Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE INSTITUIÇÃO DO COMITE DE IMPRENSA DO SENADO FEDERAL.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS DE INSTITUIÇÃO DO COMITE DE IMPRENSA DO SENADO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 21/11/1996 - Página 18668
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, COMITE DE IMPRENSA, SENADO, CUMPRIMENTO, JORNALISTA, LUTA, APERFEIÇOAMENTO, DEMOCRACIA.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL-MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta homenagem à imprensa brasileira, destacando os 50 anos de atividade do Comitê de Imprensa do Senado Federal, deve ser registrada num clima de respeito, sem nenhuma preocupação de sensibilizar aqueles que lidam conosco, quer pela palavra, quer pela convivência na vida pública brasileira.

Esta homenagem deve partir da convicção de que, efetivamente, nos regimes de exceção e até mesmo nas ditaduras mais cruéis, a imprensa exerceu sempre um papel decisivo, contribuindo para que o País convivesse e vivesse com a liberdade e a democracia, numa convivência sempre altiva, como nós conhecemos.

Poucos aqui, como nós, tiveram ou têm uma convivência com a imprensa brasileira. Chegamos ao Congresso Nacional em 1962, depois de exercermos o mandato de Vereador, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, e de convivermos com a imprensa e com os jornalistas do nosso Estado, Minas Gerais.

Em Belo Horizonte, no exercício do mandato de Vereador, lutei na oposição contra o sistema então dominante na Capital mineira. O trabalho da imprensa, durante os quatro anos em que exerci o mandato, foi decisivo, no que diz respeito à informação, à orientação e à formação da própria opinião pública.

Certo é que um determinado jornal que se situava numa posição político-partidária ou de facção jamais publicou o meu nome, sempre revelando as notícias de forma tendenciosa.

Mas quase todo o sistema de comunicação do Estado àquela época pautou a sua orientação e a sua conduta com independência e isenção, tendo sido fundamental para que o Vereador de então pudesse candidatar-se à Câmara Federal pela primeira vez e eleger-se por quatro sucessivos mandatos, sendo quase sempre o mais votado do meu Estado, numa demonstração de que os homens públicos, quando merecem o respeito da imprensa, como sempre mereci, são considerados probos, honestos, honrados, de mãos limpas; porém, quando os homens públicos se perdem na corrupção, quando buscam interesses privados ou particulares, quando aqueles que se elegem buscam compensações de ordens diversas, não merecem o respeito e a consideração da imprensa brasileira; e a imprensa, quando não os condena, silencia-lhes os nomes e jamais são divulgados perante a sociedade brasileira.

Por isso mesmo, tivemos sempre o cuidado de, guardando absoluta identidade com o sentimento de Minas e dos mineiros, conduzi o nosso mandato pautado pela honradez, sem que jamais fosse acusado de qualquer deslize na minha vida pública. Assim, com o estímulo da imprensa do meu Estado e, depois, aqui, no Congresso Nacional, venho exercendo a minha vida pública, convivendo de forma permanente com a imprensa e com os jornalistas, certo de que eles são os primeiros a informar, por meio dos seus jornais, do convívio com os Parlamentares ou seus colegas, a imagem e a conduta de cada um de nós, Senador ou Deputado Federal.

Quando chego em Brasília, pergunto por um Parlamentar e a imprensa não sabe quem é, não sabe distinguir o seu nome, verifico que esse Parlamentar, na verdade, está se pautando de uma forma que nem sequer merece a atenção da imprensa nacional.

Quando o Parlamentar mantém um convívio permanente com a imprensa é porque esta acredita na sua honradez, no seu trabalho e na sua isenção.

Nos dois primeiros mandatos que exerci na Câmara Federal, sempre pautando a minha conduta por manifestações de dissenso, constantemente tive o nome divulgado e as minhas posições transmitidas à opinião pública do meu Estado e do Brasil.

A imprensa foi decisiva para que a minha vida pública transcorresse de forma natural e espontânea e eu conquistasse postos nas esferas partidária, política e administrativa do meu Estado e do Brasil.

Por isso mesmo, em respeito à imprensa, estou hoje aqui para transmitir a todos aqueles que comigo conviveram no passado e aos que convivem comigo atualmente que mantenho a mesma conduta, exercendo a vida pública e elegendo-me para o Congresso Nacional, sem ferir a cultura e o sentimento de Minas e dos mineiros.

A última eleição na qual concorri, para Senador da República, foi a que mais me sensibilizou, porque, sendo o mais votado do meu Estado, fui eleito de forma natural e espontânea, recebendo sempre o apoio e o estímulo dos próprios jornalistas. 

Os políticos mudaram e estão mudando. Sabem que nesta Casa não podem conviver aqueles que barganham a vida pública e seguem caminhos que não condizem com a democracia e o respeito à opinião pública.

Também é importante assinalar que a imprensa, os jornalistas, de uma forma geral, foram, aos poucos, transformando a sua atividade de meros espectadores dos fatos políticos, econômicos, financeiros e culturais do País, em protagonistas da história, ocupando sempre posição de vanguarda, no sentido de que o País encontrasse o caminho da democracia.

Quando, em determinado momento, vivemos num regime de exceção e, às vezes, era atingido por manifestações de jornalistas, diziam-me que respeitavam minha pessoa e apenas estavam combatendo o sistema então prevalente no País.

Portanto, resta dizer que, tanto na derrubada do Estado Novo, do Regime Getulista, quanto na mudança do sistema da chamada Revolução Brasileira, os jornalistas exerceram o papel de protagonistas da própria história, revelando fatos e caminhando de forma permanente para o jornalismo de investigação, que hoje ocupa a imprensa - jornais, revistas, televisões e rádios - de tal maneira que presta mais informações aos políticos do que o fazem os próprios Líderes do Senado ou da Câmara dos Deputados.

Neste momento, quero transmitir ao Presidente do Comitê de Imprensa do Senado da República, o Jornalista Alexandre Jardim, e, por seu intermédio, a todos os seus colegas de profissão a nossa homenagem, o nosso respeito e o nosso compromisso de que nesta Casa só devem permanecer aqueles que têm uma conduta exemplar e que não praticam nenhum ato de corrupção ou de desapreço à democracia institucional.

Desejo lembrar as figuras de alguns Presidentes do Comitê de Imprensa, a começar por Abdias Silva, pessoa convivente, quer no seu Estado de origem, quer no Rio Grande do Sul ou em Brasília, que exerceu a sua profissão e a Presidência da Comitê de Imprensa do Senado com isenção, amizade, respeito e, às vezes, incentivo dos próprios jornalistas.

Quero homenagear Fábio Mendes, que também exerceu a Presidência do Comitê com a mais absoluta isenção e discernimento.

Respeito e homenagem ao nosso Tarcísio Hollanda, amigo e companheiro de convivência política e discussão permanente sobre a própria conduta dos políticos que fazem desta Nação um compromisso permanente do aperfeiçoamento democrático.

Nossa homenagem especial a Rubens Azevedo Lima - estendo esta homenagem a sua esposa - pela sua isenção, pelo seu caráter, honradez, pois, convivendo ainda conosco, continua escrevendo na imprensa brasileira com completa isenção, respeitando aqueles que efetivamente estão comprometidos com a honradez e com a democracia.

Homenagem também a João Emílio Falcão, que também foi Presidente do Comitê; um homem lúcido, inteligente, competente, companheiro e amigo. Falecido há poucos anos, deixou um lastro de amizade, consideração, respeito e admiração por parte de todos nós.

Finalmente, não poderia encerrar sem homenagear o jornalista que é um pouco de piauiense e muito de mineiro, e que fez do Brasil a bandeira da sua vida, o meu amigo e coestaduano, no Piauí e em Minas Gerais, Carlos Castello Branco. Quando eu chegava em Minas, ele a trocava pelo Rio de Janeiro. Depois, passamos a conviver em Brasília - Capital da República -, na amizade, na saúde, na tristeza e na doença.

A imprensa são os olhos da democracia. A imprensa é efetivamente o caminho que devemos percorrer permanentemente, acompanhando atentos, de manhã até altas horas da noite, pela televisão, rádios, jornais e revistas, todas as comunicações que se processem neste País, revelando sempre aqueles que atuaram em regime excepcional ou regime de exceção.

Devo citar aqui o falecido Presidente Ernesto Geisel, quem a própria imprensa jamais atacou. Na verdade, ao nosso lado, S. Exª exerceu um compromisso de fazer com que esta Nação retomasse o caminho da democracia. Quando, através dele e de meus colegas da Câmara e do Senado, fui convocado para presidir o partido que então oferecia sustentação parlamentar e política ao Governo Geisel, conversei com S. Exª e procurei saber dele qual o caminho que iríamos percorrer, porque, formado no meu Estado, com a cultura mineira, sempre vivendo num clima de revolução constitucional, não poderia assumir a direção nacional de um partido sem o compromisso de retomada da plena democracia. E o Presidente Geisel, então, numa conversa íntima e, de certo modo, formal, disse-me que eu ficasse tranqüilo porque ele deixaria o Governo e eu deixaria a presidência nacional do partido de então com a democracia restabelecida, com a democracia plenamente reconquistada. Ninguém, neste País, contribuiu mais para que saíssemos do regime autoritário para o regime democrático com a lisura, a independência e a coragem que o falecido Presidente Ernesto Geisel.

A todos os líderes nacionais que fizeram da sua vida a bandeira pela democracia, que construíram a permanência e a grandeza dessa instituição, quero, aqui, em nome do meu Partido, o Partido da Frente Liberal, em nome do meu Estado, em nome de Minas e dos mineiros, prestar a nossa homenagem a todos os jornalistas que estão hoje, ainda, contribuindo de forma edificante para a permanência e o aperfeiçoamento do regime democrático.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/11/1996 - Página 18668