Discurso no Senado Federal

ANALISE DO DESEMPENHO DO PMDB NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • ANALISE DO DESEMPENHO DO PMDB NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/1996 - Página 18612
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÃO MUNICIPAL, PAIS.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que o universo político brasileiro se debruce agora na análise das eleições municipais e nas suas repercussões sobre o futuro, ninguém pode ignorar um fato cristalino e incontestável: mais uma vez, o PMDB foi o grande vencedor, apesar das crises que têm marcado a sua história recente, e a despeito da maior de suas crises, que é a crise de identidade. Com 1.288 prefeitos eleitos em todo o País e com o poder assegurado em seis capitais, ainda somos o rosto político da maioria do povo brasileiro e ainda são do PMDB as credenciais para ditar os rumos das grandes decisões nacionais.

Esse PMDB, que saiu vitorioso das urnas como maior força capilar da estrutura partidária do País, será ainda mais forte se execrar de suas entranhas as tentações do fisiologismo e se afastar de seus hábitos a cultura do personalismo, que deu certo no passado porque tínhamos lideranças nacionais de grande prestígio político. Um exercício sereno da autocrítica terá que encontrar respostas, agora ou no futuro próximo, sobre as razões objetivas que levaram ao virtual desaparecimento do nosso partido em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, os principais colégios eleitorais do País.

Sobre isso, quero repetir algumas palavras do Deputado Alberto Goldman, em discurso recente na Câmara Federal: "Nos últimos dois anos, sem direções partidárias atuantes, sem nomes de prestígio que o pudessem referenciar, sem um projeto claro para a sociedade, o partido começa a definhar com celeridade". O ilustre companheiro ainda repercutia a participação medíocre do partido no primeiro turno de São Paulo, onde a legenda obteve apenas 8% dos votos. E isso aconteceu, por ironia dos paradoxos, "no berço e núcleo mais importante do PMDB".

Referendo as preocupações do Deputado Alberto Goldman e acompanho a sua tese de que o partido precisa resolver os seus impasses e reassumir as suas identidades, respondendo objetivamente o que é e para que existe. Os resultados eleitorais mostram que o PMDB ainda é um grande patrimônio da sociedade brasileira, que tem o dever de responder às suas expectativas e está obrigado a revitalizar a sua mensagem. Levamos cartões amarelos de advertência em alguns Estados, mas continuamos à frente do placar. Resta saber até quando e em que nível de qualidade na composição das forças de poder, um vez que estamos a apenas dois anos das eleições de 1998.

Tendo perdido grandes figuras nacionais como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, somos um partido órfão dos patriarcas que nos guiavam nos bons e nos maus momentos, construindo e reconstruindo o espírito de unidade que foi a mais marcante característica histórica do PMDB. A realidade de hoje exige nova visão histórica para trabalhar na direção do grande salto e buscar um projeto nacional afinado com os interesses populares. A reconstrução do PMDB, firmada pela enorme estrutura que o mantém vivo e forte, terá que passar por uma reforma do ideário, pela supressão dos individualismos e pela submissão dos interesses particulares aos interesses do País. O País quer reformas, emprego, saúde, educação, segurança pública e habitação, e ficaremos marcando passo enquanto prevalecerem os dogmas que nos empolgaram nos anos 50.

Srªs e Srs. Senadores, estou saindo, como outros companheiros, de uma campanha memorável pela conquista da prefeitura de Goiânia. Perdemos nos números finais, mas chegamos perto com o companheiro Luiz Bittencourt, um jovem de garra invejável e de enorme espírito público. É uma liderança que está surgindo para o PMDB do futuro. O candidato vencedor fez carreira política em nosso partido e por ele já ocupou a prefeitura de Goiânia em dois mandatos. Não perdemos a prefeitura, porque ela já era do PT, mas conseguimos manter em todo o Estado a hegemonia histórica, conquistando 47% das 242 prefeituras, com o restante dividido entre vários partidos, muitos deles em coligação com o PMDB. Considerado o quadro geral das eleições, atingimos 63% das prefeituras.

Em Goiás, graças à manutenção da força majoritária do PMDB no interior, ainda conseguimos salvar a identidade do partido nas suas bases tradicionais. Mas os modelos de coligação que inundaram este País de Norte a Sul mostram que está esgotada a sobrevivência da atual legislação partidária. A lei permite a livre migração para atender interesses de circunstâncias, da mesma forma como se vai ao guarda-roupa para trocar de camisa. As idéias, o passado e os compromissos são moedas de troca em que vale mais o resultado se o que se busca é o poder a qualquer custo. Acho que essa deformação dos mais sagrados princípios da ética política está no fim, e é dever, não só do PMDB, mas de todos os partidos, caminhar rapidamente na direção da fidelidade partidária, da reorganização partidária, como o mais importante dos objetivos de toda a reforma política já em andamento no Senado.

Os resultados das últimas eleições me oferecem todos os motivos para ser otimista como o futuro do PMDB. Este gigante, que foi construído junto com a luta do povo brasileiro pela redemocratização, continua de pé, como antes, mas é necessário que ele reconquiste espaços perdidos e reafirme a sua imagem nas grandes metrópoles. Para isso, é urgente e indispensável a definição rigorosa de suas responsabilidades com o futuro, através de uma ampla discussão interna sobre o que lhe é melhor, sem preconceitos, sem mandonismos de ocasião e sem resistência ao pensamento da maioria.

Estão aí as reformas econômicas e sociais. Está aí a reforma política. A reeleição domina o cenário político, e nada será decidido sem a participação e a força real do PMDB. Nesses grandes debates, que terão de mostrar o perfil de um partido moderno e amarrado às aspirações da classe média e dos mais humildes, imagino que estaremos forjando, sem a submissão a tabus, a fisionomia de um partido definitivamente forte na estrutura, como é, e na identidade com o povo, como deve ser, para sonhar com o poder sem excluir limites e podendo pensar em 1998 em igualdade de condições com os demais partidos que têm lideranças nacionais definidas para postular a Presidência da República.

A grande questão para o PMDB não é de crescimento, porque o mesmo já é grande. O salto qualitativo é que deve ser a nossa grande meta para o futuro. Precisamos buscar e incentivar novas lideranças e dar o lugar que merecem àquelas que já temos e que estão marginalizadas. É indispensável recuperar a nossa história de partido aberto ao debate, de partido vanguardeiro nas idéias e na ação. É preciso sepultar mitos e fazer as pazes com as realidades, antes que elas nos substituam na preferência popular. Imagino para isso um partido em que o comando das bases e da maioria prevaleça sobre as vaidades e no qual as lideranças entendam que o seu papel é o de exprimir em vez de imprimir. Um partido sem donos, que se expresse pelo conjunto e que reocupe os espaços perdidos pela força das bandeiras populares que fizeram a nossa grandeza e que devem ser novamente reempunhadas.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/1996 - Página 18612