Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS AO SENADOR ALEXANDRE COSTA E A SEUS PAIS.

Autor
Francisco Escórcio (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Francisco Luiz Escórcio Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS AO SENADOR ALEXANDRE COSTA E A SEUS PAIS.
Aparteantes
Edison Lobão, Gilvam Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/1996 - Página 18329
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ALEXANDRE COSTA, SENADOR, ATUAÇÃO, SENADO.

O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO (PFL-MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, aproveito a oportunidade para agradecer o gesto de carinho e de amor que esta Casa teve para comigo por ocasião de minha posse.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, não poderia eu vir a esta tribuna de tão grandes e nobres tradições por circunstâncias outras, por mais nobres que fossem, por um dever quase filial, por uma obrigação de reconhecimento, pelo cumprimento do respeito e sobretudo por um sentimento de gratidão, sem registrar nos Anais desta Casa esses valores do espírito que trago pela formação do meu caráter.

A homenagem que rendo é endereçada, como não podia deixar de ser, ao Exmº Sr. Senador Alexandre Costa, titular perpétuo, por questões sentimentais, da cadeira que, há poucos dias, com muita honra, assumi.

Peço a devida permissão aos meus ilustres pares para traçar um breve perfil do Senador Alexandre Costa, tão querido e admirado neste Senado, em cuja instituição esteve presente e atuante por três legislaturas. Grande vitorioso na última e memorável eleição de 1994, quando se preparava para cumprir o seu quarto mandato, foi acometido por uma enfermidade após um mês de sua posse, impossibilitando-o de ser, na história do Senado da República, o único parlamentar a cumprir quatro mandatos consecutivos.

Todos nesta Casa, desde o Exmº Sr. Presidente até o mais humilde servidor, rendem também as suas sinceras homenagens e comungam da ausência de Alexandre Costa, lembrando-se daquela figura irrequieta, personalidade marcante de quem sabe o que quer, daqueles inesquecíveis gestos muito seus, criados pela sua personalidade, que se tornaram registros indeléveis da sua imagem de político corajoso e determinado, um companheirismo inquestionável e uma fidelidade que, aos grandes homens, a vida, em sua retidão, faz com carinho reservar.

Alexandre Costa tem um temperamento forte por inspiração da sua própria personalidade tão natural aos homens simples, porque, como um velho sertanejo da brava e histórica cidade de Caxias, no Maranhão, é o representante autêntico daquelas personagens mais reais que vagueiam as páginas de Os Sertões, saga brasileira do nosso genial Euclides da Cunha, que conta a história da revolta de Antônio Conselheiro, em Canudos, ao dizer, com muita propriedade, que "o sertanejo é antes de tudo um forte".

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é Alexandre Costa, em sua vida política, um misto divino de herói e de Dom Quixote. O primeiro, marcado pelo seu grandioso senso de justiça, no amparo, principalmente, dos fracos e desprotegidos; e o segundo, porque tinha, também, a propriedade de transformar moinhos de ventos em castelos de sonhos concretizados.

Ao falar em herói, quero situá-lo nas planícies de sua vida pública, tecida por batalhas memoráveis, nas quais sempre se colocou nas primeiras frentes de combate em defesa dos mais altos interesses do nosso querido Estado do Maranhão. Aquele ainda jovem engenheiro civil, há pouco saído dos bancos da faculdade, lá nas Minas Gerais, onde realizou sua formação, atirou-se de corpo e alma à vida pública, que o convocara para as lutas, como aquele forte índio cantado por Gonçalves Dias - poeta também de Caxias -, que fora convocado para a guerra e, assim, imortalizado pelo Canto do Piaga. E Alexandre Costa, consciente de que "a vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar", aliou-se corajosamente a essa linha de fogo cruzado, enfrentando as mais duras intempéries em favor da causa que abraçara. Foi Prefeito de São Luís. Foi, por duas vezes, Vice-Governador - cargo este, à época, acumulativo com o de Presidente da Assembléia Legislativa do Estado, em momentos de crises terríveis. Foi Secretário de Interior, Justiça e Segurança e Deputado Federal por duas legislaturas, elegendo-se, em seguida, Senador da República, onde passou, em constantes e memoráveis lutas por trinta anos, galgando com a sua simplicidade a admiração dos seus pares e a estima dos servidores da Casa, assertiva que nos vem demonstrar que esse seu apreço lhe deu em vida o nome em uma das principais alas do Senado da República. Em todas essas funções, o nosso Senador é um marco de dignidade e de honradez, de honestidade e de trabalho, com a fortaleza de um velho tronco de aroeira.

Foi aqui, justamente aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já passados mais de vinte anos, que me encontrei com Alexandre Costa, conduzido pelo destino e por dever de ofício: ele, Senador, e eu, um jovem empresário no começo de minha vida. Desse conhecimento começou a se avolumar uma amizade que veio, mais tarde, se consolidar, chegando mesmo a uma intimidade tão estreita somente compreendida de pai para filho.

O Sr. Edison Lobão - V. Exª me permite um aparte?

O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO - Tem V. Exª a palavra.

O Sr. Edison Lobão -  Ponho-me a ouvir o discurso de V. Exª a respeito de um homem público de grande envergadura neste País. Alexandre Costa é meu companheiro, meu amigo e meu conhecido de muitos e muitos anos. Convivi com ele nos momentos melhores e nos instantes piores. Sempre vi em sua pessoa um amigo solidário, um amigo de todas as horas. Senador Francisco Escórcio, fui colocado na vida pública pelo então Senador de saudosa memória Henrique La Rocque. A ele fui fiel a vida inteira. À sua memória sou também fiel. Vejo que V. Exª se coloca na mesma posição. Ingressou na política pela mão de Alexandre Costa e a S. Exª manifesta permanentemente a sua gratidão e o seu dever de lealdade. O seu discurso de hoje, portanto, homenagea a sua personalidade de homem correto e digno. A doença que se abateu sobre Alexandre Costa causou-lhe grande dano e a sua família, mas muito mais do que a ele e a sua família, também à vida pública brasileira, aos seus amigos, a este País inteiro, aos quais se dedicava dia e noite como homem público e cidadão de bem e de primeira grandeza. Cumprimento V. Exª pela homenagem que está fazendo, pelas palavras corretas que pronuncia sobre a figura extraordinária do Senador Alexandre Costa.

O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO - Muito obrigado, nobre Senador Edison Lobão. Tenho certeza de que as palavras de V. Exª vieram enaltecer meu discurso.

O Sr. Gilvam Borges - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Gilvam Borges - Senador Francisco Escórcio, estava ouvindo o pronunciamento de V. Exª em meu gabinete. Uma das variáveis que temos de considerar de suma importância na formação do caráter, da personalidade de um homem, principalmente daquele que exercita seu trabalho na vida pública, é a gratidão. A gratidão se extende à moral, ao respeito, à lealdade. V. Exª é amigo do Senador Alexandre Costa, que tem deixado um vácuo muito grande nesta Casa. Quantas vezes conversei com muitos funcionários desta instituição e eles sempre falaram com carinho do Senador Alexandre Costa, que era um grande defensor da instituição, um homem de personalidade consolidada, forte, decisiva. Conheci o Senador Alexandre Costa - sou jovem, não tenho a vivência pública do Senador Edison Lobão, mas acompanhei Alexandre Costa quando S. Exª foi ministro. Eu era deputado e assistia a disposição fantástica daquele homem. O seu gabinete estava sempre de portas abertas. Era impressionante a versatilidade, o companheirismo, a capacidade de Alexandre Costa e também o respeito que tinha para com os políticos. Quero me congratular com V. Exª e parabenizá-lo por este pronunciamento, que justifica a sua subida à tribuna já como Senador da República. Receba, Senador Francisco Escórcio, minhas congratulações e os meus parabéns por sua bravura e pela gratidão ao Senador Alexandre Costa, que é uma demonstração de caráter.

O SR. FRANCISCO ESCÓRCIO - Muito obrigado, Senador Gilvam Borges; desse coração e dessa alma só podiam sair coisas desse tipo.

Por derradeiro, quero consignar neste meu discurso inaugural as palavras do Exmº Sr. Presidente José Sarney que, quando da minha posse nesta Casa, sentenciou com emoção: "Sr. Francisco Escórcio, cabe a V. Exª agora a responsabilidade de ocupar a cadeira de Alexandre Costa, seu grande amigo".

Ainda nesta oportunidade, quero fazer uma homenagem a meus pais. Lembro-me, quando garoto - garoto malino e travesso -, das conversas de mamãe e papai no quarto de portas fechadas. Ouvia papai dizendo: "Maria Helena, Maria Helena, não passe a mão na cabeça desse menino. Não fizemos filho para nós, fizemos filho para o mundo. E aqui está o Chiquinho."

Mas se faço uma homenagem a meus pais, gostaria também de fazer uma homenagem àquele que foi um misto de pai, irmão, meu grande professor, Senador Alexandre Costa. Tenho certeza de que foi com sabedoria e espírito público que Alexandre me ensinou a dar os primeiros passos na vida pública, não para que eu me servisse do poder, mas para eu servisse ao Maranhão e ao Brasil. E aqui estou.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/1996 - Página 18329