Discurso no Senado Federal

RELATO DA VIDA DA ESTILISTA ZUZU ANGEL E SUA LUTA NA BUSCA DE SEU FILHO DESAPARECIDO NA EPOCA DA REPRESSÃO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • RELATO DA VIDA DA ESTILISTA ZUZU ANGEL E SUA LUTA NA BUSCA DE SEU FILHO DESAPARECIDO NA EPOCA DA REPRESSÃO.
Aparteantes
Junia Marise, Lúcio Alcântara.
Publicação
Publicação no DSF de 07/11/1996 - Página 18161
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, ARTIGO DE IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, MANCHETE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REFERENCIA, HISTORIA, ZUZU ANGEL, COSTUREIRO, MODA, BUSCA, FILHO, EPOCA, REGIME MILITAR, PAIS.

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em 1921, na cidade de Curvelo, Estado de Minas Gerais, nascia uma menina que desde criança gostava de inventar, de criar, de costurar tiras de panos nas suas sandálias e nas de suas amigas. Mais: colocava lantejoulas nos vestidos, improvisava chapéus, como um sinal de que a sua cidadezinha era pequena para os seus anseios.

Mudou-se para Belo Horizonte, capital onde foi criada e onde se interessava pela costura. Nos anos 40, casou-se com um norte-americano "pacifista que viera para o Brasil a fim de não participar da II Guerra Mundial". Do casamento, três filhos. Depois, a separação nos anos 50, quando se mudou para o Rio de Janeiro.

Nos anos 60, tornou-se mundialmente famosa, a ponto de se afirmar que "até hoje não surgiu um outro estilista brasileiro com tanta coragem de assumir, a fundo, as suas raízes, encarando a moda como expressão de um povo". E repetia ela as suas próprias palavras: "Roupa não tem importância; moda tem. É um documento histórico. É criação e liberdade".

Nos anos 70, seus modelos, em mais de meia centena, eram vendidos para os magazines de maior prestígio da 5ª Avenida, em Nova Iorque, dentre eles, o famoso Bergdorf & Goodman e o Lord & Taylor, sem esquecer o Bloomingdale's, Neiman Marcus e outros.

Pois, exatamente nessa década, mais precisamente no ano de 1976, madrugada de 14 de abril, ela teve o seu carro "abalroado violentamente e jogado para fora do viaduto na saída do túnel Dois Irmãos, sentido Gávea-São Conrado", no Rio de Janeiro. "Caiu de uma altura de cinco metros. Suspeita-se que não foi um acidente".

E por que a suspeita? Porque, na época, esse tipo de morte era chamado "execução pelo Código 12", que "consistia na eliminação dos inimigos do regime militar, por órgãos de segurança, simulando acidentes, sem deixar pistas".

A quem quero lembrar, agora 20 anos decorridos da sua morte brutal? E por quê?

Tomo emprestadas as palavras de sua filha: "o que eu quero é identificar a morte de mamãe com seu desespero na denúncia do assassínio do filho".

Como se chama essa Mãe Coragem? Como é seu nome? ZUZU ANGEL. Como é o nome da filha? HILDEGARD ANGEL.

A revista Manchete, em seu nº 2.326, de 02 de novembro corrente, traz uma matéria intitulada "ZUZU ANGEL - A MÃE CORAGEM", que considero irretocável, tanto em termos de apresentação como de pesquisa e de imparcialidade. Foi dela que colhi os dados acima e de onde quero destacar alguns trechos, como os que seguem:

      "Zuzu estava no auge do sucesso quando o drama do filho começou. Stuart Edgard Angel Jones, o Tuti, que concluía o curso de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, casou-se em 1969 com a também universitária Sônia Maria de Moraes, filha do Tenente-Coronel da reserva João Luiz de Moraes, amigo do General-Presidente Castello Branco. A garota, que até participou da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, mudou de lado e, junto com Stuart, entrou na luta armada contra o regime militar, engajando-se no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Em 1970, Sônia foi presa fazendo panfletagem. Assim que pôde, fugiu para a França onde viveu até 1973, mas, quando soube da morte de Stuart, voltou para o Brasil com o nome falso de Esmeralda Siqueira Aguiar. Entrou para a militância da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e foi executada por agentes do Departamento de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), em São Paulo, em 30 de novembro de 1973".

O Sr. Lúcio Alcântara - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Darei o aparte a V. Exª, eminente Senador Lúcio Alcântara, com muita honra, tão logo conclua o texto da Manchete.

      "Assim que Stuart deixou de manter contato com a família, em 1971, Zuzu Angel iniciou uma luta desesperada para localizá-lo. Transfigurada em guerreira, invadiu quartéis, órgãos de segurança, auditorias militares, casas de oficiais do Exército e da Aeronáutica. Recorreu até à Anistia Internacional. Anotou todos os seus passos em escritos sob o título "Minha Maneira de Morrer", anotações que Virgínia Valli e Hildegard Angel transformaram no livro "Eu, Zuzu Angel, procuro meu filho", lançado em 1986 pela Philobiblion.

      Sua luta teve episódios dramáticos - continua o texto. Em fins de 1971, em desfile no Trade Bureau, importante passarela de Nova Iorque, as modelos (entre elas, Katty Lindsay, filha do Prefeito) exibiram vestidos de Zuzu com desenhos de anjos amordaçados, tanques, canhões apontando contra anjos e crianças desfiguradas. Sua grife, que era um anjinho (do nome Angel) passou a ser o símbolo do filho morto. Em sua incansável busca, Zuzu vivia mandando cartas aos amigos. Em bilhete à Bibi Ferreira, datado de 13 de maio de 1973, ela diz: 'Depois de barbaramente torturado, foi amarrado a um jipe da Aeronáutica e arrastado. Não me entregaram o corpo'.

      Em 1976, quando o então Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger visitava o Rio, ela conseguiu romper a segurança, entrou no Hotel Sheraton e entregou a um dos seus assessores um dossiê completo sobre a prisão e morte de Stuart. Foi um grande escândalo internacional.

      Foi somente através da carta de Alex Polari que ela soube do crime. Em palavras dramáticas, ele conta que tudo aconteceu no Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA), na Base Aérea do Galeão, Rio. Trecho da carta:

      "Junto a um sem número de torturadores, oficiais e soldados, Stuart, já com a pele semi-esfolada, era arrastado de um lado para outro do pátio, amarrado a uma viatura e, de quando em quando, obrigado, com a boca quase colada a uma descarga aberta, a aspirar os gases tóxicos que eram expelidos. (...) Foi na madrugada de 14 para 15 de maio que provavelmente ele veio a morrer". A fala de um oficial, "mais comida de peixe de restinga de Marambaia", confirma, segundo Alex, "uma série de boatos sobre o destino de grande parte dos assassinados, que seriam transportados até a restinga e de lá lançados em alto-mar".

O Sr. Lúcio Alcântara - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Faço uma pausa no meu discurso para ter a honra de ouvir V. Exª, eminente Senador Lúcio Alcântara.

O Sr. Lúcio Alcântara - Senador Bernardo Cabral, não quero perturbar o ritmo do pronunciamento de V. Exª, principalmente quando lê trechos da reportagem da revista Manchete. Queria apenas dizer que Zuzu Angel foi uma mulher do mundo da moda, muito respeitada e, até certo ponto, desvinculada de ligações ideológicas, políticas.

O SR. BERNARDO CABRAL - Exatamente.

O Sr. Lúcio Alcântara - No entanto, foi arrastada para esse mundo, inicialmente pelo desaparecimento do seu filho, que era, inclusive, cidadão americano; tanto assim que ela, na sua obstinação, como diz V. Exª, bateu à porta de presidentes, generais, ministros, embaixadores e do próprio Secretário de Estado americano, sem que lograsse esclarecer o que realmente havia acontecido com ele. Por fim, desapareceu tragicamente num acidente automobilístico na Avenida Niemeyer, tendo antes espalhado bilhetes, correspondências, entre várias pessoas. Recentemente, o jornalista Zuenir Ventura, no Jornal do Brasil, fez alusão a bilhetes que ela teria deixado com ele, Chico Buarque de Holanda e outros, que os enviaram para a redação de jornais, de maneira anônima. Isso mostra o seu sentimento de mãe, a maneira como se empenhou, como se envolveu e como fez disso a grande causa da sua vida. Há alguns anos, a convite do Partido Justicialista, da Argentina, integrei um grupo de Parlamentares brasileiros que participou da Missão pela Paz e Democracia, visitando cárceres e presos políticos em Buenos Aires e em Montevidéu. Um dos itens da programação foi o contato com as mães e as avós da Praça de Maio, realizado num restaurante. Esse encontro foi um dos acontecimentos que mais me marcou, pela obstinação delas, até diria por uma certa alienação. Queriam saber onde estavam os seus filhos, os seus netos. Todos nós intuíamos que já estavam mortos. Portanto, elas estavam em busca de algo que não mais existia, mas persistiam naquela cobrança das informações, dos dados, na visita semanal à Praça de Maio. Aquilo me proporcionou uma compreensão muito viva da profundidade do drama que essas pessoas enfrentam. Aqui, no Brasil, há esse caso da Zuzu Angel, que V. Exª traz à baila muito oportunamente. Estou informado pela imprensa de que esse caso seria, inclusive, apreciado pela Comissão dos Desaparecidos. Não sei se existe amparo legal para o ressarcimento material. Isso não vai reparar o que aconteceu com ela e sua família, com a sua vida; de qualquer maneira, seria uma forma de condenar o Estado pelo que ocorreu. De qualquer sorte, o fato desse acontecimento vir à discussão no plenário do Senado, trazido por V. Exª, suscita uma manifestação no sentido de nunca mais permitirmos que isso novamente ocorra em nosso País, sejam quais forem as razões invocadas para tal. Esses episódios marcaram de maneira muito triste a nossa História. Não estamos aqui para condenar e julgar ninguém - esse é um julgamento da História. Quero concluir meu aparte dizendo que, às vezes, até critico certas ações do Governo, mas reconheço e muito louvo a ação do Presidente Fernando Henrique em ter buscado uma maneira de fazer com que o Estado assumisse a responsabilidade por esses fatos, essas mortes, esses desaparecimentos, dando assim, pelo menos, uma resposta a essas famílias e à sociedade de que isso não aconteceu impunemente. Portanto, Senador Bernardo Cabral, prossiga V. Exª no seu discurso, que tem grande importância. Examinar esses fatos significa debruçar-se sobre a História do Brasil e dela tirar lições para o presente e para o futuro.

O SR. BERNARDO CABRAL - Eminente Senador Lúcio Alcântara, V. Exª falou em reparação moral. A revista Manchete, que tem uma enorme tradição de prudência neste País, não confirma aquilo que os chineses diziam, que uma longa caminhada começa com o primeiro passo, mas, sim, que uma longa caminhada começa com a decisão que antecede o primeiro passo.

A Manchete está tomando a decisão de fazer a reparação moral, e essa é que é importante.

Digo a V. Exª e à Casa por que estou na tribuna. Quando tinha 17 anos de idade, meu irmão, que tinha 27, foi brutalmente assassinado por um agente do Estado e, ao longo de anos seguidos, sei o que minha mãe passou.

Portanto, avalio o que Zuzu Angel deve ter passado.

      "Aquela mulher, que tivera três filhos, Ana Cristina, Stuart e Hildegard; que se separara do marido no final dos anos 50; que emigrara para o Rio com os três filhos; que enfrentou tempos difíceis em seu primeiro ateliê no bairro de Ipanema; que não tinha receio de afirmar, ´já no desassombro da procura da Justiça` para o filho Stuart: ´Não tenho medo de nada. Sou mineira do sertão. O lugar mais elegante da minha cidade se chama Revólver Clube`; teve a coragem de assumir, a fundo, as suas raízes, encarando a moda como expressão de um povo; essa mesma mulher, vez por outra, lembrava o vaticínio que o médico parteiro fizera quando do nascimento do seu filho Stuart: ´seu filho vai ter um destino muito especial`."

É essa Zuzu Angel que a Manchete, publicando o retrato do seu filho, na palavra do jornalista Zuenir Ventura, considera, de forma mais do que apropriada, "a guerrilheira contra a violência e o esquecimento".

Mulher que, como dizia há pouco o Senador Lúcio Alcântara, sem ideologia, usava como armas "o desassombro, o atrevimento, a petulância, a imaginação e o humor. Sua causa se resumia a uma bandeira: ´Quero o corpo do meu filho`."

Em outro trecho:

      "Entre as ferragens, a gasolina e o sangue terminou a luta da mulher que só queria embalar o filho que morava na escuridão do mar."

A Srª Júnia Marise - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Ouço a nobre Senadora Júnia Marise.

A Srª Júnia Marise - Nobre Senador Bernardo Cabral, ouço o pronunciamento de V. Exª, que está fazendo um discurso histórico da tribuna do Senado Federal, ao mesmo tempo em que a revista Manchete faz a reparação moral da história deste País. E, ao fazê-lo, traça o perfil de uma das mulheres brasileiras que teve o seu berço no meu Estado, Minas Gerais, e que, com as suas origens de mineira corajosa, soube, acima de tudo, ser coerente, autêntica nas suas afirmações, em um momento do nosso País quando as páginas da História brasileira foram marcadas por um regime que interceptou o avanço das conquistas e das liberdades democráticas do nosso País e impôs um período de 20 anos de cerceamento às liberdades do povo brasileiro. Como se não bastasse o agravamento das questões institucionais, vivemos também o agravamento da repressão violenta. Entretanto, a mineira Zuzu Angel foi também uma das vozes destemidas, corajosas, que buscava encontrar aquele que certamente foi a bandeira da sua própria vida: o seu filho. Por isso, no instante em que V. Exª, da tribuna do Senado Federal, traça esse momento histórico da vida do nosso País - de uma história que se fez sem a vontade de todos os brasileiros, que se fez pela força, pela violência, pela repressão -, resgatando e promovendo a reparação moral por intermédio dos fatos e dos momentos de tristeza e de amargura com que Zuzu Angel conviveu durante muitos e muitos anos, cumprimento a revista Manchete pela publicação da reportagem de grande porte a que V. Exª está se referindo e enaltecendo desta tribuna. 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Campos) - Nobre Senadora Júnia Marise, sinto informar-lhe que o tempo do orador na tribuna já se esgotou há 6 minutos. Solicito que V. Exª seja breve.

A Srª Júnia Marise - Esses momentos da história do nosso País reacendem, cada vez mais, nossas esperanças. Devemos sempre nos espelhar na coragem e na determinação de mulheres como Zuzu Angel e tantas e tantas mulheres brasileiras, operárias e trabalhadoras, que sempre se colocaram à frente das questões nacionais e dos interesses de nosso País. Parabéns a V. Exª!

O SR. BERNARDO CABRAL - Quero agradecer a V. Exª, Senadora Júnia Marise, por dois pontos, e sei que o eminente Presidente, homem de luta, de um passado de tradição, vai tolerar que eu conclua o raciocínio, não só na resposta à eminente Senadora, mas também no final do meu pronunciamento.

Quando vim a esta Casa, trouxe a marca de quem teve o seu mandato de Deputado Federal cassado, e suspensos os seus direitos políticos por dez anos. O mandato pertencia ao povo, mas os direitos políticos eram meus. E, com os dois, mandato cassado e perda dos direitos políticos, também me afastavam da minha cadeira de professor de Direito aqui no Distrito Federal.

Quem passou por isso pode avaliar o que é o lado moral do drama de uma perseguição de ordem política, mas a perda de um filho é algo sem retorno. É como na estrada da vida: enquanto nas outras estradas, a cada medida que se passa, há um anúncio dizendo "retorno a 200 metros", na estrada da vida não há retorno.

Haveria um dia de ecoar aqui da tribuna desta Casa o que a Manchete está fazendo - como V. Exª bem acentuou, os outros companheiros reconhecem e eu faço questão de proclamar -, uma manifestação histórica em torno de quem foi Zuzu Angel. E para a sua filha, Hildegard Angel, a decisão que a Comissão Especial para Indenização das Famílias dos Desaparecidos Políticos deverá tomar em breve merece esta sua reflexão:

      "Um julgamento implica avaliações particulares e humanas - caso contrário, bastaria jogar dados, documentos e provas num computador e ele condenaria ou absolveria de acordo com a letra da lei. Confio nessas avaliações para que seja feita justiça à memória de minha mãe, Zuzu, heroísmo já reconhecido pelos livros que contam a história recente de nosso país. Agora é o momento de ser feita, além da História, a Justiça do Brasil.

      Zuzu provocou, sim. Muito. E teve o troco. Na forma de uma violência injusta, que não sei se se enquadra na Lei nº  9.140/95, mas matou minha mãe. Se a violência cometida com ela for julgada injusta, ela poderá ser incluída na 9.140/95. Não sei qual valor pecuniário terá sua morte. O aspecto financeiro constrange muitos os familiares das vítimas, como eu. Nenhum valor pagará nosso sofrimento, o martírio de mamãe, seu desespero incontido e as cruzes pesadas que temos, ao longo dos anos, carregado. O cadáver da minha mãe não tem preço".

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal não se pode quedar apenas contemplativo em assunto que traz a marca de uma coisa notável: a continuação, por uma filha, da luta empreendida por sua mãe.

Esta Casa Legislativa deve apoiar, a todo custo, a esperança de Hildegard Angel...e não transformá-la em frágil aspiração em trânsito para mais um desencanto.

Bem a propósito vêm, a talhe de foice, as palavras do grande Barbosa Lima Sobrinho - Varão de Plutarco - que, do alto do seu quase centenário de existência, proclamou pela imprensa:

      "Na reunião da diretoria da ABI, nosso colega, companheiro e amigo Augusto Villa-Boas propôs que manifestássemos nosso louvor - e nisso vejo, muito mais, nossa solidariedade e nossa cumplicidade - pelos artigos assinados nesses últimos dias por Zuenir Ventura e Dora Kramer, que resgataram com tanta justiça, e não falarei em generosidade, porque no caso não se trata disso, a memória dessa extraordinária cidadã brasileira que foi Zuzu Angel. A proposta de Villa-Boas foi aprovada por unanimidade, à qual associei, com a emoção que se pode imaginar, o meu voto pessoal".

E conclui Barbosa Lima Sobrinho:

      "O que lemos nos últimos dias, assinado por Dora Kramer e Zuenir Ventura, restaura a esperança de alguém, como eu, que já viveu tanto tempo".

É hora de concluir, Sr. Presidente. O Regimento não me permite ir adiante. Quero fazê-lo com uma convocação especial aos integrantes da Comissão para Indenização das Famílias dos Desaparecidos Políticos, a fim de que não esqueçam a frase de Zuenir Ventura:

      "Vinte anos depois Zuzu Angel ainda é um exemplo. Como figurinista, inventou uma moda brasileira; como mãe, tornou-se símbolo de coragem em meio a um tempo de terror".

A esta frase, permito-me rematar, Sr. Presidente:

Não fugiu; não desertou; não se amedrontou; não se acovardou...não se prostrou.

Está Zuzu Angel com entrevista marcada com a História!

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Lauro Campos) - Gostaria de explicar que o orador ultrapassou em 15 minutos o tempo regimental. No entanto, entre o dever de fazer cumprir o Regimento e a obrigação de escutar o nobre orador Bernardo Cabral fazer um pronunciamento da máxima relevância a respeito dos valores fundamentais da sociedade, prefiro e preferi cometer uma infração ao Regimento Interno a fazer uma descortesia à oração de S. Exª.

O SR. BERNARDO CABRAL - Sr. Presidente, quero louvar V. Exª por mais essa demonstração de coerência com o seu passado.

Não foi só a Manchete que fez uma reportagem histórica, V. Exª acaba de dar uma demonstração à Casa de que a sua decisão também é histórica. O Regimento deveria se curvar a uma injustiça como essa.

Obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/11/1996 - Página 18161