Discurso durante a 190ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

COMENTANDO DADOS DIVULGADOS ONTEM PELO MINISTERIO DA AGRICULTURA SOBRE O CRESCIMENTO DA SAFRA BRASILEIRA.

Autor
Osmar Dias (S/PARTIDO - Sem Partido/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • COMENTANDO DADOS DIVULGADOS ONTEM PELO MINISTERIO DA AGRICULTURA SOBRE O CRESCIMENTO DA SAFRA BRASILEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/1996 - Página 18247
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • CRITICA, NOTA OFICIAL, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), AUMENTO, SAFRA, MOTIVO, INSUFICIENCIA, CONSUMO, MERCADO INTERNO, INSUCESSO, EXPORTAÇÃO, PRODUTO AGRICOLA.
  • PREVISÃO, DEFICIT, BALANÇA COMERCIAL, CRITICA, REDUÇÃO, AREA, CULTIVO, EFEITO, DESEMPREGO, IMPORTAÇÃO, PRODUTO AGRICOLA, ESPECIFICAÇÃO, ALGODÃO.
  • NECESSIDADE, POLITICA AGRICOLA, PLANEJAMENTO, SAFRA, INSERÇÃO, BRASIL, MERCADO INTERNACIONAL.

O SR. OSMAR DIAS (-PR. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero comentar a divulgação dos dados oficiais anunciados ontem pelo Ministério da Agricultura, manifestando publicamente o otimismo com o crescimento da safra brasileira em 6,8%. Mas crescimento sobre o quê, Sr. Presidente? Sobre uma safra que foi colhida este ano correspondente a apenas 71 milhões de toneladas, e portanto muito abaixo das necessidades de consumo da Nação brasileira.

Se chegarmos aos 80 milhões de toneladas previstos pelo Ministério da Agricultura, novamente o Brasil será obrigado a importar cerca de 12 milhões de toneladas de alimentos. Este ano já importamos 13 milhões para 14 milhões, o que significou uma evasão de divisas de R$5 bilhões.

Repetindo essas importações, estaremos reprisando o fiasco que foi o nosso desempenho no mercado internacional e sobretudo estaremos impedindo que este setor, único aliás que oferece vantagens comparativas neste momento, possa contribuir para inversão das sucessivas contabilidades feitas com a balança comercial negativa, e portanto com déficits acumulados mês a mês.

Os jornais de hoje publicam o déficit fiscal em virtude das altas taxas de juros. Se somarmos as conseqüências provocadas pela pressão que se exerce sobre os setores produtivos, das altas taxas de juros, e a safra que cresce de forma insuficiente para nos dar uma correspondente oferta de recursos na balança comercial, verificaremos que em 1997 teremos problemas graves não apenas de abastecimento interno; analisando cultura por cultura, vamos verificar que faltará de novo trigo, milho, desta vez até arroz, e o algodão.

Vamos plantar 390 mil hectares de algodão em todo o País, quando apenas no meu Estado, há três anos, plantávamos o dobro desta área. O Brasil vai ter que importar mais de 70% do seu consumo de algodão e vai liberar um enorme contingente de trabalhadores que deixarão o campo, porque o algodão é a cultura anual que mais emprega mão-de-obra e que está sendo abandonada no campo, porque a prioridade absoluta é a importação.

As indústrias fazem um jogo imediatista que pode levá-las à dependência, e elas próprias serão obrigadas a pagar mais tarde o preço dessa dependência. Importar agora pode até ser bom negócio para algumas indústrias, porque há capital com prazo privilegiado e taxas privilegiadas. E isto atrai as indústrias a importação. Mas no momento em que estivermos dependentes totalmente - isto ocorrerá logo mais - da fibra do algodão, as indústrias sentirão na carne essa ação imediatista que não prevê, num futuro próximo, a dependência e o preço caro pela importação.

Portanto, Sr. Presidente, esta comunicação feita pelo Governo, com otimismo, não pode ser comemorada pelo País. O Brasil será obrigado a importar porque não se planejou novamente a safra, não se olhou para fora das fronteiras do País e para o que está acontecendo no mercado internacional. E nós, mais uma vez, estamos perdendo a grande oportunidade de nos inserirmos no mercado internacional, conquistando novos espaços e, dessa forma, contribuindo para o desenvolvimento interno e, sobretudo, para a geração de empregos.

Perdemos mais um ano e mais uma safra, o que pode nos custar caro no ano que vem, quando estivermos colhendo a safra que estamos plantando. O dinheiro não chega às agências e falta crédito não apenas para os grandes produtores, mas também para os pequenos e médios, que encontram nas palavras do Ministro apenas uma expectativa, porque S. Exª diz: não falta dinheiro, o que existe é uma demanda maior do que o dinheiro que existe.

Ora, não entendo; se a demanda é maior do que o dinheiro que está disponível é evidente que falta o dinheiro para financiar a safra. Essa falta de dinheiro com a falta de planejamento vai nos custar caro, porque, além do algodão, como disse, vamos importar o milho, o trigo o feijão e o arroz. Falta importar um plano para que possamos produzir de forma adequada, suficiente, exportando divisas e não empregos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/1996 - Página 18247