Discurso no Senado Federal

OUTORGA DO TITULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA PELA UNIVERSIDADE GAMA FILHO AO EMPRESARIO JOÃO HAVELANGE, A REALIZAR-SE DIA 20 DE NOVEMBRO.

Autor
Bernardo Cabral (PFL - Partido da Frente Liberal/AM)
Nome completo: José Bernardo Cabral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA.:
  • OUTORGA DO TITULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA PELA UNIVERSIDADE GAMA FILHO AO EMPRESARIO JOÃO HAVELANGE, A REALIZAR-SE DIA 20 DE NOVEMBRO.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/1996 - Página 18485
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CONCESSÃO, UNIVERSIDADE PARTICULAR, TITULO, JOÃO HAVELANGE, PRESIDENTE, FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE FUTEBOL ASSOCIATION (FIFA).

O SR. BERNARDO CABRAL (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é público e notório que o brasileiro sempre alimentou inclinação masoquista para desdenhar seus talentos. Os fatos, incansavelmente demonstrados, despem-me das vestes de ficcionista e de crítico improvisado dos nossos costumes. A verdade é que o brasileiro, com raríssimas exceções, não se entusiasma pelo sucesso de seus patrícios.

Ayrton Senna, príncipe da velocidade, o maior piloto da Fórmula 1 de todos os tempos, sempre sofreu cobrança dos falsos experts no assunto, a toda hora submetido a comparações com outros pilotos, pouco importando seu número de vitórias. Somente quando uma curva assassina o matou na Itália é que passou a ser unanimidade nacional.

Edson Arantes do Nascimento, Pelé, gênio inconteste do futebol, admirado e festejado nos mais distantes pontos do planeta, jamais conseguiu se impôr como expressão ímpar do nosso esporte. Diante dos rasgados elogios da imprensa internacional à arte maravilhosa de Pelé, não faltavam cronistas indígenas, não alienígenas, que, numa incrível demonstração de desamor, mancharam as páginas dos jornais em que trabalhavam com comentários do tipo "Eles não viram o Puska jogar" ou "Alfredo Di Stefano, que saudades!"

Glauber Rocha, revolucionário do cinema brasileiro, foi chamado de tudo, de esquizofrênico a narcisista, menos aquilo que realmente era, um gênio da sétima arte.

As nações civilizadas orgulham-se dos seus talentos. O Barão de Cubertin, homem a quem devemos a universidade dos modernos jogos olímpicos, é uma instituição nacional na França, o mesmo acontecendo com Jules Rimet, que transformou os campeonatos mundiais de futebol num instrumento de aproximação entre os povos. Mas nós, brasileiros, ignoramos os nossos talentos. Fazemos de conta que não existem, não importando o quanto tenham contribuído para a divulgação do Brasil nas importantes funções que eventualmente ocupem no campo internacional.

Jean Marie Faustin Godefroid Havelange, há várias décadas, convive com o sucesso em todas as empreitadas às quais se arriscou. Filho de belgas, brasileiríssimo nascido no Rio de Janeiro em maio de 1916, presidente da Fedération Internationale de Football Association desde 1974, João Havelange é o exemplo típico do homem pertinaz, que, superando desafios, amolda segmentos da sociedade à sua imagem pessoal de renovação.

João Havelange é hoje uma das personalidades mais ilustres deste planeta, recebido com honras de chefe de estado por todas as nações que visita, exceção do Brasil, evidentemente, que ainda não lhe prestou as merecidas homenagens por sua extraordinária atuação no futebol internacional.

Empresário vitorioso e de idéias arejadas, Havelange, à frente da FIFA, transformou o futebol num poderoso instrumento de amizade entre os povos. Nações que se digladiavam em guerras cruentas paralisaram por noventa minutos a sua fúria sanguinolenta e se confraternizaram nas quatro linhas de um campo de futebol.

Nesse caldeirão de conflitos étnicos em que o planeta se vê mais uma vez envolvido, a presença da ação pacificadora da FIFA e a influência de Havelange como estadista do esporte reduziram ódios tribais, amainaram divergências diplomáticas e criaram esperanças para milhares de jovens nos diversos quadrantes da Terra.

Com efeito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao assumir o comando da FIFA - primeiro sul-americano a conquistar essa honraria - a entidade era política e economicamente controlada pelos interesses europeus. Diferente de Jules Rimet, que não considerava o futebol praticado em outros continentes como digno de suas atenções, Havelange olhou para o futuro e globalizou a Fedération Internationale de Football Association, incluindo em suas competições países da África, Ásia e Oceania.

As Copas do Mundo, antes restritas a dezesseis equipes e com pouco menos de vinte dias de duração, transformaram-se, sob a orientação de Havelange, num espetáculo universal. De quatro em quatro anos, o mundo inteiro suspende suas atividades por algumas horas, concentrando-se no aplauso ao talento de alguns eleitos. Ao convocar a televisão para sua parceira, Havelange mundializou o futebol mas, ao mesmo tempo, transformou-o numa festa de aldeia, onde todos se reúnem para vê-la.

Responsável direto pelo fato de o Brasil se tornar uma potência futebolística mundial - os títulos mundiais de 58 e 62 se deram quando se encontrava à frente da Confederação Brasileira de Desporto -, João Havelange transformou a FIFA num enorme conglomerado econômico, mas com intensa atividade no campo social, principalmente nos países menos desenvolvidos.

Ao registrar, na simplicidade destas palavras, a obra realizada por João Havelange, estadista do esporte, cidadão do mundo, faço-o com a consciência tranqüila de saber que nem todos os brasileiros desprezam seus patrícios talentosos, razão pela qual me associo à Chancelaria e à Reitoria da Universidade Gama Filho pela outorga do título Doutor Honoris Causa a esse eminente brasileiro, a realizar-se depois de amanhã, dia 20 de novembro.

Concluo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, requerendo a V. Exª, Senador Ramez Tebet, que ainda há pouco pronunciou brilhante discurso desta tribuna, que dê ciência deste meu pronunciamento ao Dr. João Havelange, assim como determine a publicação, na íntegra, do seu curriculum vitae.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - V. Exª concede-me um aparte?

O SR. BERNARDO CABRAL - Concedo o aparte a V. Exª, eminente Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães - Senador Bernardo Cabral, seu pronunciamento reflete o pensamento de todo o Senado. Não tenho dúvida de que, nessa oportunidade, V. Exª é perfeito intérprete não só desta Casa, mas também de toda a população do Brasil. Nosso povo ama o esporte maior, o futebol, que tem em Havelange uma das figuras mais importantes hoje no mundo. Considero que esse homem merece que lhe sejam tributadas todas as homenagens do Senado da República, e, tendo V. Exª como intérprete, essas homenagens crescem mais ainda.

O SR. BERNARDO CABRAL - Quero agradecer a V. Exª, eminente Senador Antonio Carlos Magalhães. O aparte de V. Exª constitui não apenas um complemento, como poderia parecer, mas o que de mais importância pudesse haver nele. Peço ao eminente Senador Ramez Tebet que, ao dar conhecimento deste pronunciamento, faça-o destacando o aparte do nosso Senador Antonio Carlos Magalhães, Senador de hoje e Presidente da Casa de amanhã.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/1996 - Página 18485