Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

RELATANDO A PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NA CONFERENCIA DE CUPULA ORGANIZADA PELA FAO, ONDE FORAM DISCUTIDAS AS ESTRATEGIAS PARA OBTENÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR NUM FUTURO PROXIMO, REALIZADA EM ROMA, NA ITALIA, NA SEMANA PASSADA.

Autor
Osmar Dias (S/PARTIDO - Sem Partido/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • RELATANDO A PARTICIPAÇÃO DE S.EXA. NA CONFERENCIA DE CUPULA ORGANIZADA PELA FAO, ONDE FORAM DISCUTIDAS AS ESTRATEGIAS PARA OBTENÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR NUM FUTURO PROXIMO, REALIZADA EM ROMA, NA ITALIA, NA SEMANA PASSADA.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/1996 - Página 18605
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CONFERENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, DISCUSSÃO, PLANEJAMENTO, REDUÇÃO, POBREZA, FOME, MUNDO.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, AUTORIA, FIDEL CASTRO, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, CONFERENCIA INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO).

O SR. OSMAR DIAS ( -PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estou retornando da conferência de cúpula organizada pela FAO, que se realizou em Roma, na semana passada, e que teve seu encerramento no domingo. Essa conferência contou com a participação de 184 delegações que discutiram as estratégias para a obtenção da segurança alimentar num futuro próximo.

Quero destacar que a meta, em 1974, na convenção organizada pela FAO, era de que em 10 anos não existiria fome no mundo; 22 anos se passaram e 840 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de miséria, ou seja, com fome.

A meta estabelecida por esta conferência é mais modesta e suscitou, Sr. Presidente, a revolta de um grande líder internacional. Estabeleceu-se a meta de reduzir-se pela metade o número de pessoas no mundo que passam fome, portanto, quantificou-se que 420 milhões de pessoas poderão passar fome no ano 2015. É isso que revoltou o líder Fidel Castro, que, em seu pronunciamento, foi bastante contundente em relação às metas modestas dos países que se reuniram em Roma.

Sr. Presidente, dentro do tempo que me foi concedido, leio trechos do pronunciamento do Presidente da República de Cuba, Fidel Castro, pronunciamento este que resultou em protesto por parte de representantes da FAO, assim como de alguns integrantes de delegações de outros países que ali compareceram muito mais para homenagear os organizadores do encontro do que para oferecer propostas.

O Líder Fidel Castro praticamente chamou para si todas as atenções da conferência de cúpula, pois, com o seu carisma, fez um pronunciamento que somente não foi mais importante do que o do Papa.

Diz o pronunciamento que a fome, inseparável companheira dos pobres, é filha da desigual distribuição das riquezas e das injustiças deste mundo. Os ricos não conhecem a fome.

O colonialismo não foi alheio ao subdesenvolvimento e à pobreza que hoje sofre uma grande parte da humanidade.

      Tampoco son ajenos la hiriente opulencia y el derroche de las sociedades de consumo de las antiguas metropolis que sumieron en la explotación a gran parte de los países de la Tierra.

Por lutar contra a fome e contra a injustiça, milhares de pessoas foram mortas no mundo.

Que curativos de mercurocromo vamos aplicar, para que, dentro de 20 anos, haja 400 milhões ao invés de 800 milhões de famintos? Essas metas são, por sua modéstia, uma vergonha.

O pronunciamento de Fidel Castro, nesse ponto, revoltou alguns integrantes da FAO.

Se 35 mil pessoas morrem de fome a cada dia - a metade crianças -, por que, nos países desenvolvidos, arrancam-se oliveiras, sacrificam-se rebanhos e pagam-se quantias altas para que a terra não produza?

Se o mundo se comove - e com razão - quando ocorrem acidentes, catástrofes naturais e sociais, que matam centenas de milhares de pessoas, por que não se comove da mesma forma ante esse genocídio que tem lugar, a cada dia, diante de nossos olhos?

Organizam-se forças de intervenção para prevenir a morte de centenas de milhares de pessoas no oeste do Zaire. O que faremos para evitar que morram de fome cada mês um milhão de pessoas no resto do mundo?

São o capitalismo, o neoliberalismo, as leis de mercado selvagem, a dívida externa, o subdesenvolvimento e o intercâmbio desigual que matam tantas pessoas no mundo.

Por que se investem US$700 milhões a cada ano em gastos militares e não se investe uma parte desses recursos no combate à fome e no impedimento da deterioração dos solos, da desertificação e do desflorestamento de milhões de hectares, com o aquecimento da atmosfera, a escassez e o excesso de chuvas, a destruição da camada de ozônio e outros fenômenos naturais que afetam a produção de alimentos e a vida do Homem sobre a Terra? As águas se contaminam, a atmosfera se envenena, a natureza se destrói.

Não só a escassez de investimentos, a falta de educação e tecnologias, o crescimento acelerado da população se deterioram, mas o futuro se compromete cada dia mais com a produção de armas cada vez mais sofisticadas, depois da Guerra Fria, pois querem armas para dominar o mundo, na feroz competição da venda de armamentos na defesa de sua independência. As campanhas que se desenvolvem hoje pelos que morrem de fome dobrar-se-ão amanhã pela humanidade inteira, caso esta seja suficientemente sábia para salvar-se a si mesma.

Este, Sr. Presidente, o pronunciamento do Presidente Fidel Castro, que causou tanta polêmica e noticiário em todo o mundo e peço que seja publicado na íntegra .

De minha parte, Sr. Presidente, concordo ser a redução, pela metade, do número de famintos no ano 2015 uma meta modesta que, sobretudo, não corresponde à grandeza do encontro realizado, na semana passada, em Roma, onde 184 Chefes de Estado estiveram presentes discutindo estratégias.

Devemos ousar, Sr. Presidente, combatendo e erradicando a fome em todos os cantos do mundo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/1996 - Página 18605