Discurso no Senado Federal

DEFESA DO BANCO BAMERINDUS, CUJO BALANÇO DEMONSTRA BOA SAUDE FINANCEIRA.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • DEFESA DO BANCO BAMERINDUS, CUJO BALANÇO DEMONSTRA BOA SAUDE FINANCEIRA.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/1996 - Página 18060
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • ANALISE, BALANÇO, BANCO PARTICULAR, ESTADO DO PARANA (PR), REGISTRO, IDONEIDADE, CRITICA, ATUAÇÃO, PERIODICO, VEJA, JORNAL, GAZETA MERCANTIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EFEITO, AUMENTO, CRISE.
  • SOLIDARIEDADE, JOSE EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA, BANQUEIRO, SENADOR.
  • SOLICITAÇÃO, REMESSA, PRONUNCIAMENTO, ORADOR, DESTINATARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), NECESSIDADE, AUXILIO, BANCO PARTICULAR, PERMANENCIA, CONTROLE, ESTADO DO PARANA (PR).

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso. ) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós que fazemos política no Paraná, fazemos uma política dura e agressiva na defesa dos nossos pontos de vista. Tenho dito repetidamente que quem gosta de política de alto nível é quem tem "rabo preso" e não quer ver as suas mazelas expostas ao público.

Tenho um adversário político no Paraná conhecido no Senado da República e no País. Trata-se do Senador José Eduardo de Andrade Vieira. S. Exª tem sido meu adversário em todos os pleitos dos quais participei direta ou indiretamente no meu Estado. Mas quando nós, em dado momento, chegamos a conhecer a verdade sobre um determinado assunto, a verdade, deve, necessariamente, ser dita. "E conhecereis a Verdade a Verdade vos libertará". (Jo. 8,32).

O Senador Andrade Vieira, desde 1991, afastou-se da direção do Banco Bamerindus. S. Exª exerceu o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo e exerceu o Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Este Plenário, por várias vezes, escutou a minha crítica às políticas adotadas pelo Senador nos Ministérios citados, mas nunca levantei nenhuma dúvida quanto à probidade do Ministro no exercício de suas funções.

Examinando o balanço do Banco Bamerindus, trabalho que realizei nesse fim de semana, quero colocar com clareza a posição de um adversário forte do Senador do Paraná, em defesa do seu banco e da sua permanência à frente do banco. Somos adversários políticos e, seguramente, essa disputa é inconciliável, além do que não sou homem de conciliações. Raramente procuro conciliação com pessoas que pensam de forma diametralmente oposta à minha maneira de pensar, de entender a economia, de entender o Brasil, de ver com clareza um projeto global de reafirmação das noções claras de pátria, de nação, de soberania.

Mas eu seria um Senador pela metade, a metade de um homem ou de um cidadão se não trouxesse ao conhecimento deste Plenário, e mais do que a este Plenário, ao conhecimento do Presidente da República e ao Ministro da Fazenda o que verifiquei no balanço do banco.

O Banco Bamerindus atingiu, no final do primeiro semestre de 1995, um total de depósitos captados junto ao público, que é o indicador da confiança da sociedade em uma instituição financeira - da ordem de R$9 bilhões. Esse número colocava o banco paranaense, pela primeira vez, na segunda posição entre os bancos privados brasileiros, só atrás do Bradesco. Pergunto: será que esse avanço não teria gerado inveja na concorrência ou no mercado?

Em operações de câmbio, o Bamerindus assumiu o primeiro lugar entre os bancos privados brasileiros com um volume de operações da ordem de US$53 bilhões.

No início do segundo semestre de 1995, o Bamerindus, como os demais bancos privados, sofreu os efeitos da crise do sistema financeiro, particularmente a partir da quebra do Banco Econômico.

Eu diria - posso fazê-lo com clareza e sinceridade, porque sou absolutamente contrário ao sistema bancário privado brasileiro - que muitos bancos quebraram por corrupção. De alguns deles conhecemos a lista das contas fantasmas, mas isso não ocorreu com o banco paranaense. Diria também que muitos bancos quebraram por aquilo que no Direito chamamos, Senador Bernardo Cabral, de fato do príncipe: a política organizada e provocada pelo Governo Federal para manter a estabilidade do Plano Real.

No mesmo período, houve perda de recursos por conta de boatos veiculados na Imprensa - vamos dar os nomes: revista Veja e Gazeta Mercantil. Pode ser uma veiculação inocente de boatos, mas devemos verificar se por trás de uma dessas instituições maravilhosas da imprensa brasileira não existe um grande branco. Talvez exista. Necessariamente existe, em pelo menos uma delas.

O Bamerindus não precisou recorrer, apesar dos boatos, em nenhum momento, às linhas especiais do Banco Central, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Ele se safava da crise pelos seus próprios meios, com seus mais de 30 mil funcionários no Brasil.

O Bamerindus fechava o ano com a seguinte posição: depósitos totais de R$7 bilhões, lucro de R$100 bilhões e US$87 bilhões em operações de câmbio, mantendo a posição de líder entre os bancos privados.

No final do primeiro semestre de 1996, os depósitos totais permaneciam na casa de R$7 bilhões, mas uma boa parcela dos recursos do público havia sido substituída por CDIs da Caixa Econômica Federal, com custos que se aproximavam de quase 2% acima dos custos do mercado.

Pergunto-me se isso é ajuda ou se é privilégio. A crise se acelera nesse processo. O lucro do período foi de R$30 milhões, e as operações de crédito, que haviam permanecido em 31/12/95 nos mesmos níveis de 30/06/95, na casa de R$7 bilhões, caíam, em junho de 1996, para R$6 bilhões.

O Bamerindus tem uma história de trabalho não só no Paraná como também no Brasil. Ele foi fundado pelo Sr. Antônio Avelino de Andrade Vieira, pai de José Eduardo de Andrade Vieira, que abria uma agência numa sala alugada a cada momento que o desenvolvimento pioneiro do Paraná se expressava. No avanço do café, no momento em que se exauriam as terras de São Paulo, o Bamerindus estava presente, alavancando a economia e, corajosamente, naquela época, financiando o desenvolvimento.

O lucro do período caiu para R$6 bilhões em 30/06/96. Da casa de R$7 bilhões caía, em junho de 1996, para R$6 bilhões. Com ativos da ordem de R$18 bilhões e patrimônio líquido de R$1,4 bilhão (era R$1,2 bilhão em 30/06/95), emprega hoje mais de 25 mil pessoas, sendo que mais de 6 mil trabalhadores já foram demitidos.

Em cinqüenta anos de existência, o Bamerindus nunca atrasou o pagamento dos seus funcionários. Penso, no entanto, que os banqueiros pagam muito pouco e que os bancários deviam merecer, por parte dos banqueiros, respeito maior. Em cinqüenta anos, repito, o Banco Bamerindus não atrasou o pagamento de seus empregados um dia sequer. É um dos bancos com o menor índice de cheques sem fundo num universo de mais de 7 milhões de depositantes (eram 6,7 milhões em 30/06/95) espalhados por mais de 900 municípios brasileiros. Possui a segunda maior rede de agências entre os bancos privados, com mais de 4 mil pontos de atendimento, e só no ano passado pagou cerca de 100 milhões de reais de tributos.

Essa é a observação de um adversário político do Senador José Eduardo Vieira, de um adversário político que reitera todas as críticas que fez à sua atuação no Ministério da Indústria e do Comércio e no Ministério da Agricultura, mas é um adversário político que não é cego. E quem enxerga uma situação que pretende tirar do eixo e do comando do seu Estado um banco da importância do Bamerindus, mesmo que isso signifique a perplexidade de alguns aliados e companheiros na oposição dura que fazemos ao banqueiro na política do Paraná, tem a obrigação de vir à tribuna do Senado esclarecer aos Senadores, pedir apoio para o banco e requerer, Sr. Presidente Nabor Júnior, que o texto desse pronunciamento seja encaminhado ao Presidente da República, ao Ministro da Fazenda e ao Presidente do Banco Central, se é que ele já voltou dos Estados Unidos e da Inglaterra, onde lançou o global bonds, que, se não trouxe nenhum prejuízo para o Brasil, foi uma manobra pífia, um buraco n'água, e deixou apenas como despesa o fausto da sua viagem, os hotéis 5 estrelas e os banquetes que ofereceu.

É preciso que o Banco Central passe a levar a economia brasileira a sério. Não posso admitir a idéia de ver, amanhã, o Banco Bamerindus do Paraná controlado por bancos estrangeiros e empresários com dificuldade para obter uma carta de crédito tendo que demandar a sede de outros bancos em outras grandes cidades de outros Estados.

Ao banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira e aos acionistas do Bamerindus, a minha solidariedade ativa nesse momento. Reitero, entretanto, todas as críticas que fiz ao político Senador José Eduardo Vieira.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/1996 - Página 18060