Discurso no Senado Federal

REGISTRANDO A VISITA AO CONGRESSO NACIONAL DO REVERENDO JESSE JACKSON, PASTOR E SENADOR NORTE-AMERICANO, QUE FARA PALESTRA NO AUDITORIO PETRONIO PORTELLA DO SENADO FEDERAL, NESTA SEXTA-FEIRA, ONDE ABORDARA O TEMA 'PERSPECTIVAS PARA O ANO 2000: CIDADANIA PARA OS EXCLUIDOS'.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • REGISTRANDO A VISITA AO CONGRESSO NACIONAL DO REVERENDO JESSE JACKSON, PASTOR E SENADOR NORTE-AMERICANO, QUE FARA PALESTRA NO AUDITORIO PETRONIO PORTELLA DO SENADO FEDERAL, NESTA SEXTA-FEIRA, ONDE ABORDARA O TEMA 'PERSPECTIVAS PARA O ANO 2000: CIDADANIA PARA OS EXCLUIDOS'.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/1996 - Página 18604
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • VISITA OFICIAL, JESSE JACKON, SENADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CONGRESSO NACIONAL, REALIZAÇÃO, CONFERENCIA, REFERENCIA, CONTEUDO, POLITICA SOCIAL.

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Congresso Nacional tem a honra de receber, no dia de hoje, a visita do Reverendo Jesse Jackson, Pastor e Senador norte-americano.

Líder dos direitos políticos e civis, nasceu em 8 de outubro de 1941, em Greenville, Carolina do Norte, na parte mais pobre da cidade, onde concentrava-se a população negra. Na infância e adolescência, dedicou-se ao esporte, praticando futebol, basquete e beisebol. Um dos primeiros contatos com o preconceito racial surgiu daí, quando lhe ofereceram contrato para jogar em um time de beisebol de Chicago, com salário menor do que o salário pago aos jogadores brancos. Recusou a proposta e passou a freqüentar a Universidade de Illinois, através de uma bolsa de estudos. Quando soube que jogadores negros não poderiam participar do time de futebol desta escola, pediu transferência para a Universidade da Carolina do Norte, onde predominava estudantes negros.

Ainda estudante, envolveu-se com a militância dos direitos civis, em 1963, liderando campanhas estudantis. Após sua formatura na universidade, freqüentou o Seminário Teológico de Chicago.

Em 1965, uniu-se a Martin Luther King, participando das históricas passeatas de protestos pelos direitos civis. Tornou-se logo uma das pessoas de confiança de Luther King, que o indicou coordenador das campanhas ("O Cabeça") em Chicago. Após o assassinato de Luther King, em abril de 1968, o carismático Jesse Jackson, freqüentemente lembrado por sua influência nas comunidades negras, recusou-se a ser o "sucessor" de King, em virtude dos desentendimentos das lideranças políticas da época. Mas continuou como importante força política de Chicago. Fundou, posteriormente, a Coalizão Nacional Arco-Íris, da qual é presidente. O Arco-Íris é uma organização voltada para a igualdade racial, para a educação e mobilização do povo americano.

Reverendo da Igreja Batista, é líder espiritual que dirigiu movimentos em prol da igualdade, da justiça racial e igualdade de gênero nos Estados Unidos.

Trabalhou em benefício da saúde, travando uma verdadeira guerra contra as drogas, pois uma característica de seu trabalho tem sido o compromisso com a juventude; visitando milhares de escolas, faculdades e universidades encoraja jovens a permanecerem estudando e longe das drogas.

Jesse Jackson tornou-se uma das figuras políticas mais importantes dos Estados Unidos. Nas últimas décadas, vem desenvolvendo importante e brilhante papel no movimento popular para obter igualdade racial e de gênero, além de justiça econômica e social para os excluídos de seu país.

Tem sido chamado de "Consciência da Nação" e de "O Grande Unificador", porque desafia a América para estabelecer justiça e prioridades humanas, proporcionando a união de pessoas independentemente de raça, classe social, gênero e religião.

Sua candidatura à Presidência da República dos Estados Unidos pelo Partido Democrata abriu precedentes na política americana. Na campanha de 1984, alcançou 3,5 (três e meio) milhões de votos, ajudando o partido a recuperar o controle sobre o Senado Federal. Com a segunda candidatura, em 1988, obteve 7 (sete) milhões de votos, conquistando vitórias históricas em algumas regiões. Com orientação política claramente progressista e muita habilidade, construiu uma inédita coalizão que inspirou milhões a participar do processo político.

Em 1990 Jackson elege-se Senador.

Jesse Jackson tem sido também uma das maiores forças do movimento trabalhista norte-americano, organizando trabalhadores e mediando negociações sindicais. Já participou mais de manifestações trabalhistas do que qualquer outro líder de seu país.

Recebeu numerosas homenagens por sua atuação em benefício dos direitos humanos e da justiça social. Em 1991, o correio americano criou um selo postal em sua homenagem, sendo a segunda pessoa viva a receber tal honra. Integrou a lista dos dez homens mais respeitados pelos americanos por dez anos.

No plano internacional, é conhecido por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e justiça social. Jackson foi figura central nas lutas internacionais contra o apartheid na África do Sul, fazendo desse gesto uma alternativa para a conscientização sobre a igualdade racial em seu país. Dialogou com a União Soviética e negociou com o Oriente Médio. Teve participação no processo de emancipação da Namíbia e de Angola. Sua capacidade como Diplomata Internacional pelos direitos humanos garantiu a liberdade do Navio Sírio "Tenente Robert Goodman", em 1984, bem como a liberdade de prisioneiros cubanos em 1987. Foi o primeiro americano a resgatar prisioneiros americanos, reféns do Kwait e Iraque, em 1990.

Jesse Jackson é hoje uma das mais importantes lideranças americanas dos movimentos populares e uma das vozes mais liberais do Partido Democrata, que acaba de reeleger, nos Estados Unidos, o presidente Bill Clinton. Entre suas propostas políticas e de seu partido, o Partido Democrata, incluem-se:

Contrário à reforma da Previdência Social, proposta pelos republicanos, que limita a ajuda aos pobres e desempregados, colocando em risco toda uma geração de norte-americanos.

Regulamentação (e não a extinção) das políticas de ações afirmativas, que beneficiam as minorias.

Defesa dos Direitos e Garantias das Mulheres, bem como uma campanha contra a violência doméstica.

Educação. Para os Democratas, a educação "é a linha que separa os que vão prosperar dos que não conseguirão fazê-lo". Propõe uma política para que todas as crianças possam chegar ao final do segundo grau e que possam escolher a escola que vão freqüentar. Defende o ingresso na Internet de todas as escolas do país.

Os criminosos violentos devem cumprir, pelo menos, 85% de sua pena. Disciplinar o uso de armas e campanhas de educação e repressão contra o tráfico de drogas e o terrorismo.

Política exterior. Defende uma maior aproximação com a Rússia, apesar das divergências políticas, e com a América Latina, lembrando a realização da Cúpula das Américas, em 1994.

Esta é a primeira vez que o pastor Jesse Jackson vem ao Brasil. Em Brasília, fará palestra no auditório Petrônio Portella do Senado Federal, nesta sexta-feira, onde abordará o tema "Perspectivas para o Ano 2000: Cidadania para os Excluídos".

A visita que faz ao Brasil, nesta semana, tem um significado histórico muito importante para os afro-brasileiros, por ser a Semana da Consciência Negra brasileira, a semana do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, este que foi um dos maiores heróis populares que tivemos, tornando-se o momento oportuno para se repensar as relações raciais em nosso País. A contribuição de Jesse Jackson ao processo de democratização brasileiro se dará através de palestras e debates sobre as relações raciais em seu país de origem e as ligações e semelhanças com a realidade brasileira.

Portanto, é com entusiasmo que saudamos a presença do Reverendo Jesse Jackson em nosso País, na expectativa de que sua visita venha contribuir para uma maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos e que esta inusitada troca de experiências seja bastante proveitosa para as relações raciais de ambos os países.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/1996 - Página 18604