou sensacionalista, nem dramática, mas simplesmente realista.

      De repente, o senhor pode estar pensando o que tem a ver com isto. Mas, como o conheço quando foi secretário da agricultura, sei que o senhor pode me orientar.

      Enviei correspondência contando a mesma história ao Ministro da Agricultura, ao Presidente da República e aos superintendentes dos Bancos. Não sei se chega a eles, mas tenho esperança que o senhor irá me responder.

      Obrigada.

      Odeti F. Ravache."

Sr. Presidente, sei que se esta correspondência tivesse sido assinada pelo dono de um banco chegaria ao destinatário e o dono do banco receberia a resposta e o dinheiro para cobrir o rombo do seu banco. Como aconteceu, aliás, com o Proer, que atendeu a bancos privados e até a bancos estaduais.

Como esta carta foi escrita por uma agricultora, com certeza, pode até chegar nas ante-salas, mas não chegará ao seu destino; não chegará ao Presidente da República, nem ao Ministro da Agricultura. E, mesmo que chegue, são tantos os agricultores que estão na mesma situação que, certamente, esta não vai receber resposta.

Responderei a Odeti. Ela não deve ir para o Paraguai; nem se suicidar, porque isso seria, evidentemente, um drama, um caos total; mas deve insistir, junto com os seus colegas agricultores do Brasil inteiro, em enviar cartas ao Presidente da República, ao Ministro, ao presidente do banco, até que, um dia, essa gente sensibilize-se com o problema daqueles que, antes dos bancos, quebraram.

Continuo insistindo: os bancos quebraram porque os seus depositantes quebraram antes. O Brasil está destruindo o modelo de pequena propriedade, que é o sustentáculo da economia rural e, com certeza, o sustentáculo de milhares de empregos neste País.

No meu Estado, soltam fogos e fazem festas quando se conquista uma indústria automobilística pagando um preço muito caro. O Governo do Estado do Paraná está pagando US$300 milhões para a instalação da Renault. Parece-me que a Chrysler receberá um pagamento ainda mais generoso. Um artigo de Celso Ming, escrito ontem nos jornais, diz que o Governo do Paraná entrará com US$600 milhões de investimentos e a Chrysler receberá isso para investir US$285 milhões no Estado.

Um negócio desses qualquer um aceitaria. Mas essa generosidade com os grandes não ocorre com os pequenos, talvez porque apoiando-se os pequenos não sobre nada para as campanhas eleitorais.

Sr. Presidente, faço aqui um apelo dramático ao Presidente da República, no sentido de que olhe para os agricultores brasileiros, porque, salvando os agricultores, estaremos salvando também os pobres banqueiros deste País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/1996 - Página 17916