Discurso no Senado Federal

SAUDANDO O EXITO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS COM A IMPLANTAÇÃO DO VOTO ELETRONICO, PRINCIPALMENTE NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. CONGRATULANDO-SE COM PARTIDO DOS TRABALHADORES, DURANTE DISPUTA ELEITORAL NO ESTADO.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • SAUDANDO O EXITO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS COM A IMPLANTAÇÃO DO VOTO ELETRONICO, PRINCIPALMENTE NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. CONGRATULANDO-SE COM PARTIDO DOS TRABALHADORES, DURANTE DISPUTA ELEITORAL NO ESTADO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Elcio Alvares, Roberto Freire.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/1996 - Página 18476
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, RESULTADO, PROCESSO ELEITORAL, UTILIZAÇÃO, INFORMATICA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • CONGRATULAÇÕES, ATUAÇÃO, REPRESENTANTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÕES, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • SAUDAÇÃO, VITORIA, CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÕES, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • SAUDAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, POVO, DEMOCRACIA, BRASIL, ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, esta é a primeira sessão depois do encerramento do pleito municipal, no último dia 15 de novembro, ocasião em que o Brasil inteiro fechou com chave de ouro as eleições municipais do corrente ano.

A renovação, em mais de 5 mil municípios brasileiros, deu-se em um clima de perfeita harmonia e concórdia. Podemos afirmar que o Brasil caminha mesmo no aperfeiçoamento da sua vida democrática; que a democracia no Brasil está absolutamente consolidada; que o povo está mais amadurecido, demonstrando o seu desejo de participação, de influir, de fortalecer e de construir uma democracia, a democracia que de representativa está passando a ter um forte conteúdo de democracia participativa.

Não se registrou neste País, Sr. Presidente, Srs. Senadores, uma nota dissonante a merecer destaque. Ao contrário, ao invés de notas que pudessem merecer as manchetes dos jornais, da imprensa falada e escrita, o que se viu, sem dúvida alguma, foram eleições cada vez mais transparentes, límpidas e cristalinas.

Venho a esta tribuna, portanto, saudar o exercício da democracia neste País; saudar os partidos políticos, o amadurecimento e a vontade política do povo brasileiro. Também saúdo a Justiça Eleitoral, que, no Brasil, está avançando mais do que em qualquer outro país do mundo. Outros países já estão começando a copiar o modelo brasileiro e, nesse particular, nosso País se agiganta. A introdução do voto eletrônico, sem dúvida alguma, apesar de algumas falhas, veio demonstrar, com todo êxito, o acerto do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. Quando se pensava que essa inovação no processo eleitoral brasileiro pudesse gerar alguma confusão ou transtorno e que parte da nossa população ficaria praticamente atemorizada diante da máquina, o que se verificou foi que o voto eletrônico deu mais transparência ao pleito eleitoral. Sem dúvida, podemos dizer que o processo eletrônico, se não eliminou totalmente as fraudes, reduziu bastante o seu número e a corrupção no processo eleitoral brasileiro.

É mesmo de se desejar, como também pretende o Tribunal Superior Eleitoral por meio da palavra de seu Presidente, que, pelo menos em cerca de 70% dos municípios brasileiros, seja possível realizar as próximas eleições de 1998 pelo sistema de voto eletrônico, tal como se verificou nas capitais brasileiras e nos municípios com mais de 200 mil eleitores. É o que todos nós esperamos. Tenho certeza de que o Poder Legislativo está preparado para dar a sua parcela de contribuição no sentido de que esse processo eleitoral, por meio do voto eletrônico, se transforme em realidade em todos os municípios brasileiros.

Por outro lado, o que me chamou a atenção - e já manifestei isso recentemente em outro pronunciamento - foi o recado que as urnas deram para todos nós da classe política. Sem dúvida nenhuma essas eleições municipais não foram, penso eu, disputadas no plano ideológico. Entendo que o resultado dessas eleições demonstraram que o povo tem disposição e quer uma política de resultados que venha a atender suas necessidades mais importantes e solucionar os problemas mais básicos, mais prementes e mais urgentes da nossa população. Parece-me que foi isso o que as urnas demonstraram nesse último pleito de 3 de outubro.

Em meu Estado, Mato Grosso do Sul, fechamos as eleições com chave de ouro; e falo agora com o coração estimulado pelo sentimento da alegria e do contentamento de ver que no meu Estado as eleições também transcorreram no mesmo clima em que se efetivaram em todo o território nacional. Na capital do Estado, travou-se o embate mais acirrado de todo o pleito ocorrido no Brasil. Foi lá que se verificou a eleição mais disputada, mais apertada, que terminou com a vitória do meu Partido, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, pela diferença de 411 votos sobre o Partido dos Trabalhadores.

Sr. Presidente, pude constatar que também em meu Estado se verificou o que aconteceu no País inteiro: alianças. Entretanto, isso me causou até uma certa perplexidade, porque aconteceram alianças no segundo turno que considerávamos inimagináveis na nossa capital. Assim é que presenciamos o PPB, nos últimos instantes, através do seu Líder maior, nosso colega no Senado, Senador Levy Dias, comparecer ao horário gratuito na televisão e, democraticamente, dizer que apoiava o Partido dos Trabalhadores; essa decisão chocou a militância do PT, pelo que pude observar. Falo aqui como Presidente do Diretório Regional do PMDB, mas falo, sobretudo, como sul-mato-grossense, contente e satisfeito por ver o pleito democrático ter transcorrido da forma como transcorreu e, principalmente, depois de assistir à vitória do meu partido.

Houve ali um tipo de aliança explícita, inclusive com o comparecimento do Senador Levy Dias ao horário gratuito de televisão, apoiando o Partido dos Trabalhadores - Levy Dias que é filiado ao PPB e matriculado no PPB do atual Prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf. E vi também outras coisas, não tão transparentes, não no horário gratuito da televisão.

Não falo com qualquer sentido de crítica, mas como constatação dos caminhos da democracia em nosso País. Falo da experiência que vivi de perto no meu Estado e das outras que colhi pela imprensa escrita e pelos noticiários da TV. Houve também alianças que não foram tão transparentes assim, de políticos tradicionais do Estado, que, embora não tenham ousado comparecer à televisão, não negaram apoio ao candidato do Partido dos Trabalhadores. Ninguém no meu Estado desconhece que o ex-Governador Pedro Pedrossian aliou-se ao PT - de quem era inimigo tradicional -, bem como o ex-Governador Marcelo Miranda, o ex-Conselheiro do Tribunal de Contas, João Leite Schmidt. O próprio candidato do PT, no último debate travado com o candidato vitorioso, André Puccinelli, declarou que agradecia o apoio recebido desses políticos.

Pode parecer que eu esteja aqui criticando o apoio desses políticos ao candidato do PT. Em absoluto. Cada um apoio quem quiser no regime democrático que estamos vivendo, regime que está se aprimorando, mas que demonstra uma faceta diferente, que até então não conhecíamos no nosso Estado, como essa aliança que se formou entre os políticos tradicionais que acabei de citar e o candidato do Partido dos Trabalhadores, meu particular amigo, José Orcílio.

É por isso que o meu PMDB foi realmente o partido vitorioso, pois enfrentou dificuldades, porque, estando no poder, lutou com muitas dificuldades. Durante algum tempo, o funcionalismo estadual recebeu os seus salários em atraso. Só recentemente, o Governador, com o beneplácito da Assembléia Legislativa, que não lhe negou apoio, conseguiu a renegociação da dívida perante as autoridades econômicas federais, e pôde, assim, cumprir esse débito com os dedicados servidores públicos do nosso Estado.

A vitória do Partido, portanto, foi uma vitória maiúscula, que nos deixa satisfeitos e felizes, sim, mas longe de nos vangloriarmos com ela. Queremos tirar dessa vitória os ensinamentos que as urnas revelaram.

Pleito renhido no meu Estado: 411 votos de diferença. Em todas as camadas sociais o PMDB e o PT foram votados; as chamadas classes A, B, C, D e E convergiram seus votos tanto para o PMDB de André Puccinelli, como para o PT, representado pelo candidato José Orcílio.

Então, devemos lembrar da grande responsabilidade que temos neste momento. E compareço a esta tribuna em regozijo à democracia que está sendo praticada no Brasil e no meu Estado e também para dizer que o Prefeito eleito de Campo Grande, André Puccinelli, do nosso Partido, está cônscio de suas responsabilidades; recebeu bem o recado das urnas e vai, naturalmente, com a garra e a bravura que o caracterizam, com a sua personalidade forte e a vontade que tem de servir ao nosso povo e à nossa gente, procurar uma administração cada vez mais participativa, unida à nossa população, buscando auscultar-lhe os interesses e atendê-la nos seus reclamos mais urgentes e necessários.

Sabe ele, como proclamou nos programas de rádio e televisão e em praça pública, o que é o Estado do Mato Grosso do Sul e o que representa a nossa capital no contexto da vida do Estado e do País; sabe que Campo Grande é a capital de um Estado emergente, considerado um Estado rico, que possui riquezas no seu subsolo, ainda inexploradas e que estão esperando a ação das autoridades para que, efetivamente, possam ser colocadas a serviço da nossa população.

Sim, Mato Grosso está no contexto dessa região Centro-Oeste tão alvissareira em busca desses incentivos de que necessita para o seu pleno desenvolvimento. Lá no meu Estado, ainda há áreas agricultáveis, e o setor da agricultura e da pecuária tem possibilidade de render 30% a mais do que já contribui no contexto nacional. Há um potencial turístico imenso, com essa reserva que Deus nos deu que é o Pantanal Mato-grossense, um ecossistema maravilhoso, também à espera de uma efetiva exploração que não venha a agredir nossa natureza.

O transporte intermodal está pronto para receber a ação das autoridades governamentais. Temos o transporte ferroviário e o hidroviário. O rio Paraguai é navegável e os rios Paraná e Tietê muito em breve já começarão a operar. Ainda a desafiar nossa capacidade, o aproveitamento do gás boliviano, que vai passar por Corumbá, Campo Grande e Três Lagoas - esperamos não ser apenas um mero corredor -, ganhando o Estado de São Paulo e aí atingindo outras unidades da Federação. 

É preciso ação política eficaz por parte do Governo do Estado, por parte do Prefeito da Capital que acaba de ser eleito. E tudo isso, Sr. Presidente, Srs. Senadores, temos convicção, vai acontecer, porque a população de Mato Grosso do Sul está esperando ser beneficiada com uma melhor qualidade de vida; poderá, também, contribuir para um Brasil cada vez mais justo e mais humano, como também é o desejo de todos nós.

Voltando a falar das eleições, acompanhei aquela luta de perto. Em determinado instante, quis que o meu Partido fosse representado pelo nosso colega Senador Lúdio Coelho, que considerava - e considero - imbatível. S. Exª, no entanto, preferiu continuar aqui no Senado da República. Nós do PMDB, então, tivemos que insistir numa candidatura própria, que, finalmente, ficou encarnada na pessoa do Deputado Federal André Puccinelli, conhecido pela sua bravura, por ter sido o Deputado Federal mais votado no Estado, aquele que percorreu todos os municípios de Mato Grosso do Sul e aprendeu rapidamente os caminhos de Brasília - percorreu Ministérios, foi à Presidência da República, demonstrando, com seu trabalho, o que poderia fazer por Mato Grosso do Sul, como fez, num curto espaço de tempo, quando esteve aqui como Deputado Federal.

Agora, por uma diferença de 411 votos, a população de Campo Grande confiou-lhe a tarefa de ser seu Prefeito, o condutor do Município. Estaremos aqui no Senado da República para ajudá-lo, nós, que incentivamos sua candidatura, que lutamos por ela bravamente, que fomos à praça pública. Como Presidente interino do meu Partido, visitei a maioria dos Municípios sul-mato-grossenses e, agora, no embate do segundo turno, dali não me afastei.

Junto com os demais companheiros de Partido, tivemos essa vitória maiúscula, sim, maiúscula pela força de vontade, maiúscula pelo destemor, maiúscula pela transparência, porque assumimos os equívocos do nosso Governo.

Há vários e vários anos estamos no comando da Prefeitura de Campo Grande, estamos governando o Estado de Mato Grosso do Sul através de quem já passou pelo Senado da República, Wilson Barbosa Martins, que, lutando com uma série de dificuldades, conseguiu junto ao Governo Federal, como já afirmei, reordenar as finanças do Estado.

Queremos que todos juntos, de mãos dadas, possamos, daqui para a frente, com a vitória obtida, fazer a caminhada, aquilo que o povo sul-mato-grossense espera de nós.

Quero deixar também minhas congratulações - preciso fazer isto - ao PT do meu Estado. Os petistas foram bravos na luta, valorizaram nossa vitória, foram destemidos, reafirmo, valorizaram sumamente a vitória do PMDB. Congratulo-me, assim, com o povo da capital do meu Estado, dizendo que só há um vencedor, e esse vencedor é o povo sul-mato-grossense, que merece o nosso esforço, o nosso trabalho, a nossa luta e espera por melhores dias.

O Sr. Elcio Alvares - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Ramez Tebet?

O SR. RAMEZ TEBET - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Elcio Alvares  - Confesso a V. Exª que é muito agradável, no retorno aos trabalhos efetivos desta Casa, encontrar o eminente colega na tribuna, realçando com muito brilhantismo, com todo o entusiasmo que lhe é peculiar, a vitória de André Puccinelli para a prefeitura de Mato Grosso do Sul. Quando V. Exª, com muita tranqüilidade, com muita propriedade, exalta o feito, dá o retrato por inteiro do que representa essa vitória para o seu Estado; acima de tudo, houve uma modéstia emoldurando seu pronunciamento. Atrevo-me neste instante a dizer que a vitória de um candidato é resultante das forças que o apóiam. Conhecemos muito bem o governador Wilson Martins - foi uma figura que, aqui no Senado da República, granjeou sempre o respeito dos seus colegas -, mas devo afirmar também neste instante, Senador Ramez Tebet, que V. Exª, na mesma trilha, tem pautado todos os seus atos nesta Casa pela retidão, pela correção de um comportamento parlamentar que sobremodo dignifica o exercício da função de senador. Portanto, acredito sinceramente, V. Exª foi um daqueles que lutou ao lado do candidato eleito e deu ao Mato Grosso do Sul essa visão, uma visão altamente positiva de um candidato determinado a cumprir um programa de homens sérios, de homens honrados, de homens que, acima de tudo, objetivam o progresso de Campo Grande. Portanto, neste momento, congratulo-me com V. Exª pela colocação que faz com tanto entusiasmo mas com tanta modéstia. Atrevo-me a dizer que, nesta vitória, não houve somente uma participação intensa do povo, que decidiu pela sua maioria numa das lutas municipais mais bonitas desse segundo turno; mas, inegavelmente, não se pode deixar de fazer o registro de que a participação do Senador Ramez Tebet, que, no Senado da República, tem dado uma contribuição de trabalho permanente e dedicado aos mais altos interesses nacionais, teve um efeito muito positivo. Congratulando-me com V. Exª pelo pronunciamento, estendo meus cumprimentos ao candidato eleito André Puccinelli, ao Governador Wilson Martins e a todos aqueles que, num momento tão decisivo para a história da capital do Mato Grosso, tiveram oportunidade de apoiar exatamente o candidato que vai dar o cetro à capital mato-grossense, aquela cena de progresso, de desenvolvimento que, diga-se de passagem, é uma norma do Governo Wilson Martins.

O SR. RAMEZ TEBET - Meu caro Senador Elcio Alvares, que bom ouvir o aparte de V. Exª!

Quanto à minha participação pessoal, se merece algum destaque é pelo esforço, pelo companheirismo, porque, quando sou companheiro, sou mesmo. Fiquei no meu Estado porque acreditava, como acreditei e acredito no candidato do meu Partido, André Puccinelli. Mas V. Exª menciona nomes do nosso Estado que honraram o Senado da República, como o nome do nosso atual Governador, Wilson Barbosa Martins.

Eu acrescentaria o nome do Prefeito da Capital, Juvêncio César da Fonseca, até para dizer que quem está no Governo tem o ônus e tem o bônus, e deve assumir isso. E o grande feito do PMDB em Mato Grosso do Sul foi assumir os ônus e os bônus de sermos poder por muitos anos no nosso Estado.

Fizemos as nossas coligações, Senador Elcio Alvares, às claras: com o PMDB, no segundo turno, esteve o PSDB, que não esteve no primeiro turno; o PSDB do Senador Lúdio Coelho apoiou a candidatura do Senador Levy Dias; no segundo turno, veio conosco. Também veio conosco uma parte do PDT no segundo turno. Tudo às claras, tudo abertamente.

Comecei meu pronunciamento dizendo que este País vive um momento diferente, vive um momento de resultados. O povo hoje parece não querer mais as questões ideológicas. A ideologia hoje é a honestidade, a integridade dos homens públicos; é o que for bom para a cidade, o que for bom para o Estado, o que for bom para o País.

Nesse sentido, demonstrei que lá no meu Estado as coisas aconteceram de forma diferente: o PTB, por exemplo, quando veio com o PMDB, veio às claras, pois fomos à televisão, fomos às praças públicas. Por outro lado, o PT surpreendeu-me no Estado, porque, recebendo adesões, algumas ele escondeu: o ex-Governador Pedro Pedrossian, o ex-Governador Marcelo Miranda Soares e o ex-Conselheiro João Leite Schimitt apoiaram a candidatura, mas não publicamente.

No entanto, o candidato do PT, que perdeu por 411 votos nessa disputa - como V. Exª disse, foi acirradíssima -, no debate final, indagado pelo nosso candidato, até agradeceu o apoio dessas pessoas que até então não eram apoios explícitos, de homens que vão para a praça pública, que exteriorizam seus pensamentos, seus pontos de vista. O candidato do PT manifestou-se agradecendo a todos que o apoiaram, nominando-os. Nessa mesma ocasião, defendeu o apoio explícito do Senador Levy Dias. E devemos considerar que o apoio do Senador Levy Dias, do PPB, ao PT, somente aconteceu em Mato Grosso do Sul; não conheço outro lugar onde isso tenha acontecido.

Vejam bem: não estou recriminando. Sou um homem pragmático e entendo que o homem público tem suas contradições. Quem não as tem? Quem não passou por aqui e por ali na sua vida pública? Quem não se recicla? Todos temos que nos reciclar um pouco. Todos temos os nossos erros e assumimos, lá, não os erros mas os ônus, pois o Governo de Wilson Barbosa Martins, acusado de ficar meses e meses sem pagar o funcionalismo público, não foi quem atrasou o pagamento. Quando assumiu aquele Estado, o Governador já encontrou esse atraso de três meses, mas sustentamos que a responsabilidade é nossa. Para arrumar recursos, pagar o funcionalismo, que merece receber em dia, tivemos o apoio da Assembléia Legislativa; alguns nos negaram esse apoio. O mesmo apoio que foi negado no seu Estado, Senador Elcio Alvares, ao Governador, ao meu Estado também foi negado, só que tínhamos maioria. Aprovamos e negociamos com o Governo Federal.

Quero encerrar meu pronuncimento dizendo que Campo Grande é um exemplo do amadurecimento político do Brasil, porque as eleições transcorreram praticamente sem "senões". É um acontecimento extraordinário um país fazer eleições em mais de 5 mil municípios sem registrar incidentes graves. A urna eletrônica provou que ajudará muito na lisura das eleições. E o Poder Legislativo tem responsabilidade de continuar dando sua parcela de contribuição para o aperfeiçoamento da vida democrática do País.

O Sr. Eduardo Suplicy - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET - Ouço V.Exª com prazer.

O SR. PRESIDENTE (Valmir Campelo) - A Presidência pede ao nobre orador que, logo em seguida ao aparte, procure concluir seu pronunciamento porque seu tempo já se encontra ultrapassado em 10 minutos.

O Sr. Eduardo Suplicy - Senador Ramez Tebet, tive a oportunidade de estar em Campo Grande na semana anterior ao 15 de novembro. Assisti a um importante debate de iniciativa das igrejas evangélicas e do qual participaram, no melhor nível, os candidatos José Orcílio Miranda dos Santos e André Puccinelli, respectivamente, do PT e do PMDB. Eu avaliava que essa disputa tão equilibrada em Campo Grande fosse realizada no mais alto nível - pelo menos naquela noite o debate apresentava um bom nível. Infelizmente, na reta final, o que se observou em Campo Grande, segundo a informação que chegou à Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores, transmitida pelo PT ao nível do Estado e de Campo Grande, é que ocorreram diversas irregularidades. O Partido dos Trabalhadores está ingressando, perante a Justiça Eleitoral - já o fez na própria noite do dia 14 -, com pedido de suspensão da votação, para o Juiz da 35a. Zona Eleitoral, Sidenir Soncini Pimentel. E, na manhã do dia 15, encaminhou reclamação para os juízes das demais zonas eleitorais, uma vez que surgiram diversas denúncias, seja de compra de votos, de distribuição de cestas básicas, enfim, procedimentos que não condizem com a lisura total do pleito. É claro que houve extraordinário equilíbrio na conquista dos votos. Mas eu gostaria de registrar que o Partido dos Trabalhadores está ingressando com solicitação de nova eleição. O Presidente José Dirceu, acompanhado do Deputado José Orcírio Miranda dos Santos, fará uma visita amanhã ao Presidente do TSE, quando ingressará com documentos que descrevem essa situação. Obviamente foi uma disputa extremamente equilibrada. Entretanto, devido a alguns problemas ali registrados, o Partido dos Trabalhadores solicita à Justiça Eleitoral que examine em profundidade os casos registrados, inclusive que haja nova votação e apuração.

O SR. RAMEZ TEBET - Senador Eduardo Suplicy, quero agradecer o aparte, mais pela sua presença e menos pelo aparte em si, porque nele V. Exª apenas cumpre o dever partidário de comunicar à Casa que o seu partido reclama do resultado do pleito, quer dizer, chora o resultado de um pleito acirrado, disputado, com uma diferença final de apenas 411 votos. Se não existisse o jus esperniandi, diria até que seria ignorar que a política é uma das maiores paixões que envolvem o ser humano e ninguém se conforma com o resultado das urnas, ainda mais quando é um resultado apertado, um resultado proveniente de uma disputa - como afirmei aqui e V.Exª confirmou -, cujos números falam mais alto do que nós dois.

Entendo que a manifestação de V. Exª é o choro. Fizemos uma eleição dentro dos moldes democráticos. O Brasil inteiro está de parabéns, e o PT não vai conseguir demonstrar as denúncias que está formulando.

Aproveito a oportunidade para agradecer, em nome do meu Estado, a presença de V. Exª na campanha. V.Exª dignificou, com sua presença, a campanha cívica que travamos em Campo Grande. Senti não estar lá para recebê-lo, mas ouvi a população falando da sua serenidade, da sua competência, falando, sobretudo, de seu elevado espírito partidário. Isso deixou-me profundamente feliz.

O Sr. Eduardo Suplicy - Em Porto Murtinho, onde a diferença entre os candidatos foi de apenas dois votos, o resultado está sendo contestado.

O SR. RAMEZ TEBET - Também aproveito esta oportunidade para deixar registrada a visita que nos fez outra companheira de Senado, a Senadora Benedita da Silva, que deixou excelente impressão no eleitorado mato-grossense-do-sul, afora o presidente do Partido dos Trabalhadores, Deputado José Dirceu, que está batendo às portas do Tribunal Superior Eleitoral, cumprindo, naturalmente, sua missão de presidente. Vejam como a minha Campo Grande ficou importante! Como é boa a democracia!

Por tudo isso, cumprimento o Partido dos Trabalhadores.

O Sr. Roberto Freire - V. Exª me concede um aparte?

O SR. RAMEZ TEBET - Concedo um aparte ao Senador Roberto Freire.

O SR. PRESIDENTE (Valmir Campelo) - Nobre Senador, temos outros oradores inscritos e V. Exª já ultrapassou seu tempo em 15 minutos. A Presidência solicita que V. Exª conclua, por gentileza, seu pronunciamento.

O Sr. Roberto Freire - Sr. Presidente, meu aparte é só para fazer constar dos Anais que a reclamação democrática, já que vivemos em um estado de direito, não é apenas do PT, é da Frente que se formou em Campo Grande, à qual nosso partido está associado. Ou seja, estamos associados à reclamação que será enviada ao TSE. Não se trata só do jus esperniandi e nem do choro, mas da denúncia de que poderíamos estar presenciando, no segundo turno, ao uso e abuso da máquina administrativa da prefeitura e do poder econômico. Gostaria de ressaltar que essa denúncia foi feita, inclusive, antes do dia 15 de novembro, portanto, antes do possível choro, do possível jus esperniandi, quando as pesquisas não indicavam um possível vencedor. Nenhuma pesquisa pode detectar uma vitória por uma diferença de apenas 400 votos numa cidade com mais de 200 mil eleitores. As pesquisas detectavam uma igualdade ou até apontavam o nosso candidato como vencedor, em função de o mesmo ter vencido o primeiro turno das eleições. Gostaria apenas de esclarecer melhor a presença de outros partidos e não apenas a do PT. E, o que é mais importante, quero dizer que não se tratava de um jus esperniandi, mas de uma denúncia prévia de que poderíamos estar assistindo ao uso e abuso do poder econômico e da máquina administrativa.

O SR. RAMEZ TEBET - É como se atestasse praticamente a derrota por antecipação e se prevenisse contra a mesma. Mas não gostaria de encerrar o meu pronunciamento sem dizer que, para honra e glória de todos nós de Mato Grosso do Sul, V. Exª é o parlamentar mais convidado a ir ao meu Estado, dado o seu brilhantismo para proferir palestras e conferências. De sorte que V. Exª é muito conhecido no nosso Estado, que é pequeno. Atrevo-me a dizer que, proporcionalmente, V. Exª é tão conhecido lá quanto o é no Estado de Pernambuco, devido às inúmeras vezes em que lá esteve e que nos honrou com suas brilhantes palestras.

V. Exª também sabe que aquele povo não se deixa dobrar por cesta básica e votou por que tinha que votar. Tanto vencemos nós, como poderia ter vencido outro. As eleições, segundo as pesquisas, estavam empatadas; a diferença foi pequena. Mas, sobretudo, quero falar sobre a minha alegria de ver que o candidato do meu partido ganhou e que o povo de Mato Grosso do Sul está dando a sua parcela de contribuição para a democracia no Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/1996 - Página 18476